Implicações da alteração da Taxa de Juro nas Provisões Matemáticas do Seguro de Vida



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Transcrição:

Implicações da alteração da Taxa de Juro nas Provisões Matemáticas do Seguro de Vida 1. Algumas reflexões sobre solvência e solidez financeira Para podermos compreender o que se entende por solvência, na óptica da actividade seguradora, é conveniente fixar primeiro alguns conceitos básicos, como o significado dos termos «activos», «responsabilidades», «solvência absoluta» e «solidez financeira»: «activos» - correspondem à acumulação líquida dos investimentos de uma empresa, provenientes das suas receitas e deduzidos das despesas incorridas; «activos livres» - são a parte dos activos totais detidos pela empresa que excede o valor das suas responsabilidades; «responsabilidades» - são as importâncias ou outras garantias que a empresa se comprometeu contratualmente a pagar ou conceder; «solvência absoluta» - considera-se que uma empresa está solvente, em sentido absoluto, quando o valor dos seus «activos» iguala ou excede o valor das suas «responsabilidades»; «solidez financeira» - uma empresa é «financeiramente sólida» quando está solvente e, para além disso, possui «activos livres» em volume suficiente para garantir que poderá continuar a celebrar novos negócios sem pôr em causa a sua solvência futura. 2. Particularidades da solvência nas Seguradoras do Ramo Vida As seguradora do ramo Vida distinguem-se das demais empresas por celebrarem normalmente contractos de longo prazo (nestas empresas, um contrato de médio prazo pode atingir os 10 anos de duração e um contrato de longo prazo pode estender-se por 50 anos ou mais). Francisco José Cruz Alves Não devemos, no entanto, pensar que estas características são exclusivas do ramo Vida, pois o Seguro de Saúde de Longo Prazo e os seguros do ramo Acidentes de Trabalho podem também ter prazos de maturidade muito elevados. Sempre que se lida com responsabilidades de longo prazo há que utilizar critérios de grande prudência, tanto na avaliação destas como na avaliação dos activos que lhes permitem fazer face e assegurar a solvência. Usualmente, os organismos de supervisão de seguros utilizam critérios prudenciais de avaliação para os «activos» e para as «responsabilidades», o mais corrente dos quais corresponde a avaliar os «activos» a valores correntes de mercado (ou a valores que sejam tão próximos quanto possível dos valores correntes de mercado) e avaliar as «responsabilidades» a «valor actual», ou seja, através de um mecanismo de descontos financeiros, a juro composto, que incidem sobre os valores esperados, em termos demográficos, das responsabilidades futuras. O valor actual da diferença entre as responsabilidades da seguradora, acrescidas dos respectivos custos de gestão, e as responsabilidades do tomador de seguro com o pagamento dos prémios designa-se por «Provisão Matemática». 3. Solvência e Volatilidade do valor dos Activos Quando os activos são avaliados a valor corrente de mercado, cada conjunto de activos (p.ex., uma carteira de títulos), está sujeito a mudanças de valor ao longo do tempo devido, entre outras causas, à alteração das expectativas dos investidores. Esse fenómeno designa-se por «volatilidade financeira». Este conceito pode ser ilustrado através do seguinte exemplo (ver ilustração abaixo): suponhamos que uma seguradora do ramo Vida tem uma carteira de obrigações estatais que garantem o pagamento de juros anuais, de Técnico do Gabinete de Estudos Técnicos do ISP

montante fixo, durante 10 anos, no final dos quais haverá lugar ao pagamento de um montante fixo - num dado momento do tempo, essa carteira de títulos tem um valor x a, correspondente ao valor das provisões matemáticas dos contratos da seguradora, ou seja, a empresa está solvente em termos absolutos; o «valor nominal»; - esse valor x a. é determinado pelas expectativas do mercado sobre o que se considera ser a taxa de remuneração justa para um investimento sem risco financeiro (já que o pagamento é garantido pelo Estado); - o mercado avalia cada activo atribuindo um «valor actual» aos futuros pagamentos que o mesmo deverá proporcionar, de acordo com uma taxa de remuneração que lhe parece justa. É assim que se formam os preços; - por sua vez, essa taxa de remuneração varia consoante o período de duração do investimento - o conjunto das taxas de remuneração exigidas pelo mercado para cada duração, num dado momento do tempo, é designado por «curva de taxas de juro» ou, mais frequentemente, por Yield Curve ; suponhamos que as expectativas do mercado se alteram, por alguma razão, e a yield curve A dá lugar à yield curve B, traduzindo uma expectativa de descida de taxas de juro; nesse caso, o valor da carteira aumenta para x b, já que o mercado aceitaria agora um menor rácio remuneração/preço ou, equivalentemente, um maior preço para a mesma remuneração; - neste caso, a carteira de títulos passa a ter um valor superior ao das provisões matemáticas atrás referidas e passa a haver um «excesso» de solvência;

