DIREITO CIVIL CLASSIFICAÇÕES DA POSSE Danilo D. Oyan



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Transcrição:

DIREITO CIVIL CLASSIFICAÇÕES DA POSSE Danilo D. Oyan JUS POSSIDENDI = direito à posse que resulta do direito de propriedade. O possuidor tem a posse e também é proprietário. O titular pode perder a posse e nem por isso deixará de ser o proprietário. JUS POSSESSIONIS = direito de posse que resulta da posse exclusivamente. Decorre do fato da posse. O possuidor nesse caso não é o proprietário. ESBULHO = ato que importa na impossibilidade do exercício da posse pelo possuidor. O possuidor fica injustamente privado da posse. Para recuperar a posse a ação é de REINTEGRAÇÃO DE POSSE. TURBAÇÃO = ato que dificulta o exercício da posse, porém não o suprime; ato que embaraça o exercício da posse. O possuidor permanece na posse da coisa, ficando apenas cerceado em seu exercício. Para ser mantido na posse a ação é de MANUTENÇÃO DE POSSE. POSSE - O CC não define a posse. Dá, porém, o conceito de possuidor de acordo com o art. 1.196: Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade. A CLASSIFICAÇÃO DA POSSE: 4.1. POSSE DIRETA E INDIRETA (art. 1.197 do CC). DIRETA: possuidor direito é aquele que detém materialmente a coisa. Indireta: o proprietário, aquele que concedeu ao primeiro o direito de possuir. Ex.: locação: o inquilino ou locatário por força do contrato tem a posse direta; o proprietário ou o locador a indireta. Comodato: o comodatário tem a posse direta e o comodante a posse indireta. Característica da posse direta: caráter TEMPORÁRIO (baseia-se numa relação transitória de direito). O possuidor direto pode propor ação possessória contra o possuidor indireto. Ex.: o locador que tenta reapoderar da coisa locada, contra a vontade do locatário POSSUIDOR INDIRETO também desfruta da proteção possessória para a defesa da posse direta. Ex.: o locador pode defender-se contra turbações de terceiros, mas não contra o próprio locatário. PROPRIETÁRIO: De regra, os poderes da propriedade estão reunidos em uma só pessoa. O titular, isto é o proprietário, é ao mesmo tempo o detentor do domínio e seu possuidor. Mas, esses poderes podem estar distribuídos entre outras pessoas, conforme art. 1.197 do CC: RELAÇÃO ENTRE DIRETA E INDIRETA: A posse DIRETA, de pessoa que tem a coisa em seu poder temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, NÃO ANULA a INDIRETA, de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua posse contra o indireto. O Direito Civil moderno distingue a posse, quanto ao seu exercício, em direta e indireta. Diz-se indireta a posse quando o seu titular, afastando de si por sua própria vontade a detenção da coisa, continua a exercê-la imediatamente após haver transferido a outrem a posse direta. Há um desdobramento da relação possessória. O Código Civil em seu artigo 486 nos mostra que o usufrutuário, o depositário, o credor pignoratício, o locatário e o comodatário são possuidores diretos, pois todos detêm a coisa que lhes foi transferida pelo dono, mas este, ao transferir a coisa, conservou a posse indireta, por força de seu direito dominial. 1

Assim, a lei reconhecendo o possuidor direto e o possuidor indireto, dá a ambos a possibilidade de recorrer aos interditos (ações) para proteger sua posição ante terceiros, além de conceder-lhes tais remédios possessórios um contra o outro, se necessário for. 4.2. COMPOSSE Art. 1.199: Se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, poderá cada uma exercer sobre ela atos possessórios, contanto que não excluam os dos outros compossuidores. CONCEITO duas ou mais pessoas exercem, simultaneamente, poderes possessórios sobre a mesma coisa. Ex.: marido e mulher, (casados em regime de comunhão de bens), exercem simultaneamente a posse sobre coisa comum; co-herdeiros antes da partilha. COMPOSSES PRO INDIVISO = pessoas que possuem em conjunto um bem têm uma parte ideal apenas. Ex.: 5 pessoas têm a posse de um imóvel, mas, como não está determinada qual a parcela que compete a cada uma, cada uma delas passa a ter 1/5 da parte ideal. COMPOSSE PRO DIVISO = ainda que não haja uma divisão de direito já existe uma repartição de fato (cada um