Reunida a RT 0069000-68.2009.5.01.0471, por conexão, conforme ata de folha 334, encontrando-se os autos apensados ao 2º volume do processo.



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Transcrição:

Acórdão 10a Turma INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS. JUROS CONTRAÍDOS POR EMPRÉSTIMOS REALIZADOS PELO EMPREGADO DECORRENTES DA MORA SALARIAL. É devida a indenização por danos materiais sofridos pela empregada que teve que contrair empréstimos para cumprir suas obrigações financeiras, quando configurado o ilícito da reiterada mora salarial. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de recurso ordinário nº TRT-RO 0133500-80.2008.5.01.0471 e TRT- RO 0069000-68.2009.5.01.0471, em que são partes: ELAINE AVELAR MALAGOLI PAULINO, como recorrente, e ASSOCIAÇÃO DE ENSINO SUPERIOR DE NOVA IGUAÇU, como recorrida. VOTO: I - R E L A T Ó R I O Trata-se de Recurso Ordinário interposto pela obreira, às folhas 351/356, em face da r. decisão proferida, às folhas 345/349, pela MM. Juíza do Trabalho Rosana Mendes Marques, da 1ª Vara do Trabalho de Itaperuna, que julgou o pedido procedente em parte. Reunida a RT 0069000-68.2009.5.01.0471, por conexão, conforme ata de folha 334, encontrando-se os autos apensados ao 2º volume do processo. Emenda à inicial às folhas 89/91. Contestação da RT 0133500-80.2008.5.01.0471 às folhas 133/150, e da RT 0069000-68.2009.5.01.0471 às folhas 42/48. 5428 1

Realizadas audiências, conforme atas de folhas 132, 189, 331, 332, 334 e 335. Sustenta a recorrente, em síntese, que a sentença merece reforma quanto ao indeferimento do pedido referente as multas por atraso de pagamento salarial, com amparo em norma coletiva, e também o pedido para pagamento de indenização por danos materiais, pelos juros de empréstimos e cheque especial contraídos pelo atraso do pagamento de salários. Contrarrazões às folhas 362/372, com requerimento para que sejam desconsiderados os documentos de folhas 267/328, por intempestivos e impugnados às folhas 45/46 dos autos da RT 0069000-68.2009.5.01.0471 apensada. Os autos não foram remetidos à Procuradoria do Trabalho, na forma dos artigos 85 e 96, do Regimento Interno deste E. TRT e, ainda, pelo disposto no Ofício PRT/1ª Reg. Nº 27/08-GAB., de 15.01.2008. É o relatório. II - F U N D A M E N T A Ç Ã O 1. CONHECIMENTO Conheço do recurso interposto pelo autor, por presentes os pressupostos de admissibilidade. 2. MÉRITO 2.1- DA COISA JULGADA Sustentou a recorrida em defesa que os pedidos referente ao pagamento de salários em aberto devem ser extintos com julgamento do mérito, em virtude do ajuizamento, pelo sindicato da categoria, da ACPU 01096-2007-471-01-00-5, onde ocorreu acordo homologado judicialmente transacionando o pagamento da parcela. A prejudicial em tela restou prejudicada pela emenda à inicial apresentada às folhas 89/91, em que a obreira desiste dos pedidos contidos na presente reclamação transacionados na Ação Civil Pública. Nego provimento. 5428 2

