PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA FEDERAL



Documentos relacionados
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO DÉCIMA QUINTA CÂMARA CÍVEL

IMPETRANTE: SINDICATO DAS AGÊNCIAS DE NAVEGAÇÃO MARÍTIMA DO ESTADO DE SÃO PAULO-SINDAMAR

Reclamante: GENTIL DAGNESE RIBEIRO Reclamada: TOMASETTO ENGENHARIA E CONSTRUÇÃO LTDA

5º Relatório Consolidado do Programa de Conscientização Ambiental da População Envolvida na Obra de Dragagem RC

Sessão de 02 de fevereiro de 2016 RECURSO Nº ACÓRDÃO Nº REDATOR CONSELHEIRO PAULO EDUARDO DE NAZARETH MESQUITA

E COMÉRCIO DE CONFECÇÕES SPEGUEM LTDA - TALISMÃ,

Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro 23ª CÂMARA CÍVEL

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO DÉCIMA OITAVA CÂMARA CÍVEL

RELATÓRIO DE ACOMPANHAMENTO PROCESSUAL

Ordem dos Advogados do Brasil Seção do Estado do Rio de Janeiro Procuradoria

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO VIGÉSIMA CÂMARA CÍVEL R E L A T Ó R I O

RELATOR(A): DESEMBARGADOR(A) FEDERAL CONVOCADO RUBENS DE MENDONÇA CANUTO - 1º TURMA RELATÓRIO

PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 9ª REGIÃO I. RELATÓRIO

Ação Indenizatória em virtude de Acidente de Trânsito. Rito. sumário. Sentença que julgou procedente o pedido,

Do pagamento de retribuição na concessão da patente, e da restauração

SENTENÇA. Ribeirao Niterói Empreendimentos Imobiliários Spe Ltda e outro

MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E GESTÃO

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

SENTENÇA. Processo Digital nº: Procedimento Comum - Responsabilidade Civil. Vistos.

D E C I S Ã O M O N O C R Á T I C A

EMENTA. 2. Recurso parcialmente conhecido e improvido. ACÓRDÃO

014/ (CNJ: ) Juíza de Direito - Dra. Vanessa Nogueira Antunes

2. Sobre a importância socioeconômica e a viabilidade do empreendimento, a SECEX/SP registra o seguinte:

SENTENÇA. Juiz(a) de Direito: Dr(a). Carmen Cristina Fernandez Teijeiro e Oliveira VISTOS.

Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz Federal da Vara Cível do Juizado Especial Federal da Subseção Judiciária de (nome da cidade).

RELATÓRIO DE ACOMPANHAMENTO PROCESSUAL

Processo originário da 4ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro.

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA

PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 11ª REGIÃO

07ª Vara Federal de Execução Fiscal do Rio de Janeiro ( ) E M E N T A

Supremo Tribunal Federal

Após, foi encaminhado ao Presídio Tiradentes, onde permaneceu por 08 (oito) meses, sendo libertado após ter sido absolvido pela Justiça Militar.

Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Seção Judiciária do Distrito Federal 9ª Vara Federal Cível da SJDF DECISÃO

Suspensão de Tutela Antecipada 764 AL Presidente

JUNTA COMERCIAL DO ESTADO DE SÃO PAULO SECRETARIA GERAL. a ser realizada em 05 de julho de ) DELIBERAÇÃO DO PLENÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Vistos. A tutela antecipada foi deferida pelo Juízo em decisão a. fls. 44/45.

Processo nº: 001/ (CNJ: )

CAPUT, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. AGRAVO DESPROVIDO. DECISÃO MONOCRÁTICA RELATÓRIO

ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO PROCURADORIA-GERAL FEDERAL PROCURADORIA FEDERAL - CADE

RELATÓRIO. 3. Foi atribuído o efeito suspensivo ao presente recurso. 4. Foram apresentadas contrarrazões. 5. É o que havia de relevante para relatar.

DECISÃO. Juiz(a) de Direito: Dr(a). Marta Brandão Pistelli

Controladoria-Geral da União Ouvidoria-Geral da União PARECER

RELATÓRIO. FUNDAMENTAÇÃO.

Reunida a RT , por conexão, conforme ata de folha 334, encontrando-se os autos apensados ao 2º volume do processo.

