Clélio Chiesa IX SEMINÁRIO RIO TEMAIS ATUAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO. FIEMG Operações triangulares e a glosa de créditos de ICMS



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Transcrição:

IX SEMINÁRIO TEMAIS ATUAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO RIO FIEMG Operações triangulares e a glosa de créditos de ICMS Clélio Chiesa Advogado, consultor, professor de graduação e pósgraduação em Direito Tributário. Mestre e doutor pela PUC/SP.

APRESENTAÇÃO DO TEMA

NF3: Venda à ordem com remessa simbólica da empresa A para a empresa B, com destaque do ICMS. (Art. 40, 3º, 2, b do Convênio ICMS s/n de 15/12/1970) RICMS/SP Art. 129, 2º, 2, b VENDA À ORDEM Empresa A Fornecedor Remetente NF2: Remessa de mercadoria da empresa A para a empresa C, por conta e ordem da empresa B. Art. 40, 3º, 2, a do Convênio ICMS s/n de 15/12/1970 RICMS/SP Art. 129, 2º, 2, a Empresa B Adquirente Contribuinte NF1: Venda com remessa simbólica da Empresa B para a empresa C, com destaque do ICMS. Art. 40, 3º, 1 do Convênio ICMS s/n de 15/12/1970 RICMS/SP Art. 129, 2º, 1 Empresa C Adquirente Destinatário

Venda àordem + Benefícios fiscais unilaterais = Glosa de créditos pelos Estados A glosa éregular ou irregular?

ICMS SITUAÇÃO HIPOTÉTICA TICA OPERAÇÃO TRIANGULAR + INCENTIVOS UNILATERAIS

Violação, pelos Estados, das normas regulamentadoras de benefícios de ICMS Resolução n. 22 do Senado Federal estipula as alíquotas interestaduais do ICMS (7% ou 12%): Art. 1 A alíquota do Imposto sobre Operações Relativas àcirculação de Mercadorias e sobre Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação, nas operações e prestações interestaduais, seráde doze por cento. Parágrafo único. Nas operações e prestações realizadas nas Regiões Sul e Sudeste, destinadas às Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste e ao Estado do Espírito Santo, as alíquotas serão: I -em 1989, oito por cento; II -a partir de 1990, sete por cento.

Violação, pelos Estados, das normas regulamentadoras de benefícios de ICMS Em operações interestaduais, os Estados que contam com menor alíquota de ICMS para a entrada de mercadorias em seu território (7% -art. 1º, par. Único da Resolução 22 do Senado) concedem crédito no ICMS interestadual, na forma de redução de base de cálculo, estimulando que operações que seriam feitas de forma linear (diretas) passem a ser triangulares (passando por outro Estado intermediário)

OPERAÇÃO TRIANGULAR (venda àordem) A operação triangular éassim denominada por exigir a emissão de três notas fiscais, e consiste na venda da mercadoria com entrega diretamente ao destinatário por conta e ordem do adquirente, visando por exemplo economia com valor de frete ou custos de armazenagem.

NF3: Venda à ordem com remessa simbólica da empresa A para a empresa B, com destaque do ICMS. (Art. 40, 3º, 2, b do Convênio ICMS s/n de 15/12/1970) RICMS/SP Art. 129, 2º, 2, b VENDA À ORDEM Empresa A Fornecedor Remetente NF2: Remessa de mercadoria da empresa A para a empresa C, por conta e ordem da empresa B. Art. 40, 3º, 2, a do Convênio ICMS s/n de 15/12/1970 RICMS/SP Art. 129, 2º, 2, a Empresa B Adquirente Contribuinte NF1: Venda com remessa simbólica da Empresa B para a empresa C, com destaque do ICMS. Art. 40, 3º, 1 do Convênio ICMS s/n de 15/12/1970 RICMS/SP Art. 129, 2º, 1 Empresa C Adquirente Destinatário

Operação linear (MG SP) Alíquota de 12%

Operação de venda com destino ao DF e posterior revenda para SP Alíquota de 7% AL interestadual de 12% Consequências Recolhido 7% em MG Recolhido 5% no DF Recolhido 12% no total Crédito de 12% em SP

Operação triangular com crédito (guerra fiscal) pagamento efetivo de 1% crédito presumido de 11% Alíquota de 7% Recolhido 7% em MG Consequências Recolhido 1% no DF Recolhido 8%no total Crédito em SP:???