Yield curve A Yield curve B Yield curve C 1 7% 12% 2% 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Suficiência Excesso Insuficiência Valor das Provisões Técnicas Valor de Mercado da Carteira de Títulos F (Taxa de Juro Fixa) Nestas circunstâncias, a seguradora poderia sentir-se tentada a considerar como lucro o excesso de solvência proporcionado pela variação positiva no valor da sua carteira de títulos. O facto é que, se a empresa continuar a operar e se a maturidade da sua carteira de apólices for ainda longa, podem ocorrer conjunturas de mercado desfavoráveis, que levem à desvalorização dos títulos e à insolvência; - há, portanto, que criar (ainda que de forma nocional) um mecanismo que permita incorporar reservas para futuras desvalorizações de activos e evitar o risco de insolvência; Vejamos o que é que pode ser feito a este respeito: - por um lado, as Directivas Comunitárias exigem que as autoridades de supervisão de seguros estabeleçam uma taxa de juro máxima para o cálculo das provisões matemáticas, tendo em conta a natureza dos activos representativos, para além da obrigatoriedade de constituição de uma «margem de solvência» (a margem de solvência corresponde ao conceito de «solidez financeira» que já atrás foi referido); - por outro lado, a existência de taxas de juro máximas para o cálculo das provisões matemáticas não impede as seguradoras de utilizarem taxas mais baixas, o que abre a possibilidade de utilizar esta via para incorporar uma margem adicional de segurança contra o risco de insolvência futura; - por razões de facilidade de cálculo, foi este o mecanismo que mereceu a nossa preferência, no âmbito do presente estudo; o efeito da provável desvalorização dos activos representativos das provisões matemáticas é dado na ilustração anexa através da conjuntura correspondente à «yield curve C»; neste caso o valor da carteira de títulos, x c, sofre uma variação negativa que leva a uma «insuficiência» de cobertura do valor das provisões matemáticas, o que corresponde a uma situação de «insolvência» ; - assim, a selecção dos activos que fazem face a determinadas responsabilidades carece de uma prudência acrescida. 4. Formas de evitar a Insolvência resultante da Volatilidade do valor dos Activos e dos rendimentos a eles associados Obs.: É de notar que, no exemplo acima, uma das razões que levam à insolvência reside no facto de se assumir que o valor das responsabilidades não se altera com a variação da yield curve, contrariamente ao que acontece com o valor dos activos.

