Empreendedorismo Notícia da edição impressa de 30/04/2012



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Transcrição:

Empreendedorismo Notícia da edição impressa de 30/04/2012 O caminho até o negócio próprio Trocar a estabilidade de um emprego fixo pelo sonho de ser patrão é uma decisão que exige uma maturação minuciosa. Cada detalhe é decisivo para a prosperidade da nova empreitada, da preparação psicológica à realização de um bom plano de negócios. Em um país com 6,1 milhões de empresas, segundo a Relação Anual de Informações Sociais (Rais), não faltam histórias de quem largou a estabilidade de um trabalho fixo para empreender. Uma mudança aparentemente fácil de ser conduzida, mas que exige uma minuciosa preparação. A trajetória até a criação do próprio negócio requer cuidado e planejamento em diversos aspectos. Da preparação emocional ao plano de negócios, da análise de mercado à busca por capacitação. Todos os detalhes são importantes para quem deixa de ser empregado e escolhe ser patrão. A pessoa precisa refletir se está preparada para fazer essa mudança. Ela deve analisar se sabe gerenciar indivíduos que pensam diferente, se está disposta a abrir mão do horário certo para entrar e sair e dos benefícios recebidos e se está ciente que, nos primeiros meses, vai ser difícil captar receita, alerta Patricia de Rezende, psicóloga e orientadora em comportamento financeiro. A especialista enfatiza que realizar uma espécie de exercício mental é um passo relevante antes de encarar a empreitada. Vencida a fase de assimilação psicológica à nova realidade, a execução já pode ser pavimentada. O presidente do conselho deliberativo do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas no Estado (Sebrae-RS), Vitor Koch, recomenda a divisão do percurso por etapas. O passo inicial consiste na realização de uma pesquisa do mercado em que o futuro empresário pretende investir, no intuito de verificar brechas, potencialidades e riscos. A partir daí, ganham-se elementos para a montagem do plano de negócios. O documento dita uma série de diretrizes, esmiuçando, entre outras coisas, o público consumidor alvo, os meios para a captação de clientes e a forma de financiamento. Na sequência, o ideal é estabelecer quais as ferramentas de gestão serão utilizadas, dando enfoque especial ao controle das finanças. Recorrer a consultorias é uma alternativa para descobrir quais são os métodos mais adequados. Por fim, um plano de marketing se torna indispensável para escolher como e quais canais serão utilizados para atrair a atenção. Mesmo após encontrar um modelo ideal, a estruturação da companhia deve ser atualizada de forma permanente. A vida do empreendedor é uma construção que não tem fim, resume Koch. De acordo com o dirigente, a criação de uma rede de contatos dentro do setor de atuação se constitui em outro elemento valioso para detectar as carências existentes na área. Apesar de não existir um tempo preestabelecido de maturação de todo o processo envolvendo a abertura de uma empresa, agir lentamente diminui as chances de prosperidade do negócio. O empreendedor precisa detectar a necessidade

de consumo antes do mercado. Para isso, deve-se unir planejamento, ação e velocidade. E a velocidade mínima é a do mercado, aponta. Nesse sentido, a inovação entra com um papel primordial para a sobrevivência no mercado. Abrir um negócio sem pensar adequadamente qual é o elemento inovador dele é um erro-chave. No caso da pequena empresa, a saída é sempre buscar nichos de mercado e atuar neles. Se vai abrir uma pastelaria, por exemplo, que se tenha um diferencial, seja no produto, na distribuição ou na forma de posicionar o artigo no mercado, acredita Fernando Lopes, professor da Faculdade de Administração de Empresas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). O especialista, que leciona disciplinas voltadas ao empreendedorismo, classifica a falta de investimento na capacitação dos profissionais