PARQUE SÃO BARTOLOMEU

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Transcrição:

PARQUE SÃO BARTOLOMEU PLANO DE MANEJO RESUMO EXECUTIVO Nazaré Paulista 10 de outubro de 2013

SUMÁRIO LISTA DE SIGLAS... 4 RESUMO EXECUTIVO... 1 1. ENCARTE 1: CONTEXTUALIZAÇÃO DO PARQUE SÃO BARTOLOMEU... 1 1.1. Enfoque Internacional... 1 1.2. Enfoque Federal... 2 1.3. Enfoque Estadual e Municipal... 3 2. ENCARTE 2: ANÁLISE DA REGIÃO DO PARQUE SÃO BARTOLOMEU... 6 2.1. Descrição da Área de Estudo... 6 2.2. Caracterização Ambiental... 7 2.3. Aspectos Culturais e Históricos... 8 2.4. Uso e Ocupação da Terra e Problemas Ambientais Decorrentes... 10 2.5. Características da População... 10 2.6. Visão e Relação das Comunidades sobre o Parque São Bartolomeu... 11 2.7. Legislação Federal, Estadual e Municipal Pertinente... 12 2.8. Potencial de Apoio ao Parque São Bartolomeu... 12 3. ENCARTE 3: ANÁLISE DO PARQUE SÃO BARTOLOMEU... 13 3.1. Informações gerais sobre o Parque São Bartolomeu... 13 3.2. Caracterização dos Fatores Abióticos e Bióticos... 13 3.3. Aspectos Urbanísticos do Entorno do Parque São Bartolomeu... 26 3.4. Meio Antrópico... 35 3.5. Situação Fundiária... 38 3.6. Fogos e Outras Ocorrências Excepcionais... 39 3.7. Atividades Desenvolvidas no Parque São Bartolomeu... 40 3.8. Aspectos Institucionais do PSB... 56 3.9. Declaração de Significância... 62 4. ENCARTE 4: PLANEJAMENTO... 64 4.1. Histórico do Planejamento... 64 4.2. Proposta de Ordenamento do Status Legal do Parque São Bartolomeu e seu Enquadramento ao Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC)... 67 Reconhecimento legal do PSB... 69 4.3. Avaliação Estratégica do Parque São Bartolomeu... 69 4.4. Objetivos de Manejo para o Parque São Bartolomeu... 73 4.5. Zoneamento do Parque São Bartolomeu... 74 4.6. Áreas Estratégicas... 83 4.7. Normais Gerais do Parque São Bartolomeu... 98 4.8. Planos de Gestão... 100 5. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA... 108

LISTA DE TABELAS Tabela 1. Zonas e coeficientes de aproveitamento incidentes na região do Parque São Bartolomeu.... 28 Tabela 2. Planos e Projetos Urbanísticos de bairros na bacia hidrográfica do Cobre e sua situação em julho de 2012.... 32 Tabela 3. Obras de infraestrutura no entorno imediato do Parque e sua situação em julho de 2012.... 33 Tabela 4. Situação Fundiária do PSB... 38 Tabela 5. Programa e Projetos de Educação Ambiental de instituições não sediadas no Subúrbio Ferroviário.... 54 Tabela 6. Quadro síntese contendo as atividades ou situações conflitantes com uma UC da categoria Parque no PSB e seus potenciais impactos ambientais decorrentes.... 54 Tabela 7. Profissionais que compõem a equipe do PSB.... 56 Tabela 8. Equipamentos na área do Parque e entorno imediato e sua situação em julho de 2012.... 58 Tabela 9. Obras de infraestrutura no entorno imediato do Parque.... 59 Tabela 10. Etapas para o enquadramento do PSB no SNUC.... 69 Tabela 11. Matriz Estratégica do Parque São Bartolomeu, apresentando os pontos fortes e fracos do ambiente interno, e as oportunidades e ameaças do ambiente externo.... 70 Tabela 12. Critérios utilizados na definição do zoneamento do PSB, com os respectivos pesos atribuídos a cada um deles.... 74 Tabela 13. Zonas estabelecidas para o PSB, a área ocupada por elas e o seu percentual em relação à área total* do Parque.... 74 Tabela 14. Síntese do zoneamento do PSB, com a definição das zonas, seus objetivos, as atividades permitidas, os principais conflitos identificados e as normas de uso.... 76 Tabela 15. Critérios para a definição da ZA do PSB.... 81 Tabela 16. Descrição e caracterização das Áreas Estratégicas Internas (AEI), com respectivas recomendações.... 84 Tabela 17. Priorização de Ação em Áreas Estratégicas Internas do Parque.... 90 Tabela 18. Descrição e caracterização das Áreas Estratégicas Externas (AEE), com respectivas recomendações.... 96

LISTA DE FIGURAS Figura 1. Mapa de localização do PSB no contexto das demais áreas protegidas.... 2 Figura 2. Área de domínio do Bioma Mata Atlântica e áreas remanescentes florestais no Estado da Bahia.... 3 Figura 3. Parque São Bartolomeu no contexto das Áreas Protegidas e Prioritárias.... 4 Figura 4. Área de estudo (regional), município de Salvador, Bahia, Brasil.... 6 Figura 5. Área de estudo (local), Parque São Bartolomeu (PSB) sobreposto com a APA Bacia do Cobre/São Bartolomeu, situado na Bacia do Cobre e entorno com os limites da PIS-COBRE (Poligonal de Intervenção Social), Bahia, Brasil.... 7 Figura 6. Intervenção antrópica nos recursos hídricos.... 19 Figura 7. Espécies florestais encontradas na fisionomia de Floresta Ombrófila Densa do PSB.... 19 Figura 8. Mapa de vegetação do PSB.... 20 Figura 9. Registro de espécimes de Biomphalaria glabrata nas áreas de cultivo de agrião. 38 Figura 10. Domínio Fundiário no interior da PIF Urbanização Parque São Bartolomeu.... 39 Figura 11. Vista Panorâmica da localização dos foco de incêndio mostrando a clareira aberta na mata e a fumaça no trecho onde ainda existe chama e fumaça (Nota Técnica Conder). 40 Figura 12. Cultos afro-religiosos no PSB.... 42 Figura 13. Intervenções físicas propostas para o Parque São Bartolomeu.... 44 Figura 14. Atrativos do PSB.... 45 Figura 15. Mapa com os atrativos e o sistema de trilhas levantados no Parque São Bartolomeu.... 48 Figura 16. Localização das instituições avaliadas no entorno do PSB.... 51 Figura 17. Intervenções no Parque e entorno imediato: Via de contorno, infraestrutura e equipamentos.... 57 Figura 18. Inserção da administração do PSB no organograma da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano, Habitação e Meio Ambiente.... 60 Figura 19. Organograma interno da administração do Parque São Bartolomeu.... 61 Figura 20. Perímetro do Parque São Bartolomeu, conforme o Decreto 4.590 de 1974, com destaque para a área desapropriada pelo Decreto 8.087 de 1988.... 65 Figura 21. Localização da PIS Cobre, onde estão incluídas a PIF Encosta de Pirajá, PIF São Bartolomeu e a PIF Urbanização Parque São Bartolomeu, com destaque para os projetos de infraestrutura conduzidos no âmbito da PIF Urbanização Parque São Bartolomeu.... 67 Figura 22. Mapa do zoneamento do PSB, com o detalhamento das zonas estabelecidas... 75 Figura 23. Zona de Amortecimento do Parque São Bartolomeu.... 82 Figura 24. Mapa com as áreas estratégicas internas definidas para o PSB.... 83 Figura 25. Mapa com as áreas estratégicas externas propostas para o PSB.... 90

