Seminários Requalificação de Bacias Hidrográficas Urbanas



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Transcrição:

Escola Politécnica da Universidade de São Paulo Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental PHA PHA2537 Água em Ambientes Urbanos Seminários Requalificação de Bacias Hidrográficas Urbanas Bruna Dallaverde de Sousa - 7599043 Camila Tieko Omiya - 7598960 Claudia Ferrara Carunchio - 7598827 Giulia Mutton - 7599085 Lucas Augusto Battiva Silva Cortes - 7598466 Prof. Dr. Kamel Zahed Filho Prof. Dr. José Rodolfo Scarati Martins Profª. Drª. Monica Ferreira do Amaral Porto 2015

Sumário 1. Introdução... 1 2. Programa de Recuperação Ambiental de Belo Horizonte DRENURBS... 2 3. Estudo de Caso: Córrego Baleares... 6 3.1 Características gerais do Córrego Baleares... 6 3.2 Projeto de restauração do Córrego Baleares... 7 3.3 Avaliação dos resultados das intervenções no Córrego Baleares... 11 4. Conclusão... 12 5. Bibliografia... 13

1. Introdução No Brasil, as obras de engenharia tornaram-se quase como única solução para lidar com os corpos hídricos que atravessam o meio urbano, os quais, por muitas vezes, são tratados como os meios por onde se escoa o esgoto não tratado, os receptores das águas provenientes da drenagem urbana, os causadores de diversos problemas urbanos em período de chuvas. Isto é resultado de uma prática higienista (MACEDO; MAGALHÃES, 2011) que visa escoar rapidamente os efluentes e águas da chuva, afastando-os do meio urbano. Soma-se ainda a urbanização desordenada das últimas décadas que ocasionou a piora do quadro dos corpos d água urbanos e o modo como os moradores de grandes cidades brasileiras os vêem até hoje. Frente a isso, tomou-se uma medida bastante comum e tradicional no país: a canalização. Pois além de segregá-lo da cidade, torna-o menos visível para a população. Entretanto, é preciso considerar que estas obras alteram as condições físicas e hidrológicas naturais dos recursos hídricos, e que a ocupação urbana gera alteração química e biológica devido ao lançamento de esgoto sanitário. Como resultado, tem-se a descaraterização e a poluição (SILVA; PORTO, 2015) como principais problemas dos corpos hídricos na cidade. Em contraposição à visão de canalização como única forma de tratar os recursos hídricos no meio urbano, há a visão mais recente que busca reintegrá-los a este ambiente por meio da recuperação dos mesmos. As primeiras ações voltadas para a recuperação de corpos hídricos urbanos ocorreu em países desenvolvidos como Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha e Austrália na década de 70, e MACEDO, CALLISTO e MAGALHÃES (2011) atribuem a eficiência destas ações aos programas que visavam três pontos principais: a eliminação das cargas pontuais e difusas, a implantação de parques lineares e a gestão participativa nas bacias hidrográficas. No caso do Brasil, a recuperação de córregos e rios urbanos ainda é bastante incipiente. Segundo SILVA e PORTO (2014), a preocupação com a recuperação dos córregos urbanos vem após a consolidação do saneamento e, no Brasil, ela começa a surgir em cidades cujo saneamento está consolidado ou em processo de consolidação. Mas a questão com a qualidade ambiental neste país também não é prioridade, o que tende a dificultar a implantação de um programa como este implantado em países desenvolvidos. Esta é uma das razões pelas quais há poucos exemplos em que os corpos hídricos urbanos foram ou em que estes estão sendo recuperados no Brasil. Assim, é objetivo deste trabalho abordar o tema da requalificação de bacias hidrográficas urbanas, a partir de um estudo de caso em Belo Horizonte (MG). Para este município, foram elaborados o Plano Municipal de Saneamento e o Plano Diretor de Drenagem Urbana, sendo este último o que contempla um programa para recuperação de córregos urbanos no município, o Programa DRENURBS. A seguir será dada maior atenção a este Programa, explicando suas principais características, quais são os objetivos, as premissas, as metas e medidas para que elas sejam alcançadas, os órgãos participantes para seu desenvolvimento, os aspectos financeiros, as etapas do programa e fases de implantação. Posteriormente, a partir de um ponto de vista mais técnico, será mostrada as medidas estruturais adotadas e uma análise sobre o resultado obtido em um dos córregos revitalizados no município em questão, o Córrego Baleares. Esta análise está voltada para avaliação da qualidade da água após as intervenções, o que é um ponto fundamental em se tratando da reintegração do corpo d água no ambiente urbano. 1