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL Conselho Institucional

PROCESSO Nº: APELAÇÃO APELANTE: CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE

Bom dia, hoje trago um modelo de petição de auxílio reclusão previdenciário com pedido de tutela antecipada em face do INSS perante a Justiça Federal.

Agravo de Instrumento nº

Número:

Seguradora Centauro Vida e Previdencia S/A Juiz Prolator: Juiz de Direito - Dr. Jairo Cardoso Soares Data: 20/05/2010

MINISTÉRIO DA JUSTIÇA GABINETE DO MINISTRO. PORTARIA n, de 08 de fevereiro de 2007

Supremo Tribunal Federal

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE ILHÉUS DECISÃO

Exma. Sra. Dra. Juíza de Direito da 4ª Vara Cível do Foro Regional de Santo Amaro da Comarca da Capital/SP.

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE IMPERATRIZ

ACÓRDÃO AIRO Fl. 1. DESEMBARGADOR JOÃO GHISLENI FILHO Órgão Julgador: 11ª Turma. 9ª Vara do Trabalho de Porto Alegre

PODER JUDICIÁRIO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE (com pedido de liminar)

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO SEÇÃO JUDICIÁRIA DO DISTRITO FEDERAL DECISÃO

ATA DE ANALISE DE IMPUGNAÇÃO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

PARECER. Ao Sr. Antônio José Francisco F. dos Santos. Diretor da FENAM FEDERAÇÃO NACIONAL DOS MÉDICOS

d) a Faculdade ingressou com pedido administrativo junto ao MEC para revisão do conceito, mas não obteve êxito;

Supremo Tribunal Federal

LI CENCI AM ENTO AM BI ENTAL = DESENVOLVI M ENTO SUSTENTÁVEL

ACÓRDÃO 3ª TURMA NULIDADE JULGAMENTO EXTRA PETITA É nula a sentença que julga pretensão diversa da formulada pelo Autor. Buffet Amanda Ltda.

JF CONVOCADO ANTONIO HENRIQUE CORREA DA SILVA em substituição ao Desembargador Federal PAULO ESPIRITO SANTO

: MIN. RICARDO LEWANDOWSKI ESTADO DO RIO DE JANEIRO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO COMARCA DE SÃO PAULO FORO CENTRAL - FAZENDA PÚBLICA/ACIDENTES 6ª VARA DE FAZENDA PÚBLICA

Nº /001 <CABBCAADDABACCBACDBABCAADBCABCDDAAAAADDADAAAD>

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DE RONDÔNIA SENTENÇA

Antecedente/Preparatória Art. 305, NCPC Incidental (processo já instaurado) * Observar os artigos 294 a 302; 305 e 310, NCPC.

Ministério da Previdência Social Conselho de Recursos da Previdência Social 1ª Câmara de Julgamento

Faço uma síntese da legislação previdenciária e das ações que dela decorreram. 1. A LEGISLAÇÃO PREVIDENCIÁRIA

ESTADO DA PARAÍBA PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Mandado de Segurança nci /001 Relator

ACÓRDÃO. Rio de Janeiro, / /2012. Des. Cristina Tereza Gaulia. Relator

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Meritíssimo Juiz, 2. Fls /9.342, última manifestação ministerial.

ACÓRDÃO RO Fl.1

TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL RIO GRANDE DO SUL Coordenadoria de Taquigrafia e Acórdãos

Diretoria de Contratos de Tecnologia e Outros Registros - DIRTEC Indicação Geográfica RPI 2072 de 21/09/2010

VIGÉSIMA CÂMARA CÍVEL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL Procuradoria da República no Estado do Rio de Janeiro

Reginaldo Gava Sérgio Siebra

: MIN. DIAS TOFFOLI :DUILIO BERTTI JUNIOR

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Aula 117. Tutela provisória (Parte VIII):

Supremo Tribunal Federal

ACÓRDÃO. O julgamento teve a participação dos Desembargadores DONEGÁ MORANDINI (Presidente sem voto), BERETTA DA SILVEIRA E VIVIANI NICOLAU.