Consequências para os Estados Benefícios concedidos por alguns Estados geram prejuízos aos demais, ocorrendo a guerra fiscal Redução de arrecadação do Estado de origem Benefício do Estado intermediário, que, sem oferecer o benefício, não teria o trânsito (físico ou jurídico) da mercadoria em seu território e, assim, deixaria de arrecadar

RETALIAÇÃO DOS ESTADOS SUPOSTAMENTE PREJUDICADOS COM A CONCESSÃO DE BENEFÍCIOS UNILATERAIS Passam também a conceder incentivos unilaterais Glosam créditos que não são correspondentes ao montante efetivamente pago

Reação dos Estados Glosa de créditos de ICMS, no valor que deixou de ser pago nas operações anteriores, referente a benefícios fiscais irregulares Em SP, 3ºdo art. 36 da Lei 6.374/89: 3º-Mediante ato da autoridade competente da Secretaria da Fazenda, poderáser vedado o lançamento do crédito, ainda que destacado em documento fiscal, quando, em desacordo com a legislação a que estiverem sujeitos todos os Estados e o Distrito Federal, for concedido por qualquer deles benefício de que resulte exoneração ou devolução do tributo, total ou parcial, direta ou indiretamente, condicionada ou incondicionada. Consequência: Edição do Comunicado CAT-36

Comunicado CAT-36 (determina a glosa de créditos de ICMS) 1 -o crédito do Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação -ICMS, correspondente àentrada de mercadoria remetida ou de serviço prestado a estabelecimento localizado em território paulista, por estabelecimento localizado em outra unidade federada que se beneficie com incentivos fiscais indicados nos Anexos I e II deste comunicado, somente seráadmitido atéo montante em que o imposto tenha sido efetivamente cobradopela unidade federada de origem;

Decreto 43.080/02 (RICMS/MG) Art. 62 - O imposto é não-cumulativo, compensandose o que for devido em cada operação relativa àcirculação de mercadorias ou prestação de serviços de transporte, interestadual ou intermunicipal, ou de comunicação com o montante cobrado nas anteriores, por este ou por outro Estado. 1º - Não se considera cobrado, ainda que destacado em documento fiscal, o montante do imposto que correspond er a vantagem econômica decorrente da concessão de incentivo ou benefício fiscal em desacordo com o disposto na alínea g do inciso XII do 2º do artigo 155 da Constituição Federal.

STF manifestação sobre a reação dos Estados ADI 2377 MC / MG -MINAS GERAIS MEDIDA CAUTELAR NA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE Relator(a): Min. SEPÚLVEDA PERTENCE Julgamento: 22/02/2001 Órgão Julgador: Tribunal Pleno EMENTA: ICMS: "guerra fiscal": concessão unilateral de desoneração do tributo por um Estado federado, enquanto vigorem benefícios similares concedido por outros:liminar deferida. 1. A orientação do Tribunal éparticularmente severa na repressão àguerra fiscal entre as unidades federadas, mediante a prodigalização de isenções e benefícios fiscais atinentes ao ICMS, com afronta da norma constitucional do art. 155, 2º, II, g -que submete sua concessão àdecisão consensual dos Estados, na forma de lei complementar (ADIn 84-MG, 15.2.96, Galvão, DJ 19.4.96; ADInMC 128-AL, 23.11.89, Pertence, RTJ 145/707; ADInMC 902 3.3.94, Marco Aurélio, RTJ 151/444; ADInMC 1.296-PI, 14.6.95, Celso; ADInMC 1.247-PA, 17.8.95, Celso, RTJ 168/754; ADInMC 1.179-RJ, 29.2.96, Marco Aurélio, RTJ 164/881; ADInMC 2.021-SP, 25.8.99, Corrêa; ADIn 1.587, 19.10.00, Gallotti, Informativo 207, DJ 15.8.97; ADInMC 1.999, 30.6.99, Gallotti, DJ 31.3.00; ADInMC 2.352, 19.12.00, Pertence, DJ 9.3.01). 2. As normas constitucionais, que impõem disciplina nacional ao ICMS, são preceitos contra os quais não se pode opora autonomia do Estado, na medida em que são explícitas limitações. 3. O propósito de retaliar preceito de outro Estado, inquinado da mesma balda, não valida a retaliação: inconstitucionalidades não se compensam.4. Concorrência do periculum in mora para a suspensão do ato normativo estadual que -posto inspirada na razoável preocupação de reagir contra o Convênio ICMS 58/99, que privilegia a importação de equipamentos de pesquisa e lavra de petróleo e gás natural contra os produtos nacionais similares - acaba por agravar os prejuízos igualmente acarretados à economia e às finanças dos demais Estadosmembros que sediam empresas do ramo, às quais, por força da vedação constitucional, não hajam deferido benefícios unilaterais.