2. Programa de Recuperação Ambiental de Belo Horizonte DRENURBS O Programa de Recuperação Ambiental de Belo Horizonte (DRENURBS) surgiu a partir do Plano Diretor de Drenagem Urbana de Belo Horizonte, por meio da Secretaria Municipal de Política Urbana do mesmo município. O programa está pautado na recuperação dos recursos hídricos, com o intuito de melhorar a qualidade de vida da população e de valorizar os cursos d água presentes na cidade. Para tanto, serão contempladas 47 bacias hidrográficas, o que representa uma área de 51% dos 300 km² do município; dos 2,4 de habitantes da cidade (IBGE, 2010), 45% serão beneficiados diretamente. O DRENURBS apresenta como uma de suas ideias centrais o posicionamento contrário à ideia de canalização como única solução para a drenagem, buscando a integração entre os cursos d água e a paisagem urbana. Seus principais objetivos são reduzir os riscos de inundação em áreas urbanas, por meio de medidas estruturais nos sistemas de saneamento e viário; melhorar a qualidade das águas, eliminando o lançamento de esgoto não tratado e melhorando o sistema de coleta de resíduos sólidos; e garantir a sustentabilidade das medidas adotadas e das intervenções, por meio do fortalecimento institucional e melhoria dos processos de gestão ambiental no município. Figura 01 - Bacias integrantes do DRENURBS. Fonte: http://www.rmbh.org.br/pt-br/repositorio/municipios/belo-horizonte/programa-de-recupera-o-ambiental-de-belo-horizonte-drenurbs 2

O Plano Diretor de Drenagem Urbana de Belo Horizonte (PDDU), do qual o DRENURBS foi originado, dividese em duas fases, ambas concluídas em 2011. Na primeira delas, foram realizadas ações de caracterização, diagnóstico e avaliação das bacias, e a implantação de um Sistema de Informações Geográficas (SIG) voltado para a drenagem urbana. Já na segunda fase, foram realizadas ações como a criação da Carta de Inundações de Belo Horizonte, o desenvolvimento de um sistema de monitoramento da qualidade das águas e dos riscos de inundação e a elaboração de um modelo de gestão das águas urbanas diferente do existente até então, que está associado à diretriz de fortalecimento institucional do DRENURBS. Algumas das premissas do Programa de Recuperação Ambiental foram: visão conjunta dos problemas e soluções nos âmbitos sanitários e ambientais; bacia hidrográfica como unidade de planejamento de intervenções; monitoramento hidrológico; limitação da impermeabilização (proposta de criação de calhas verdes, parques lineares e áreas de preservação permanente em torno dos córregos); abordagem paisagística no tratamento de nascentes e cursos d água; uso de técnicas alternativas para solucionar problemas relacionados à drenagem urbana; participação popular nos processos de decisão e gestão; e fortalecimento institucional para os processos de gestão ambiental e social. Com base nessas premissas, foram elaboradas as metas do programa, que incluem a redução dos riscos de inundação, a melhoria na qualidade das águas e a Gestão Urbana e Ambiental. Para minimizar os riscos de inundação, foram previstas obras nos sistemas de drenagem e viário e a desocupação, recuperação e proteção de várzeas; por meio de medidas estruturais, busca-se obter certo nível de controle das cheias e da produção de sedimentos; para minimizar a produção de sedimentos tenciona-se reduzir os focos de erosão e tratar as margens com contenções e implantação de vegetação. Com o intuito de melhorar a qualidade das águas, foram previstas obras no sistema de esgotamento sanitário, a criação de novas estações de tratamento e o controle da emissão de poluentes hídricos de origem industrial e comercial, visando a despoluição de 140 km de rios e córregos. Já no âmbito da Gestão Urbana e Ambiental, busca-se aumentar a eficiência e eficácia da Gestão de Drenagem Urbana (pelo monitoramento hidrológico e uso de sistemas de informação georreferenciada), da Gestão Sócio-Ambiental (monitoramento da qualidade da água e conscientização da comunidade quanto a questões ambientais) e da Gestão Integrada de Bacias. As imagens a seguir (Figura 02), do Córrego Nossa Senhora da Piedade, mostram o quanto as intervenções nos cursos d água de Belo Horizonte são necessárias e como projetos que não estejam pautados apenas na necessidade de drenagem, mas nos diversos aspectos que compõem o ambiente, podem melhorar a qualidade ambiental dos recursos hídricos, além dos quadros urbanístico, paisagístico e social do lugar. Nas fotografias à esquerda, pode-se ver a falta de cuidado com as margens do córrego, a poluição das águas com lixo e material assoreado e a pequena distância entre o córrego e algumas edificações. Evidencia-se a relação problemática entre o curso d água e o uso das áreas de várzea, relacionada não apenas a questões ambientais e de drenagem, mas também a aspectos sociais. Após a intervenção integrante do DRENURBS, melhorou-se a qualidade ambiental do córrego e de suas várzeas, reduziu-se o risco de inundações em áreas com habitações, uma vez que foi criado um parque linear ao longo do curso d água, e alterou-se a relação entre a comunidade e o córrego, como pode ser visto nas imagens à direita. 3