2.1. DA IMPUGNAÇÃO DE DOCUMENTOS APRESENTADA EM CONTRARRAZÕES Alega a recorrida que as normas coletivas de folhas 267/328 não devem ser consideradas, pois foram juntadas aos autos após a apresentação da defesa e não se tratam de documentos novos, conforme Súmula n. 08 do C.TST. Sem razão o recorrente. Compulsando os autos, observo que o pedido para a multa normativa foi formulado na RT 0069000-68.2009.5.01.0471, sendo que, quando da apresentação da defesa, a recorrida teve vista de tais documentos, tanto que os impugnou às folhas 44/45 da defesa, não restando violados os princípios constitucionais do contraditório e ampla defesa. Nego provimento. 2.2.DA MULTA POR ATRASOS SALARIAIS Sustenta a recorrente que tem direito ao pagamento das multas por atraso salarial previstas nos Acordos Coletivos firmados pela empresa com o Sindicatos dos professores da Baixada(SINPRO-Baixada), uma vez que foi comprovado nos documentos de folhas 191/264 e na planilha de 03 da inicial da RT 0069000-68.2009.5.01.0471 o atraso no pagamento de seus salários. Afirma que tais acordos coletivos eram aplicados pela empresa aos contratos de trabalho dos professores de Itaperuna. Para corroborar, apresenta planilha que indica que o valor da hora-aula utilizado para o cálculo de seu salário é o mesmo que consta nos acordos coletivos celebrados com o SINPRO-Baixada. Ressalta que não foi firmado acordo coletivo pela empresa com o Sindicato dos professores de Itaperuna, bem como que as convenções coletivas ajustadas pela FEETERJ com a Sindicato das Mantenedoras dos Estabelecimentos de Ensino do Rio de Janeiro, vigentes no período do seu contrato de trabalho, não foram juntadas aos autos. O pedido de aplicação das multas por atrasos salariais fundado nos acordos coletivo firmado pela recorrida com o SINPRO-BAIXADA foi julgado improcedente, ao fundamento de que a base territorial desse Sindicato não abrange o Município de Itaperuna. base territorial diversa-extensão 5428 3

ausência de norma coletiva para Itaperuna aplicação da hora-aula do acordo termo de acordo que prevê multa para atraso no pagamento 2.3. DA INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS Afirma a trabalhadora que comprovou a existência de danos materiais decorrentes dos atrasos de salários procedidos pela recorrida, com planilha detalhada dos valores gastos com juros de empréstimos e cheque especial. Requer a condenação da recorrida ao pagamento dos valores gastos com juros e taxas do cheque especial e demais empréstimos. A sentença recorrida, à folha 347, julgou improcedente o pedido pois não há previsão legal expressa para a reparação das lesões de natureza trabalhista vindicadas pela acionante. Merece reforma a decisão. A obreira alegou na inicial que a empresa atrasava reiteradamente o pagamento dos salários, tendo que contrair empréstimos e utilizar cheque especial para o pagamento de suas contas, além de ter cheques devolvidos e inclusão de nome nos registros de restrição de crédito, juntando os demonstrativos de folhas 70/75. A empresa recorrida defendeu-se alegando que não poderia se responsabilizar pela vida financeira da obreira, e quando admitida, estava ciente dos problemas que a recorrida enfrentava, por ter sido contratada por seu cônjuge, Sr. Leonardo. Aduziu que não há comprovantes de dívidas anteriores ao ano de 2007, quando ocorreu a demissão do Sr. Leonardo. Afirmou que a obreira iniciou a construção de sua residência, e que este foi o motivo do endividamento narrado na inicial, além do que, movimentava em sua conta valores em muito superiores ao salário recebido. Impugna os demonstrativos apresentados pela obreira. Data vênia do entendimento do r. juízo a quo, cabe o pagamento de indenização por danos materiais causados pelo empregador na esfera trabalhista. O artigo 8º, parágrafo único da CLT, prevê que o direito comum é fonte subsidiária do direito do trabalho, quando não incompatível com seus preceitos fundamentais. 5428 4

