ADOLESCÊNCIA NO SUS: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA



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Transcrição:

Rev Andrea Bras G Crescimento de M Amarante, Desenvolv et al Hum 2007;17(3):154-159 Rev Bras Crescimento Desenvolv Hum ATUALIZAÇÃO 2007;17(3):154-159 CURRENT COMMENTS ADOLESCÊNCIA NO SUS: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ADOLESCENCE IN THE BRAZILIAN PUBLIC HEALTH SYSTEM: A BIBLIOGRAPHIC REVIEW Andrea G de M Amarante * Cássia B Soares ** Amarante AGdeM, Soares CB Adolescência no SUS: uma revisão bilbiográfica Rev Bras Crescimento Desenvolv Hum 2007, 17(3): 154-159 Resumo: Este estudo objetivou compreender a trajetória das políticas públicas de saúde voltadas para o adolescente no período de 1990 a 2004 Uma revisão bibliográfica foi conduzida na base de dados ADOLEC 1 (Literatura sobre adolescência) Os resultados revelaram que a produção científica da área da saúde: apresentou freqüência regular durante o período; voltou-se primordialmente para o Estatuto da Criança e do Adolescente, com notável decréscimo ao longo do período, quando passa a se referir mais freqüentemente aos temas da violência e das políticas públicas; teve o tema das políticas públicas de saúde gradativamente reduzido ao longo do período Palavras- chave: Adolescência Literatura de revisão Políticas públicas Políticas de saúde INTRODUÇÃO A partir de 1990, as necessidades de saúde dos adolescentes foram legalmente reconhecidas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) 2 e pelo Sistema Único de Saúde (SUS), que constituem as leis que regulamentam o direito à saúde do adolescente Conforme o Censo demográfico IBGE 3 (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2000 a população total residente no Brasil era de 169799170, sendo que 20,78% representava a faixa etária entre 10 e 19 anos de idade, ou seja, cerca de 35 milhões de adolescentes Organismos internacionais como a Organização Pan-Americana da Saúde reconhecem a exposição dos adolescentes a vários problemas sociais, estimando que 70% da mortalidade prematura dos adultos tem suas origens na adolescência Cada ano perdem a vida uns 1,4 milhões de adolescentes, principalmente por causa das lesões intencionais, suicídio e atos de violência As complicações associadas à gravidez atingem 70000 vidas de adolescentes por ano (OPAS, 2005) 4 Especialistas de diferentes áreas da produção de conhecimento educação, trabalho, participação social e política - vêm atestando a crescente dificuldade em incorporar de maneira plena os adolescentes à sociedade A perspectiva de futuro dos adolescentes está dessa forma comprometida Embora os jovens brasileiros representassem 19,5% da população brasileira em 2002, eram responsáveis por 47,7% do total de desempregados do país Em 2000, do total de óbitos por homicídios, 40% ocorreram entre a população de 15 a 24 anos (Camarano, et al, 2004) 5 Na área da saúde, os serviços de atenção básica de saúde, de caráter público - inclusive os * Mestranda do Departamento de Enfermagem em Saúde Coletiva da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo E-mail: andreagasparoto@igcombr ** Profª Drª do Departamento de Enfermagem em Saúde Coletiva da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo Endereço do Departamento de Enfermagem em Saúde Coletiva: Av Dr Enéas de Carvalho Aguiar, 419 Cerqueira César São Paulo CEP: 05403-000 154