Para além dos mecanismos prudenciais referidos anteriormente, existem vários modos e técnicas para evitar ou, pelo menos, reduzir substancialmente o risco de insolvência resultante da volatilidade financeira. De uma certa forma, algumas dessas técnicas, como o matching e o hedging, foram já referidas em publicações anteriores da Revista do ISP. Subjacente a qualquer destas técnicas está a noção de que a volatilidade dos activos é passível de ser adequadamente representada através de modelos matemáticos. Actualmente existem já diversos modelos matemáticos que permitem abordar convenientemente este problemas, os mais refinados dos quais se baseiam em processos estocásticos e recorrem a técnicas de simulação para determinar os «intervalos de confiança» das yield curves. Uma das técnicas mais correntemente utilizadas para reduzir o risco de insolvência por fluctuação adversa do valor e do rendimento dos activos corresponde à utilização de um mecanismo com duas opções frequentemente equivalentes: descontar o valor dos fluxos financeiros dos activos detidos em carteira, de acordo com uma yield curve correspondente a um intervalo de confiança baixo (p.ex. 5% ou 1) e avaliar as provisões matemáticas com base nas yield curves do mercado, ou calcular as provisões matemáticas de acordo com uma yield curve correspondente a um intervalo de confiança alto (p.ex. 9 ou 95%) e avaliar os activos representativos dessas provisões a valores correntes de mercado. Destas duas técnicas, a mais comum é a segunda, embora se tenha que proceder a algumas adaptações quando a Autoridade de Supervisão fixa taxas de juros máximas para a determinação das provisões. 5. Impacto da taxa de juro no valor das Provisões Matemáticas de algumas modalidades de Seguro de Vida As provisões matemáticas dos contratos de seguro de Vida devem ser calculadas periódicamente e, de cada vez que tal acontece, os cálculos devem reflectir as alterações de responsabilidades ocorridas desde o período anterior. A capitalização dos activos, as participações nos resultados, os resgates pagos, as reduções de contratos por não pagamento de prémios, a alteração da mortalidade e a própria inflação das despesas da seguradora vão, ao longo do tempo, alterando as hipóteses inicialmente utilizadas no cálculo das provisões. Como é lógico, cada seguradora tem a sua própria experiência de gestão de contratos e deve reflecti-la no cálculo das suas provisões. Quando o objectivo é calcular o impacto de algumas variáveis para a totalidade do mercado, têm que se utilizar hipóteses simplificadoras. Nos cálculos que realizámos, estavamos interessados nos contratos celebrados entre 1984 e 1994 e, muito concretamente, no impacto da mudança da taxa de juro a nível das provisões matemáticas. Esse impacto é particularmente sensível, devido à iminente introdução do «euro», no caso de contratos em que a duração dos activos seja bastante inferior à duração das responsabilidades e a sua importância varia com o prazo de maturidade das apólices. Como o impacto da alteração da taxa de juro é bastante mais forte que o da alteração da mortalidade e porque os encargos de gestão indicados no Plano de Exploração do Ramo Vida (frequentemente utilizados entre 1984 e 1994) eram prudentes, igorámos os efeitos de eventuais alterações nas bases técnicas iniciais, com excepção da taxa técnica de juro e do facto do mecanismo de prémios inicialmente estabelecido não poder ser mudado durante o contrato. O que veremos a seguir é o resultado desses cálculos para algumas das modalidades tradicionais de seguro de Vida, como as Rendas Vitalícias Imediatas, os Seguros Mistos e os Seguros de Capital Diferido com Contrasseguro dos Prémios à Taxa Técnica. 5.1. Rendas Vitalícias Imediatas Artigo intitulado «Impacto da criação do Euro nas Taxas de Juro de Longo Prazo», publicado no nº2 da Revista do ISP De entre as várias formas possíveis de apólices de rendas vitalícias, seleccionámos as Rendas

Vitalícias Imediatas Mensais Antecipadas, não apenas pela importância qua têm no ramo Vida, mas também porque é através destas rendas que se calculam as provisões matemáticas do ramo Acidentes de Trabalho. Testámos o que aconteceria se utilizassemos taxas técnicas de juro entre os 6% ao ano (taxas inicialmente previstas) e os ao ano (que podem ser consideradas prudentes em contratos a prémio único com 15 anos de prazo de maturidade). RENDA VITALICIA IMEDIATA MENSAL ANTECIPADA RENDA VITALICIA IMEDIATA MENSAL ANTECIPADA Provisão Matemática a Prémio de Inventário Aumento da Provisão Matemática a Prémio de Inventário Idades - - - Tábua de Mortalidade: PF-60/64 - - - Idades com relação à Taxa Técnica de 6% (Tábua: PF-60/64) actuariais - - -Taxas Técnicas de Juro - - - actuariais - - -Taxas Técnicas de Juro - - - actuais 6% 4,5% 3,5% actuais 6% 4,5% 3,5% 50 13,3989 15,7111 16,6381 17,6605 18,7910 50 0,0000 0,1726 0,2418 0,3181 0,4024 55 12,3880 14,3009 15,0542 15,8767 16,7767 55 0,0000 0,1544 0,2152 0,2816 0,3543 60 11,2051 12,7251 13,3128 13,9482 14,6362 60 0,0000 0,1356 0,1881 0,2448 0,3062 65 9,8677 11,0186 11,4556 11,9234 12,4248 65 0,0000 0,1166 0,1609 0,2083 0,2591 70 8,4170 9,2403 9,5474 9,8730 10,2185 70 0,0000 0,0978 0,1343 0,1730 0,2140 Aumento das Provisões Matemáticas a Prémio de Inventário com relação à Taxa Técnica de Juro de 6% Incremento das Provisões 45% 4 35% 3 25% 2 15% 1 5% 3,5% Taxa Técnica de Juro 4,5% 6% 70 65 60 50 55 Idades Actuariais Como seria de esperar, o maior impacto faz-se sentir nas idades actuais menos avançadas (maior prazo de maturidade) e para as taxas de juro mais baixas. Para a idade actuarial de 50 anos e taxa de juro de, o aumento das provisões atinge os 4. Os resultados globais são os abaixo indicados nas tabelas e gráfico anexos.