Figura 02 - À esquerda, a situação do córrego Nossa Senhora da Piedade antes do DRENURBS; à direita, o mesmo córrego após as intervenções. Fonte: Prefeitura de Belo Horizonte, 2010. Disponível em: <http://pt.slideshare.net/expressodasideias/>. Acesso em 22/10/2015. A determinação da área de abrangência do DRENURBS se deu considerando os cursos d água cujos leitos eram os naturais (em sua totalidade ou parcialmente) e passavam por áreas de grande densidade habitacional. Foi avaliado, também, o estado de degra dação do curso d água. Assim, foram selecionados 200 km dos 700 km de córregos, rios e ribeirões presentes no município, que compõem 47 das 98 bacias hidrográficas de Belo Horizonte. A partir disso, iniciaram-se as ações de diagnóstico sanitário e ambiental das bacias seguida da elaboração de projetos, que foram avaliados de acordo com sua viabilidade a nível técnico, financeiro, ambiental, social e econômico. Para se definir as etapas do programa, foram utilizados alguns critérios, que permitiram determinar a priorização da bacias: densidade populacional, custo por habitante, taxa de impermeabilização, índice de cobertura de esgotamento sanitário, índice de coleta de lixo, incidências de IPTU, ocorrências de enchentes, erosões, doenças de veiculação hídrica, taxa de ocupação da área de preservação permanente, salubridade ambiental (degradação, odores, resíduos, doenças, erosão, ausência de vegetação), mobilização social, necessidade de remoção e reassentamento e interferências em outras obras (BARBOSA, 2011). A nível financeiro, os investimentos foram realizados pelo Município de Belo Horizonte, por meio de fontes próprias e por empréstimos do Banco Internacional de Desenvolvimento (BID). A primeira etapa do programa, que contemplou cinco bacias, custou cerca de R$ 207 (SOLUÇÕES PARA CIDADES, 2013). Para que o desenvolvimento do programa fosse possível, foi necessária a atuação de diversos órgãos, coordenados pela Secretaria Municipal de Política Urbanas (SMURBE). Subordinados a essa secretaria, diversos outros órgãos municipais participaram do DRENURBS, envolvidos com questões como meioambiente, planejamento, orçamento e finanças, urbanização e desenvolvimento. Também há órgãos estaduais vinculados ao programa, como a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (COPASA-MG). Para ações de licitação, planejamento, acompanhamento de obras, contabilidade, avaliação de resultados e interlocução entre a Prefeitura de Belo Horizonte e o BID, foi criada uma organização chamada UEP Unidade Executora do Programa, associada a SMURBE. O programa conta, ainda com o apoio de pesquisadores das áreas de engenharia hidráulica, recursos hídricos e engenharia sanitária e ambiental da 4

Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e do SustainableWater Management Improves Tomorrow scities Health (SWITCH). O Programa DRENURBS foi planejado para ser implantado em etapas sucessivas. Na primeira delas, as intervenções ocorreram nas bacias dos córregos 1º de Maio, Baleares, Nossa Senhora da Piedade, Engenho Nogueira e Bonsucesso. Até 2012, foram concluídas as intervenções nestas cinco sub-bacias. As próximas etapas contemplarão as demais bacias, após uma avaliação do que foi realizado na primeira fase e a consolidação do conhecimento nela gerado. Na segunda etapa, serão contempladas as bacias Fazenda Velha, Embira, Nado, Beira Linha e Vilarinho; o orçamento para essa fase é de cerca de R$ 340. Figura 03 - Bacias contempladas na primeira etapa do DRENURBS. Fonte: PREFEITURA DE BELO HORIZONTE, 2010. Bacia Área de influência (km²) População beneficiada 1º de Maio 0,48 2 983 Baleares 0,43 3 741 N. Sra. Piedade Engenho Nogueira 0,73 6 713 6,00 19 428 Bonsucesso 11,92 34 210 TOTAL 19,56 67 075 Indenizações/ desapropriações Infraestrutura R$ 4,6 R$ 5,5 R$ 14,8 R$ 21,8 R$ 81,2 R$ 127,9 Obras UH - R$ 1,2 - R$ 2,3 - R$ 8,2 - R$ 2,8 R$ 31,8 R$ 31,8 R$ 21,0 R$ 35,5 TOTAL R$ 5,8 R$ 7,8 R$ 23 R$ 24,6 R$ 134,0 R$ 195,2 Tabela 01 Informações das bacias contempladas na primeira etapa do DRENURBS. Fonte: PREFEITURA DE BELO HORIZONTE, 2010. 5