contratados, principalmente quando o foco são serviços, como outro equívoco a ser evitado. Em relação a décadas anteriores, Lopes crê que os empreendedores brasileiros estão se preparando melhor na hora de enveredar para o lado empresarial. Hoje, existe uma rede mais estruturada de apoio ao empreendedor, um acesso maior ao Ensino Superior e o crédito está mais acessível. O crescimento da economia brasileira nos últimos anos tem favorecido a sobrevivência das pequenas empresas, define. Com a disponibilização de outras opções de formalização no Brasil, como o Micro Empreendedor Individual (MEI) e a Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (Eireli), a criação de negócios deu um salto. Hoje você tem de estar formalizado para se relacionar com o mercado. Isso leva as pessoas a criar e a registrar suas empresas, analisa o presidente da Junta Comercial no Estado (Jucergs), João Alberto Vieira. O Rio Grande do Sul tem acompanhado a movimentação nacional. Na Jucergs, até março de 2012, abriram-se 23,4 mil empresas. No mesmo período do ano passado foram 18,7 mil. Se mantido o ritmo desta temporada, a marca de 80,8 mil registros obtidos ao longo de 2011 será superada com sobras. Opção por empreender Não siga a carreira de empresário, seja funcionário público e tenha uma vida estabilizada. Esse era o conselho que o analista de sistemas Fábio Krohn Junior costumava ouvir do pai, que falava com a propriedade de quem foi dono de um atacado por alguns anos e, desiludido com o andamento da firma, partiu para um cargo em um banco estatal. O filho, porém, optou por seguir a trajetória do empreendedorismo. Ao lado de ex-companheiros de trabalho fundou uma empresa de desenvolvimento de softwares cuja previsão de faturamento para 2012 é de aproximadamente R$ 2 milhões. Eu nunca gostei das relações patronais, sempre achei que poderia fazer uma coisa diferente do modelo das empresas que eu tinha trabalhado até o momento, diz Krohn Junior, hoje gestor de negócios da Pandorga Tecnologia. Ele é um dos cinco sócios que abriram a companhia em 2006 com um capital inicial de R$ 5 mil. Antes, todos atuavam como consultores. Ao abandonar seu posto, o empreendedor neófito contou com as dicas paternas para assimilar o status de patrão. O fato de os integrantes da sociedade terem distintas formações acadêmicas também auxiliou no estreitamento dos laços administrativos. Me falavam que ter sócio era ruim e só daria problemas, mas hoje eu vejo nos meus sócios um espelho. A gente consegue ter um bom alinhamento e todos têm os mesmos objetivos, garante. Nos últimos seis anos, o quadro societário passou por alterações. Dois integrantes saíram e um novo foi admitido.

Enquanto a estrutura interna sofria modificações, o foco de atuação mudou. Os programas passaram a ser desenvolvidos de forma customizada, ao contrário do que ocorria previamente. Com isso, a empresa ascendeu de patamar. Alocada nos três primeiros anos de vida na Raiar, incubadora da Pucrs, ela garantiu um espaço no parque tecnológico da universidade. Para acompanhar a crescente quantidade de serviço, funcionários foram contratados, sendo o corpo atual composto por 21 profissionais. Aprender com os percalços iniciais e ficar atento às oportunidades foram algumas das lições que Krohn Junior digeriu. De olho nas brechas do mercado, em 2011 a Pandorga estabeleceu uma sede em Londres, na Inglaterra. Agora, a intenção é aprofundar as relações com o mercado internacional, participando de feiras e rodadas de negócios. A ascensão da empresa vem chamando a atenção de investidores, mas os administradores adotaram uma máxima: a prudência. Ainda não estamos prontos para receber investimentos. A gente bateu cabeça no início e, por isso, somos muito cautelosos. Procuramos manter os pés no chão, destaca. Da publicidade para a moda Se virar empreendedor é algo corriqueiro no Brasil de hoje, quando Junior Ruviaro largou o emprego em uma agência de publicidade