MUDANÇA TERMINOLÓGICA: ADMINISTRAÇÃO X GESTÃO 1



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Transcrição:

MUDANÇA TERMINOLÓGICA: ADMINISTRAÇÃO X GESTÃO 1 Eulália Araújo CALIXTO 2 RESUMO Objetiva-se apresentar resultados parciais de pesquisa que realiza um diagnóstico da percepção dos diretores das escolas do ensino fundamental (Marília/SP) a respeito do Programa Progestão de formação continuada, desenvolvido pelo governo do Estado de São Paulo. O estudo, em uma abordagem qualitativa, desenvolveu, transcreveu e analisou entrevistas semi-estruturadas com os diretores participantes e com o coordenador local do Programa na cidade de Marília, com o objetivo de compreender os possíveis desdobramentos para a formação e para a prática dos profissionais envolvidos. Como a pesquisa encontra-se em andamento, foi possível elaborar apenas uma análise parcial dos dados obtidos com as entrevistas. O estudo da percepção dos proponentes do Programa e dos educadores sobre o uso termo gestão em detrimento do termo administração, evidencia que, para a maioria dos entrevistados, a alteração terminológica proporciona uma visão mais dinâmica e democrática da educação, o que, para eles, acaba por beneficiar o processo educacional. Palavras-Chaves: Gestão escolar. Administração escolar. Gestão participativa. Formação continuada. 1 Introdução O presente texto é integrante de pesquisa intitulada Progestão: implicações para a formação e a prática dos diretores escolares i, que investiga a percepção dos diretores das escolas estaduais da cidade de Marília/SP a respeito do desenvolvimento do Programa Progestão do governo do Estado de São Paulo. O movimento atual que incentiva a participação e a democratização nas escolas, mediante processos que aumentam suas responsabilidades, exige, conseqüentemente, maior competência de sua gestão e, desta maneira, a formação dos diretores escolares adquire um grande significado e um enorme desafio aos sistemas de ensino. Segundo Lück (2000), este 1 Pesquisa financiada pela FAPESP 2 Bolsista de iniciação científica FAPESP, aluna do 4º ano do Curso de Pedagogia, da Faculdade de Filosofia e Ciências (FFC), da Universidade Estadual Paulista (UNESP), campus de Marília. Orientada pela Profª Graziela Zambão Abdian Maia, docente do Departamento de Administração e Supervisão escolar, da Faculdade de Filosofia e Ciências (FFC), da Universidade Estadual Paulista (UNESP), campus de Marília. E-mail: eulaliacalixto@ig.com.br

19 desafio torna-se ainda maior diante da oferta insuficiente de oportunidades para a formação inicial destes profissionais, que reforça a responsabilidade dos sistemas de ensino na promoção e realização de cursos de capacitação para a preparação de diretores escolares. Para a autora, a maioria desses cursos organizados por órgãos centrais tem seus programas pautados por generalizações, apresenta um distanciamento entre teoria e prática ao focalizar conteúdos formais em detrimento do desenvolvimento de habilidades (o saber fazer) e enfoca o indivíduo, desconsiderando a necessidade de desenvolvimento do trabalho em equipe. Com este diagnóstico, Lück (2000, p.32) destaca a necessidade de os sistemas de ensino [...] adotarem uma política de formação continuada de gestores, de modo a estabelecer unidade e direcionamento aos seus programas e cursos. Neste contexto, o Estado de São Paulo desenvolveu, recentemente, o Programa Progestão que é um curso de formação continuada para gestores escolares que atuam nas redes públicas de ensino, tendo como objetivo geral a formação de lideranças comprometidas com a construção de um projeto de gestão democrática, focada no sucesso escolar dos alunos das escolas públicas de ensino fundamental e médio. O Programa de formação continuada de diretores da rede estadual de São Paulo apresenta grande relevância em termos de extensão e intenção, neste sentido, merece ser contemplado do ponto de vista científico. Por ser um potencial objeto de estudos na área, pode ser investigado sob vários aspectos, sendo necessária a delimitação de sua abordagem. A pesquisa apresentou como questões norteadoras: qual é a percepção dos diretores envolvidos no Programa sobre sua implantação? Ou seja: quais são os possíveis desdobramentos para a suas formação e prática? Ele contribui com o desenvolvimento da Gestão participativa e com a democratização da escola? Cabe identificar que das trinta e duas escolas envolvidas no Programa da cidade de Marília/SP, quatro contemplam as oito séries do ensino fundamental, oito as quatro primeiras séries e vinte escolas as quatro últimas séries do ensino fundamental. 3 Para realizar a pesquisa, delimitou-se o trabalho com o segundo grupo os oito diretores que trabalham nas escolas das quatro primeiras séries do ensino fundamental -, por entender que 3 Esta informação foi obtida no site da Diretoria de Ensino da região de Marília: www.dermarilia.com.br/texto.php?texto=34