APELAÇÃO CÍVEL DÉCIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL - SERVIÇO DE APOIO À JURISDIÇÃO AMAURI DE OLIVEIRA SALES A C Ó R D Ã O

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 3ª REGIÃO EMENTA

PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA TRIBUNAL DE JUSTIÇA Quinta Câmara Cível DECISÃO MONOCRÁTICA

ESTADO DO CEARÁ PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA GABINETE DESEMBARGADOR WASHINGTON LUIS BEZERRA DE ARAUJO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Wzi 1 Incorporação Imobiliária Ltda. (w.zarzur)

MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO PROCURADORIA GERAL CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO

CESPE CEBRASPE PGE/PE Aplicação: 2018 PROVA DISCURSIVA

Transcrição:

3ª VARA FEDERAL DE SANTOS/SP AUTOS Nº 0004665-36.2015.403.6104 AUTOR: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL RÉUS: CIA. DOCAS DO ESTADO DE SÃO PAULO CODESP, UNIÃO e INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS - IBAMA AÇÃO CIVIL PÚBLICA DECISÃO: O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL ajuizou a presente ação civil pública, com pedido de tutela antecipada, em face da Companhia Docas do Estado de São Paulo (CODESP), União e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), para condenar os réus em obrigação de fazer e de não fazer, com o fim de evitar que persista e aumente a acelerada erosão constatada na Ponta da Praia de Santos. O MPF requereu a declaração de nulidade parcial da Licença Ambiental nº 961/2013, para restringir à largura máxima de 170 metros as dragagens do Trecho I do Canal do Porto de Santos. Pediu, ainda, que o IBAMA se abstenha de conceder licença ambiental para realização de qualquer tipo de dragagem que permita largura superior a 170 metros no referido trecho. Por fim, requereu que os dados hidrodinâmicos da região sejam disponibilizados, bimestralmente, ao órgão ambiental e à sociedade civil e que qualquer estudo para licenciamento ambiental inclua as praias de Santos, São Vicente e Guarujá como áreas de influência direta, bem como D:\Users\fcoleti\My Documents\GroupWise\ACP - dragagem_indefere T.A._0004665-36.2015.doc 1

seja mantido adequado programa de monitoramento de perfil praial nas praias da região. A apreciação do pedido de antecipação dos efeitos da tutela foi postergada para após a vinda das contestações (fl. 31). O MPF agravou desta decisão (fl. 74) e o Egrégio TRF da 3ª Região negou provimento ao recurso (fls. 253/269). Ciente da demanda, o Município de Santos manifestou-se pela ausência de interesse em ingressar na lide (fl. 252). A Companhia Docas do Estado de São Paulo CODESP apresentou contestação ao mérito, sem questões preliminares, e requereu a improcedência dos pedidos, em suma, ao argumento de que não existe comprovação do nexo de causalidade entre as obras de dragagem do canal de acesso ao Porto Organizado de Santos e o processo erosivo da região da Ponta da Praia. Segundo alega, a referida erosão ocorre há, pelo menos, 50 anos, em razão das intervenções antrópicas realizadas na linha de costa da baía de Santos e do aumento da frequência das ressacas que assolam o litoral brasileiro. De igual modo, afirma que não existe comprovação técnica de que a interrupção da dragagem ou o estreitamento no Trecho I do canal de navegação poderiam interromper ou minimizar o processo erosivo alegado nesta ação (fls. 115/228). Acostou documentos (fls. 231/249). A União também apresentou contestação e alegou, em preliminares, sua ilegitimidade passiva ad causam e a litispendência, ou, pelo menos, a continência e prevenção, para com a ação civil pública em trâmite perante a 4ª Vara desta Subseção (nº 00112441-52.2006.403.6104), razão pela qual postulou a suspensão do feito, nos termos do artigo 265, IV, a, do CPC. Requereu, ainda, a intimação das seguintes pessoas para ingresso no feito na condição de intervenientes: Município de Guarujá, DNIT e ANTAQ, INPH, Fundespa, DTA Engenharia Ltda., VAN OORD Serviços de Operações Marítimas Ltda., TETRA TECH Consultoria Ltda., Dra. Célia Regina de Gouveia Souza e dos Terminais Portuários arrendatários. No mérito, defendeu, em suma, a regularidade de todos os atos administrativos praticados, bem como a essencialidade da manutenção das obras de dragagem e do alargamento do canal em questão, como medidas operacionais vitais para o Porto de Santos que, como maior Porto da América Latina, causa impactos preponderantes na balança comercial do país. Aduziu, também, que a resolução do problema de erosão verificado desborda da redução da largura do canal, impondo-se a elaboração de um estudo técnico complexo para apresentação de possíveis soluções, uma vez D:\Users\fcoleti\My Documents\GroupWise\ACP - dragagem_indefere T.A._0004665-36.2015.doc 2