STF reação dos Estados ADI 3936 MC / PR -MEDIDA CAUTELAR EM ADIn Rel. : Min. GILMAR MENDES, j. 19/09/2007, Tribunal Pleno EMENTA: (...) 3. ICMS. Guerra fiscal. Artigo 2ºda Lei nº10.689/1993 do Estado do Paraná. Dispositivo que traduz permissão legal para que o Estado do Paraná, por meio de seu Poder Executivo, desencadeie a denominada "guerra fiscal", repelida por larga jurisprudência deste Tribunal. Precedentes. 4. Artigo 50, XXXII e XXXIII, e 36, 37 e 38 do Decreto Estadual nº5.141/2001. Ausência de convênio interestadual para a concessão de benefícios fiscais. Violação ao art. 155, 2º, XII,g, da CF/88. A ausência de convênio interestadual viola o art. 155, 2º, incisos IV, V e VI, da CF. A Constituição éclara ao vedar aos Estados e ao Distrito Federal a fixação de alíquotas internas em patamares inferiores àquele instituído pelo Senado para a alíquota interestadual. Violação ao art. 155da CF/88, que constitui o princípio da não-diferenciação ou da uniformidade tributária, que veda aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios estabelecer diferença tributária entre bens e serviços, de qualquer natureza, em razão de sua procedência ou destino. 5. Medida cautelar deferida.

Alguns dos argumentosinvocados pelos Estadospara realizarem a glosa do crédito

LC 24/75 exige-se a celebração de convênios Art. 1º-As isenções do imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias serão concedidas ou revogadas nos termos de convênios celebrados e ratificados pelos Estados e pelo Distrito Federal, segundo esta Lei. (CONFAZ) Parágrafo único - O disposto neste artigo também se aplica: IV -àquaisquer outros incentivos ou favores fiscais ou financeiro-fiscais, concedidoscom base no Imposto de Circulação de Mercadorias, dos quais resulte redução ou eliminação, direta ou indireta, do respectivo ônus; [g.n.]

LC 24/75 ausência de convênio nulidade e ineficácia cia do crédito Art. 8º-A inobservância dos dispositivos desta Lei acarretará, cumulativamente: I -a nulidade do ato e a ineficácia do crédito fiscalatribuído ao estabelecimento recebedor da mercadoria;

Cabe à lei complementar dispor sobre crédito Art. 146 CF/88 Cabe àlei complementar: III estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária, especialmente sobre:...crédito. Art. 155, 2º, XII, c O ICMS atenderáao seguinte: cabe à lei complementar: disciplinar o regime de compensação.

O Fisco recorre também àlc 87/96 art.19 Art. 19 LC 87/96 (art. 155, 2º, I, CF/88) O imposto énão-cumulativo, compensando-se o que for devido em cada operação relativa à circulação de mercadorias ou prestação de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação com o montante cobradonas anteriores pelo mesmo ou outro Estado.