que adotam o PSF (Programa de Saúde da Família) desenvolvem ações de assistência à saúde focalizadas em grupos de risco e voltadas principalmente para a criança, a mulher (gestação, contracepção e controle de câncer de mama e ginecológico), o adulto (hipertenso e diabético) e o idoso As ações voltadas para os adolescentes são focalizadas na prevenção das DSTs (Doenças Sexualmente Transmissíveis) e da gravidez (NOB/96, NOAS-SUS 01/2001 e 2002, Calipo, 2002) 6-9 O objetivo deste trabalho é compreender a trajetória das políticas públicas de saúde voltadas para o adolescente no período de 1990 a 2004, divulgada em literatura científica METODOLOGIA Para conhecer os trabalhos que tomam como objeto as políticas públicas de saúde voltadas para o adolescente, realizou-se uma pesquisa na Biblioteca Virtual em Saúde, no banco de dados ADOLEC 1 (Literatura sobre adolescência) Foram utilizados os seguintes descritores: direito à saúde, direitos do adolescente, adolescência, adolescente, defesa da criança e do adolescente, defesa do adolescente, serviços de saúde para adolescentes, política de saúde, política nacional de saúde e política social, além do país e ano de publicação: Brasil de 1990 a 2004 A leitura exploratória foi realizada apenas nas referências bibliográficas que apresentavam resumos Os artigos foram classificados segundo o tema abordado, o ano, o número de publicações e a fonte de publicação Em seguida, os temas foram classificados em subtemas e em instituições de origem dos autores de determinado subtema RESULTADOS E ANÁLISE No total foram encontradas 153 publicações Dessas, 41 se referem ao ECA, 24 à violência, 19 a outros temas - que foram motivo de publicação uma única vez -, 18 à política pública geral, 11 mais especificamente à política pública de saúde, 09 ao trabalho infanto-juvenil, 08 aos jovens excluídos, 06 aos direitos da criança, 04 à saúde reprodutiva, 03 à educação, 03 ao menor infrator, 03 à psicologia, 02 à capacitação de jovens e agentes e 02 à ética médica Tomando-se somente os temas mais freqüentemente referidos e retirando-se aqueles que não diziam respeito diretamente à saúde do adolescente, obteve-se um total de 115 trabalhos distribuídos conforme a tabela 1 Tabela 1 - Publicações analisadas de acordo com o tema e ano Adolec Brasil 1990 a 2004 Tema/Ano 90-94 95-99 00-04 Total % ECA 27 11 3 41 3565 Violência 7 5 12 24 2086 Política pública geral 0 8 10 18 1565 Política pública de saúde 4 5 2 11 957 Trabalho infanto-juvenil 1 6 2 9 783 Jovens excluídos 0 2 6 8 696 Saúde reprodutiva 0 0 4 4 348 Total 39 37 39 115 100 Em relação ao número de publicações analisadas de acordo com o tema e ano, podese afirmar que falou-se mais sobre o ECA no 1º qüinqüênio (27 publicações), época da implementação do estatuto, diminuindo no 2º para 11 e no 3º para 3 Temas relacionados com violência tiveram a freqüência aumentada no 3º qüinqüênio, variando de 7 no 1º qüinqüênio para 5 no 2º e 12 no 3º, demonstrando uma tendência de aumento importante Política pública de saúde teve uma redução gradativa das publicações ao longo dos qüinqüênios, sendo 4 no 1º, 5 no 2º e 2 no 3º A política pública geral passou a ser objeto de análise a partir do 2º 155

qüinqüênio com 8 publicações, chegando no 3º a 10 Referente ao trabalho infanto-juvenil, aponta-se 1 publicação no 1º qüinqüênio, 6 no 2º diminuindo para 2 no 3º Embora com tendência de aumento, falou-se muito pouco sobre jovens excluídos (2 publicações no 2º qüinqüênio e 6 no 3º), e sobre saúde reprodutiva, tendo esta última 4 publicações, todas no 3º qüinqüênio (tabela 1) Pôde-se observar que o número de publicações no 1º (1990-1994), no 2º (1995-1999) e no 3º (2000-2004) qüinqüênios foi muito semelhante, sendo 39, 37 e 39 respectivamente Conforme a tabela 2, a fonte de maior publicação foi o livro (40 34,8%), seguida da revista de publicação científica (30 26,08%) Os órgãos não governamentais (ONG)/Associações/Agências internacionais/fundações foram responsáveis por 20% (23) das publicações, as instituições e órgãos do governo 13,04% (15) e as teses 6,08% (7) O livro foi a fonte de maior publicação dos seguintes temas: violência (41,6%), política pública geral (55,5%) e jovens excluídos (50%) A revista de publicação científica representou 31,7% das publicações sobre o ECA, 36,4% sobre política pública de saúde e 50% sobre saúde reprodutiva O tema trabalho infanto-juvenil teve 33,3% de suas publicações em livros e 33,3% em revistas de publicação científica No livro, os temas mais publicados foram ECA, violência e política pública geral com uma representatividade