LISTA DE SIGLAS UNESCO PSB SEDUR CONDER ONG TNC WWF/BRASIL SNUC SAVAM PDDU APRN PIS-Cobre APA IPHAN IPAC PIF DNPM EMBASA PMP RMS LOUS ZPAM CAB ZEIS PMSB PMCMV SAT CEAO COMAM SECULT-BA CEASB UNEB PPGEDUC TACC - TÁ SEDHAM SECIS BIRD AAE AAI DISEP FECAB MTST NEGC SUCOP UC ZA ZI ZIE ZHC ZOT ZP ZR ZUC ZUE Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura Parque São Bartolomeu Secretaria de Desenvolvimento Urbano Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia Organização Não Governamental The Nature Conservancy Fundo Mundial para a Natureza Sistema Nacional de Unidades de Conservação Sistema de Áreas de Valor Ambiental e Cultural Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano do Município de Salvador Áreas de Proteção de Recursos Naturais Poligonal de Intervenção Social da Bacia do Cobre Área de Proteção Ambiental Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia Poligonal de Intervenção Física Departamento Nacional de Produção Mineral Empresa Baiana de Águas e Saneamento S.A Parque Metropolitano de Pituaçu Região Metropolitana de Salvador Lei de Ordenamento de Uso e Ocupação do Solo Zona de Proteção Ambiental Coeficientes de Aproveitamento Básico Zona Especial de Interesse Social Plano Municipal de Saneamento Básico Programa Minha Casa Minha Vida Serviço de Atendimento ao Turista Centro de Estudos Afro-Orientais Conselho Municipal de Meio Ambiente Secretaria de Cultura da Bahia Centro de Educação Ambiental São Bartolomeu Universidade do Estado da Bahia Programa de Pós-graduação em Educação e Contemporaneidade Tendas de Arte Cultura, Comunicação e Ciência Secretaria Municipal do Planejamento, Urbanismo e Meio Ambiente Secretaria Cidade Sustentável Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento Área Estratégica Externa Área Estratégica Interna Distrito de Segurança Pública Federação Baiana de Cultos-Afro Movimento dos Trabalhadores Sem Teto Núcleo Estratégico de Gestão Compartilhada Superintendência de Conservação e Obras Públicas Unidade de Conservação Zona de Amortecimento Zona Intangível Zona de Intervenção Experimental Zona Histórico-Cultural Zona de Ocupação Temporária Zona Primitiva Zona de Restauração Zona de Uso Conflitante Zona de Uso Extensivo

RESUMO EXECUTIVO 1. ENCARTE 1: CONTEXTUALIZAÇÃO DO PARQUE SÃO BARTOLOMEU 1.1. Enfoque Internacional 1.1.1. Análise do Parque São Bartolomeu frente a sua situação de inserção em Reserva da Biosfera ou outros atos declaratórios internacionais As Reservas da Biosfera, criadas a partir de 1976, são concebidas como territórios terrestres ou costeiros cuja missão é a conservação da biodiversidade, promoção do desenvolvimento sustentável e fomento à pesquisa, ao monitoramento e à educação ambiental, atividades recomendadas pelo Programa Homem e Biosfera (MaB Man and the Biosphere) da UNESCO (RBMA, 1995). No Brasil, a Reserva da Biosfera da Mata Atlântica (RBMA) integra, atualmente, uma área de cerca de 35 milhões de hectares, em 15 estados brasileiros. No estado da Bahia, a RBMA abrange parcelas territoriais de 170 municípios (CNIP, 2012). O Parque São Bartolomeu (PSB), localizado em Salvador/BA, foi definido como uma das três áreas piloto da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica no estado da Bahia, enquanto território pertencente ao Parque Metropolitano de Pirajá (RBMA, 1995). Mesmo mediante a este reconhecimento internacional e mobilização de lideranças e instituições locais, o PSB passou por um significativo período sem nenhuma ação governamental concreta para sua proteção e recuperação, sendo que a retomada de intervenções na área sob a esfera do poder público só ocorreu em 2007 por meio do Projeto de Urbanização do Parque São Bartolomeu, no âmbito do Projeto de Desenvolvimento Integrado em Áreas Urbanas Carentes no Estado da Bahia, gerenciado e executado pelos órgãos do Estado da Bahia: Secretaria de Desenvolvimento Urbano (SEDUR) e Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (CONDER). O fato do PSB integrar uma área de mata atlântica que compõe um hotspot, de ser uma área piloto da Reserva da Biosfera, e, ainda, proteger um fragmento florestal em área urbana, atesta sua relevância para a conservação. Nesse sentido, o plano de manejo deste território constituirá um importante instrumento para a compreensão do seu estado de conservação atual tendo em vista a sua implantação frente ao contexto histórico, cultural e socioeconômico em que se encontra, além das possibilidades de financiamento junto a organismos internacionais. 1.1.2. Oportunidades de Compromissos com Organismos Internacionais Organizações não-governamentais (ONGs) como a Conservação Internacional (CI-BRASIL), The Nature Conservancy (TNC) e o Fundo Mundial para a Natureza (WWF-BRASIL), todas internacionais, mas com sede no Brasil, vem trabalhando no apoio à criação e implantação de áreas protegidas na Mata Atlântica. No âmbito socioambiental cabe mencionar o Banco Mundial, que realiza empréstimos, doações e garantias aos seus países-membros com o objetivo de reduzir a pobreza e as desigualdades (ONU, 2012 1 ), incluindo apoio a diversos projetos vinculados aos setores de saneamento e meio ambiente (Banco Mundial 2, 2012). 1 http://www.onu.org.br/onu-no-brasil/bancomundial/ 2 http://www.worldbank.org/ 1