O Fisco recorre também àlc 87/96 art.20 Art. 20 LC 87/96 Para a compensação a que se refere o artigo anterior, é assegurado ao sujeito passivo o direito de creditar-se do imposto anteriormente cobradoem operações de que tenha resultado a entrada de mercadoria, real ou simbólica, no estabelecimento, inclusive a destinada ao seu uso ou consumo ou ao ativo permanente, ou o recebimento de serviços de transporte interestadual e intermunicipal ou de comunicação.

O Fisco recorre também àlc 87/96 art. 23 Art. 23 LC 87/96 O direito de crédito para efeito de compensação com débito do imposto, reconhecido ao estabelecimento que tenha recebido as mercadorias ou para o qual tenham sido prestados os serviços, está condicionado àidoneidade da documentaçãoe, se for o caso, à escrituração nos prazos e condições estabelecidos na legislação.

Lei Paulista 6.374/89 art. 36 caput O ICMS énão-cumulativo,compensando-se o imposto que seja devidoem cada operação ou prestação com o anteriormente cobradopor este, outro Estado ou pelo Distrito Federal, relativamente a mercadoria entrada ou a prestação de serviço recebida, acompanhada de documento fiscal hábil, emitido por contribuinte em situação regular perante o fisco.

Lei Paulista 6.374/89 art. 36, 1º 1º- Para efeitos deste artigo, considera-se: 2-imposto anteriormente cobradoa importância calculada nos termos do item precedente e destacada em documento fiscal hábil;

Lei Paulista 6.374/89 art. 36, 3º 3 -Não se considera cobrado,ainda que destacado em documento fiscal,o montante do imposto que corresponder a vantagem econômica decorrente da concessão de qualquer subsídio, redução da base de cálculo, crédito presumido ou outro incentivo ou benefício fiscal em desacordo com o disposto no artigo 155, 2º, inciso XII, alínea "g", da Constituição Federal.

Resolução SF 52/93 Art. 1º-Na entrada de mercadoria em estabelecimento situado em território paulista, em decorrência de operação interestadual efetuada por empresa beneficiária de qualquer subsídio, ainda que de natureza financeira ou creditícia, em relação ao ICMS, concedido sem amparo em convênio celebrado nos termos da Lei /complementar nº 24, de 7 de janeiro de 1975,a apropriação de crédito do imposto, destacado no respectivo documento fiscal, somente seráadmitida atéo valor correspondente ao montante do ICMS efetivamente cobrado pelo Estado do remetente. [g.n.]

Refutação aos argumentos do Fisco sustentando a impossibilidade de glosa do crédito - síntese o o que gera o crédito não éo pagamento, mas a existência de operação anterior tributada o presunção de validade dos atos legislativos; o competência privativa do judiciário para apontar ilegalidade na concessão de benefícios fiscais; o segurança jurídica não se pode exigir que o contribuinte tenha conhecimento sobre a regularidade do benefício o ilegitimidade do estado destinatário para glosar interesse do estado de origem, que équem realmente experimenta prejuízos enriquecimento do Estado destino

Refutação aos argumentos do Fisco sustentando a impossibilidade de glosa do crédito - continuação oilegitimidade do estado destinatário para glosar interesse do estado de origem, que é quem realmente experimenta prejuízos enriquecimento do Estado destino o terrorismo fiscal ofensa ao princípio da moralidade administrativa onão-cumulatividade as únicas hipóteses constitucionalmente que não geram crédito são as de isenção e não incidência, não podendo a legislação infraconstitucional criar outras oviolação ao princípio intransmissibilidade da

Decisões administrativas e judiciais sobre a glosa

TIT -Tribunal de Impostos e Taxas de São Paulo O Tribunal jádecidiu que o Estado de São Paulo pode recusar créditos de ICMS nas entradas de mercadorias provenientes de outras Unidades da Federação quando o remetente ébeneficiário de incentivo fiscal concedido sem amparo em convênio do Conselho Nacional de Política Fazendária (CONFAZ).