para montar a própria confecção de roupas a situação era outra. Formado no Ensino Superior em 1986, ele demorou um ano para amadurecer a decisão de deixar seu posto e abrir a Limite Urbano. Durante o caminho, Ruviaro se deparava com um País em um momento econômico pouco favorável a quem quisesse migrar de funcionário para patrão. Apesar do cenário, a ideia foi levada adiante e o negócio se tornou realidade. Enfrentamos coisas terríveis no início, como uma inflação muito elevada na década de 1980. Já nos anos 1990, o mercado passou por uma troca de relação comercial na qual muitas empresas não conseguiram sobreviver, constata Ruviaro, que montou a empresa em Santa Maria em sociedade com a esposa. A decisão de ingressar no ramo de vestuário já era um desejo antigo, pois o ex-publicitário idealizava a criação de alguns produtos desde a juventude. Filho de comerciantes, o empresário contou com o auxílio da família para dar os primeiros passos. O empreendedor jovem, na época, não passava uma imagem de seriedade. Então, no primeiro ano, utilizei o cadastro do meu pai para tomar crédito e ele também me ajudou a comprar máquinas e matéria-prima, diz. Antes de deslanchar, o negócio ainda recebeu a ajuda dos antigos colegas de profissão. Eles sugeriram o nome da empresa e a criação da identidade visual. No processo de assimilação da nova realidade, a de patrão, a troca de experiências com outros empresários foi decisiva. Somos uma empresa pequena, mas desde o início nos associamos a entidades de classe e participamos de grupos setoriais de moda. O pequeno tem que se unir e sempre buscar qualificação, recomenda. As estratégias adotadas ao longo dos 25 anos de atuação deram certo. Atualmente, a Limite Urbano tem um faturamento anual de R$ 1,6 milhão, agregou filiais em São Sepé e Porto Alegre, conta com 37 funcionários e vende para lojistas de outros estados. Como se fosse a primeira vez MARCELO G. RIBEIRO/JC

Pedroso teve uma experiência frustrada, mas se preparou e agora mantém o salão ao lado da esposa, Andrea Após trabalhar por mais de uma década em diversos salões de Porto Alegre, o cabeleireiro Eduardo Pedroso acreditava que estava na hora de abrir o próprio empreendimento. O ano era 1998 e um negócio lhe surgiu por ocasião. O dono de um ponto no DC Navegantes pedia R$ 4 mil pela estrutura. Na época, o shopping começava a mudar de perfil comercial, dando maior enfoque às lojas do setor moveleiro. Mesmo assim, Pedroso não titubeou e, apesar de não ter um plano estratégico em mãos, desembolsou a quantia. O sonho de ser patrão durou pouco. Em 2000, ele teve de fechar as portas por falta de clientela. A saída encontrada pelo profissional foi voltar ao mercado na condição de colaborador. Mas a caminhada como empresário seria retomada em 2009, com a abertura do salão Cabello.com, no bairro Rubem Berta. Desta vez, com uma preparação prévia. Pedroso estudou possíveis locais para a instalação, verificou o potencial de clientes na região, fez um planejamento e partiu novamente para a vida de chefe. Três anos depois, o ponto vai muito bem, obrigado. São cerca de 300 clientes por mês, garantindo uma situação financeira estável para a sobrevivência do espaço. Hoje continuamos nos preparando e seguindo todo um cronograma para solidificar a empresa. É como se fosse nosso primeiro negócio, diz ele, que administra junto com a esposa Andrea Motta. Durante os nove anos que se passaram entre o fechamento da primeira empresa e a abertura da segunda, Pedroso teve receio em tomar o rumo empreendedor novamente. No entanto, a experiência anterior o auxiliou a evitar a repetição de erros. No salão antigo, eu achava que era abrir o negócio e sair trabalhando. Se eu tivesse planejado, talvez não comprasse o ponto, mas sim me instalasse em outro local, pondera. Construído com R$ 15 mil contraídos através de empréstimo bancário, o Cabello.com se inscreveu no Sebrae-RS para receber consultorias visando ao aprimoramento