20 o curso de graduação da iniciante na pesquisa privilegia sua formação nestas séries iniciais do ensino fundamental. Para a investigação do problema, foram coletados dois tipos de material. O primeiro, bibliográfico/documental, consistiu no levantamento dos temas e documentos referentes ao assunto. O segundo material foi obtido com a transcrição das entrevistas realizadas com o supervisor de ensino e com os oito diretores das escolas selecionadas. As entrevistas foram do tipo semi-estruturadas, desenvolvendo-se a partir de um esquema básico, porém flexível, que pôde ser adaptado de acordo com as necessidades que surgiram no decorrer da investigação. Ressalta-se que durante as entrevistas foram garantidos o anonimato e o sigilo ao informante e à unidade escolar, como também respeito às opiniões e às idéias (LÜDKE e ANDRÉ, 1986). Os seguintes temas foram contemplados: formação profissional, tempo de trabalho na direção e estrutura da escola; organização e funcionamento do Programa Progestão; pontos favoráveis e desfavoráveis do Programa; utilização do termo gestão em detrimento do termo administração; relação teoria e prática do curso; a contribuição ou não do Programa para o desenvolvimento da gestão democrática nas escolas; e relação do Programa com a melhoria da qualidade de ensino. Este texto tem o objetivo de apresentar a análise da percepção dos diretores a respeito da alteração terminológica de administração para gestão que está presente na área educacional da atualidade. 2 O uso dos conceitos É possível observar, nos discursos dos profissionais que vivenciam o cotidiano das escolas, dos representantes dos órgãos de ensino e da literatura educacional, o uso do termo gestão em detrimento do termo administração. Cumpre questionar se esta substituição foi apenas terminológica ou se de fato houve, concomitante a ela, a execução de novas posturas e valores no ambiente escolar. Silva Junior (2002, p. 202) afirma que não é possível [...] tentar estabelecer na literatura especializada em administração diferenças substantivas entre esse conceito e o de gestão [...] ; entretanto, o autor ressalta que é necessário [...] refletir sobre as conseqüências práticas para administração escolar no Brasil e fora dele do quase abandono