TIT -Tribunal de Impostos e Taxas de São Paulo RECURSO CONHECIDO. NEGADO PROVIMENTO. DECISÃO NÃO UNÂNIME. Recurso Especial do Contribuinte Processo DRTC-II-480522/2006 -Câmara Superior 06/04/2010 Relator: Gianpaulo Camilo Dringoli Decisão publicada no Diário Oficial de 17 de Abril de 2010 ICMS. CRÉDITO INDEVIDO DE IMPOSTO NÃO COBRADO EM OPERAÇÕES DE TRANSFERÊNCIA DE PRODUTOS RESULTANTES DO ABATE DE ESTABELECIMENTO SITUADO NO PARANÁ, DECORRENTE DE CONCESSÃO DE BENEFÍCIO FISCAL NÃO AUTORIZADO PELO CONFAZ. Não assiste razão àrecorrente, porquanto háfundamento legal para a glosa do crédito no inciso I do artigo 8ºda Lei Complementar 24, de 1975, no 3ºdo artigo 36 da Lei 6.374, de 1989, e no 2ºdo artigo 59 do Regulamento do ICMS, de 2000. Não hácompetência para este E. Tribunal negar vigência a dispositivo de Lei Complementar. Não se trata de cobrança de imposto que caberia a outro Estado, mas de imposto decorrentede operações promovidas neste território paulista, pelo estabelecimento deste Estado da recorrente, que foi indebitamente compensado pelo crédito glosado neste lançamento de ofício.

TJSP decisão negando o direito ao cr o direito ao crédito dito Consigne-se, por fim, que reconhecidos os pressupostos da medida político administrativa para suspensão da liminar, inclusive a legitimidade da Fazenda Pública requerente, não se acolhe os argumentos de inexistência de lesão ou impossibilidade de glosa pelo Estado de São Paulo, mormente se caracterizada a ameaça a interesse público, afastados os argumentos sustentados pela agravante, adequados àatividade jurisdicional, que aqui não se trata. Agravo Regimental n 126.873.0/4-01, data de registro 19/01/2006

TJSP decisão assegurando o direito ao direito ao crédito Ora, ao contribuinte que, fundado em documentos formalmente em ordem adquire mercadorias ou toma serviços em outros Estados, não pode ter negado o direito ao crédito de ICMS pela pessoa política que se julgue prejudicada, sob pena de violação ao princípio da não cumulatividade insculpido no art. 155, 2o, I, da CF. Apelação n. 529.218-5/0-00

TJSP impossibilidade da glosa do crédito TRTBUTARIO. ICMS -OPERAÇÕES INTERESTADUAIS. Comunicado CAT 36/2004 que impede apropriação de crédito em operações interestaduais praticadas com determinados Estados da Federação Sentença a terminativa do feito Reforma art. 155, 2, inciso XII alínea "g" da Constituição Federal que exige edição de lei complementar para concessão de benefícios fiscais, não financeiros. Inaptidão de ato infralegal fazer as vezes de meio de impugnação àconstitucionalidade de leis, na medida em que pretendeu antecipar o resultado de ADIns opostas contra as leis que instituíram tais beneficios Concessão da segurança a Recurso provido. (Ap 518.847-5/5) 5/5)

Entendimento do Judiciário -TJSP AgRg n. 126.873.0/4-01: decisão negando direito ao crédito Apelação 529.218-5/0-00: decisão assegurando direito ao crédito Apelação 518.847-5/5-00: impossibilidade da glosa

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL suspendeu os efeitos da decisão do TJ/SP, na apelação cível c n. 518.847-5/5 5/5-00, que possibilitou o aproveitamento do crédito de ICMS resultantes de operações interestaduais amparadas por benefícios fiscais não autorizados por convênio, nos termos da LC 24/75

Qual será a definição do STF?