da gestão. Assim, novas possibilidades foram descobertas. Pensávamos que nosso público era classe C, mas é mais classe B. Então, renovamos nossa postura e a imagem do salão, analisa Pedroso. De quebra, Andrea passou a cuidar das contas e dividiu os serviços com o marido. Ela fica com a parte de coloração e mexas. Ele, com os cortes e apliques. Além do casal, há uma funcionária fixa e parceiros que atuam esporadicamente com outros tipos de serviços. A casa tem horário definido para abrir, mas só fecha quando o último cliente é atendido. Com isso, o casal teve de readaptar sua rotina. As escolhas não geram arrependimentos. A gente está indo no caminho certo, menciona Andrea. Incubadoras amparam passos iniciais de projetos tecnológicos Empreendedores com projetos focados na área de tecnologia e inovação podem contar com o apoio de uma estrutura especializada ao fomento de suas empresas. São as chamadas incubadoras, ambientes que abrigam startups e acompanham os passos até a instalação definitiva no segmento. Ao disponibilizar o suporte administrativo, elas ajudam muitos ex-empregados a assimilarem o caráter patronal. Geralmente, o empreendedor que procura a incubadora domina a tecnologia, mas tem dificuldade na gestão da empresa. Nós damos ferramentas básicas para que se possa fazer a administração, pensando o negócio no horizonte de dois ou três anos, explica Edemar Wolf de Paula, gerente da Raiar, incubadora da Pontifícia Universidade

Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs) que conta, neste momento, com 28 empresas nos campi de Porto Alegre e Viamão. Chamadas através de editais, as empresas candidatas a incubação precisam ter uma primeira versão do plano de negócios para serem selecionadas. O tempo de permanência no local geralmente é de, no máximo, três anos. Uma vez arraigadas ao espaço, elas recebem acompanhamento de metas e objetivos para desenvolver a administração. Nesse sentido, são ofertados serviços de assessoria em diferentes áreas, como design, comunicação, contabilidade e na própria gestão. Em algumas localidades é cobrado um valor de aluguel mensal pela acomodação, em outras apenas os serviços utilizados são cobrados. Procuramos fazer com que os choques iniciais de mercado sejam absorvidos, explica De Paula. Além do suporte oferecido, o período de incubação representa uma oportunidade de interação com outros empreendedores novatos e até com grandes empresas instaladas nos parques tecnológicos. Temos vários exemplos de duas ou três empresas que estavam incubadas aqui e se fundiram, criando um negócio mais consistente tanto tecnologicamente quanto empresarialmente, lembra Susana Kakuta, gerente do Unitec da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), que hoje abrange 29 empresas em São Leopoldo. Atualmente, Pucrs e Unisinos trabalham na construção de novos condomínios empresariais, o que ampliará a quantidade de atendidos nos próximos anos. A efetividade do trabalho desenvolvido junto às startups pode ser comprovada pela baixa taxa de mortalidade após o tempo de alojamento. Somadas as empresas graduadas por Raiar e Unitec até agora, esse índice não chega a 15%. O desempenho é superior à taxa média nacional. Conforme dados do Sebrae de 2011, 27% das empresas não se mantêm nos dois primeiros anos de atuação. Adaptação a um novo planeta Ter a própria empresa era um desejo antigo do engenheiro de controle e automação Ricardo Coelho. Objetivo alcançado em outubro de 2010, quando ele utilizou R$ 15 mil da poupança que tinha construído para desistir do emprego em uma companhia de desenvolvimento de software e investir na criação da Proelo Engenharia. Começava assim a carreira de empreendedor de Coelho. Ao mesmo tempo, se iniciava a adaptação a um cenário bastante distinto do enfrentado anteriormente. Foi como mudar de planeta. Tu te deparas com dificuldades técnicas, administrativas e financeiras e precisas balancear todos os problemas para