dos compossuidores já possui a sua parte certa). EM RELAÇÃO À TERCEIROS qualquer dos compossuidores poderá usar os remédios possessórios que se fizerem necessários. A COMPOSSE É, EM REGRA, TEMPORÁRIA, pois assim que se faz a divisão encerra-se a composse. Mas, a composse pode ser perpétua. Ex.: edifício de apartamentos; nesse caso ao lado da propriedade exclusiva sobre as unidades autônomas, existe a composse sobre o solo e as partes de uso comum (hall de entrada, corredores, elevadores, teto, etc). É a composse perpétua, no sentido de que não se extingue enquanto existir o referido prédio. Desde o Direito Romano, decorre a simultaneidade da existência da posse por mais de um possuidor, desde que o exercício por mais de um compossuidor não impeça o exercício por parte do outro. Assim, os romanos não admitiam a possessio in solidum, ou seja, que várias pessoas possuíssem a mesma coisa sem recíprocas limitações. A composse no Direito moderno não se alterou muito. O nosso Código Civil, por exemplo, em seu artigo 488 afirma: Se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa ou estiverem no gozo do mesmo direito, poderá cada uma exercer sobre o objeto comum atos possessórios, contanto que não excluam os dos outros compossuidores. Desta forma, os cônjuges no regime de comunhão de bens (compossuidores sobre patrimônio comum) e os condôminos que são compossuidores podem reclamar a proteção possessória caso sejam turbados, esbulhados, ou ameaçados em sua posse, contra terceiros ou mesmo seus consortes. 4.3. POSSE JUSTA E POSSE INJUSTA (CC, art. 1200). JUSTA quando a posse não é violenta, clandestina ou precária. Deve ser pública e contínua, para que o possuidor possa se valer dos meios de defesa admitidos em direito. INJUSTA é a posse que se reveste de alguns daqueles vícios (violência, clandestinidade ou precariedade). POSSE VIOLENTA é aquela que se adquire pela força. Ex.: quando expulsa-se de um imóvel, por meios violentos, o anterior possuidor. A posse que não é violenta denomina-se posse mansa, pacífica e tranqüila. POSSE CLANDESTINA é aquela se estabelece às ocultas. É a posse que se constitui às escondidas. Ex. aquele que furta um objeto ou ocupa um imóvel de outro às escondidas. Situação contrária à clandestinidade é a publicidade. 2

POSSE PRECÁRIA é aquela que se origina do abuso de confiança por parte de quem recebe a coisa com a obrigação de restituí-la, e depois, se recusa a fazê-lo. Ex. vencimento do contrato de comodato, quando o comodante se recusa a devolver o bem ao comodatário. Tanto no Direito Romano como no Direito moderno, os conceitos de posse justa e injusta se fundamentam na presença ou não dos vícios da posse: clandestinidade, violência e precariedade. A posse é clandestina quando alguém ocupa coisa de outro às escondidas, sem ser percebido, ocultando seu comportamento. A rigor, este caso não pode ser caracterizado como posse, pois se opõe à conceituação de exteriorização de domínio, onde a publicidade se faz mister para sua existência. Apesar disto, o Código Civil em seu artigo 497 admite a convalescência do vício da clandestinidade, onde cessada esta característica, através de atos ostensivos do possuidor, que além de ocupar a terra alheia, ali constrói, planta e vive, e o proprietário deixa de reagir por mais de ano e dia, aquela posse de início viciada, deixa de o ser, ganhando juridicidade, possibilitando a seu titular a invocação da proteção possessória. A tomada de posse por meio violento é viciada para fins de direito, mas a lei contempla a hipótese da violência cessar e, a posse, originalmente viciada, pode ganhar juridicidade. Isto ocorre quando o esbulhado deixa de reagir durante o período de ano e dia, e o esbulhador exerce a posse pacífica por tal lapso de tempo, o que faz com que este adquira a condição de possuidor, pela cessação da violência. É precária a posse daquele que, tendo recebido a coisa para depois devolvê-la (como o locatário, o comodatário, o usufrutuário, o depositário, etc.), a retém indevidamente, quando a mesma lhe é reclamada. A precariedade prejudica a posse, não permitindo que ela gere efeitos jurídicos e, diferentemente da violência e clandestinidade, segundo Silvio Rodrigues, não cessa nunca, não gerando, em tempo algum, posse jurídica. O artigo 492 do Código Civil, presume manter a posse o mesmo caráter com que foi adquirida. Mas tal presunção (juris tantum) é relativa, pois se a posse for viciada por violência ou clandestinidade, há a possibilidade de convalescência de tais vícios - cessados há mais de ano e dia - como dito anteriormente. 