que os relatórios de perfil praial já realizados demonstram, dentre outros, que as anomalias de 2010 e meados de 2011 podem estar relacionadas à atuação de El Niño desde 2009 até meados de 2010, seguida da instalação de La Niña, que atuou até meados de 2011 (fls. 272/459). Colacionou documentos (fls. 460/654). Com o intuito de colher elementos em relação ao impacto ambiental da dragagem e sua importância para a navegação portuária, bem como verificar a possibilidade de formalização de compromisso de ajustamento de conduta (art. 5º, 6º, da Lei 7347/85), foi realizada audiência preliminar de tentativa de conciliação, para a qual foram convidados, também, o Município de Santos e a Capitania dos Portos de São Paulo. Nessa audiência, após ampla discussão sobre as diversas questões que envolvem o presente processo, a CODESP se comprometeu a apresentar estudo em relação à possibilidade e impactos da redução da largura do canal, no trecho que compreende a Boia 1 e o cone de aproximação, área retilínea. E, para a solução do conflito, por meio de conciliação, a CODESP propôs-se a: a) atender aos pedidos formulados nos itens 5 e 6 da inicial, com a ressalva de que, no item 6, a disponibilização dos dados para a sociedade civil ocorreria por meio eletrônico, em razão das limitações atuais da página da empresa na rede mundial; b) apresentar estudos, em relação aos impactos da eventual redução do canal, no trecho 1, para 170 metros, bem como alternativas para diminuir a erosão das praias de Santos (fl. 656). O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis IBAMA apresentou contestação e alegou, em preliminar, sua ilegitimidade passiva. No mérito, embasado em parecer técnico, esclareceu que as dragagens do Porto de Santos podem ser divididas em dois grupos: dragagem de aprofundamento e alargamento do canal para 220 metros, e dragagens de manutenção. Afirmou a autarquia, em síntese, que foram feitos todos os estudos necessários, por ocasião do licenciamento ambiental, e não constatou contribuição preponderante da obra para o processo erosivo da Ponta da Praia. No entanto, sustenta que, caso seja comprovado, por estudos complementares, que a obra tenha contribuído, significativamente, é cabível a adoção de medidas mitigadoras e compensatórias (fls. 658/670). Acostou documentos (fls. 671/688). A CODESP juntou aos autos o cronograma de atividades a que se comprometera, por ocasião da audiência de conciliação (fls. 690/701). D:\Users\fcoleti\My Documents\GroupWise\ACP - dragagem_indefere T.A._0004665-36.2015.doc 3

O Ministério Público Federal rejeitou a proposta de acordo apresentada pela CODESP (fl. 703) e se manifestou sobre as contestações às fls. 704/722. Juntou, ainda, os documentos de fls. 723/812. É o relatório do necessário. DECIDO. Inicialmente, observo que não há litispendência, continência ou prevenção com a ação civil pública que tramita perante a 4ª Vara Federal de Santos (Autos nº 0011244-15.2006.403.6104), uma vez que a presente ação trata da suposta erosão causada pelas obras de alargamento do canal do Porto, na região da Ponta da Praia de Santos, enquanto aquela ação refere-se ao descarte do material dragado. Rejeito a preliminar de ilegitimidade passiva aventada pela União, uma vez que cabe a esta regular a atividade portuária e regulamentar o programa de dragagem portuária, por meio da Secretaria Especial de Portos (SEP). Rechaço, outrossim, a alegação de ilegitimidade passiva do IBAMA, visto que é o responsável pela concessão de licenciamento ambiental em atividades de dragagem. Por fim, em atenção ao requerimento formulado pela União, para intimação de terceiros interessados, observo que, por ora, não há qualquer demonstração de que os terceiros citados pela União possuam interesse jurídico no feito, uma vez que, como é cediço, não basta o mero interesse econômico. Com efeito, as medidas judiciais podem afetar outras pessoas, todavia, o reflexo meramente econômico não justifica a intervenção delas na ação judicial, sem que se demonstre um interesse jurídico. Não há nos autos qualquer requerimento de ingresso formulado por terceiro, de modo que não cabe ao Juízo procurar potenciais terceiros interessados, sob pena de tumulto processual. Superadas as questões preliminares, passo à análise do pedido de antecipação dos efeitos da tutela. Prevista no artigo 273 do Código de Processo Civil, a concessão da antecipação dos efeitos da tutela tem por pressuposto a comprovação dos seguintes requisitos: a) prova inequívoca, isto é, que seja suficiente para proporcionar o convencimento da verossimilhança da alegação; b) fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação ou a caracterização do abuso de direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório do réu. D:\Users\fcoleti\My Documents\GroupWise\ACP - dragagem_indefere T.A._0004665-36.2015.doc 4