O programa foi concebido para ser desenvolvido em três eixos de atuação: obras, socioambiental e fortalecimento institucional. O eixo de atuação das obras inclui as medidas estruturais desenvolvidas para aliar as necessidades de drenagem, ambientais, sociais e paisagísticas. Foram realizadas obras de tratamento de fundo de vale, implementação de sistemas de coleta e tratamento de esgoto, recuperação de nascentes, construção de reservatórios de detenção, adaptação do sistema viário e criação de parques lineares. No eixo socioambiental, foram tratadas desde as questões de conscientização da comunidade até questões de caráter prático, como a necessidade de remoções e as questões ambientais das obras. Assim, nesse eixo, foram planejadas as desapropriações e realocações de famílias (ações integrantes do Plano de Desapropriação, Indenização e Relocação das Famílias e Negócios Afetados), assim como os processos de licenciamento ambiental, monitoramento da qualidade das águas, controle ambiental nas obras e licenciamento ambiental. Existe, ainda, o Plano de Mobilização e Comunicação Social e o Programa de Educação Ambiental, responsáveis por garantir a participação popular e o envolvimento da comunidade nos processos de gestão. Já o eixo de fortalecimento institucional está atrelado à segunda etapa do Plano Diretor de Drenagem Urbana, como já mencionado, que propõe o uso de sistemas de informações georreferenciadas para questões relativas à drenagem, o monitoramento hidrológico e da qualidade das águas, e um sistema de previsão e comunicação de riscos de inundações, além de novas formas para a gestão das águas urbanas. Dentro dessas propostas, a Prefeitura de Belo Horizonte está criando ações complementares ao Programa de Recuperação Ambiental, como os Núcleos de Alerta de Chuvas (NAC), formados por grupos comunitários junto à Superintendência de Desenvolvimento da Capital. Os 40 NACs existentes realizam o monitoramento de áreas de risco, possibilitando ações preventivas, alertas de chuva e ações de apoio em caso de inundações. A seguir, será apresentado um estudo de caso de uma das bacias contempladas na primeira etapa do DRENURBS: a do Córrego Baleares. 3. Estudo de Caso: Córrego Baleares 3.1 Características gerais do Córrego Baleares Como citado anteriormente, o Programa DRENURBS, em sua fase inicial, contemplou cinco córregos: Baleares, Primeiro de Maio, Nossa Senhora da Piedade, Engenho Nogueira e Bom Sucesso. Os três primeiros córregos dentre os citados tiveram seus projetos executados e finalizados e, dentre eles, o córrego Baleares se destaca como estudo de caso por apresentar intervenções realizadas próximas ao curso d água e proporcionar o amortecimento das águas pluviais e controle de picos de cheias à jusante. A sub-bacia do córrego Baleares está inserida na bacia do córrego Vilarinho, na região de Venda Nova ao norte do município de Belo Horizonte (MG). Possui uma área de 43 hectares e conta com 1370 m de extensão total do canal principal, que em sua maior parte não possui leito canalizado. O seu entorno é urbanizado e residencial, com 1300 domicílios e população total em torno de 3740 habitantes (Anexo Técnico - Prefeitura Municipal de Belo Horizonte). Com relação à precipitação, nos últimos trinta anos houve um aumento da frequência de episódios extremos de precipitação por ano em Belo Horizonte (acima de 100mm em 24 horas) e a tendência é aumentar essa frequência. Essa chuva pode contribuir com deslizamentos e inundações (LOPES, 2010). A área da sub-bacia possuía problemas relacionados tanto à microdrenagem quanto à gestão da macrodrenagem, com a ocorrência de inundações. Tais eventos se tornavam mais problemáticos devido à presença de ocupação de fundo de vale. Além disso, antes da restauração do córrego, o esgotamento sanitário era lançado diretamente e sem tratamento no curso d água do córrego. 6