1.2. Enfoque Federal 1.2.1. O Parque São Bartolomeu e o Cenário Federal O Parque São Bartolomeu (PSB) não se encontra categorizado no Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), sendo este regido pelo Sistema de Áreas de Valor Ambiental e Cultural (SAVAM), criado pela Lei Municipal nº 7.400/2008, que dispõe sobre o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano do Município de Salvador (PDDU). O PSB foi criado pelo Decreto Municipal de desapropriação nº 4.590 de 21/02/1974, com uma área de 75 ha e incorporado, posteriormente, ao Sistema de Áreas Verdes e Espaços Abertos de Salvador, pelo Decreto Municipal nº 4.756 de 13/03/1975, na categoria de Área de Domínio Público Não Edificável. Com o Decreto Municipal nº 5363 de 28/04/1978, o PSB, juntamente com a Represa do Rio do Cobre e o Sítio Histórico de Pirajá, passa a ser incorporado também ao Parque Metropolitano de Pirajá com uma área de 1.550 ha, criado pelo referido decreto. Na década de 1980, o território do PSB expandiu-se com a inclusão de 40,42 ha por meio do decreto 8.087 de 07/07/88 (Timmers, 2011). Quanto à categorização do PSB no SAVAM, observa-se que ele encontra-se inserido tanto no Subsistema de Unidades de Conservação dada a sua inserção na Área de Proteção Ambiental - APA Bacia do Cobre/São Bartolomeu, criada pelo Decreto Estadual nº 7.970 de 5/06/2001, quanto no Subsistema de Áreas de Valor Urbano-Ambiental, enquadrado na categoria Áreas de Proteção de Recursos Naturais APRN, na APRN das Bacias do Cobre e Paraguari que são destinadas à conservação de elementos naturais significativos para o equilíbrio e o conforto ambiental urbano. A Figura 1 apresenta a inserção do PSB no contexto das áreas protegidas. Figura 1. Mapa de localização do PSB no contexto das demais áreas protegidas. 2

1.3. Enfoque Estadual e Municipal 1.3.1. Implicações Ambientais e Institucionais A Mata Atlântica e as Áreas Protegidas no Estado da Bahia O Bioma Mata Atlântica no Estado da Bahia ocupava originalmente 33% de seu território (Fundação SOS Mata Atlântica e Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, 2011) (Figura 2). Como resultado do processo histórico de exploração da Mata Atlântica no Estado, no qual incluem-se também a industrialização, a expansão urbana, a Bahia possui atualmente apenas cerca de 9% da cobertura vegetal de seu território correspondente à Mata Atlântica (Fundação SOS Mata Atlântica e Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, 2011). Figura 2. Área de domínio do Bioma Mata Atlântica e áreas remanescentes florestais no Estado da Bahia. Fonte: Fundação SOS Mata Atlântica e Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (2011). Entretanto, apesar do acentuado grau de devastação, a Mata Atlântica da Bahia apresenta uma alta diversidade biológica, concentrando 30% das espécies endêmicas de aves, 10% das espécies endêmicas de anfíbios e todos os seis gêneros de primatas encontrados no bioma (Ministério Público do Estado da Bahia - Núcleo Mata Atlântica 3, 2012). Para proteger esse bioma, foram criadas 28 unidades de conservação (SNUC 4 ) entre Estaduais e Federais, as quais juntas protegem cerca de 1.540.464 hectares de Mata Atlântica (Secretaria do Meio Ambiente/Recursos Hídricos da Bahia, 2007). Também registrou-se a existência de cinco Parques Urbanos em Salvador, totalizando mais de dois 3 http://mpnuma.ba.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=59&itemid=75 4 Não identificou-se nenhum registro no Cadastro Nacional de Unidades de Conservação na esfera municipal. 3

mil e quinhentos hectares, os quais, por sua vez, também contribuem para a manutenção de remanescentes da Mata Atlântica na cidade. Áreas Prioritárias para a Conservação e o Corredor Central da Mata Atlântica O PSB, sob o contexto da APA Bacia do Cobre/São Bartolomeu, também constitui-se como área prioritárias para conservação, que prevê como ações prioritárias pesquisa, criação de mosaicos/corredores e de unidades de conservação, assim como ações voltadas à sua efetivação, como fiscalização, educação ambiental, e, também, ao ordenamento do uso do solo e recuperação de áreas degradadas (MMA, 2007 5 ). A Figura 3 apresenta a inserção do PSB no contexto das áreas protegidas e prioritárias. Figura 3. Parque São Bartolomeu no contexto das Áreas Protegidas e Prioritárias. Fonte: MMA (2007). Atualmente o PSB, enquanto território pertencente à APA Bacia do Cobre/São Bartolomeu, insere-se no contexto do Corredor Central da Mata Atlântica como Zona de Amortecimento, que visa tornar mínimas as pressões negativas sobre estes núcleos e promover a qualidade de vida das populações do entorno (CCMA-BA, 2012), reforçando a necessidade de maiores articulações entre os diferentes órgãos que incidem sobre estes territórios a fim de efetivar a proteção do bioma. O Parque São Bartolomeu e as Instituições Governamentais 5 Destaca-se que este documento encontra-se em fase de atualização, onde realizou-se em setembro a Oficina Preparatória para Revisão das Áreas Prioritárias para a Conservação do Estado da Bahia. Fonte: http://www.meioambiente.ba.gov.br/noticia.aspx?s=news_ger&id=8391 4

O PSB possui interface com instituições da esfera estadual (cultural, desenvolvimento urbano, saneamento básico, meio ambiente e segurança pública) e municipal (reparação e desenvolvimento urbano, habitação e meio ambiente). No entanto, observa-se que a maior interação ocorre, atualmente, com a SEDUR e a CONDER devido ao Projeto de Urbanização Parque São Bartolomeu, a partir do qual se tem buscado envolver as demais instituições governamentais no processo de planejamento da área. Entretanto, este esforço ainda é incipiente, necessitando ser fortalecido de forma a estabelecer, de fato, uma agenda interinstitucional para o PSB. Vale ainda destacar que apesar do Parque ser de domínio municipal, a Superintendência do Meio Ambiente, órgão municipal responsável por sua gestão, possui uma atuação pouco ativa no projeto de revitalização e planejamento da área, ocupando um papel secundário no processo, revelando, consequentemente, uma fragilidade institucional do PSB. 1.3.2. Potencialidades de Cooperação O PSB apresenta em seu histórico diversas mobilizações em prol da sua recuperação ambiental. Neste sentido, diversas instituições das esferas da sociedade civil, empresarial e governamental - com atuações em áreas diversas - se envolveram ao longo dos anos com o PSB, apoiando e/ou desenvolvendo ações no Parque. Foram identificadas 12 instituições governamentais, sendo uma federal, oito estaduais e três municipais; 30 instituições não governamentais e 03 da iniciativa privada, com potencialidade de cooperação. A partir desta listagem verifica-se a existência de um significativo potencial de apoio institucional ao PSB por meio de uma gama extensa e diversa de instituições, cuja atuação e atribuições vão ao encontro das características e demandas do PSB. Entretanto, no cenário atual o estabelecimento de parcerias institucionais ainda ocorre de forma incipiente, havendo, assim, a necessidade da priorização pela administração do PSB do estabelecimento de cooperação e convênios institucionais para o fortalecimento do Parque São Bartolomeu. 5

