Transporte na Indústria Brasileira de Laticínios: Um Estudo de Caso



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Transcrição:

Transporte na Indústria Brasileira de Laticínios: Um Estudo de Caso Priscilla Crsitina Cabral Ribeiro (UFOP) priscri@em.ufop.br Gustavo Peixoto Silva (UFOP) gpsilva@em.ufop.br Julianita Maria Scaranello Simões (UFOP) julianitasimoes@yahoo.com.br Vinícius da Silva (UFOP) viniciusdasilva@yahoo.com Resumo Um sistema logístico bem estruturado e integrado é, atualmente, uma necessidade real de grande parte das empresas, através do qual elas procuram disponibilizar seus produtos e serviços a uma quantidade maior de pessoas com um nível de serviço adequado. Neste cenário, o transporte é uma peça fundamental para a eficiência do sistema logístico, pois representa a maior parte do custo, cerca de 60%. Neste artigo é realizada uma revisão bibliográfica, onde são descritas as operações logísticas, principalmente o transporte. No estudo de caso, serão analisadas essas operações em uma empresa do setor de laticínios, verificando a logística de suprimento físico da mesma. Palavras chave: Logística, Transporte, Indústria de Laticínios. 1. Introdução A logística na indústria de laticínios apresenta características bem peculiares, devido às especificidades dos insumos utilizados, principalmente o leite, que contém alto nível de perecibilidade. O transporte é um setor fundamental dentro da logística, segundo Ballou (2001), o custo varia de 33 a 66% dos custos logísticos totais, o que justifica o grande interesse das empresas em reduzir ao máximo os custos relacionados a essa atividade. Nesta atividade existem obstáculos relacionados à infra-estrutura, tais como as condições precárias de algumas rodovias e vias de acesso. Isso provoca não somente aumento dos custos, como também a perda de credibilidade dos clientes, já que danos, avarias e excesso de manuseio passam a ocorrer com maior freqüência. Diante desse contexto, este artigo apresenta os conceitos básicos da logística, principalmente do transporte e, através de um estudo de caso, descreve como uma empresa do setor de laticínios vem tentando minimizar os problemas relacionados ao transporte dos insumos. 2. Panorama e Desafios da Agroindústria no Brasil O Brasil é um país privilegiado não só pela miscigenação do seu povo, mas também pela riqueza de seu solo e pelas características de seu clima, por isso o País é eminentemente agroindustrial (BRUNCKHORST,1997). A agroindústria brasileira é hoje reconhecida em todo mundo e está em processo de crescimento nos últimos anos. A agropecuária tem crescido, em média, 7% ao ano, nos últimos 7 anos. Outro aspecto importante é a representatividade da agropecuária no PIB que alcançou cerca de 7% em 2001, aproximadamente R$ 84 bilhões. O setor agroindustrial brasileiro está passando por um processo de reestruturação proveniente da crescente integração entre o setor e o mercado, o que tem ocasionado mudanças, a fim de aumentar sua capacidade competitiva, como alterações nas estratégias de produção e ENEGEP 2003 ABEPRO 1

distribuição. Esse processo baseia-se em alguns fatores, como: aumento da preocupação com a qualidade, globalização do mercado, novos hábitos de consumo alimentar, diversificação do mix de produtos incluindo produtos com maior valor agregado e maior velocidade de transmissão de informações. Nesta conjuntura, enquanto algumas empresas estão investindo na produção de commodities, outras apostam na diversificação de produtos, conseqüência de uma demanda do mercado interno e externo. Por sua vez, a indústria de laticínios está seguindo a tendência da agroindústria. Nos últimos doze anos a produção vem aumentando significativamente, sendo que em 2001 o Brasil produziu 87% a mais do que em 1980 e 5% a mais em relação a 2000, dados da Associação Brasileira de Leite. Com a abertura do mercado para o produtor internacional e a alta competitividade interna, a indústria de laticínios está sofrendo uma diversificação de seus produtos. Hoje em dia existem inúmeros produtos derivados do leite e acessíveis a um número maior de pessoas do que há alguns anos atrás, como é o caso do iogurte. Para que a indústria de laticínios acompanhe este crescimento e possa concorrer com os países mais desenvolvidos, torna-se indispensável a utilização intensiva das mais diversificadas tecnologias de produção e metodologias gerenciais que possam contribuir com o aprimoramento das atividades desse setor. Dentre este ferramental, a aplicação de técnicas da logística empresarial é fundamental para o gerenciamento e otimização da cadeia produtiva. 