Excertos de votos RE 547.245 /SC Ministro Carlos Britto: Entendo que disponibilizar crédito para a obtenção de um bem destinado a uso não é senão um ato de intermediar, ou seja, fazer uma intermediação, obrigação de fazer, portanto. Aliás, na linguagem coloquial, nunca se diz dar um empréstimo, mas sim fazer um empréstimo stimo.

Excertos de votos RE 547.245 /SC Ministro Dias Toffoli: Tive a preocupação de consultar o Banco Central do Brasil Procurei saber se havia alguma resolução do Conselho Monetário Nacional [Resposta] Os atos normativos editados pelo Conselho Monetário Nacional não estabelecem quaisquer àcobrança a do ISS sobre operações de arrendamento.. Então, concluo que a Lei Complementar n. 116 permite e autoriza os municípios a instituírem o ISS sobre o arrendamento mercantil.

STF entendimento quanto àconcessão de benefícios unilaterais Os benefícios relativos ao ICMS concedidos pelos Estados-membros sem a deliberação do CONFAZ são inconstitucionais, pois afrontam o art. 155, 2º, XII, g, CF

Reação dos Estados sucumbentes em ADIs Editam novas leis, com conteúdo semelhante àdeclarada inconstitucional, concedendo os mesmos benefícios o Efeito: torna inócuo o provimento jurisdicional, revogando a lei anterior e promulgando outra, que por não ter sido objeto da lide, não sofre os efeitos da coisa julgada o Solução: não há, pois éjuridicamente inviável tolher que o Judiciário impeça o Legislativo de legislar no Brasil, o controle concentrado de constitucionalidade éostensivo, e não preventivo

Formas juridicamente adequadas para o combater à guerra fiscal Instrumentos adequados: o ADI contra norma que institui benefício fiscal de forma unilateral Ente legitimado: Estado de origem o Ação indenizatória/perdas e danos em desfavor do Estado que instituiu benefício e dele obteve vantagem, em detrimento de outro Ente legitimado: Estado de origem

Combate àguerra fiscal medidas que poderiam ser tomadas o Adoção de alíquota interestadual única, fazendo com que não subsista nenhuma unidade da Federação com menor alíquota de ICMS para entrada de mercadorias, inviabilizando a guerra fiscal Ente legitimado: Senado Federal (alterando sua Resolução n. 22) ou Congresso Nacional (alterando a LC 24/75) Problema: descumprimento da função constitucionalmente atribuída àunião de reduzir a diferença entre as diferentes classes sociais e regiões do País

Fonte: estudo FIEG

Competência para exigir o ICMS-importa importação Importador Local em que é devido o ICMS importação. Operação feita por importador de MS, proveniente da Europa, mercadoria desembaraçada no Porto de Santos e entregue no MT, diretamente ao consumidor final.

POSICIONAMENTO DO STF POSICIONAMENTO DO STF Julgamento do RE 299.079-5/RJ (j. 30.06.2004): Caso em que houve importação de álcool por um estabelecimento de Pernambuco; a mercadoria foi desembaraçada e revendida para a Petrobrás, no RJ. O Supremo entendeu que o pagamento era devido ao Estado de Pernambuco, local em que se localiza o responsável pela importação, que realizou o negócio jurídico para o ingresso da mercadoria. Julgou ser irrelevante a entrada física.

RE 268.586-1/SP (j. 24.05.2005) situação fáticaf Empresa A, com sede no Estado do Espírito Santo, importou, via Porto de Santos, mercadoria que foi entregue diretamente no estabelecimento de outro comprador situado em SP, sem qualquer trânsito físico pelo território do Estado do Espírito Santo. O ICMS-importação foi recolhido pela empresa A ao Estado do Espírito Santo. O Estado de SP autuou a empresa adquirente, situada em seu território, por entender ser ele o titular da competência para exigir o ICMS-importação. A empresa ingressou com ação anulatória.

RE 268.586-1/SP (j. 24.05.2005) RESULTADO DO JULGAMENTO: Mantido o auto de infração. O ICMS-importação édevido ao Estado de SP. Excerto da ementa: O Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços cabe ao Estado em que localizado o porto de desembarque e o destinatário da mercadoria. Conclusão: STF modificou seu entendimento?

