Projeção da necessidade de médicos para o Brasil para os próximos 10 anos

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Transcrição:

Projeção da necessidade de médicos para o Brasil para os próximos 10 anos Coordenação Geral Dra. Celia Regina Pierantoni, MD, DSc Professora Associada do Instituto de Medicina Social UERJ Procientista da UERJ/FAPERJ Líder de Grupo de Pesquisa do CNPq Diretora do Centro Colaborador da OPAS/OMS para Planejamento e Informação da Força de Trabalho em Saúde Coordenadora da Estação de Trabalho IMS/UERJ da Rede Observatório de Recursos Humanos em Saúde ObservaRH - MS/OPAS Brasil ObservaRH Estação de Trabalho IMS/UERJ www.obsnetims.org.br Ministério da Saúde

Autores Celia Regina Pierantoni. Médica; Doutora; Professora Associada. Instituto de Medicina Social, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IMS/UERJ). Rio de Janeiro, RJ, Brasil Carinne Magnago. Enfermeira; Doutoranda; Pesquisadora. Instituto de Medicina Social, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IMS/UERJ). Rio de Janeiro, RJ, Brasil

Objetivo Estimar as necessidades de médicos, para os próximos 10 anos, segundo a estrutura atual do sistema de saúde brasileiro.

Metodologia Estudo ecológico, de séries temporais, exploratório, prospectivo, desenvolvido por meio de dados secundários. Utilizou-se o método da força de trabalho em saúde como razão da população, com modelo do tipo estoque e fluxo. Esta abordagem metodológica implica assumir que a taxa de crescimento das variáveis permanecerão estáveis.

Metodologia Projeção da necessidade de médicos (t) = médicos desejados (t) - estoque de médicos (t) O número de médicos desejado para o tempo t foi determinado tomando por base três cenários, cujos parâmetros foram: (1) um médico para cada mil habitantes (ESF com mais de um médico e carga horária inferior a 40h); (2) um médico (40h) para cada três mil habitantes, conforme prevê a ESF; (3) 2,5 médicos para cada mil habitantes, conforme meta do Governo Federal para 2020. Para cada um dos cenários, por região, projetou-se duas variações: um em que se considerou taxas de migração; e outro em que não se considerou.

Metodologia Foram utilizadas as seguintes variáveis, para as quais foram calculadas as taxas de crescimento médio e, em seguida, realizadas as projeções até 2025 para as regiões e Brasil: população: dados IBGE 2000-2010 oferta de egressos de medicina: dados do INEP 2000-2012, sistematizados pelo SIGRAS estoque de médicos = (número de médicos + egressos + imigrantes) (emigrantes e óbitos) Nº de médicos: CNES 2014 Taxas de migração: Seixas et al, 2010 Taxa de mortalidade geral: SIM/DATASUS 2012

Resultados Projeção da necessidade de médicos. Brasil, 2015, 2020, 2025 Cenários 2015 2020 2025 Cenário 1* -280.324-385.868-535.193 Cenário 2** -145.094-241.339-380.676 Cenário 3*** 159.174 83.850-33.013 Nos cenários 1 e 2, as projeções apontam para a suficiência de médicos. Isto implica dizer que, considerando os parâmetros utilizados, ter-se-ia médicos suficientes para uma cobertura de 100% da população. No cenário 3, o número de médicos seria suficiente apenas em 2025.

Resultados Projeção da necessidade de médicos segundo regiões. Brasil, 2013-2025 Regiões Cenários 2015 2020 2025 Norte Cenário 1a* -12.612-43.421-117.473 Cenário 1b** -11.396-30.522-74.498 Cenário 2a # -1.041-30.697-103.474 Cenário 2b ## 176-17.798-60.499 Cenário 3a 24.995-2.069-71.976 Cenário 3b 26.212 10.830-29.001 A região Norte apresentaria insuficiência de médicos em 2015 para três situações: no cenário 2, em que não se considerou taxa de migração (2b); e nas duas projeções para o cenário 3 (3a e 3b). E, ainda, em 2020, esta região também não contaria com médicos em número satisfatório para o alcance do parâmetro de 2,5 médicos para cada 1.000 habitantes.