4.4. POSSE DE BOA FÉ E POSSE DE MÁ FÉ (CC, art. 1.201 caput ). Para analisar a posse de boa fé e a posse de má fé deve-se levar em contra o aspecto SUBJETIVO, a posição psicológica do possuidor. POSSE DE BOA FÉ aquela em que o possuidor se encontre na convicção inabalável de que a coisa realmente lhe pertence. É a crença do possuidor de se encontrar em sua situação legítima. O possuidor reputa-a como legítima e desconhece qualquer causa que impeça a aquisição do exercício sobre a coisa. Nessa conceituação de posse de boa dois fenômenos se apresentam: a aquisição da coisa por usucapião e a questão dos frutos e benfeitorias da coisa possuída. POSSE DE MÁ FÉ - aquela em que o possuidor tem o conhecimento da sua ilegitimidade, motivada no vício ou obstáculo ou seu exercício; o possuidor sabe que possui a coisa indevidamente. PRESUNÇÃO DE BOA FÉ Art. 1.201, parágrafo único: O possuidor com justo título tem por si a presunção de boa fé, salvo prova em contrário, ou quando a lei expressamente não admite essa presunção. JUSTO TÍTULO não é apenas o documento ou instrumento, mas é também o estado aparência que leva a concluir estar o sujeito gozando de boa posse. Ex.: herdeiro aparente, cujo título e ignorância de outros herdeiros faz presumir se ele justo possuidor. Trata-se do fato gerador do qual a posse deriva. Ex.: concubina tem justo título na posse de bens comuns do casal, quando do falecimento do companheiro (JTASP 115:129). TRANSFERÊNCIA DA POSSE DE BOA FÉ EM POSSE DE MÁ FÉ Art. 1.202: A posse de boa fé só perde este caráter no caso e desde o momento em que as circunstâncias façam presumir que o possuidor não ignora que possui indevidamente. Ex.: a citação em uma ação é uma dessas circunstâncias que demonstram a transformação da posse de boa fé em posse de má fé pois em razão dela 3

(citação), recebendo a cópia da petição inicial, o possuidor toma ciência dos vícios de sua posse (RTJ 99:804; RJTJRS 69:393). Desde a época dos romanos (possessio bonae fidei e possessio malae fidei), esta classificação é feita sob um ângulo subjetivo do possuidor, a fim de se examinar a sua posição psicológica em face da relação jurídica. O nosso Código Civil atual, por exemplo, em seu artigo 490, prescreve: É de boa fé a posse, se o possuidor ignora o vício ou o obstáculo que lhe impede a aquisição da coisa, ou do direito possuído ; e em seu parágrafo único: O possuidor com justo título tem por si a presunção de boa fé, salvo prova em contrário, ou quando a lei expressamente não admite esta presunção. Do disposto, vemos que será a posse de má fé quando o possuidor a exercer a despeito de estar ciente de que esta é clandestina, precária, violenta, ou encontra qualquer outro obstáculo jurídico à sua legitimidade. Vemos ainda que o legislador presume posse de boa fé quando o possuidor tem o título hábil para conferir ou transmitir direito à posse, como a convenção, a sucessão, ou a ocupação segundo Clóvis Beviláquia. Tal presunção, entretanto, admite prova em contrário, cabendo o ônus da prova à parte reclamante. A importância da distinção entre uma espécie de posse e a outra é muito significativa, tendo em vista a variedade de seus efeitos no que tange aos frutos percebidos, benfeitorias, etc. Para tal aplicação faz-se necessário identificarmos o instante da cessação da boa fé. Segundo o artigo 491 do nosso Código Civil: A posse de boa fé só perde este caráter, no caso e desde o momento em que as circunstâncias façam presumir que o possuidor não ignora que possui indevidamente. Portanto a posse de boa fé se transforma em posse de má fé ao tomar o possuidor conhecimento do vício que infirma sua posse, tendo a parte adversa o ônus de demonstrar as circunstâncias externas capazes de provar tal questionamento. Cabe ressaltar aqui que a