de 25% cada A revista de publicação científica publicou mais sobre o ECA (43,3%) e sobre violência (23,3%) e a fonte ONG/Associações/Agências internacionais/fundações, publicaram mais sobre o ECA (43,5%) O tema mais publicado pelas instituições e órgãos do governo foi o ECA, representando 53,3% do total das publicações por eles realizadas Tabela 2 Fonte de publicação de acordo com os temas mais publicados Adolec Brasil 1990 a 2004 ECA Violência Política Pública Geral Política Pública de S aúde Trabalho infantojuvenil Jovens excluídos Saúde reprodutiva Total Fonte Livro 10 10 10 2 3 4 1 40 Revista de publicação científica 13 7 0 4 3 1 2 30 ONG/Associações/Agências internacionais/fundações 10 4 3 0 2 3 1 23 Instituições e órgãos do governo 8 1 2 3 1 0 0 15 Dissertação 0 2 3 2 0 0 0 7 Total 41 24 18 11 9 8 4 115 A maioria das publicações sobre a adolescência se encontram em formato de livros, revistas de publicação científica e dissertações (67%) - (tabela 2) Após a classificação dos temas mais representados, foi realizada uma análise detalhada das 11 publicações do tema política pública de saúde, a partir da leitura integral dos textos, o que resultou em uma nova classificação, em subtemas As 11 publicações se distribuíam da seguinte forma: 2 livros totalizando 23 capítulos: 1 com 17 capítulos e 1 com 6 capítulos (4 excluídos); 4 revistas de publicação científica (4 artigos); 3 publicações provenientes de instituições e órgãos do governo totalizando 38 capítulos: 1 coletânea com 28 capítulos, 1 coletânea com 9 capítulos e 1 capítulo de uma coletânea (excluído) - o mesmo da primeira coletânea acima citada - e 2 dissertações Desses 67 textos, 5 foram excluídos; 1 por estar repetido e 4 por não dizerem respeito ao tema Os subtemas mais publicados foram: propostas de ação para melhoria de saúde dos jovens (13-20,97%), seguido de drogas, DST e Aids (9 14,52%) e violência (9 14,52%), e 156

se distanciando mais, direito dos jovens à saúde e à participação (5 8,06%) Os subtemas considerados outros se referiam a 6 diferentes assuntos: necessidades de saúde, juventude e religiosidade, ética na assistência à saúde do adolescente e do jovem, jovens moradores de rua, mídia e consumo e demografia da população jovem Havia somente 1 publicação de cada um desses subtemas, representando 1,61% cada e totalizando 9,68% - (tabela 3) Tabela 3 Classificação dos temas a partir da leitura das publicações com o tema políticas públicas de saúde S ubtemas Quantidade % Propostas de ação para melhoria da saúde dos jovens 13 21 Drogas, DST e Aids 9 14,5 Violência 9 14,5 Outros 6 9,68 Direitos dos jovens à saúde e à participação 5 8,06 Problemas de saúde (acne, obesidade, deficiência, doenças infecto-contagiosas) 4 6,45 Saúde Sexual, reprodutiva e sexualidade 4 6,45 Gravidez 3 4,84 Risco e vulnerabilidade à saúde 3 4,84 Avaliação de programas de saúde do adolescente 2 3,22 Saúde M ental 2 3,22 Crescimento e desenvolvimento 2 3,22 Total 62 100 Propostas de ação para melhoria de saúde dos jovens foi o subtema mais publicado (13 20,97%) Seria esperado que essas propostas fossem acompanhadas de implementação e avaliação de programas, no entanto o subtema da avaliação de programas de saúde do adolescente foi representado por apenas 2 (3,22%) publicações Esses números sugerem que, ou os programas não estão sendo implantados para serem avaliados, ou os que existem não estão sendo gerenciados ou avaliados pelo próprio governo ou pelas universidades ou ainda, pela sociedade civil - (tabela 3) A preocupação com a violência faz sentido - estando esta em segundo lugar no total das publicações gerais, com 20,86% e mantendo-se em segundo lugar junto com o subtema drogas, DST e Aids, ambas com 14,52% cada do total das publicações sobre política pública de saúde - pois, conforme o Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003 10***, ao contrário do que ocorre com a população em geral, a mortalidade juvenil vem crescendo historicamente, sendo sua principal