Excerto do voto do Min. Marco Aurélio -Relator Poucas vezes defrontei-me com processo a revelar drible maior ao Fisco. O acordo comercial FUNDAP, formalizado entre a importadora e a recorrente, é pródigo na construção de ficções jurídicas para chegarse a mitigação do ônus tributário, isso em vista do fato de a importadora encontrar-se cadastrada no sistema FUNDAP, tendo jus, por isso, a vantagens fiscais A toda evidência, tem-se quadro escancarado de simulação.

Excerto do voto do Min. Cezar Peluso É ponto incontroverso, no caso, que a empresa [A] atuou como mera consignatária na importação destinada à recorrente a título de compradora da mercadoria no exterior. O documento de fls. 47/61 (Acordo comercial FUNDAP), juntado pela própria recorrente no ajuizamento da ação, prova que o negócio jurídico ou operação de aquisição da mercadoria no exterior se deu entre a recorrente e a exportadora, agindo a empresa [A] como representante dos interesses desta e mera consignatária do bem importado A importadora foi só intermediária na aquisição, não destinatária da mercadoria.

Conclusão: Simulação: empresa de ES passa-se por importadora, quando, a importadora está em SP. A intenção era obter benefício. ES localiza-se a empresa intermediária, onde há o benefício FUNDAP. Desembaraço Aduaneiro Porto de Santos. A mercadoria foi entregue diretamente em SP, Real importadora.

STF ICMS-importa importação imposto devido ao importador juridicamente considerado RE 405.457 Rel Min. Joaquim Barbosa T2 DJ 4/02/2010 EMENTA: CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. IMPOSTO SOBRE A CIRCULAÇÃO DE MERCADORIAS -ICMS. IMPORTAÇÃO. SUJEITO ATIVO. ESTADO EM QUE LOCALIZADO O DESTINATÁRIO JURÍDICO OU ESTADO EM QUE LOCALIZADO O DESTINATÁRIO FINAL DA OPERAÇÃO (ESTABELECIMENTO ONDE HAVERÁA ENTRADA DO BEM). ART. 155, 2º, IX, A, DA CONSTITUIÇÃO. Nas operações das quais resultem a importação de bem do exterior, o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços -ICMS édevido ao estado onde estiver situado o domicílio ou o estabelecimento do destinatário jurídico do bem,

AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº N 382.736 -SC (2001/0155744-8) VOTO-VISTA VISTA MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS:...eu -Ministro de um Tribunal cujas decisões os próprios prios Ministros não respeitam -sinto-me, triste. Como contribuinte, que também m sou, mergulho em insegurança, a, como um passageiro daquele vôo trágico em que o piloto que se perdeu no meio da noite em cima da Selva Amazônica: ele virava para a esquerda, dobrava para a direita e os passageiros sem nada saber, até que eles de repente descobriram que estavam perdidos: O avião com o Superior Tribunal de Justiça a está extremamente perdido. Agora estamos a rever uma Súmula S que fixamos háh menos de um trimestre. Agora dizemos que está errada, porque alguém nos deu uma lição dizendo que essa Súmula S não devia ter sido feita assim.

AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº N 382.736 -SC (2001/0155744-8) VOTO-VISTA VISTA MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS: Nas praias de Turismo, pelo mundo afora, existe um brinquedo em que uma enorme bóia, b cheia de pessoas éarrastada por uma lancha. A função do piloto dessa lancha éfazer derrubar as pessoas montadas no dorso da bóia. b Para tanto, a lancha desloca-se se em linha reta e, de repente, descreve curvas de quase noventa graus. O jogo sós termina, quando todos os passageiros da bóia b estão dentro do mar. Pois bem, o STJ parece ter assumido o papel do piloto dessa lancha. Nosso papel tem sido derrubar os jurisdicionados.

Ponderações finais

Clélio Chiesa clelio@chiesa.adv.br www.chiesa.adv.br