3.2 Projeto de restauração do Córrego Baleares O projeto implantado no córrego Baleares tem como principal diretriz a adaptação do traçado da cidade ao curso d'água. Foram realizadas as seguintes intervenções no córrego, segundo a Prefeitura de Belo Horizonte: tratamento de fundo de vale e contenção de margens, implantação de via marginal, implantação de redes de esgotamento sanitário e de interceptores, pavimentação de vias, implantação e melhoria do sistema de drenagem, tratamento de focos erosivos, recomposição e tratamento de taludes, desapropriação e remoção de famílias e implantação dos Programas de Educação Ambiental e de Mobilização Social junto à comunidade residente na sub-bacia. As intervenções foram aplicadas de acordo com a necessidade em cada trecho do córrego, como será mostrado a seguir. Houve a remoção de moradias em áreas de riscos e em áreas ocupadas pelas intervenções, totalizando a retirada de 70 famílias. No lugar das moradias instaladas em áreas de risco foram implementadas soluções para a estabilização das encostas, como citado abaixo. Anteriormente ao projeto de restauração do córrego Baleares, a principal fonte de poluição da sub-bacia era o esgoto lançado in natura no curso d'água. Sendo assim, uma das ações realizadas pelo projeto foi o direcionamento de todo efluente para a Estação de Tratamento de Esgoto Onça, em Belo Horizonte. Além disso, outro ponto de forte destaque no projeto corresponde à implantação do parque linear que permitiu o amortecimento das águas pluviais e criou um espaço de contemplação e lazer. Nota-se também a preocupação com a mobilidade de pessoas e veículos com a construção e aprimoramento de vias laterais às encostas. A localização das vias propicia um contato direto entre os transeuntes e o córrego Baleares, evidenciando a possibilidade de harmonia entre o córrego restaurado e a urbanização. N o projeto DRENURBS, as intervenções do projeto de restauração na sub-bacia do córrego Baleares iniciaram-se fevereiro de 2007 e finalizaram em maio de 2008. Essas intervenções foram divididas em 5 trechos, conforme Figura 4 abaixo: Figura 04 Trechos das intervenções no córrego Baleares. Fonte: Revista Brasileira de Recursos Hídricos. 7

O trecho A, com 320 metros de extensão, corresponde ao trecho do córrego que havia sido desviado no processo de urbanização da década de 1970 para a construção da via lindeira ao córrego. O trecho alterado possui uma área de 3200 m², sobre a qual foi aplicada gabião para proporcionar estabilidade às margens e ao leito e rugosidade e permeabilidade ao talvegue. Além disso, houve o tratamento das margens com a plantação de espécies herbáceas, arbustivas e arbóreas e a implantação de interceptores de esgoto sanitário, os quais são responsáveis pelo recebimento e transporte do esgoto coletado. O trecho B, cuja posição original foi mantida, possui 105 m. Nesse trecho, houve o reforço do talvegue com a instalação de uma estrutura com 2200m² de gabião e a estabilização do talude da margem esquerda com geomanta e espécies herbáceas e arbustivas. Nesse trecho, se prosseguiu a instalação dos interceptores de esgoto sanitário. O trecho C possui 530 m de extensão e 18300 m² de área e corresponde ao componente principal do projeto, o Parque Baleares. Nesse trecho, o leito fluvial e a planície de entorno foram preservados. Foram instaladas contenções em ambas margens do córrego: à margem direita, ao lado da via urbana construída no projeto, houve a construção de estrutura em concreto armado e à margem esquerda houve a construção de estrutura em gabião. Conforme citado, houve a construção da via urbana, bem como a continuação da rede de esgoto e a construção de passagem de pedestres. Dentro do parque e nas margens de todo córrego, a mata ciliar foi recomposta com espécies vegetais plantadas no início de seu desenvolvimento. O trecho D corresponde ao braço de 130 m do córrego Baleares. Nesse trecho, já canalizado da sua nascente até o trecho principal, houve a implantação do sistema viário e da rede coletora de esgotos. Não houve intervenções paisagísticas ou eco-morfológicas, como nos outros trechos do córrego. Já o trecho E do curso d'água possui 225 m de extensão, 5600 m² de área e correspondente às áreas de cabeceiras externas ao parque. Grande parte dessa área é restrita à visitação pública, com exceção feita à praça pública construída no projeto e localizada na nascente direita do córrego. Ao longo desse trecho, a mata ciliar foi recomposta, sendo que esta corresponde à uma importante zona de recarga dos aquíferos, devido a sua alta permeabilidade. Abaixo é apresentado um esquema detalhado das intervenções descritas anteriormente (Figura 5) e fotos com o antes e depois do projeto de restauração do córrego Baleares (Figuras 6, 7 e 8). Figura 05 Planta geral da sub-bacia do Córrego Baleares. Fonte: Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. 8