21 do conceito de administração escolar em favor do conceito de gestão escolar. O autor esclarece que [...] Todo o arcabouço teórico da ciência da administração, se ela existir, foi construído tomando-se como referência empírica as situações das organizações privadas. E todo projeto bem intencionado de conferir suporte científico à prática da administração pública pretende requalificála pela imposição de práticas da administração privada. (SILVA JUNIOR, 2002, p. 202 destaques do autor). O predomínio da noção de gestão sobre a de administração, para o autor, é resultado da influência dominante da administração empresarial em toda sociedade, que possibilita a circulação no espaço público, inclusive na escola, de termos como gestão. A boa gestão, neste entendimento, torna-se aquela que incorpora mecanismos testados e aprovados pela rigorosa competitividade empresarial, o que não conduz, obrigatoriamente, a uma mudança de comportamento e valores paralelamente a mudança terminológica. Ao importar práticas da administração privada, a administração pública [...] viabiliza a circulação no espaço público dos critérios, valores e interesses a que essas práticas se reportam. Com isso diluem-se fronteiras entre o sentido do público e o sentido do privado, em favor deste e em detrimento daquele (SILVA JUNIOR, 2002, p. 202-203). A importação da administração privada para a administração pública, como por exemplo, por meio do predomínio da noção de gestão sobre a de administração, é inadequada e descaracteriza a especificidade da administração escolar, pois deste predomínio resulta a indução do significado de gestão como gestão empresarial, neste sentido é possível observar a crescente mercadorização dos critérios de gestão educacional, com a prevalência da lógica do mercado educacional sobre a lógica do direito à educação [...] (SILVA JUNIOR, 2002, p. 199). Segundo o autor, a partir deste predomínio é possível identificar algumas conseqüências, tais como favorecer o fortalecimento interno da privatização dos sistemas e das unidades escolares; subordinação ao critério economicista; impregnação da lógica empresarial e conseqüente mercadorização da gestão educacional sem obrigar a utilização plena dos princípios empresariais. Não é difícil constatar esta observação ao se evidenciar a

22 [...] fragmentação da jornada de trabalho docente com a conseqüente multiplicação dos locais de trabalho diários, o que dificilmente seria admitido na gestão de qualquer empresa de serviços no setor privado preocupada com a racionalização de suas atividades (SILVA JUNIOR, 2002, p.204). Em pesquisa realizada, Messas (2002) indica que houve, recentemente, a adoção de princípios, métodos e técnicas da administração empresarial nas políticas sociais públicas do Estado, que introduziu novos termos como gestão, liderança, líder etc. Neste sentido, a autora vai ao encontro do pensamento de Silva Júnior (2002), ao considerar que a adoção de práticas da administração privada na administração pública possibilita a circulação de termos e valores da administração empresarial, tais como os citados pela autora. Compartilhando de pensamento semelhante, Maia (2000, p.50) ressalta que os valores do mercado propagam-se de forma implícita na gestão pública na forma de Programas como a Escola de Qualidade Total (EQT), que apresenta como alguns de seus objetivos a gestão democrática ou por liderança da escola e das salas de aula; o diretor como líder da comunidade educativa; o professor como líder dos alunos; a escola como ambiente da satisfação das necessidades de seus membros; ensino baseado no aprendizado cooperativo; participação do aluno na avaliação de seu próprio trabalho; trabalho escolar de alta qualidade como produto de uma escola de qualidade. (MAIA, 2000, p.51). As provas nacionais podem ser consideradas um exemplo dos valores de mercado propagados na educação, uma vez que gera racionalidade e competitividade entre as escolas por melhores resultados nos exames. Ao contrário desta realidade, a escola não deveria estar subordinada ao mercado capitalista, mas sim utilizar esta relação, já existente, para fortalecer o ensino e tornar este mais democrático. A respeito do assunto, Paro (1987, p.138) afirmava, já na década de 1980, que [...] Não há nada de estranho no fato de que o modo de produção capitalista se encontre presente na escola [...], pois [...] na sociedade dominada pelo capital, as regras capitalistas vigentes na estrutura econômica tendem a se propagar por toda sociedade,