No caso, a obreira comprovou através dos contracheques de folhas 172/174 e 76/77 que a empregadora reiteradamente atrasava o pagamento de salários, fato que sequer foi negado em defesa, sendo, portanto, incontroverso. Consta ainda, às folhas 26/69, diversos extratos bancários e cartas de credores comprovando que a conduta da empresa causou diversos transtornos à obreira, que se viu obrigada a contrair empréstimos a fim de quitar suas obrigações financeiras. Para que se configure o dever de indenizar, necessária é a presença dos requisitos da responsabilidade civil, que são: conduta, culpa, dano e nexo causal. O dano pode ser de ordem material ou moral, dependendo da natureza do bem jurídico atingido: patrimonial ou pessoal. Um mesmo fato pode gerar lesões de ordem patrimonial e moral, de modo que tal fato pode ensejar uma indenização reparatória do dano patrimonial e compensatória do dano pessoal. A conduta sob exame é o pagamento de salários em atraso de forma reiterada. Deve se salientar que o pagamento do mês de junho de 2006 (folha 76) foi feito apenas em março de 2007, sendo que o Decreto-lei nº 368/68 conceitua como mora contumaz o atraso ou sonegação dos salários por prazo de três meses, sendo inclusive este fato que enseja a justa causa do empregador, conforme artigo 483, alínea d da CLT. A obreira era diretora sindical (folha 11), tendo interesse na manutenção de seu contrato de trabalho em prol da defesa dos direitos de sua categoria. Ainda com relação à conduta do agente, desde o advento do Código Civil (Lei nº 10.406/02), vigoram nas relações jurídicas entre particulares os princípios da eticidade, da boa-fé objetiva, da lealdade e da transparência. Tais princípios devem ser aplicados também às relações de trabalho, na medida em que estas se formam entre particulares, mas com uma especificidade que lhes é própria e fundamental: os sujeitos dessa relação não estão em situação de igualdade, pois há a utilização do trabalho pelo capital, quase sempre em situação de hipossuficiência do empregado. Por ser uma relação entre desiguais, com mais razão ainda, deve ser pautada em princípios éticos, de forma a minimizar a disparidade entre as partes. 5428 5

O ato do empregador que deixa de cumprir as obrigações contratuais, como pagar salários viola tais princípios basilares e se afasta dos fins sociais a que se destina, o que configura o uso anormal do direito, ou seja, o abuso do direito, o ato ilícito. Havendo ilícito, há a obrigação de reparar, conforme artigo 927 do Código Civil. Entretanto, como bem observado pela recorrida, não foram comprovados todos os empréstimos, encargos e tarifas contidas nos demonstrativos de folhas 70/75, razão a qual deverão ser apuradas em liquidação os prejuízos com juros e taxas sofridos pela obreira. Dou parcial provimento condenar a recorrida ao pagamento de indenização pelos danos materiais sofridos, sendo estes os juros decorrentes dos empréstimos, e as tarifas pagas pelo uso de cheque especial e cheques devolvidos, desde que devidamente comprovados nos autos através de extratos bancários e cartas emitidas pelas instituições financeiras, a serem apuradas em liquidação de sentença. 2.4. DO PAGAMENTO DO ABONO DE FÉRIAS EM DOBRO Sustenta a recorrente que o pagamento intempestivo do abono das férias deve ser pago em dobro, reportando-se ao documento de folha 178. A r. decisão de primeira instância julgou improcedente o pedido, pois o artigo 137 da CLT refere-se exclusivamente a ausência da concessão das férias, e não o pagamento (folhas 346/347). Correta a sentença. Como bem observado pelo r. juízo a quo, a dobra prevista no artigo 137 da CLT se refere à concessão das férias, e não o pagamento do adicional, razão a qual, carece de fundamento legal a pretensão. Nego provimento. 5428 6

III - D I S P O S I T I V O ACORDAM os Desembargadores que compõem a 10ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, por unanimidade, em conhecer do recurso e, no mérito, por unanimidade, dar-lhe parcial provimento para condenar a recorrida ao pagamento de indenização pelos danos materiais sofridos, sendo esses os juros decorrentes dos empréstimos e as tarifas pagas pelo uso de cheque especial e cheques devolvidos, desde que devidamente comprovados nos autos através de extratos bancários e cartas emitidas pelas instituições financeiras, a serem apuradas em liquidação de sentença, nos termos do voto do Exmo. Sr. Desembargador Relator. Custas pelo empregador, no importe de R$300,00 (trezentos reais), calculadas sobre novo valor arbitrado à condenação, de R$15.000,00(quinze mil reais). Pelo recorrido, falou o Dr. Marcelo Lannes Rodrigues./// Rio de Janeiro, 22 de junho de 2011. MC/bp Marcos Cavalcante Desembargador Relator 5428 7