Figura 06 Situação do Córrego Baleares antes do início das obras. Fonte: Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. 9

Figura 07 Vista do Córrego Baleares tratado. Fonte: Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. Figura 08 Vista do Parque Baleares. Fonte: Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. 10

3.3 Avaliação dos resultados das intervenções no Córrego Baleares A proposta de intervenção do córrego Baleares foi uma abordagem alternativa ao que é comumente adotado no cenário brasileiro. Essa alternativa coordena o uso sustentável do ambiente urbano, tomando como importante concepção a criação de políticas urbano-ambientais de criação de parques e áreas de proteção e conservação ambiental, tornando então necessária a restauração e recuperação dos cursos d água. Como resultado dessa política, houve uma diminuição da vazão durante o pico de cheia devido à presença dos parques lineares, que amortecem as águas pluviais e controlam os picos de cheias à jusante (LOPES, 2010). Também foi possível avaliar uma melhora não apenas nas questões de micro e macro drenagens urbanas, mas também na qualidade da água do córrego. Os procedimentos metodológicos utilizados na avaliação dos resultados das intervenções no córrego Baleares foram baseados em três ferramentas de monitoramento: parâmetros abióticos de qualidade de água; avaliação dos macro-invertebrados bentônicos, os quais são amplamente utilizados como bioindicadores de saúde de ecossistemas e qualidade de água; e avaliação de habitats físicos fluviais. A aplicação dos procedimentos foi realizada em dois momentos: na fase de pré-restauração, entre setembro de 2003 e novembro de 2006; e na fase de pósrestauração, entre fevereiro de 2008 e novembro de 2009. Quanto à qualidade d'água na sub-bacia do córrego de Baleares, houve uma melhora significativa na fase pós-restauração. Os resultados mostraram que a temperatura das águas não apresentou variações significativas, sendo que as temperaturas constatadas na água são condizentes com a temperatura externa. O ph apresentou valores médios entre 6,5 e 7,5, adequado para um córrego, sem variação significativa ao longo do período analisado. Notou-se o aumento das concentrações de oxigênio dissolvido, com valores abaixo de 3,6 mg/l na fase pré-restauração e valores acima de 6 mg/l na fase pós-restauração, sendo esta uma melhora significativa. Importante ressaltar que, no contexto brasileiro, os resultados mais expressivos para a avaliação da qualidade da água é a concentração de oxigênio dissolvido, os quais apresentam atualmente valores em conformidade com a Classe 1 da Legislação Ambiental Brasileira. Constatou-se também a diminuição na concentração dos nutrientes fósforo e nitrogênio, com concentrações de 14 mg/l, antes da restauração, e valores abaixo de 1,41 mg/l, após a restauração. Antes da restauração, os níveis de nutrientes se encontravam acima do limite geral da resolução CONAMA 357/ 2005 e, atualmente, se encontra em conformidade com os valores desejáveis. Os valores de turbidez foram menores na fase de pósrestauração, sendo na fase pré-restauração, valores entre 70 e 460 UTN, enquanto na fase pós-restauração houve diminuição para abaixo de 12 UTN. A redução da turbidez indica o aumento da transparência da água, o que denota a redução de resíduos sólidos no curso d'água. A partir do biomonitoramento de macroinvertebrados bentônicos, notou-se que, após a restauração, houve um acréscimo na quantidade de táxons de organismos aquáticos de hábito bentônico. Além disso, todos os táxons encontrados são relativamente menos tolerantes à poluição orgânica em relação aos presentes anteriormente. Já na avaliação do habitat físico, foram avaliados 22 parâmetros pelo protocolo de caracterização rápida das condições ecológicas encontradas na sub-bacia do córrego Baleares, sendo eles os seguintes: uso do solo, erosão de margens, distúrbios humanos, cobertura vegetal no leito, odor da água, oleosidade e transparência da água, odor do sedimento, oleosidade do sedimento, tamanho do substrato, diversidade do substrato, extensão das corredeiras, cobertura do fundo, imersão do sedimento, deposição do sedimento, alterações no canal, tipo de fluxo, proteção natural das margens, estabilidade das margens, extensão da mata ciliar e presença de macrófitas. A avaliação é feita a partir da atribuição de notas de 0 a 5 para cada um dos atributos listados. Foi possível notar que no contexto de pós-restauração, a nota total atribuída ao habitat físico obteve uma melhoria bastante significativa. Dentre os parâmetros analisados, constatou-se que 3 pioraram (erosão de margem, cobertura vegetal no leito e imersão do sedimento) e os outros permaneceram estáveis ou melhoraram. Importante ressaltar que alguns parâmetros relacionados ao entorno ou ao regime hidrológico, não poderiam sofrer grandes alterações e melhorias, devido ao contexto urbano onde o 11