23 perpassando as diversas instâncias do corpo social [...]. No mundo dominado pelo capitalismo seria, para o autor, ingenuidade pensar que a escola não estaria também sobre influência do capital, até porque a maioria da população acredita que quando bem aplicado e feito as devidas adequações para a unidade escolar os métodos e técnicas da administração empresarial possibilitam resultados semelhantes aos alcançados pelas empresas, tais como maior produtividade, objetivos alcançados, prosperidade, melhores resultados etc. 4 Torna-se relevante enfatizar que há diferenças entre o modelo empresarial e o modelo escolar uma vez que [...] a organização escolar apresenta, por oposição a outras organizações, alguns elementos específicos. È o caso, por exemplo, dos objetivos, quase sempre mais difíceis de definir e menos consensuais do que em outras organizações, a existência da matéria prima humana que oferece outro caráter à escola, o fato dos professores terem a mesma formação dos outros integrantes da equipe escolar, a impossibilidade de se medir com precisão os resultados obtidos como se faz nas organizações empresariais, dentre outros. (MAIA, 2000, p.53). Segundo Maia (2000, p.53) os objetivos peculiares observados na escola, tais como a dificuldade em definir os objetivos, a imprecisão de mensurar resultados e, sobretudo, a matéria prima humana a ser trabalhada, tornam essa diferente da empresa em que a matéria prima possivelmente não gerará divergências, conflitos e não haverá construção de consensos e crescimento pessoal. Ao encontro deste pensamento, Paro (2000) afirma que [...] é necessário desmistificar o enorme equivoco que consiste em pretender aplicar, na escola, métodos e técnicas da empresa capitalista como se eles fossem neutros em si. O princípio básico da administração é a coerência entre meios e fins. Como os fins da empresa capitalista, por seu caráter de dominação, são, não apenas diversos, mas antagônicos aos fins de uma educação emancipadora, não é possível que os meios utilizados no primeiro caso possam ser transpostos acriticamente para a 4 Remetendo-nos à história da Administração Escolar é possível encontrar pensamento semelhante em Querino Ribeiro (1968) no seu livro Ensaio de uma teoria em Administração Escolar, ao defender que é possível utilizar as técnicas comuns da administração independente de qual seja a organização, bem como defender que a escola é uma grande empresa. O autor possui como referencial teórico Taylor e Fayol.

24 escola, sem comprometer irremediavelmente os fins humanos que aí se buscam (PARO, 2000, p.305). Os autores citados indicam que há aspectos distintos entre a empresa e a escola e que é fundamental considerar as especificidades da segunda. Em relação à alteração terminológica, considera-se, com base no exposto, que ela pode ser mais um dos resultados da influência do mercado (leia-se mundo empresarial) em toda sociedade, inclusive na escola. 3 A percepção dos diretores e suas possíveis implicações A fim de identificar qual a percepção dos participantes do Programa Progestão a respeito dessa mudança terminológica e de suas possíveis implicações, os diretores entrevistados oito no total - foram indagados e os dados obtidos possibilitam uma reflexão e diálogo com autores que discutem o tema. Verifica-se que apenas um entrevistado (Diretor A) percebe administração como termo que engloba toda equipe gestora, para ele, gestor é sinônimo de Diretor, este posicionamento é incomum, pois o entrevistado entende o termo administração como algo abrangente, o que não se encontra nas demais entrevistas. A resposta deste Diretor causa uma inquietação uma vez que não é coerente com a terminologia utilizada no Programa Progestão que, ao abordar o conteúdo, sempre se referiu à equipe gestora, entendida como diretor, vice-diretor e coordenador pedagógico. Constata-se que dois entrevistados (Diretor B e D) mencionam que a utilização do termo gestão visa apenas uma adaptação ao enfoque atual, assim, para eles, não há diferenças entre os termos. Compartilhando de pensamento semelhante, a coordenadora local do Programa Progestão afirma que a utilização do termo gestão está relacionada à adequação terminológica às políticas adotadas e ao pensamento pedagógico recente. Ressalta que administração não tem enfoque ultrapassado, para ela, o termo gestão é apenas uma adoção atual da Secretaria de Educação. Para o Diretor B, por exemplo, [...] as novas teorias hoje falam em gestão, você não ouve mais dizer administração então creio que é um novo enfoque e, na fala da Diretora D, ao mencionar que [...] não tem muita diferença no