manter o equilíbrio. Uma hora tu vestes a roupa do comercial e depois a do desenvolvedor, resume Coelho, que criou a companhia em parceria com outro engenheiro. Depois um novo integrante ingressou na sociedade. Após os primeiros meses sem uma sede fixa, a Proelo passou a ser incubada na Raiar, da Pucrs, em janeiro de 2011. Por terem uma formação mais voltada à parte técnica, os fundadores fizeram MBA em gestão empresarial para se familiarizar aos conceitos administrativos. Com foco na criação de soluções tecnológicas voltadas à indústria, o negócio está à procura de consolidação no mercado. Por enquanto, as contas estão sendo pagas com os clientes atuais, mas não há lucratividade. Está sendo mais difícil do que a gente esperava, mas a satisfação de transformar uma ideia em oportunidade de desenvolvimento econômico não tem preço, considera Coelho. Ano novo, empresa nova

Final de ano é uma época de reflexão para muitas pessoas. Há quem analise as conquistas alcançadas nos 12 meses anteriores e projete a temporada vindoura por meio de listas. Emagrecer, parar de fumar ou começar a fazer exercícios físicos são algumas das metas tradicionalmente estabelecidas, porém nem sempre cumpridas. Às vésperas da virada de 2009 para 2010, o então gerente de Segurança da Informação da Souza Cruz e professor da Unisinos Fernando Karl definiu um objetivo: ter a própria empresa. E a intenção saiu do papel. Bastou um telefonema entre Karl e um docente colega na universidade para que a Defenda começasse a ser construída. A dupla vinha conversando há algum tempo sobre a falta de empresas voltadas à segurança digital na região e então começaram a ajeitar o terreno para seguir a empreitada. A preparação ocorreu em todos os níveis e foi extensa. No local onde eu trabalhava havia perspectivas e certo conforto. Eu tinha que sair de uma situação estável para uma possibilidade onde eu poderia não contar todo o mês com aquele salário, lembra. No início de 2010, a dupla encomendou um estudo para a criação da identidade visual e passou a aprofundar o plano de negócios. O trâmite completo ficou pronto em julho. A empresa começou a operar em agosto, mas, nos primeiros seis meses, Karl conciliou a vida de empreendedor com o cargo anterior. Nessa época, seu sócio liderou as principais atividades do negócio. Depois desse período, ele pediu demissão e a Defenda se tornou o foco prioritário. Como ambos lecionavam no curso de Segurança da Informação da Unisinos e pretendiam montar o empreendimento na região, a escolha por se abrigar no Unitec, a incubadora vinculada à instituição de ensino, surgiu naturalmente. Na incubadora, a gente aprende detalhes administrativos a cada dia e ainda há a possibilidade de trocar experiências com outras empresas do parque. São vários negócios nascendo e todo mundo aprendendo, sintetiza Karl, que é graduado em Ciências da Computação, tem MBA em Gestão de Tecnologia da Informação e realiza mestrado em Administração de Empresas. Ainda que seja um empreendimento jovem, a Defenda já dá seus passos no mercado sem depender da incubação. A companhia se instalou em duas salas em outro prédio do Unitec. Mudança motivada pelos números. Atualmente, a equipe de trabalho é composta por 18 profissionais. O faturamento de 2011 finalizou em R$ 600 mil e a projeção é de crescer esse montante em 330% até o final de 2012. Neste ano, os planos envolvem a disponibilização, além dos serviços de consultoria, de uma solução de segurança própria. Mesmo com as experiências anteriores no ambiente corporativo e a realização de capacitações, Karl reconhece a parcela da estrutura da incubadora nos bons resultados obtidos até agora. Sem a incubação, certamente teríamos mais dificuldades, pois nossa rede de contatos seria diferente e ficaria complicado conseguir informações. Se eu tenho dificuldade para entender algo, eu peço uma indicação do gerente ou bato na porta do meu vizinho do Unitec para conversar, exemplifica.