córrego Baleares se localiza. Os resultados obtidos com a avaliação temporal dos resultados das intervenções no córrego de Baleares indicam uma sensível melhora na qualidade ambiental do curso d água, principalmente no que se refere à qualidade de água. Os resultados obtidos demonstram que as águas do córrego, após tratamento simples, podem ser utilizadas para consumo humano e irrigação, por exemplo (CALLISTO, 2011). 4. Conclusão A partir dos resultados da análise, notou-se que houve melhora importante na qualidade da água, principalmente pela interceptação do esgoto sanitário in natura, mas, além disso, pela proteção das nascentes, pela redução da sedimentação que leva ao assoreamento e pela recuperação da vegetação em torno do córrego Baleares com o parque linear. O Programa de Recuperação Ambiental de Belo Horizonte DRENURBS também contempla medidas que melhoram a drenagem urbana por meio do aumento da permeabilidade do solo, o que minimiza um dos grandes problemas como é o das inundações, por exemplo. Além disso, por envolver infraestrutura verde, melhora-se a qualidade ambiental e a inserção destes córregos no meio urbano, de modo que os moradores próximos possam se utilizar desses espaços verdes como áreas de lazer e, ao mesmo tempo, adquirir proximidade com estes corpos d água. São melhorias que, além de solucionarem muitos dos problemas urbanos, geram o bem-estar da população local, resultando em qualidade de vida. É importante observar a integração entre as diversas disciplinas para que os mais variados problemas fossem resolvidos: integração entre engenharia hidráulica e ambiental, planejamento urbano, saneamento, infraestrutura viária, dentre outros. E, ainda, a articulação entre órgãos públicos e a população para que fosse possível conciliar as necessidades de áreas lindeiras aos córregos de Belo Horizonte para recuperação dos mesmos e os interesses dos moradores que antes ocupavam estas áreas. Por meio destas ações contempladas no DRENURBS, a integração e a articulação, chegou-se a um resultado positivo ao se alterar a relação existente entre o meio urbano e o corpo hídrico, ao se modificar a forma como a população vê os córregos urbanos, não mais segregando-os, mas reincorporando-os à cidade e, mais do que isso, tendo algumas de suas condições naturais recuperadas. Quanto à viabilidade, para o caso de Belo Horizonte, foram realizadas intervenções em cinco sub-bacias, mas o Programa inclui 47 das sub-bacias existentes dentro da delimitação do município. Ainda serão necessários muitos anos para que todas estas unidades sejam recuperadas, mas é este um ponto fundamental a ser apreendido: trata-se de um programa para longo prazo. Em regiões metropolitanas, como a de São Paulo, por exemplo, cuja delimitação quase equivale à da Bacia do Alto Tietê, pode-se ter a dúvida sobre a viabilidade de se recuperar os rios principais da cidade, mesmo porque estes se apresentam em condições muito degradadas. Contudo, vale apontar que existe a possibilidade de recuperação dos afluentes e que isso pode auxiliar no restauro dos córregos de maior porte ou rios principais da cidade. Por fim, conclui-se que as qualidades obtidas por meio da recuperação dos recursos hídricos nos meios urbanos em vários aspectos (urbano, hidráulico, ambiental, social) favorecem sua expansão para outros corpos hídricos no país. Ainda existe certa resistência, inclusive por parte da população, em aceitar medidas e ações novas que interfiram no meio urbano, onde há a convivência mais direta desta população com o ambiente. Mas é preciso considerar as qualidades que tais medidas podem trazer e, com isso, também se avançar quanto à forma de lidar com os recursos hídricos urbanos, pois já é sabido que escondê-los sob as canalizações não é a única e nem a melhor maneira de se resolver um problema de água em sistema urbanos. 12