Premissa básica ao deferimento da medida antecipatória é coadunar a fundamentação e o pedido com as provas desde logo apresentadas, viabilizando convencer o julgador de que é fundado o receio de dano irreparável ou de difícil reparação. Diante do quadro apresentado, tenho que o conjunto fático narrado na inicial não contém elementos suficientes para a decretação da antecipação dos efeitos da tutela. A Constituição Federal consagra, no caput do artigo 225, a proteção ao meio ambiente, inclusive para as futuras gerações. A preocupação descrita na presente ação refere-se à erosão causada na região da Ponta da Praia de Santos. Praia é fato notório. A significativa redução da faixa de areia da Ponta da Todavia, as causas e as soluções para o problema ainda demandam questionamentos. Não há, por ora, prova inequívoca de que o aumento da erosão verificada nas praias de Santos ocorreu em virtude da operação de dragagem de aprofundamento e alargamento do canal do Porto de Santos e que a medida pleiteada é suficiente para conter a erosão. Embora a dragagem possa causar alteração das condições hidrodinâmicas e, em consequência, influenciar processos erosivos, não foram apresentados, no caso concreto, estudos conclusivos sobre a relevância dessa atividade, a ponto de alterar a morfologia das praias. O parecer técnico apresentado pelo MPF aponta que existe uma relação direta entre o alargamento e a velocidade da corrente (fl. 431 do IC anexo). Entretanto, o estudo não esclarece a existência e a origem da erosão antecedente ao processo de dragagem questionado. Com efeito, pela documentação acostada aos autos, inclusive fotografias antigas, observa-se que a região da Ponta da Praia já sofria o processo erosivo muito antes de 2010. A CODESP, por sua vez, juntou aos autos o programa de monitoramento do perfil praial elaborado pela FUNDESPA (Doc. 06 d mídia de fl. 249). O estudo conclui: Portanto, também para o segmento Emissário-Ponta da Praia, não foi constatada, até o momento, qualquer alteração que possa ser atribuída a algum impacto físico decorrente das obras de dragagem de aprofundamento. D:\Users\fcoleti\My Documents\GroupWise\ACP - dragagem_indefere T.A._0004665-36.2015.doc 5

Os resultados obtidos para este segmento praial corroboram com as tendências históricas, e em especial da última década: o setor mais deposicional da praia está e tem estado (ao menos desde a década de 1960) localizado entre os canais 1 e 3; os trechos mais erosivos da praia estão e historicamente sempre estiveram localizados em Stos-16, Stos-19 e em especial em Stos-23. Mas é importante lembrar que desde 2009 (ano de muitas ressacas) a praia já apresentava sinais de extrema erosão e não havia conseguido se recuperar quando as primeiras ressacas de 2010 vieram e as obras de dragagem se iniciaram. A erosão acelerada na Ponta da Praia ocorre há pelo menos 6 décadas. Ao que tudo indica, as causas deste processo erosivo estão associadas principalmente a intervenções antrópicas irreversíveis, destacando: a construção da avenida à beira-mar sobre a própria praia; a destruição de fontes sedimentares (dunas, depósitos marinhos antigos, cordões litorâneos e manguezais); a construção de diversas estruturas de lazer, pesca e apoio náutico ao longo do século passado e até recentemente; a implantação de estruturas de proteção costeira; mudanças na rede de drenagem costeira, incluindo aterros de canais; e dragagens de sedimentos no estuário e na Baía de Santos. Não há, outrossim, estudos que demonstrem que o estreitamento do canal de 220m para 170m é suficiente para interromper e estabilizar o processo de erosão. probatória. Dessa forma, a questão demanda ampla dilação Acrescente-se que, além de não restar comprovado que o estreitamento do canal é eficaz para conter a erosão que, há anos, ocorre na Ponta da Praia, a medida teria o risco de dano reverso, ou seja, o risco de dano ao desenvolvimento da região portuária. Com efeito, as condições de navegabilidade influenciam o fluxo das embarcações que transitam pelo Porto de Santos, principalmente se considerarmos o aumento do porte dos navios, de modo que a limitação do canal alteraria o fluxo de navios no Porto e a segurança de navegabilidade. Segundo a inicial, nos termos da Portaria nº 6/2014, da Capitania dos Portos, o cruzamento de navios é vedado no trecho entre a Ilha das Palmas e a foz do Rio Santo Amaro e, em razão disso, a restrição pleiteada não alteraria o fluxo mencionado. D:\Users\fcoleti\My Documents\GroupWise\ACP - dragagem_indefere T.A._0004665-36.2015.doc 6