2. ENCARTE 2: ANÁLISE DA REGIÃO DO PARQUE SÃO BARTOLOMEU 2.1. Descrição da Área de Estudo Os principais resultados encontrados no diagnóstico foram divididos em duas partes ou níveis de detalhamento: (1) Análise Regional e (2) Análise Local. 2.1.1. Análise Regional A Área de Estudo Regional compreende os limites do município de Salvador BA, localizada na Figura 4. Figura 4. Área de estudo (regional), município de Salvador, Bahia, Brasil. 2.1.2. Análise Local A Área de Estudo Local compreende os limites da Poligonal de Intervenção Social (PIS) da bacia do Cobre, com ênfase no Parque de São Bartolomeu (PSB) e seu entorno imediato. A área de estudo local encontra-se localizada Figura 5. 6

Figura 5. Área de estudo (local), Parque São Bartolomeu (PSB) sobreposto com a APA Bacia do Cobre/São Bartolomeu, situado na Bacia do Cobre e entorno com os limites da PIS-COBRE (Poligonal de Intervenção Social), Bahia, Brasil. 2.2. Caracterização Ambiental 2.2.1. Vegetação A cidade de Salvador insere-se no Domínio Tropical Atlântico, tendo como formação vegetacional original a Mata Atlântica, com seus ecossistemas associados. A biota da Mata Atlântica é extremamente diversificada, considerada uma das mais ricas do ponto de vista da diversidade biológica. Com relação a sua flora, há estimativas da existência de 20 mil espécies de plantas vasculares, das quais aproximadamente seis mil restritas ao bioma. Caracteriza-se ainda um alto grau de endemismo, pois cerca de 70% das espécies de árvores que abriga são exclusivas das zonas costeiras. O valor ambiental e econômico da Mata Atlântica também pode ser observado pelo conjunto de plantas medicinais que este bioma abriga. Muitas destas são desconhecidas ou têm o potencial pouco pesquisado. Devidamente estudadas, podem se tornar importantes patrimônios para a medicina. A mata Atlântica, apesar de ocorrer desde Pernambuco até o Rio de Janeiro, é no sul da Bahia e norte do Espírito Santo que possuem maior expressividade. O conjunto da vegetação natural localizada em áreas urbanas forma uma base ecológica com diversas funções ambientais, cuja significância ou qualidade ambiental não se restringe apenas na composição florística de determinada área, mas também, pelo reconhecimento da complexa cadeia de eventos ecológicos associados. Neste contexto, a combinação de 7

alta diversidade e grande ameaça torna esse bioma uma das grandes prioridades para a conservação da biodiversidade em todo o mundo. 2.2.2. Fauna Segundo Reis et al. (2006), o Bioma da Mata Atlântica apresenta 250 espécies de mamíferos, sendo 22% endêmicas. Estudos indicam a existência de aproximadamente 112 espécies e morfoespécies de mamíferos na região centro-sul do Estado da Bahia (Prado et al., 2003). As dez espécies com maior número de publicações, são principalmente primatas. Já para a região central do estado está documentada a ocorrência de 58 espécies, das quais sete estão ameaçadas de extinção (Pereira e Geise 2009). A mata atlântica brasileira é o bioma mais diverso em relação à avifauna brasileira (Goerk, 1987), segundo revisão da literatura realizada por Souza e Borges (2008), a Bahia possui 775 espécies de aves distribuídas em 85 famílias. Já em relação à herpetofauna o Brasil se destaca, abrigando a segunda maior riqueza de répteis do planeta, com 732 das cerca de 9.670 espécies conhecidas mundialmente (Bérnils & Costa, 2011; Uetz, 2012). Para o grupo dos anfíbios, o Brasil ocupa o primeiro lugar em riqueza, abrigando 946 das cerca de 6.770 espécies conhecidas (Segalla et al., 2012; Frost, 2012), sendo este o grupo de tetrápodos mais ameaçado do planeta (Stuart et al., 2004). Grande parte desta riqueza encontra-se no nordeste do país, sendo que só para o Estado da Bahia já foram registradas aproximadamente 246 espécies de répteis e 150 de anfíbios (Freitas & Silva, 2004; Lira-da-Silva, 2011c). A maioria das pesquisas envolvendo a herpetofauna da Mata Atlântica se concentra no sudeste do país, tornando o conhecimento sobre as áreas florestadas do Nordeste brasileiro escasso. Nas últimas décadas, vários estudos têm revelado ocorrências e espécies novas originárias de fragmentos florestais próximos a áreas urbanas e muitas destas espécies já são descobertas sob ameaça de extinção. 2.2.3. Meio Físico A bacia do rio do Cobre, onde está inserido o Parque São Bartolomeu (PSB), localiza-se no chamado Subúrbio Ferroviário, zona norte de Salvador - BA. Destaca por abrigar uma das últimas áreas com exemplares da Mata Atlântica da cidade de Salvador. Grande parte dos remanescentes encontra-se no interior dos limites da APA da Bacia do Cobre/São Bartolomeu e do PSB e apresentam estágios de conservação precários. O mesmo pode ser dito quanto aos demais temas que compõem o ambiente regional, citando com exemplo a poluição das águas, a má gestão dos resíduos sólidos e líquidos e as áreas de risco geológico. Os terrenos da bacia do Cobre são acidentados e desenvolvidos sobre rochas cristalinas do embasamento e rochas sedimentares da Bacia do Recôncavo, separadas pela Falha de Salvador e recobertas por sedimentos arenosos de idade Cenozoica. Influenciado pela atuação de clima tropical chuvoso, os solos são espessos e argilosos. 2.3. Aspectos Culturais e Históricos Em 1º de novembro de 1501, a expedição que viera de Portugal para reconhecer as terras da recém descoberta colônia, encontrou uma baía ampla, cheia de ilhas e muitos habitantes, à qual, sob inspiração da própria data, dera o nome de "Baía de Todos os Santos". Um marco de pedra foi assentado no lugar hoje ocupado pela fortaleza e farol de Santo Antônio da Barra, assinalando as novas terras incorporadas ao patrimônio de Portugal (Oliveira, 2012). A presença dos europeus na região de Salvador data de 1510, quando ocorreu o naufrágio de um navio francês onde hoje encontra-se o bairro Rio Vermelho, e de cuja tripulação fazia parte Diogo Álvares, que recebeu o nome de Caramuru pelo índios Tupinambás do local, e 8