25 termo gestão e administração, eu acho que está sendo usada gestão por modismo, é modismo invés de falar administração é gestão. A maioria dos entrevistados (Diretor C; E; F; G; e H) entende o termo gestão como sendo mais amplo que administração, pois engloba questões financeiras, pedagógicas, administrativas e relações interpessoais. Nas respostas, identifica-se que o termo administração relaciona-se à burocracia; ao autoritarismo; a máquinas, ao ignorar opiniões da comunidade escolar (diretor, vice-diretor, coordenador pedagógico, professores, funcionários não-docentes, alunos e pais); e a inflexibilidade. O termo gestão, para eles, relaciona-se com a cooperação; participação; proximidade com o cotidiano escolar; saber escutar/ respeitar a comunidade escolar e flexibilidade. De acordo com o Diretor E, por exemplo, administração é uma coisa mais de máquinas, tem uma visão mais autoritária como uma coisa, como se pudesse ser mais objetivada sem respeitar as diferenças, sem escutar o outro, sem ouvir as opiniões. Quando você fala de gestão, a gestão administrativa ela é cooperativa, ela é participativa, está envolvido, embora o diretor seja aquele que responde pela escola, mas é alguém que vai escutar seus companheiros de trabalho, escutar a secretaria, escutar os professores, escutar o coordenador, escutar o aluno, escutar pais de alunos [...] Então, há valores a serem pesados, a serem ponderados para você tomar medidas nesse sentido, então a gestão é mais nesse sentido seria da visão mais flexível da coisa, do que administração. Para este entrevistado, o termo administração relaciona-se com um processo mecânico e individual no qual o indivíduo toma decisões sem consultar nenhum membro da escola, já o termo gestão proporciona a unidade escolar mais flexibilidade nas relações interpessoais e na tomada de decisão. Parece que, segundo o entrevisto, a mudança terminológica proporcionaria à escola maior dinâmica e participação da sociedade nas questões educacionais. Ao encontro deste pensamento, Lück (2006) afirma que o termo gestão possibilita superar o enfoque limitado de administração, de modo que os problemas educacionais são complexos e necessitam de visão global e abrangente, assim como ações articuladas, dinâmicas e participativas. Para a autora a mudança terminológica surge [...] para representar novas idéias e estabelecer, na instituição, uma orientação transformadora, a

26 partir da rede de relações que ocorrem, dialeticamente, no seu contexto interno e externo [...] (LÜCK, 1998, p.35). O conceito de gestão, neste sentido, ultrapassa o de administração por [...] abranger uma série de concepções não abarcadas por este outro, podendo-se citar a democratização do processo de construção social da escola e realização de seu trabalho, mediante a organização de seu projeto político- pedagógico, o compartilhamento do poder realizado pela tomada de decisões de forma coletiva, a compreensão da questão dinâmica e conflitiva e contraditória das relações interpessoais da organização, o entendimento dessa organização como um entidade viva e dinâmica, demandando uma atuação especial da liderança e articulação, a compreensão de que a mudança de processos educacionais envolve mudanças nas relações sociais praticadas na escola e nos sistemas de ensino. (LÜCK, 2000, p.16) Lück (2006), defende que, paralelamente à adoção do termo gestão na legislação e nas organizações escolares, ocorre também a adoção de princípios e valores mais democráticos no ambiente escolar, conseqüentemente, há maior abertura à participação da comunidade escolar no cotidiano da escola, assim como possibilita uma visão mais abrangente dos problemas educacionais e da própria organização escolar. Sem essa orientação, todos os esforços e gastos são despendidos sem muito sucesso, mediante a atuação orientada por: a) adotarem perspectivas burocráticas, isoladas e eventuais; b) focalizarem projetos isolados, na busca de soluções tópicas e localizadas, e sem participação, na fase de planejamento, dos envolvidos na ação para implementá-los; c) enfatizarem a realização de atividades, sem orientação clara e empenho determinado pela realização de objetivos e promoção de resultados significativos. No entanto, estes aspectos, dentre outros, têm ocorrido na educação brasileira, evidenciando a falta de reconhecimento de que a realidade é dinâmica [...]. (LÜCK, 2006, p.25). Segundo Lück (2006), os princípios, atitudes e ações encontrados implicitamente no termo gestão possibilitam um cerceamento de ações mecânicas ou apenas burocráticas; da realização de atividades desprovidas de sentido e objetivos em comum; bem como de ações isoladas sem visão de conjunto. Em estudo realizado sobre a trajetória do conhecimento em Administração da Educação na Revista Brasileira de Política e Administração da Educação (RBPAE), Maia (2004) identifica que a fragilidade conceitual está presente na análise dos artigos publicados (1983-200). A pesquisa detecta que, entre os anos de 1983-1986, não se constatou a