causa os fatos violentos Vão ao encontro dessa realidade, os dados da pesquisa realizada por Soares, et al (2000) 11 com adolescentes escolares entre 12 e 18 anos incompletos, residentes no Distrito Administrativo Raposo Tavares Um dos aspectos negativos da escola levantados por eles foi a violência A violência também teve espaço (foi a mais freqüentemente citada) nos aspectos negativos do bairro, seguida da convivência com o problema das drogas Quanto à orientação sobre drogas, 80% dos adolescentes referiram ter recebido a orientação pela família, porém, quanto maior o grau de exclusão social, maior era a tendência da necessidade de obter orientações sobre drogas Os resultados dessa pesquisa são também indicativos de que o âmbito da exclusão social vulnerabiliza os adolescentes a situações de violência (p 31) Os adolescentes da região *** O Relatório de Desenvolvimento Juvenil foi lançado pela UNESCO em março de 2004 e revela a situação social e econômica dos jovens brasileiros na faixa de 15 a 24 anos, com foco em três áreas centrais: educação, renda e atividades de estudo e trabalho e saúde 157

pesquisada, referiram ter recebido orientações sobre sexualidade e Aids tanto na família quanto na escola, mesmo assim, sentiam necessidade de orientação sobre esses temas Subtemas que incidem sobre o âmbito dos determinantes do processo saúde-doença como o acompanhamento do crescimento e desenvolvimento do adolescente tiveram somente 2 (3,22%) publicações, 50% a menos do que subtemas como problemas de saúde já instalados (4 6,45%) Acredita-se que muitas jovens ainda na adolescência estejam optando pela fecundidade precoce como uma forma de inserção no mundo adulto (Camarano, et al, 2004: 01) Assim, em 2002, no município de São Paulo, a taxa de fecundidade das adolescentes na faixa etária de 15 a 19 anos era 61,4 por mil mulheres (6,14%) Considerando a taxa de fecundidade de todas as faixas etárias (entre 15 e 49 anos), observa-se que a das adolescentes é representativa; 15,76% (Fundação SEADE, 2002) 12 Mesmo com esse cenário, a preocupação com esse subtema não parece ser relevante, pois há apenas 3 publicações (4,84%) relacionadas à gravidez (tabela 3) A tabela 4 mostra a instituição de origem dos autores das publicações analisadas Em algumas publicações havia mais de um autor e alguns autores pertenciam a mais de uma instituição O total de autores difere do total de publicações porque uma coletânea e um livro analisados não identificavam os autores por capítulo Assim, foram considerados os 2 organizadores e o próprio órgão que produziu o trabalho, resumindo em 3 instituições vários capítulos Tabela 4 Instituição de origem dos autores dos temas das publicações sobre políticas públicas de saúde analisadas Instituição Quantidade % Universidade 16 30,8 Órgão Governamental 14 26,9 Universidade/Outras Instituições 7 13,5 Universidade/Órgão Governamental 5 9,62 Órgão Governamental/Outras instituições 5 9,62 Outras instituições 5 9,62 Total 52 100 A maioria dos autores pertencia à universidade (16 30,76%), o que confirma a tendência anteriormente apontada por referência às fontes de publicação; 14 (26,92%) pertenciam ao órgão governamental Alguns autores tinham mais de um vínculo; universidade/outras instituições (07 13,46%), universidade/órgão governamental (05 9,62%), órgão governamental/outras instituições (05 9,62%) e outras instituições (05 9,62%) CONCLUSÕES A produção científica da área da saúde volta-se primordialmente para o ECA, o tema da violência e das políticas públicas gerais e de saúde A freqüência de publicações apresenta-se regular no tempo desde 1990 - época da aprovação da Lei 8080/90 (SUS) e da Lei 8069/90 (ECA) - até 2004 As publicações sobre o tema ECA decresceram consideravelmente nos qüinqüênios 90-94, 95-99 e 00-04, publicou-se 9 vezes mais no 1º qüinqüênio com relação ao 3º Publicou-se sobre o tema violência no 3º quinquênio (00-04) o mesmo número que havia sido publicado nos qüinqüênios 90-94 e 95-99 somados As publicações sobre política pública geral têm aumentado sua freqüência e o tema política pública de saúde teve sua publicação reduzida no 3º qüinqüênio (00-04) em 50% com relação ao 1º (90-94) e em 40% com relação ao 2º (95-99) As fontes com maior número de publicações foram os livros e as revistas de publicação científica 158