recebeu como esposa Paraguaçu, a filha de um chefe indígena. Caramuru passou a vida entre os indígenas da costa, e facilitou o contato entre os primeiros viajantes europeus com os povos nativos do Brasil. (Amaral e Rosado, 2012). Em 1536, chegou à região o primeiro donatário, Francisco Pereira Coutinho, que recebeu capitania hereditária de El Rei Dom João III, e fundou o arraial do Pereira, nas imediações onde hoje encontra-se a Ladeira da Barra (Oliveira, 2012). Em 29 de março de 1549, chega uma frota de colonos portugueses pela Ponta do Padrão, chefiado por Tomé de Sousa e comitiva, com ordens do rei de Portugal de fundar uma cidade fortaleza chamada do São Salvador. Desta maneira, é fundada a primeira capital do Brasil, sendo Tomé de Sousa o primeiro governador da colônia (Amaral e Rosado, 2012). Salvador teve, desde o início, a função de ser o pólo de colonização da América portuguesa, tornando-se o centro político-administrativo da Colônia. Além disso, a cidade representou, durante o período de colonização e de comércio do mundo português, um dos portos mais importantes do ponto de vista comercial e de localização estratégica, sendo passagem obrigatória de todas as embarcações do comércio vindas da África, Índia e da China para o Brasil (IPHAN, 2012). Em razão disso, e também por ser pólo econômico do ciclo da cana de açúcar e do tabaco (Amaral e Rosado, 2012), foi diversas vezes atacada e pilhada, com vista à sua ocupação, mesmo que por breve período de tempo. Como forma de se proteger destes ataques, os portugueses construíram diversos fortes que hoje são importantes marcos históricos, como o Forte de São João da Barra. A Bahia teve seu desenvolvimento econômico vinculado ao ciclo de exportação do açúcar e, mais tarde, ao do ouro e de diamantes (IPHAN, 2012), e a cidade de São Salvador foi a capital e sede da administração colonial do Brasil até 1763, quando a capital foi transferida para o Rio de janeiro. Após a mudança da capital, e com a abertura dos portos em 1808, Salvador cresceu como centro exportador e importador de escravos e de produtos manufaturados europeus (IPHAN, 2012). Durante o século XIX, Salvador continuou a influenciar a política nacional, tendo emplacado diversos ministros de Gabinete no Segundo Reinado, tais como José Antônio Saraiva, José Maria da Silva Paranhos, Sousa Dantas e Zacarias de Góis. No entanto, com a proclamação da República, e a crise nas exportações de açúcar, a influência econômica e política da cidade no cenário nacional decresce (Amaral e Rosado, 2012). Atualmente, o centro histórico de Salvador conserva a estrutura urbana original do século XVI, com sua expansão no século seguinte. Com pequenas alterações, a configuração urbana atual é a mesma que se vê na cartografia do fim do século XVII e começo do XVIII. Os sobrados de dois andares ou mais, as soluções planas no terreno em declive e a maneira de aproveitar o terreno, são exemplos típicos da cultura lusitana. Os sobrados e casas do centro histórico, que antes abrigavam quase que exclusivamente moradias, tornaram-se principalmente comerciais, atendendo à grande demanda de turismo da cidade, que tem como um dos principais atrativos seu acervo arquitetônico construído por igrejas, fortes, palácios e solares antigos (IPHAN, 2012). Populações Tradicionais Não foram identificadas terras indígenas regularizadas no município de Salvador. Por outro lado, verificou-se que há pelo menos 6 comunidades quilombolas no município, localizados: (a) na Ilha de Maré - Quilombo de Bananeiras, Praia Grande, Matelo, Ponta Grossa e Porto dos Cavalos; (b) na praia de São Tomé de Paripe - Quilombo do Alto do Tororó. 9

Patrimônio Histórico Cultural Material e Imaterial De acordo com o IPHAN e IPAC, o número de bens tombados no município de Salvador/BA pode variar entre 69 a 91 bens tombados. Dentre estes, encontra-se o a área do Parque São Bartolomeu, tombado pelo IPAC através do Decreto nº 8.357 de 05 de novembro de 2002 (Bahia, 2002). Em relação ao patrimônio imaterial, pode-se destacar duas principais categorias ou formas de expressão: o Samba de Roda do Recôncavo Baiano e o Ofício das Baianas de Acarajé. Tanto o Samba de Roda do Recôncavo Baiano, quanto o Ofício das Baianas de Acarajé, são manifestações ligadas às tradições religiosas que são praticadas no Parque São Bartolomeu. Desta maneira, garantir a manutenção destas tradições religiosas, é essencial para a perpetuação destes patrimônios imateriais tombados pelo IPHAN. 2.4. Uso e Ocupação da Terra e Problemas Ambientais Decorrentes A região da Bacia Hidrográfica do Rio do Cobre apresenta duas grandes classes de uso do solo: área urbana consolidada (cerca de 38% desse território 962,15 ha), e florestas em estágios inicial, médio e avançado (39% do território 975 ha). O mapeamento identificou que no interior do PSB 11,93 ha ocupados por áreas classificadas na classe urbana (construções isoladas, consolidadas ou não consolidadas). Em 2009, a CONDER mapeou 441 edificações localizadas no interior PSB (CONDER, 2009), das quais parte foi removida pela CONDER dentro do programa de regularização fundiária que se encontra em andamento, no entanto, novas ocupações e reincidência de pessoas já removidas ocorrem constantemente. 2.5. Características da População A dinâmica populacional e econômica do município de Salvador é constituída pelas seguintes características: - População urbana/rural, foi verificado que o município de Salvador se caracteriza por uma população essencialmente urbana e com alto grau de urbanização. Em particular, com os dados censitários especializados no entorno da área de estudo, foi observado um adensamento populacional no entorno da PIS-Cobre e no PSB (do lado oeste em direção ao PSB e PIS-Cobre) nos limites de bairros de Fazenda Coutos e Coutos, Periperi, Rio Sena, Plataforma, São João do Cabrito, Alto do Cabrito e Pirajá. - Gênero, foi observado que Salvador possui um padrão que segue uma tendência de apresentar proporções maiores de população urbana e de mulheres, em relação à população rural e de homens. - Raça/cor, notado um aumento mais expressivo da população negra de 1991 a 2010, alcançando 27,4% do total de habitantes, que pôde ser visto também com a redução da proporção de pessoas pardas e brancas. Dentre os prováveis fatores que contribuíram para esse aumento da população negra, pode-se indicar que... não é causado por uma maior taxa de natalidade entre os negros (...) mas ao auto-reconhecimento das pessoas como negras. - Aspectos educacionais, de 2000 a 2010, observou uma redução da taxa de analfabetismo no município de Salvador, reduzindo de 6,3% para 3,97%, considerando a população com 15 anos ou mais de idade, por grupos de idade. Em 2010, observa-se que em números absolutos, pessoas pretas ou pardas compõem a maioria nos grupos de idade acima com 40 anos ou mais (somando 24 e 29,6 mil pessoas com 15 anos ou mais que não sabem ler e escrever, respectivamente). No total de pessoas com 15 anos ou mais analfabetas, as pardas são aquelas com maior proporção (49%), seguida das pessoas pretas (38,4%) e brancas (10,8%). 10