5.2. Seguros Mistos No caso dos Seguros Mistos, a taxa técnica inicialmente prevista para o cálculo dos prémios e das provisões matemáticas era de ao ano. Neste caso, considerámos taxas entre os e os 2,5% (taxa prudente para contratos a prémios nivelados com 10 anos até à maturidade). SEGURO MISTO SEGURO MISTO com Prazo Inicial de 20 anos e k anos decorridos Aumento da Provisão Matemática a Prémio de Provisão Matemática a Prémio de Inventário Inventário, com relação à Taxa Técnica de Idades - - - Tábua de Mortalidade: PM-60/64 - - - Idades - - - Tábua de Mortalidade: PM-60/64 - - - actuariais - - -Taxas Técnicas de Juro - - - actuariais - - -Taxas Técnicas de Juro - - - iniciais 3,5% 2,5% iniciais 3,5% 2,5% k = 5 k = 5 50 0,1838 0,2086 0,2356 0,2649 50 0,0000 0,1351 0,2820 0,4415 55 0,1857 0,2082 0,2326 0,2591 55 0,0000 0,1214 0,2531 0,3957 60 0,1891 0,2087 0,2298 0,2527 60 0,0000 0,1038 0,2157 0,3366 65 0,1951 0,2113 0,2287 0,2473 65 0,0000 0,0832 0,1723 0,2680 k = 10 k = 10 3,5% 2,5% 50 0,3972 0,4208 0,4458 0,4722 50 0,0000 0,0596 0,1225 0,1889 55 0,3954 0,4172 0,4402 0,4644 55 0,0000 0,0551 0,1131 0,1743 60 0,3941 0,4133 0,4336 0,4549 60 0,0000 0,0489 0,1003 0,1544 65 0,3945 0,4107 0,4277 0,4455 65 0,0000 0,0410 0,0841 0,1292 k = 15 k = 15 3,5% 2,5% 50 0,6556 0,6725 0,6897 0,7076 50 0,0000 0,0256 0,0520 0,0792 55 0,6476 0,6635 0,6799 0,6967 55 0,0000 0,0245 0,0498 0,0758 60 0,6365 0,6511 0,6661 0,6816 60 0,0000 0,0229 0,0465 0,0708 65 0,6222 0,6351 0,6483 0,6619 65 0,0000 0,0207 0,0420 0,0638 Aumento das Provisões Matemáticas a Prémio de Inventário com relação à Taxa Técnica de Juro de (Seguro Misto Clássico a 20 anos de prazo e 5 anos decorridos) Aumento das Provisões Matemáticas a Prémio de Inventário com relação à Taxa Técnica de Juro de (Seguro Misto Clássico a 20 anos de prazo e 10 anos decorridos) Incremento das Provisões 45% 4 35% 3 25% 2 15% 1 5% 2,5% 3,5% 50 55 60 65 k = 5 Idades Actuariais no início do contrato Incremento das Provisões 2 18% 16% 1 12% 1 8% 6% 2% 2,5% 3,5% 50 55 60 65 k = 10 Idades Actuariais no início do contrato Taxa Técnica de Juro Taxa Técnica de Juro Aumento das Provisões Matemáticas a Prémio de Inventário com relação à Taxa Técnica de Juro de (Seguro Misto Clássico a 20 anos de prazo e 15 anos decorridos) Incremento das Provisões 8% 7% 6% 5% 2% 1% 2,5% 3,5% 50 55 60 65 k = 15 Idades Actuariais no início do contrato Taxa Técnica de Juro Mais uma vez se verifica que, para uma mesma taxa de juro, quanto mais baixa é a idade actual e mais longo é o prazo até à maturidade, maior é o valor da provisão matemática. Para além disso, o maior impacto é sentido quando a provisão é calculada à taxa mais baixa. Para a idade de 50 anos e o prazo de maturidade de 15 anos (k=5 e Prazo Inicial =20), a maior percentagem de incremento é a que ocorre com a taxa de juro de 2,5%, chegando o aumento a cerca de 4 (ver quadros e gráfico anexos).