3. Sistema Logístico Os insumos adquiridos de um mercado a montante poderão passar por processamentos ou apenas seguir por um canal de distribuição até o consumidor final. A cada transformação que o produto passa (física, temporal ou espacial), é agregado um valor a ele para melhor atender seu cliente. Este valor é agregado durante a transferência de propriedade entre agentes que estabelecem, entre si, uma relação de troca destes bens e serviços. A logística é responsável pela movimentação geral dos produtos, que pode acontecer em três áreas: suprimento, apoio à produção e distribuição física, enfrentando problemas de tempo, custo, comunicação, movimentação e transporte de materiais e produtos. Ela tem como meta estratégica a melhoria na movimentação e armazenagem de materiais e produtos, através da integração das operações necessárias entre as três áreas. A missão logística é medida em termos de seu custo total e desempenho operacional, através de uma melhor utilização dos recursos materiais e humanos para atingir a meta de menor custo total. Portanto, além de integrar a cadeia de suprimento, a logística auxilia na definição das metas estratégicas da empresa e no equacionamento de eventuais problemas operacionais. O sistema logístico é formado por vários canais, denominados de canais logísticos. A integração desses canais depende de três aspectos: tecnologia de processo e de informação; comunicação; e poder dos agentes associados aos canais. As três principais funções da logística são: Função Informativa, que está relacionada principalmente com o controle na transferência física de pedidos; Função Física, referente ao transporte e manuseio de cargas e outras atividades associadas ao transporte e manuseio; Função do Tipo Financeira, como pagamento de serviços e mercadorias. Essas funções estabelecem os fluxos físico e de informação. Os conhecimentos inseridos na logística, enquanto abordagem gerencial, podem ser resumidos em: Serviço ao Cliente, Controle de Estoques, Armazenagem, Localização, Distribuição, Transportes, uso de Tecnologias e Sistemas de Informação. ENEGEP 2003 ABEPRO 2

4. Transporte O transporte é responsável pela movimentação de materiais e produtos acabados, ou seja, assegura o fluxo físico dos produtos entre as empresas. Na produção agrícola, o transporte é fundamental, pois há a necessidade de escoamento de produtos colhidos e deslocamento de máquinas e insumos necessários às operações agrícolas. O transporte pode ser realizado de várias formas e com diferentes veículos, caracterizando-se por frota própria ou contratada, de acordo com a seleção, que depende de vários aspectos. Algumas decisões sobre transporte estão relacionadas a: definição de roteiros, manutenção da frota, definição do tipo de veículo, entre outras. Alguns desses problemas podem ser resolvidos utilizando-se técnicas matemáticas e softwares comerciais. As duas funções principais do transporte são: movimentação e armazenagem de produtos, e seus princípios norteadores são a economia de escala e a economia de distância. Os componentes que influenciam as transações de transporte são: embarcadores, destinatários, transportadoras, governo e público. Como o relacionamento entre esses cinco componentes é complexo, alguns conflitos de microinteresse (embarcadores, transportadoras e destinatários) e de macrointeresse (governo e público) ocorrem, gerando um aumento do esforço para regulamentação e restrições dos serviços de transporte. Os diferentes meios de transporte são: ferroviário, rodoviário, hidroviário (fluvial e marítimo), aeroviário e dutoviário. Eles se diferem em relação a custos, velocidades, abrangência, variabilidade de tempo, segurança e estrutura de instalações necessária. O transporte pode ser organizado das seguintes formas: transportadores comuns (regulares), frota própria (comprada ou alugada), serviços de transporte, transportadores contratados, despachantes. Para a avaliação do nível de serviço utiliza-se três fatores: custo, velocidade e consistência (segurança). 