- Saneamento, a distribuição percentual de saneamento entre 2000 e 2010 mostrou que houve melhoria no atendimento de água pela rede geral, coleta de esgotamento sanitário ou tratamento por fossa séptica e coleta de lixo em Salvador. Entretanto, nota-se uma relativa redução do serviço de esgotamento sanitário nos bairros que fazem divisa no limite do PSB e da PIS-Cobre, e uma possível causa seria a distribuição atual (2010) dos setores censitários, mostrando deficiências que antes não eram possíveis de avaliar devido à escala. O Parque São Bartolomeu está localizado próximo à foz da Bacia do Rio do Cobre, sendo que a maior parte das nascentes encontra-se fora do parque. Estes baixos índices de saneamento podem resultar em rios altamente poluídos com esgotos domésticos, e algumas vezes industriais, e com resíduos sólidos. Estes rios correm para dentro do Parque e formam as principais cachoeiras utilizadas pelos cultos de matriz africana, a de Oxum, a de Nanã e a de Oxumaré, comprometendo não só as práticas religiosas como também a saúde destes frequentadores. 2.6. Visão e Relação das Comunidades sobre o Parque São Bartolomeu Neste tópico serão apresentadas as visões e relações entre os moradores do interior e do entorno da Poligonal de Intervenção Física Urbanização Parque São Bartolomeu a partir dos dados levantados através da aplicação de questionários semi estruturados junto à uma amostra desta população, bem como da realização de Oficinas de Diagnóstico Participativo junto a representantes da sociedade civil e do poder público. Foram aplicados 350 questionários, sendo 209 junto a moradores do interior da PIF Urbanização Parque São Bartolomeu, e 139 junto à moradores localizados nos limites imediatos desta PIF. A aplicação ocorreu através de uma amostragem aleatória, tentando abranger a maior variabilidade possível de moradores, e tomando a unidade familiar como unidade amostral. A oficina realizada no escritório central da CONDER contou com a participação de diversos representantes do poder público, enquanto as demais contaram com a participação de representantes de associações da sociedade civil do entorno da PIF Urbanização Parque São Bartolomeu. Os dados levantados pelos questionários e pela oficina mostram que o uso rural familiar ainda é bastante presente na região, e a não utilização de agrotóxicos e fertilizantes, minimiza as possibilidades de contaminação dos córregos e do solo. Mesmo com o atual estado de abando, o PSB ainda representa um importante espaço de lazer para os moradores locais, principalmente os rios e cachoeiras, e as trilhas. Além disso, representa também uma importante fonte de subsistência, pois grande parte daqueles que disseram que utilizam o PSB, realizam a coleta de frutas tanto para o consumo quanto para a venda. Outro ponto que merece ser destacado é que, dado a importância histórica e cultural do PSB, os principais cultos realizados no seu interior estão relacionados às religiões de matriz africana, no entanto também existem cultos relacionados a outras religiões. Ainda neste contexto, diversos entrevistados afirmaram que coletam ervas dentro do PSB, das quais muitas são utilizadas em rituais religiosos. Os dados levantados pelos questionários correspondem às informações levantadas durante as Oficinas de Diagnóstico Participativo, que indicaram que os participantes reconhecem a importância histórica, cultural e religiosa do PSB enquanto um patrimônio que deve ser protegido. Reconhecem também que os recursos naturais do PSB, principalmente as frutas, são utilizadas por diversos moradores da região enquanto uma importante complementação de renda. Dentre as ameaças apontadas nas oficinas, a contaminação do rio Mané Dendê por esgotos domésticos, e dos rios de Pirajá por esgotos domésticos e industriais foram diversas vezes ressaltadas enquanto aspectos que precisam ser urgentemente combatidos. 11

2.7. Legislação Federal, Estadual e Municipal Pertinente O conhecimento e entendimento da legislação ambiental, em suas diferentes esferas, é um aspecto fundamental para a adequada gestão de uma área protegida. Esse deve ser um tema de capacitação e estudo do gestor do PSB e seus funcionários, principalmente dos futuros guarda-parques que irão atuar no local. Foi realizada uma compilação dos instrumentos legais que podem ter influência direta e indireta sob o PSB, considerando as diferentes instâncias. Com relação à legislação federal foram identificadas um total de 65 instrumentos legais, divididos entre as seguintes categorias: 08 sobre Proteção Ambiental e Controle da Poluição, 20 sobre Flora, 08 sobre Fauna, 14 sobre Recursos Hídricos, 03 sobre Clima, 04 sobre Educação Ambiental e 08 sobre Unidades de Conservação e Outros Espaços Territoriais Especialmente Protegidos. Na esfera estadual foram identificados 88 instrumentos, sendo: 20 sobre Proteção Ambiental e Controle da Poluição, 14 sobre Fauna, 12 sobre Flora, 02 sobre Clima, 15 sobre Recursos Hídricos, 09 sobre Uso e Ocupação do Solo, 16 sobre Unidades de Conservação e Outros Espaços Territoriais Especialmente Protegidos e 03 sobre Educação Ambiental. E na esfera municipal foram encontrados 32 instrumentos legais, divididos nas seguintes categorias: 06 sobre Proteção Ambiental e Controle da Poluição, 11 sobre Zoneamento e Uso do Solo, 04 sobre Flora, 08 sobre Unidades de Conservação e Outros Espaços Territoriais Especialmente Protegidos e 03 sobre Educação Ambiental e Participação. Apesar do PSB não ser reconhecido, formalmente, como uma Unidade de Conservação, foram incluídas normas que tratam dessa temática devido à sua localização no interior da APA Bacia do Cobre, uma UC formalmente reconhecida pelo Estado da Bahia e devido a possibilidade de futuro enquadramento do PSB como Parque Natural Municipal, categoria de manejo reconhecida pelo SNUC. 2.8. Potencial de Apoio ao Parque São Bartolomeu O município de Salvador possui diversos tipos de serviços urbanos e turísticos que apresentam potencialidade de apoio ao Parque São Bartolomeu. No setor de comunicação, o município apresenta 04 operadoras de telefonia fixa e 05 operadoras de telefonia móvel; 36 agências de correios e telégrafos e 48 franqueadas; 03 jornais; 06 emissoras de televisão e 20 de rádio. Na área de saneamento e energia, o serviço é prestado pelas seguintes empresas: água/esgoto, Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa); limpeza urbana, Empresa de Limpeza Urbana de Salvador (Limpurb); Coleta seletiva, 21 cooperativas e associações; energia elétrica, Companhia Hidrelétrica do São Francisco (geração) e Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia (distribuição) (Salvador, 2009). A região do Subúrbio Ferroviário, onde encontra-se localizado o Parque, apresenta 25 estabelecimentos de saúde, sendo 1 hospital, 19 unidades de saúde da família, 04 centros de saúde e 01 pronto atendimento. No setor de segurança pública 25 unidades da Polícia Militar encontram-se distribuídas em bairros do Subúrbio Ferroviário e cerca de 10 Delegacias da Polícia Civil atendem a região. Na área de educação, registrou-se o número de 45 escolas públicas presentes na região. No setor de turismo, Salvador destaca-se como um dos principais destinos turísticos no Brasil, devido à sua beleza natural e o rico acervo histórico e cultural. Nesse sentido, a cidade possui uma diversidade de infraestrutura de hospedagem, restaurantes e equipamentos culturais. 12