5. Bibliografia BARBOSA, Bernardo Monteiro. Novos conceitos de engenharia urbana: a experiência do Programa DRENURBS no Córrego Primeiro de Maio em Belo Horizonte. Belo Horizonte: UFMG, 2011. Tese de Mestrado em Construção Civil Programa de Pós-Graduação em Construção Civil, Escola de Engenharia, Universidade Federal de Minas Gerais, 2011. BONTEMPO, Valdete Lima; MOREIRA, Carla Wstane de Souza; OLIVER, Cindy; OLIVEIRA, Gabriel. Gestão de águas urbanas em Belo Horizonte: avanços e retrocessos. Revista de Gestão de Água da América Latina, Volume 9 nº 1, Jan/Jun 2012, p. 5-16. CALLISTO, Marcos; MACEDO, Diego Rodrigues; MAGALHÃES Jr, Antônio Pereira. Restauração de Cursos d água em Áreas Urbanizadas: Perspectivas para a Realidade Brasileira. Revista Brasileira de Recursos Hídricos, Volume 16 nº3, Jul/Set 2011, p. 127-139. Fundação Estadual do Meio Ambiente. Orientações básicas para drenagem urbana. Belo Horizonte, FEAM, 2006. MACEDO, Diego Rodrigues. Avaliação de projeto de restauração de curso d água em área urbanizada: estudo de caso do Programa Drenurbs em Belo Horizonte. Belo Horizonte: UFMG, 2009. Tese de Mestrado em Geografia Programa de Pós-Graduação em Geografia, Instituto de Geociências, Universidade Federal de Minas Gerais, Mar 2009. MACEDO, Diego R.; MAGALHÃES Jr., Antônio P. Percepção social no programa de restauração de cursos d água urbanos em Belo Horizonte. Sociedade & Natureza (versão online). Vol. 23, n. 1, 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s1982-45132011000100005&script=sci_arttext>. MEDEIROS, Isaac Henriques de. Programa Drenurbs/Nascentes e Fundos de Vale: potencialidades e desafios da gestão sócio-ambiental do território de Belo Horizonte a partir de suas águas. Belo Horizonte: UFMG, 2009. Tese de Mestrado em Geografia Programa de Pós-Graduação em Geografia, Instituto de Geociências, Universidade Federal de Minas Gerais, Mar 2009. LOPES, Frederico Wagner de A.; MACEDO, Diego Rodrigues; MAGALHÃES Jr, Antônio Pereira. Restauração de Rios Urbanos, Vulnerabilidade Ambiental e Percepção da Comunidade: o caso do córrego Baleares, Programa DRENURBS Belo Horizonte. XVII Encontro Nacional de Estudos Populacionais, Caxambu, Set 2010. Disponível em < http://www.abep.nepo.unicamp.br/encontro2010/docs_pdf/eixo_3/abep2010_2422.pdf>. Portal da Prefeitura de Belo Horizonte. Programa de despoluição ambiental irá beneficiar milhares de famílias. Saneamento Drenurbs: Programas e Projetos. Disponível em < http://portalpbh.pbh.gov.br/pbh/ecp/comunidade.do?evento=portlet&pidplc=ecptaxonomiamenuportal& app=programaseprojetos&tax=12065&lang=pt_br&pg=6080&taxp=0>. Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. Anexo Técnico. Programa de Recuperação Ambiental de Belo Horizonte DRENURBS Suplementar. Belo Horizonte, Dez 2011. Disponível em <http://idbdocs.iadb.org/wsdocs/getdocument.aspx?docnum=37053591>. Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. Recuperação Ambiental de Bacias Hidrográficas: A Experiência de Belo Horizonte. Apresentação de slides. II Seminário Internacional sobre Revitalizações de Rios. Belo Horizonte, Mai 2010. Disponível em <http://www.manuelzao.ufmg.br/assets/files/seminario- Internacional/Dia%2012.05/Ricardo%20Aroeira%201.pdf>. Programa Soluções para Cidades. Programa Drenurbs: Uma concepção inovadora dos recursos hídricos no meio urbano Belo Horizonte MG. 2013. Disponível em < http://www.solucoesparacidades.com.br/wpcontent/uploads/2013/09/af_drennurbs_web.pdf>. SILVA, Juliana C. A. da; PORTO, Monica F. do Amaral. Recuperação de córregos urbanos através do controle de cargas pontuais e difusas - Córrego Ibiporã, SP. Revista Brasileira de Recursos Hídricos. Vol. 20, n. 1, p. 82-90, jan./mar. 2015. 13