Todavia, conforme apontado e comprovado pelas rés, a Portaria vigente, de 14/01/2015, permite o referido cruzamento de navios. Assim, para se determinar o estreitamento do canal e restringir o acesso de navios ao Porto de Santos, com todas as consequências daí advindas (economia, emprego, desenvolvimento etc.), a eficácia da medida deveria estar suficientemente comprovada. Acrescente-se que a restrição pleiteada se apresenta tão impactante para a dinâmica portuária que, ainda que se comprovassem os efeitos danosos da dragagem sobre a faixa de areia, a prudência recomendaria a discussão de medidas mitigadoras para a contenção do problema. A obra de dragagem de aprofundamento do canal de navegação do Porto de Santos foi aprovada e licenciada pelo IBAMA e teve início em 2010. Em sua contestação, o IBAMA discorreu sobre o procedimento do licenciamento ambiental e esclareceu a possibilidade de adoção das medidas, caso seja demonstrado que a obra do aprofundamento do canal tenha contribuído significativamente com a aceleração do processo erosivo naquele setor (fl. 664, verso). Com isso, o IBAMA demonstra que está atento aos eventuais riscos que possam surgir do empreendimento e disposto a agir, em atenção aos princípios da prevenção e precaução, razão pela qual a antecipação da tutela jurisdicional não se mostra necessária, neste momento. O MPF requer que os estudos para licenciamento ambiental e/ou operação de dragagem incluam as praias de Santos, São Vicente e Guarujá como áreas de influência direta, uma vez que, no caso em comento, o Estudo de Impacto Ambiental as considerou apenas como áreas de influência indireta AII. Todavia, conforme supramencionado, embora as obras de dragagem possam interferir na hidrodinâmica da região, não está demonstrada a intensidade dessa influência, razão pela qual, nesta fase, considero prematura qualquer determinação para alterar o critério adotado nos estudos a serem realizados pelas rés, quanto ao licenciamento ambiental e/ou operação de dragagem. No que tange ao monitoramento do perfil praial, a corré CODESP informou que toda a extensão da praia é monitorada D:\Users\fcoleti\My Documents\GroupWise\ACP - dragagem_indefere T.A._0004665-36.2015.doc 7

mensalmente. Nesse sentido, juntou documentos. Assim, resta prejudicado o pedido de antecipação da tutela para esse fim. Por fim, requer o MPF, a antecipação da tutela jurisdicional para que os dados hidrodinâmicos da região sejam disponibilizados, bimestralmente, ao órgão ambiental e à sociedade civil. Entretanto, não há demonstração ou sequer notícia de que os dados tenham sido negados a algum requerente para justificar a concessão da medida antecipatória. Por esses fundamentos, INDEFIRO a antecipação dos efeitos da tutela jurisdicional. às fls. 723/812. Ciência aos réus dos documentos juntados pelo MPF Especifiquem as partes as provas que pretendem produzir, justificando-as. Int. Santos, 29 de Setembro de 2015. LIDIANE MARIA OLIVA CARDOSO Juíza Federal Substituta D:\Users\fcoleti\My Documents\GroupWise\ACP - dragagem_indefere T.A._0004665-36.2015.doc 8