5.3. Seguros de Capital Diferido com Contrasseguro à Taxa Técnica No caso destes seguros, o Plano de Exploração do Ramo Vida e suas alterações, estabelecia que a taxa de juro a utilizar em contratos até 10 anos de prazo não poderia exceder 6 da taxa de rendimento líquida obtida com os investimento afectos às provisões matemáticas. Não havia, portanto, uma taxa máxima uniforme fixada pela Entidade de Supervisão e, no passado, chegaram-se a praticar taxas superiores a 1 ao ano. Com o passar do tempo, as taxas dos novos contratos foram-se reduzindo, pelo que achámos útil explorar o intervalo de taxas entre os 1 e os 2,5% em apólices a prémio único. Os resultados confirmam as tendências atrás referidas, no tocante ao prazo de maturidade e à taxa de juro, só que, desta vez, o efeito manifesta-se com muito maior amplitude. Com efeito, para os 10 anos de prazo de maturidade e para a taxa de 2,5%, um contrato com taxa garantida de 1 comporta um aumento de provisão da ordem dos 10, como se comprova nos quadros e gráfico abaixo. CAPITAL DIFERIDO C/CONTRASSEG. À TAXA TÉCNICA CAPITAL DIFERIDO C/CONTRASSEG. À TAXA TÉCNICA Provisão Matemática a Prémio de Inventário Aumento da Provisão Matemática a Prémio de Inventário Prazo Prazo com relação à Taxa Técnica de 1 até ao - - -Taxas Técnicas de Juro - - - até ao - - -Taxas Técnicas de Juro - - - vencimento 1 8% 5% 2,5% vencimento 1 8% 5% 2,5% 10 0,3865 0,4642 0,5594 0,7451 0,7822 10 0,0000 0,2009 0,4472 0,9276 1,0236 8 0,4675 0,5413 0,6284 0,7904 0,8217 8 0,0000 0,1578 0,3442 0,6907 0,7577 6 0,5655 0,6312 0,7060 0,8385 0,8633 6 0,0000 0,1162 0,2484 0,4828 0,5267 4 0,6840 0,7360 0,7931 0,8895 0,9070 4 0,0000 0,0760 0,1595 0,3004 0,3259 2 0,8274 0,8583 0,8910 0,9436 0,9528 2 0,0000 0,0373 0,0768 0,1404 0,1515 Aumento das Provisões Matemáticas a Prémio de Inventário, com relação à Taxa Técnica de Juro de 1 (Seguro de Capital Diferido c/contrasseg. à Taxa Técnica) 12 Incremento das Provisões 10 8 6 4 2 2,5% 5% 8% Taxa Técnica de Juro 1 2 4 6 8 10 Prazos até ao vencimento do contrato 6. Comentários finais A iniciativa da produção do presente artigo teve como propósito de analisar as possíveis consequências da iminente introdução da moeda única ao nível da alteração de taxas de juro. A perspectiva de uma inflação baixa e estável no espaço económico do «euro» arrasta consigo uma expectativa de taxas de juro substancialmente mais baixas do que as que foram observadas em Portugal ao longo dos últimos 20 anos. Nessa medida, torna-se conveniente fazer uso de grande prudência no cálculo das provisões matemáticas do ramo Vida e no nível de constituição das carteiras de activos representativos dessas mesmas provisões. O exercício da prudência a nível das taxas de juro utilizadas no cálculo das provisões matemáticas de seguros de longo prazo tem a ver, não apenas com a previsão da futura taxa de rendimento dos activos representativos dessas provisões mas, também, com a margem de segurança para fluctuações adversas do valor desses activos. O aumento da prudência no cálculo das provisões é um objectivo desejável mas o exercício da prudência para além dos limites mínimos impostos pelas autoridades de supervisão deve ser conseguido de forma faseada e evitando

comprometer o equilíbrio de exploração das seguradoras.