27 utilização do termo gestão na RBPAE, sendo que os textos publicados adotavam o termo administração da educação. A produção sobre gestão inicia-se [...] em 1986, com a realização do Simpósio tendo a temática Democratização da educação e gestão democrática da educação [...] (MAIA, 2004, p. 147). A partir deste momento, diferentes autores passam a utilizar concomitantemente os termos gestão e administração e emergem críticas sobre como vinha sendo concebida a administração, os autores ressaltam que era necessária a ruptura com a prática administrativa, tendo em vista que uma gestão inovadora pressupõe uma administração mais participativa (MAIA, 2004, p.147 ). Na análise empreendida, a pesquisa destaca que os autores [...] identificaram, sutilmente, a Administração com a centralização, com a ênfase na burocracia, relações antidemocráticas e a Gestão com práticas coletivas, relações horizontais e possibilidade de convivência democrática. Além disso, destacou-se, nos artigos sobre Gestão, que as abordagens presentes nos textos valorizaram o olhar para a escola nos seus aspectos contextuais e contingências, a necessidade de construção coletiva do projeto político pedagógico, a participação da comunidade desde a eleição dos diretores e o desenvolvimento de estudos que privilegiem processos específicos de implantação da participação. (MAIA, 2004, p. 157). É possível observar que tanto na trajetória do conhecimento da área, evidenciado na publicação da ANPAE (1983-2000), como nas respostas dos diretores que vivenciam o cotidiano das escolas há a defesa da utilização do termo gestão, conseqüência da ênfase atual de que o modelo de administrar a escola deve ser alterado, sobretudo os modelos baseados na burocracia e no autoritarismo. No âmbito do governo também houve a alteração terminológica, principalmente na legislação do final da década de 1980 e início da década de 1990. Na Constituição Federal (1988) a gestão democrática é apontada como um dos princípios do ensino público. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN nº 9.394/96) concordou com a Constituição e ampliou para a necessidade de participação dos professores e da comunidade escolar na elaboração do projeto político pedagógico da escola e nos conselhos escolares e equivalentes 5. Por fim, o termo gestão é contemplado nas 5 Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: VIII. gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino;

28 Normas Regimentares Básicas para as escolas Estaduais (Parecer CEE nº 67/98) 6. O Parecer apresenta no Título II Da Gestão Democrática - como as escolas devem aplicar e desenvolver a gestão democrática em suas unidades, abordando temas como: quais os princípios; como a escola poderá desenvolver e assegurar a gestão democrática; quais os órgãos colegiados que a escola deverá possuir; normas de gestão e convivência; e o plano de gestão da escola. Ressalta-se que o termo gestão nas legislações citadas aparece acompanhado de adjetivos como democrática e participativa, o que induz a uma visão benéfica do termo. A predominância do termo gestão sobre administração, no âmbito do governo, parece ser resultado de uma adoção terminológica encarada como melhor para o desenvolvimento das atividades administrativas da escola, o que vai ao encontro das respostas dos diretores entrevistados e também da literatura consultada. Ao refletir sobre a possibilidade da adoção do termo gestão indicar uma mudança de atitude, princípios e valores dentro do ambiente escolar, constata-se que apenas a adoção de um novo termo não é responsável por mudanças tão profundas na organização escolar. É necessário introduzir na escola novos princípios, tais como autonomia, participação, poder compartilhado e cooperação. Segundo Abranches (2003), é preciso Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I. participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II. participação das comunidades escolares e local em conselhos escolares ou equivalentes. (Lei nº 9.394 de 20 de novembro de 1996) 6 Explicitarei apenas dois artigos do Título II Da Gestão Democrática (Parecer nº 67/98), por entender que estes norteiam os demais. Art. 7º. A gestão democrática tem por finalidade possibilitar à escola maior grau de autonomia de forma a garantir o pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas, assegurando padrão adequado de qualidade do ensino ministrado. Art. 9º. Para melhor consecução de sua finalidade, a gestão democrática na escola far-se-á mediante a: I. participação dos profissionais da escola na elaboração da proposta pedagógica; II. participação dos diferentes segmentos da comunidade escolar direção, professores, pais, alunos e funcionários nos processos consultivos e decisórios, através do conselho de escola e associação de pais e mestres ; III. autonomia na gestão pedagógica, administrativa e financeira, respeitadas as diretrizes e normas vigentes; IV. transparência dos procedimentos pedagógicos, administrativos e financeiros, garantindo-se a responsabilidade e o zelo comum na manutenção e otimização do uso, aplicação e distribuição adequada dos recursos públicos; V. valorização da escola enquanto espaço privilegiado de execução do processo educacional.