4.1. Transporte de Leite Uma das principais barreiras à melhoria da eficiência do processo produtivo é o elevado custo do transporte entre os produtores e fábrica. O leite, dentro da sua cadeia produtiva, passa por três percursos: a) primeiro percurso: da fazenda para os postos de refrigeração, cujo transporte se dá de forma tradicional (em latões) ou a granel; b) segundo percurso: dos postos às usinas processadoras; c) terceiro percurso: local de acesso ao centro consumidor. De acordo com Sobrinho, Coutinho e Coura (1995), o custo de transporte do primeiro percurso representa de 4 a 25% do preço final do leite, podendo chegar a 40% em algumas regiões. Essa diferença é atribuída à densidade de produção, expressa razão entre a quantidade produzida e a quantidade de quilômetros percorridos pelo veículo. A técnica mais utilizada atualmente para a coleta do leite (primeiro percurso) é a granelização, que consiste no resfriamento do leite imediatamente após sua ordenha. O leite é acondicionado nos tanques de expansão, onde sua temperatura fica na faixa dos 4ºC. Com a chegada do caminhão isotérmico, o leite é transferido para o caminhão por mangotes flexíveis, com auxílio de uma bomba auto-aspirante, não havendo, portanto, nenhum contato manual. A coleta do leite no Brasil tem como problema as más condições das vias de acesso ao produtor. O sistema de coleta a granel é uma opção de redução de custos e melhoria da qualidade do leite, mas que demanda investimentos da indústria e do produtor. ENEGEP 2003 ABEPRO 3

Uma evolução na definição das rotas a serem percorridas pelos veículos coletores é a utilização de softwares de roteirização de veículos, que buscam reduzir os custos através de rotas mais econômicas, podendo até diminuir o número de veículos envolvidos na coleta. Apesar da busca constante de redução de custos, verifica-se alguns problemas como a não utilização da carga consolidada, bem como o cruzamento de linha, onde empresas concorrendo em uma mesma área ocasionam a passagem de dois veículos recolhendo em um mesmo percurso e ambos com carga incompleta. A otimização da localização dos fornecedores e postos coletores também é uma preocupação da logística. As decisões estratégicas podem estar associadas à avaliação ou reavaliação econômica da localização das usinas, que podem se referir a: Proximidade com o mercado (produção); Contingência dos serviços especializados (companhias de logística); Proximidade de fornecedores (fazendas e cooperativas); Assuntos ambientais (taxas, legislações, etc). Toda essa reestruturação vai depender da precisão do mapeamento da rede viária, que para o primeiro percurso é formada por vias principais e secundárias. As variáveis, tais como o número de veículos em operação, a distância e a escala de operação são as mais significativas para o custo de transporte. Portanto, as estratégias que busquem otimizar essas operações, devem receber maior atenção para minimização dos custos. Um aspecto interessante no que diz respeito ao abastecimento de leite aqui no Brasil é a incerteza da demanda, assim como do fornecimento, já que os contratos entre empresas e fornecedores, na maioria das vezes, não têm caráter formal. 5. Estudo de Caso Foi realizado um estudo de caso em uma empresa cooperativa, com entrevistas, em que foram aplicados questionários com perguntas abertas, associadas ao sistema logístico, com ênfase no suprimento físico. 