No que se refere ao tema em particular das políticas públicas de saúde, pode-se afirmar que os subtemas mais publicados foram: propostas de ação para melhoria da saúde dos jovens; drogas, DST e Aids e violência Já a avaliação de programas de saúde do adolescente ficou entre os 3 subtemas menos publicados Apesar de haver uma grande discussão social sobre a gravidez na adolescência e da taxa de fecundidade das adolescentes ser importante, publicouse pouco sobre gravidez A academia foi responsável pelo maior número de publicações e as instituições e órgãos do governo pelo menor número; a instituição de origem da maior parte dos autores dos subtemas das publicações sobre políticas públicas de saúde foi a universidade, quase 8% a mais do que da instituição seguinte: órgão governamental Abstract: This study aimed to understand the trajectory of the health public policies directed toward the adolescent in the period from 1990 to 2004 A bibliographic review was conducted in the ADOLEC database (Literature on adolescence) The results revealed that the scientific production of the health area: presented regular frequency during the period; focused mainly on the Estatuto da Criança e do Adolescente (Statute of the Child and Adolescent), with notable decrease throughout the period, when the more frequent subjects became violence and public policies; had the subject of health public policies gradually reduced throughout the period Keywords: Adolescence Review literature Public policies Health policies REFERÊNCIAS 1 ADOLEC (Literatura sobre adolescência) [Acesso em 20 ago 2005] Disponível em: http:// wwwbiremebr 2 Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) [Acesso em 20 ago 2005] Disponível em: http:// wwwplanaltogovbr/ccivil/leis/l8069htm 3 Fundação IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística População residente Brasil, 2000 [Acesso em 10 out 2006] Disponível em: http://wwwibgegovbr/ brasil_em_sintese/defaulthtm 4 OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde) [Acesso em 03 out 2006] Disponível em: http:// wwwopasorgbr/familia/ temascfm?id=72&area=conceito 5 Camarano AA, Mello JL, Pasinato MT, Kanso S Caminhos para a vida adulta: as múltiplas trajetórias dos jovens brasileiros In: Texto para discussão n 1038 Rio de Janeiro; 2004 [Acesso em 03 out 2006] Disponível em: http:// cnpgmprsgovbr/areas/infancia/arquivos/ caminhospdf 6 Norma Operacional Básica do Sistema Único de Saúde (NOB-SUS/96) [Acesso em 20 ago 2005] Disponível em: http://wwwconasemsorgbr/ Doc_diversos/complementar/NOB96pdf 7 Norma Operacional da Assistência à Saúde (NOAS) SUS 01/2001) [Acesso em 20 ago 2005] Disponível em: http://agataucgbr/ formularios/nepss/arq_doc/noas_sus2001pdf 8 Norma Operacional da Assistência à Saúde (NOAS) SUS 01/2002 [Acesso em 20 ago 2005] Disponível em: http://agataucgbr/formularios/ nepss/arq_doc/ noas_sus2002pdf#search=%22noas%20sus%202002%22 9 Calipo SM Saúde, Estado e Ética NOB/96 e lei das organizações sociais: a privatização da instituição pública na saúde? [dissertação] São Paulo (SP): Escola de Enfermagem da USP; 2002 10 Relatório de Desenvolvimento Juvenil (RDJ) [Acesso em 16 out 2006] Disponível em: http:// wwwpratteincombr/prattein/textoasp?id=71 11 Soares CB, Ávila LK de, Salvetti M de G Necessidades (de saúde) de adolescentes do D A Raposo Tavares, SP, referidas à família, escola e bairro Rev Brasileira de Crescimento e Desenvolvimento Humano 2000; 10 (2): 19-34 12 Fundação SEADE Taxa de fecundidade, por idade, do Município de São Paulo [Acesso em 06 out 2006] Disponível em: http:// wwwseadegovbr/produtos/msp/dem/ fec_004htm Recebido em: 02/01/2007 Aprovado em: 30/06/2007 159