29 repensar as relações hierárquicas existentes dentro do ambiente escolar, sendo necessário estabelecer e manter relações horizontais, com o incentivo à cooperação entre os membros do colegiado e o respeito ao próximo. A autora diz faltar ainda alcançar o espírito democrático, que necessita da concretização de um sentimento de coletividade e de autonomia nos processos decisórios (ABRANCHES, 2003, p.66). Para finalizar, indica-se, a título de reflexão, que a indução ao uso do termo gestão, efetivada também pela via da formação dos educadores/diretores, pode trazer aos profissionais uma ilusão de que a(s) escola(s) proporciona(m) ou vivencia(m) uma realidade mais democrática e dinâmica, o que, com grande possibilidade, acaba por subordinar a discussão de problemas educacionais mais complexos como aqueles relacionados à introdução de novos princípios em sua(s) realidade(s). Referências ABRANCHES, M. Colegiado Escolar: espaço de participação da comunidade. São Paulo: Cortez, 2003. 104 p. LUCK, Heloisa et al. A escola participativa: o trabalho do gestor escolar. Rio de Janeiro: DP e A Editora, 1998 LÜCK, H. Perspectivas da gestão escolar e implicações quanto à formação de seus gestores. Em Aberto. Brasília, v.17, n. 72, p. 11-33, fev./jun. 2000. LÜCK, H. Concepções e processos democráticos de gestão educacional. Petrópolis: Vozes, 2006. 132 p. (Série: Cadernos de Gestão) MAIA, G. Z. A. Gestão escolar: implicações para um ensino de qualidade. 2000. 211 f. Dissertação (Mestrado em Educação) Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista, Marília, 2000. MAIA, G. Z. A. As publicações da ANPAE e a trajetória do conhecimento em Administração da Educação no Brasil. 2004. 196 f. Tese (Doutorado em Educação) Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista, Marília, 2004.

30 MESSAS, J. C. A. e. Circuito Gestão: seus sentidos e implicações para a formação e as praticas dos profissionais de educação. 2002. 234 f. Dissertação (Mestrado em Educação) Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista, Marília, 2002. PARO, Vitor Henrique. Administração Escolar e transformação social. In:. Administração Escolar: introdução crítica. 2.ed. São Paulo: Cortez, 1987, p. 123-169. PRAIS, M. de L. M. Administração colegiada na escola pública. São Paulo: Papirus. 1990. 110 p. RIBEIRO, J. Q. Introdução à administração escolar. In: ANPAE. Administração Escolar, Edição comemorativa do I Simpósio de Administração Escolar, 1968. p. 18-40 SANTOS, C. R. dos. O gestor educacional de uma escola em mudanças. São Paulo: Thompson Pioneira, 2002. SILVA JÚNIOR, C. A. da. Espaço da administração no tempo da gestão. In: MACHADO, L. M.; FERREIRA, N. S. C. (Org). Política e gestão da educação: dois olhares. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2002. p. 199-211. ARTIGO RECEBIDO EM 2007