5.1. A Empresa A empresa escolhida é uma cooperativa de produtores rurais, onde o produtor é associado a uma cooperativa regional, que por sua vez é proprietária da central. Ela é composta de cerca de 35 cooperativas regionais e possui atualmente seis fábricas, localizadas em Belo Horizonte, Guanhães, Goiânia, Sete Lagoas, Pará de Minas e a fábrica de rações em Contagem. A empresa, sendo a 3ª colocada no ranking de maiores empresas por vendas no setor de laticínios no Brasil, tem buscado a diversificação, principalmente na parte de produção de leite e derivados. A linha de produtos da mesma, comparada com a de seis anos atrás, aumentou cerca de quatro vezes tentando ajustar-se à demanda e, assim, conquistar mercado. Segundo o gerente de transporte da empresa, isto ocorreu porque o mercado está muito competitivo sendo necessário procurar atingir novas fatias do mercado. A cooperativa também atinge o mercado internacional, principalmente com o leite em pó, o leite condensado e o leite evaporado, que é um produto novo feito para exportação. 5.2. Sistema Logístico na Empresa A logística, que representa a integração dos fluxos físico e de informação, responsável pela movimentação de materiais e produtos ainda não é integrada, embora no decorrer dos anos, a empresa tenha se direcionando para uma integração total. Prova disso é a aquisição de um ENEGEP 2003 ABEPRO 4

sistema que permite a troca de informações entre todas as unidades. Por exemplo, no momento em que se emite um pedido em Recife, em tempo real, a fábrica já está sendo preparada para executar aquele pedido, a solicitação de compras e de embalagens e, simultaneamente, a tesouraria é informada que vai entrar aquele faturamento. A empresa enfrenta problemas de tempo, custo, comunicação, movimentação e transporte de materiais e de produtos no fluxo físico e nas três áreas da logística. A logística dos fluxos físicos está dividida da seguinte forma: área de transporte e a área de logística (distribuição física). A área de transporte é responsável pelo transporte da matéria-prima até a fábrica, que seria o leite in natura, embalagens e outros que viabilizam a produção. Já a área da logística é responsável pelo transporte e estoque da fábrica em diante, ou seja, é responsável pela distribuição dos produtos acabados. 5.3. Transporte A principal função do transporte no suprimento físico da empresa é de movimentação de produtos, ou seja, coleta do leite das fazendas ou postos de coleta para as fábricas. Os recursos utilizados durante a movimentação ou coleta do leite são os temporais, financeiros e ambientais. O transporte interno das fábricas e dos centros de distribuição ocorre através da utilização de docas móveis, empilhadeiras e esteiras transportadoras, que permitem uma otimização no processo de transferência das cargas dos caminhões para o estoque. O gerenciamento das operações de transporte considera como princípios norteadores a economia de escala e a economia de distância. Quanto à economia de escala, um estudo de viabilidade financeira levou à redução do número de fábricas, construção de um novo centro de distribuição (em substituição do antigo), implantação de tecnologias de informação nestas unidades e terceirização das atividades de transportes. Em relação à economia de distância a empresa utiliza um software de roteirização, para otimizar os custos de transportes, considerando no problema de roteamento somente os produtores que possuem tanques de resfriamento em suas propriedades. O roteamento de veículos é todo feito através de software especializado, onde com auxílio de GPS (Global Positioning System Sistema de Posicionamento Global) é possível acompanhar e rastrear todos os caminhões e definir sua localização. A rota é definida a fim de que o caminhão preencha 90% de sua capacidade máxima, se por um motivo ou outro a quantidade transportada pelo caminhão fica abaixo desse valor, o software redistribui as rotas, para satisfazer a essa restrição. Os principais componentes que influenciam nas transações de transporte são o grande varejo e o consumidor final. No caso estudado, devido à pressão exercida pelo grande varejo, a empresa está pulverizando sua produção, ou seja, está buscando o pequeno e médio varejo. O modal rodoviário é o único utilizado no primeiro percurso ou suprimento físico. A frota utilizada neste percurso é composta por 41 carrocerias e 32 cavalos, onde a carroceria corresponde ao lugar onde o leite coletado fica armazenado. Além disso, a empresa ainda dispõe de 22 caminhões de reserva prontos para serem usados em emergências. Essa frota, composta por caminhões isotérmicos de coleta a granel, é responsável pela coleta de leite em 202 linhas. Apesar do transporte rodoviário ser mais utilizado, na distribuição física também está sendo adotado o modal ferroviário para o transporte de leite em pó para o nordeste do país e no caso de exportação é utilizado o transporte aquaviário. A questão de estar no lugar certo e na hora certa é bastante flexível na entrega do leite nas ENEGEP 2003 ABEPRO 5