Resultados Projeção da necessidade de médicos segundo regiões. Brasil, 2013-2025 Regiões Cenários 2015 2020 2025 Nordeste Cenário 1a* -37.020-24.661-28.611 Cenário 1b** -45.786-68.537-103.791 Cenário 2a # 540 15.409 14.139 Cenário 2b ## -8.225-28.467-61.042 Cenário 3a 85.052 105.567 110.325 Cenário 3b 76.286 61.691 35.144 A região Nordeste careceria de médicos em 2015, 2020 e 2030, em três situações: no cenário parametrizado com 1 médico para cada 1.000 habitantes, e cujo cálculo considerou as taxas de migração (2a); e nas duas projeções efetuadas para o cenário 3 (3a e 3b).

Resultados Projeção da necessidade de médicos segundo regiões. Brasil, 2013-2025 Regiões Cenários 2015 2020 2025 Sudeste Cenário 1a* -139.631-110.224-106.090 Cenário 1b** -157.749-205.380-267.341 Cenário 2a # -82.991-50.078-42.222 Cenário 2b ## -101.109-145.235-203.473 Cenário 3a 44.450 85.249 101.480 Cenário 3b 26.332-9.908-59.771 No que tange à região Sudeste, a insuficiência de médicos para os anos de 2015, 2020 e 2030 só se daria no cenário 3a, isto é, quando o parâmetro utilizado foi de 2,5 médicos para cada 1.000 habitantes, e se consideraram as taxas de migração para a projeção; e no cenário 3b (sem taxa de migração), em 2015.

Resultados Projeção da necessidade de médicos segundo regiões. Brasil, 2013-2025 Regiões Cenários 2015 2020 2025 Sul Centro-Oeste Cenário 1a* -45.785-68.812-100.398 Cenário 1b** -44.446-59.273-79.490 Cenário 2a # -26.599-48.557-79.011 Cenário 2b ## -25.260-39.018-58.104 Cenário 3a 16.570-2.986-30.891 Cenário 3b 17.908 6.553-9.984 Cenário 1a* -26.471-87.292-251.820 Cenário 1b** -21.479-32.102-54.545 Cenário 2a # -16.200-75.957-239.306 Cenário 2b ## -11.207-20.767-42.031 Cenário 3a 6.912-50.453-211.149 Cenário 3b 11.904 4.737-13.874 Em 2015, as regiões Sul e Centro-Oeste careceriam de médicos no cenário 3 para as duas modalidades de cálculo; enquanto em 2020 necessitariam de médicos apenas no cenário 3 para a situação em que não se consideraram as taxas de migração (3b).

Recomendações Recomendam-se estudos que estimem a necessidade de médicos utilizando-se de outros modelos que não o adotado aqui, bem como pesquisas que abordem a dinâmica demográfica da população de médicos, em especial no que tange ao processo migratório, dado que as taxas de migração utilizadas neste estudo colaboraram para resultados muito distintos aos obtidos nos cenários em que as mesas não foram utilizadas.

Referências Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira INEP [Página na internet]. 2013 [acesso em 10 dez. 2013]. Disponível em: http://www.inep.gov.br/ Estação de Trabalho Instituto de Medicina Social da Rede Observatório de Recursos Humanos em Saúde. Sistema de Indicadores das Graduações em saúde SIGRAS. [Página na internet]. 2014 [acesso em 10 mar. 2014]. Disponível em: http://www.obsnetims.org.br/sigras/ Ministério da Saúde (BR). Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde CNES. Consultas profissionais (CBO). 2014 [acesso em 03 abr. 2014] Disponível em: http://cnes.datasus.gov.br/mod_ind_profissional_com_cbo.asp Seixas PHD, Côrrea NA, Moraes JC. MigraMed Migração médica no Brasil: tendências e motivações. In: Centro Colaborador da OPAS/OMS para Planejamento e Informação da Força de Trabalho em Saúde: IMS/UERJ. Conferência Internacional sobre Pesquisas em Recursos Humanos em Saúde; 9-11 jun. 2010; Rio de Janeiro: IMS/UERJ; 2010. Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), disponibilizados pelo DATASUS. Ministério da Saúde (BR). Portaria nº 2.027, de 25 de agosto de 2011. Altera a Portaria nº 648/GM/MS, de 28 de março de 2006, na parte que dispõe sobre a carga horária dos profissionais médicos que compõem as Equipes de Saúde da Família (ESF) e na parte que dispõe sobre a suspensão do Piso de Atenção Básica (PAB Variável). Diário Oficial da União, n 164, 25 de ago. 2011b. Seção 1. Página 90. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estimativas da população [Página na internet]. 2013 [acesso em 24 mar. 2014] Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/estimativa_pop.shtm

www.obsnetims.org.br Contato: Celia Pierantoni, cpierantoni@gmail.com