jurisprudência dominante entende que, havendo dúvida quanto à época em que a posse se tornou viciosa, o melhor critério é fixá-la a partir da data da propositura da ação, quando os efeitos de corrente da sentença acolhida retroagem a esta data. 4.5. PRINCÍPIO DE CONTINUIDADE CARÁTER DA POSSE Art. 1.203: Salvo prova em contrário, entende-se manter a posse o mesmo caráter com que foi adquirida. Trata-se do princípio de continuidade do caráter da posse. Significa que uma posse de origem violenta mantém o vício; se a posse começou de modo violento, clandestino ou precário, conserva os mesmo caracteres que se transmitem aos respectivos adquirentes, salvo se se provar quanto à clandestinidade ou a violência que já cessaram. O POSSUIDOR PRECÁRIO (comodato, depósito), sempre o será, salvo expressa concordância do possuidor pleno. Por isso é admitida prova em contrário. O LOCATÁRIO, POR EXEMPLO, somente poderá possuidor como proprietário se adquirir a coisa do proprietário. A isso parte da doutrina chama de INTERVERSÃO DO TÍTULO (= alteração do título da posse). 4.6. POSSE NOVA E POSSE VELHA O CC de 2002 não se refere expressamente a essas duas situações, mas pelo CPC, no art. 924 admite a questão da posse nova e posse velha. Esse dispositivo (CPC, art. 924) possibilita a concessão de liminar initio litis ao possuidor despojado ou ameaçado em sua posse quando intentada a ação dentro de ano e dia da turbação ou esbulho. O legislador atual distingue ambas com o intuito de consolidar a situação de fato, que possa remir a posse dos vícios da violência e clandestinidade, como fora mostrado anteriormente, ou seja, o prazo de ano e dia. Assim, a posse é considerada velha quando ultrapassar este lapso de tempo (e do contrário, nova será) o que, conforme o Código Civil, artigo 508, dá ao possuidor a manutenção de sua posse, sumariamente, até que seja convencido pelos meios ordinários. 4.6. POSSE AD INTERDICTA e POSSE AD USUCAPIONEM 4

Posse ad interdicta - é a posse que pode ser defendida pelos interditos ou ações possessórias. Ex.: o locatário que é possuidor direto e quando vítima de ameaça ou de turbação ou esbulho, tem o direito de defender a sua posse ou de recuperá-la pela ação possessória adequada. Posse ad usucapionem - é a posse que se prolonga no tempo ; por determinado espaço estabelecido na lei. Ao fim de certo período, associado a outros requisitos, essa posse contínua e de forma interrupta, pode dar origem ao usucapião, gerando ao possuidor o direito de propriedade. FÂMULOS DA POSSE Diferença entre posse e detenção POSSE - exercício de fato dos poderes constitutivos do domínio; pelo nosso sistema a posse não requer a intenção de dono, bastando o corpus, apresentando-se como uma relação entre a pessoa e a coisa, considerando a função econômica desta. DETENÇÃO - a pessoa não é considerada possuidora, mesmo exercendo poderes de fato sobre uma coisa. No art. 1.198 do CC a lei desqualifica a relação para mera detenção. O detentor exerce o poder de fato no interesse de outrem. Ex.: caseiros que zelam pela propriedade em nome do dono. Essas pessoas (no ex., caseiros) não têm posse e não lhes assiste o direito de invocar, em nome próprio, a proteção possessória. São chamados de FÂMULOS DA POSSE. ( = aquele que, em virtude de sua situação de dependência econômica ou de um vínculo de subordinação em relação a uma outra pessoa (possuidor direto ou indireto) exerce sobre o bem não uma posse própria, mas posse desta última e em nome desta, em obediência a uma ordem ou instrução. EXTINÇÃO DA COMPOSSE: 1 Termina pela divisão de direito, amigável ou judicial da coisa comum. Cessa a compossesão, contudo a posse continua, pois cada pessoa passa a possuir a parte certa. 2 Com a partilha no processo de inventário; cada herdeiro pode receber o seu quinhão, desaparecendo a posse em comum. Não confundir: composse com concorrência ou sobreposição de posses. Composse vários possuidores exercendo o poder de fato, simultaneamente sobre a mesma coisa. Concorrência de posses quando desdobra a posse em direta e indireta; ocorre a existência de posses de natureza diversa sobre a mesma coisa, tendo cada possuidor limitado ao âmbito específico da sua. 5