3. ENCARTE 3: ANÁLISE DO PARQUE SÃO BARTOLOMEU 3.1. Informações gerais sobre o Parque São Bartolomeu 3.1.1. Acesso ao Parque São Bartolomeu A principal via de acesso ao Parque São Bartolomeu é a Avenida Suburbana (Av. Afrânio Peixoto), via asfaltada que possibilita o tráfego de automóveis até a entrada do Parque. É também possível chegar ao PSB por uma ramificação da BR-324 (Estrada Velha de Pirajá) que atravessa o Sítio Histórico do bairro Pirajá e se prolonga por um trecho até alcançar as proximidades do PSB (Fonseca, 1998). O deslocamento via transporte coletivo para o PSB se dá pelas linhas de ônibus, especialmente por Pirajá e pela Suburbana, que possui mais de 100 linhas, (Salvador 6, 2009) e, também, através de transporte ferroviário com destino à estação mais próxima do Parque, a Estação Almeida Brandão, localizada no bairro Plataforma (Fonseca, 1998). 3.1.2. Origem do nome O Parque São Bartolomeu leva o nome da então freguesia de São Bartolomeu, uma das mais antigas do Arcebispado da Bahia, constituída a partir da construção da Igreja de São Bartolomeu na região de Pirajá, no século XVI. O sítio em que se encontra a Igreja de São Bartolomeu, foi palco de lutas e resistências históricas como a 2ª Invasão Holandesa, a Independência da Bahia e o episódio da Sabinada. Os veteranos da independência foram sepultados na Igreja e próximo a ela encontra-se também o Panteon do General Labatut, participante das batalhas pela Independência da Bahia, no Dois de Julho (1823) (Formigli, 1998; Rêgo, 2001). O nome do Parque também denota um sincretismo, onde o santo católico São Bartolomeu é sincretizado com a divindade do candomblé representada pela serpente e pelo arco-íris: Oxumaré/Oxumarê (Orixá), Bessen (Vodun) ou Angolomeian/Angorô (Nkisi). Segundo Pinto (1998), Oxumaré é o responsável pelo ciclo da água na Terra e aquele quem transporta a água para o céu e a faz cair em forma de chuva. Uma das cachoeiras presente no Parque também leva o nome Oxumaré/São Bartolomeu, sendo suas águas consideradas milagrosas, sagradas. 3.2. Caracterização dos Fatores Abióticos e Bióticos 3.2.1. Meio Físico Clima O clima na área de abrangência do PSB é caracterizo pela ocorrência de precipitação em todos os meses do ano e temperatura média do mês mais frio do ano superior a 18 C, sendo classificado como clima do tipo Af (tropical chuvoso). Os totais pluviométricos anuais são de 1700 a 1800 mm, irregularmente distribuídos ao longo do ano. As precipitações são menores no período entre setembro e fevereiro e maiores entre março e julho, sendo abril e maio os meses mais chuvosos. A umidade relativa é bastante elevada e tem como limites as isohigras de 80 a 85%. 6 Disponível em: <http://www.transalvador.salvador.ba.gov.br/transporte/categorias/onibus/linhas.php>. Acesso em 21 set. 2012. 13

A temperatura média anual é de 25 C, com médias máximas superiores a 29 C (setembro a abril) e médias mínimas acima de 19 C, sendo ausente um período frio. Geologia No contexto geológico regional, a Falha de Salvador é a principal feição estrutural, originada a partir do estiramento crustal ocorrido no Jurássico-Cretáceo, com direção geral N20ºE e rejeito superior a 4.000m. A escarpa recuada da Falha de Salvador se impõe como uma grande barreira geográfica, sendo de extrema importância do ponto de vista histórico, cultural, social e econômico da cidade de Salvador. Atualmente divide a cidade em dois compartimentos: Cidade Alta e Cidade Baixa. As rochas que ocorrem na bacia do rio do Cobre e PSB são aquelas da bacia sedimentar do Recôncavo e os granulitos do Alto de Salvador, ambas parcialmente recobertas por sedimentos da Formação Barreiras. No interior do PSB predominam rochas da Fm. Salvador na porção leste (38% da área do PSB), rochas granulíticas na porção oeste (29%), sedimentos do Gr. Barreiras nas áreas mais elevadas (24,5%) e depósitos recentes no fundo do vale do rio do Cobre (6%). Folhelhos da Fm. Pojuca (1%) e corpos d água (1,5%) ocorrem em áreas restritas. Complexo Granulítico Salvador - Esplanada: representam rochas do embasamento précambriano e afloram nas porções inferiores das vertentes orientais da bacia do Cobre. Localmente, predominam os granulitos ácidos, com biotita e granada, com foliações metamórficas de direção N-S e estruturas gnáissicas, cortadas por potentes diques de diabásico e de aplitos graníticos. É possível identificar nessas rochas, bandamentos marcados pela alternância de minerais claros, como quartzo e feldspatos, e mais escuros, como micas, piroxênicos, anfibólicos e granadas. A exploração mineral se dá para fins ornamentais e construção civil. As características geotécnicas podem favorecer o desenvolvimento de movimentos de massa, principalmente quando associadas às vertentes íngremes. Formação Pojuca (Gr. Ilhas): tem origem a partir de lagos profundos no Cretáceo inferior, que foram preenchidos por folhelhos, arenitos turbidíticos e deltaicos com intercalações cíclicas de arenitos, folhelhos e calcáreos. Ocorre de maneira restrita na porção sudoeste da área. Formação Salvador: conglomerados compostos por matriz argilo-arenosa e clastos de tamanhos variados, pouco arredondados a angulosos e constituídos de rochas granulíticas, rochas básicas e fragmentos de quartzo. Intensamente fraturada, com direções preferenciais N60ºW, mergulho vertical; N40ºE, mergulho 55ºNW. Tais características litológicas e estruturais condicionam o desenvolvimento de um manto de intemperismo muito argiloso, o que facilita a ocorrência de movimentos de massa. As rochas da Fm. Salvador são responsáveis por grandes blocos rolados e muitas cachoeiras que marcam a paisagem do PSB, a exemplo das cachoeiras de Nanã e Oxum e Oxumaré. Grupo Barreiras: sedimentos terrígenos inconsolidados, de idade cenozoica (Mioceno- Pleistoceno inferior) A composição granulométrica é variada, desde arenitos finos a grossos, argilitos cinza avermelhados, roxos e amarelados, arenitos grossos a conglomeráticos com matriz caulínica e camadas enriquecidas em nódulos e concreções ferruginosas. Ocorre na porção nordeste da bacia do Cobre, onde são encontras áreas antigas áreas de exploração para a construção civil. As características geotécnicas favorecem a implantação de pequenas obras de engenharia, porém com restrições aos grandes cortes e aterros. Depósitos Recentes: Os depósitos recentes compreendem sedimentos Quaternários inconsolidados. Os depósitos apresentam pouca expressão territorial, em geral associados à faixa costeira (praias arenosas), cursos d água (depósitos aluviais) e desembocadura de rios 14