fábricas, pois com a coleta a granel e com os tanques de resfriamento há menor rigor quanto ao horário de chegada. No entanto, o leite transportado por produtores que não são associados tem um horário pré-definido para chegar nas fábricas. Uma estratégia da empresa na questão da coleta do primeiro percurso é com relação às cooperativas regionais, ou seja, a empresa vem procurando coletar o leite do produtor e leválo diretamente para a fábrica sem passar pela cooperativa, apesar do produtor estar associado à mesma. No transporte do suprimento físico os pontos importantes considerados na decisão da empresa são, principalmente, as condições de estrada, condições do caminhão, o motorista, sendo este último de grande importância, já que se trata de uma operação com alto nível de tercerização. O percurso com maior número de problemas é o primeiro, pois depende de diversos fatores externos que não se pode controlar, como clima, acidentes e outros. 6. Conclusão A indústria de laticínios deve ter uma grande preocupação com o transporte, já que se trata de um produto perecível. A empresa escolhida para o estudo de caso passou, nos últimos anos, por uma reestruturação do seu sistema logístico, adotando a terceirização do transporte e implementando roteadores no auxílio da tomada de decisão. Essas foram algumas das medidas tomadas por ela que proporcionaram uma melhoria significativa no nível de seu serviço logístico, permitindo um ganho de fatia de mercado. Apesar das conquistas obtidas e de possuir um sistema logístico bastante avançado, este ainda não é totalmente integrado, verificando-se assim uma oportunidade de melhoria do mesmo. Observou-se na empresa estudada uma terceirização parcial do sistema de transporte, em que o tanque isotérmico pertence à mesma e o cavalo mecânico ao transportador. Neste caso, o maior problema enfrentado pela empresa refere-se ao repasse dos custos de transportes para o valor do frete, o qual deve ser renegociado, sempre que ocorre um aumento no preço do combustível. Um outro problema identificado no estudo de caso se refere à infra-estrutura do transporte, a qual se encontra em péssimo estado de conservação que leva a um aumento nos custos de manutenção da frota. Assim, as vantagens promovidas pela logística no setor de transporte devem ter a contrapartida por parte do governo no que diz respeito à manutenção de vias e no auxílio na relação entre empresas contratantes e contratadas. Diante deste estudo, observou-se uma tendência nas atividades de transporte no suprimento físico, no setor de laticínios, que é a substituição da coleta em latão pela coleta a granel. Esta mudança direciona a definição das rotas de coleta do leite in natura, passando a considerar os produtores de médio e grande porte, proprietários de tanques de resfriamento em suas fazendas. Com isso, ocorre uma exclusão dos pequenos produtores, o quais não conseguem acompanhar as evoluções tecnológicas do setor. Referências ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE LEITE. Disponível em: <http://www.leitebrasil.org.br/estatisticas_03.htm> Acesso em: 03 nov. 2002. BALLOU, RONALD H. (2001) - Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos: planejamento, organização e logística empresarial. Tradução de Elias Pereira. Bookman. Porto Alegre. BRUNCKHORST, HARALD. (1997) - Agroindústria é o caminho. O Estado de São Paulo. Disponível em: <http://www.estado.estadao.com.br/jornal/suplem/agri/97/10/08/agri794.html> Acesso em: 03 nov. 2002. ENEGEP 2003 ABEPRO 6

SOBRINHO, F.F.; COUTINHO, G.H.; COURA, J.D. (1995) - Coleta de leite a granel. Belo Horizonte. Fundação João Pinheiro. Monografia. ENEGEP 2003 ABEPRO 7