(depósitos flúvio-marinhos). A composição compreende material mineral e orgânico e a granulometria varia de acordo com o ambiente deposicional. Recursos Minerais As ocorrências minerais da bacia do cobre estão relacionadas a substâncias não metálicas, baixo valor agregado e utilização na construção civil, como a areia, argila, saibro e granulitos. Entre os requerimentos registrados junto ao Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) apenas o processo de número 870430/1992 (Civil Industrial e Comércio LTDA) está na fase de lavra, os demais processos encontram-se na fase de requerimento para pesquisa ou disponibilidade. No alto curso do rio do Cobre foram identificadas áreas de exploração de material de empréstimo do Gr. Barreiras que não se encontram registradas junto ao DNPM. A retirada do material arenoso sem o devido controle causa grande modificações no relevo local, potencializa o desenvolvimento de processos erosivos e o assoreamento de corpos d água, o que agrava ainda mais a qualidade das águas superficiais de toda a bacia do Cobre. Geomorfologia O relevo da bacia do Cobre é fortemente ondulado, dominado por colinas e morros com altitudes que variam desde zero até 110m acima do nível do mar, com escarpas localizadas e rios encachoeirados. As encostas são íngremes, com declividades superiores a 15%, condicionadas por estruturas geológicas e sustentadas por rochas conglomeráticas da Fm. Salvador e granulitos do embasamento pré-cambriano. Os topos são convexos e aplainados, em geral, capeados por sedimentos do Gr. Barreiras. A rede de drenagem é marcada por forte controle estrutural, com padrão retangular a subdendrítico e anomalias (trechos retilíneos, cotovelos, cachoeiras, entre outros). Os vales são profundos em forma de V, sendo a densidade de canais moderada a alta. A melhor expressão do controle estrutural é a influência da falha de Salvador no alinhamento do canal principal do rio do Cobre e encosta do Pirajá. O território do PSB é constituído por formas de relevo do tipo encostas íngremes (82%), topos convexos (9%), planície fllúvio-marinha (7,5%) e corpos d água (1,5%). Planície flúvio-marinha: localizada na porção sudoeste da área, junto à desembocadura do rio do Cobre, trata-se de um amplo vale de fundo plano, com altitudes inferiores aos 5 metros, preenchido por sedimentos fluviais e marinhos e ricos em material orgânico. O vale da desembocadura do rio do Cobre é a mais espetacular feição geomorfológica do PSB e suas vertentes contemplam boa parte dos atrativos naturais e pontos de visitação do parque, como as cachoeiras de Nanã e Oxum, Oxumaré e Cobre. Planície fluvial: distribuídas por toda a bacia do Cobre, são encontradas ao longo do fundo dos vales fluviais e caracterizam-se por terrenos planos e estreitos, onde podem ser observados depósitos sedimentares pouco espessos, constituídos por areias, argilas e material orgânico. Encostas íngremes: são as formas de relevo mais abundantes da bacia do Cobre, com declividade é superior a 15% e a amplitudes que podem ultrapassar 80m. Vale atentar-se para as encostas no interior do PSB, pois são encostas muito íngremes originadas pela ação dos processos erosivos sobre o sistema de falha de Salvador, cuja evolução natural se dá por meio da ação dos diferentes processos erosivos, sendo comum a ocorrência de sulcos erosivos e movimentos de massa. No caso da bacia do Cobre, a alta inclinação das encostas aliada às intervenções antrópicas, que alteram a geometria e fluxos das águas superficiais nas vertentes, favorecem a ação dos processos erosivos, aumentando tanto sua frequência como sua magnitude. 15

Topo Convexo: posicionadas nas porções mais elevadas do relevo, apresentam-se alongados e estreitos, com geometria convexa para baixo, sendo mais suave e amplo em áreas constituídas por sedimentos do Gr. Barreiras do que em terrenos esculpidos em sedimentos da Fm. Salvador e rochas do complexo granulítico. Os processos morfogenéticos predominantes nas áreas de topo são de baixa intensidade, devido à baixa declividade e ao espesso manto de alteração, que favorece a infiltração e minimiza a ação erosiva das águas superficiais. Pedologia O clima tropical chuvoso, com chuvas em todos os meses do ano, é um importante fator para o desenvolvimento de solos espessos e argilosos e fatores geológicos e geomorfológicos condicionam a distribuição espacial dos solos na bacia do Cobre. De maneira geral, predominam solos do tipo Argissolos, dispostos sobre terrenos ondulados a fortemente ondulados e sustentados por litologias variadas. Latossolos ocorrem em terrenos mais planos do Gr. Barreiras e os solos hidromórficos estão associados aos sedimentos recentes das planícies fluviais e marinhas. No território do PSB os Argissolos e Latossolos ocupam 87% de toda a área, dominando tanto as formas de encosta como topos convexos. Nas áreas de planície flúvio-marinha ocorrem solos hidromórficos como Gleissolos Tiomórficos Húmicos (5,5%) e Plintossolos Háplicos (5,5%), além dos corpos d água (1,5%). Neossolos Litólicos e afloramentos rochosos ocorrem de forma restrita (0,5%), em blocos rolados ou setores de encostas com solos rasos, e muitas vezes não podem ser representados cartograficamente. Latossolos Vermelho-Amarelos e Amarelos: configuram em solos minerais não hidromórficos, comumente profundos e em avançado estágio de alteração, com CTC baixa e reduzida fertilidade natural. Ocorre em pequenas áreas na porção norte da bacia do Cobre, capeando relevo ondulado com topo plano desenvolvido sobre os sedimentos do Gr. Barreiras. Argissolos Vermelho-Amarelos e Amarelos: solos minerais geralmente profundos, não hidromórficos, que têm como característica diferencial a presença de horizonte B textural imediatamente abaixo de qualquer tipo de horizonte superficial, exceto o hístico. Apresentam baixa fertilidade natural e favorece o desenvolvimento de movimentos de massa. Neossolos Litólicos: são solos imaturos em via de formação, seja pela reduzida atuação dos processos pedogenéticos ou por características inerentes ao material originário. Apresenta grandes limitações agrícolas e em condições de pouca cobertura vegetal, aliada às precipitações concentradas, facilita o desenvolvimento de processos erosivos e movimentos de massa rápidos. Plintossolos: solos minerais formados em condições de restrição à percolação da água (encharcados), sujeitos ao efeito temporário de excesso de umidade (mal drenados) e se caracterizam fundamentalmente por apresentar expressiva plintitização com ou sem petroplintita. No PSB situam-se em áreas planas nas margens dos cursos d água ou no terço inferior das encostas, o que minimiza o efeito dos processos erosivos. Predominam cores pálidas e mosqueados, textura arenosa e elevada acidez. O aproveitamento agrícola se dá por meio de drenagem, adubação e calagem. Gleissolos: constituídos por material mineral e encontram-se permanente ou periodicamente saturados por água (hidromórficos). Caracterizam-se pela forte gleização, com a manifestação de cores neutras em decorrência do ambiente redutor e teores elevados de carbono orgânico. No PSB os Gleissolos são desenvolvidos a partir dos sedimentos flúvio- 16