Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos



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Transcrição:

O TEXTO ESCRITO E A ILUSTRAÇÃO NOS LIVROS INFANTO-JUVENIS: UMA PARCERIA NECESSÁRIA Leonor Soares Cravo (UERR) leonorcravo@hotmail.com Carmen Véra Spotti (UERR) carmemspotti@bol.com.br Em língua corrente estou vendo substituiu eu compreendo (DEBRAY) 1. Ilustração: uma imagem antiga Não é difícil percebermos que vivemos em um mundo cercado de informações que circulam e mudam com uma velocidade impressionante. O que é ícone agora, daqui a alguns minutos não o é mais. O que hoje é moda, amanhã já foi substituído. A agilidade com que estas informações circulam é características de nossa contemporaneidade, para comprovar, basta pararmos por um único minuto e observarmos em nossa volta: televisão, celular, cartazes, os mais variados tipos de propagandas, os mais variados gêneros textuais, dentre os quais encontraremos as imagens. Utilizadas como recursos indispensáveis para chamar a nossa a- tenção. E que em alguns casos precedem a palavra ou o texto escrito. Nem sempre nos damos conta que nossos olhos são convidados a refletir rapidamente sobre o que nos está sendo apresentado, antes mesmo do processo de leitura do texto escrito. Apesar de vivermos nessa massificação de imagens, todo esse processo está cada vez mais rápido e descartável, podemos citar como Revista Philologus, Ano 17, nº 51, set./dez.2011 Suplemento. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2011, p. 346

exemplos as páginas da web 1, moda, cinema, cartazes, anúncios dos mais variados tipos e meios, espetáculos em geral. Enfim, uma variedade de opções que nos fazem viajar pelo mundo das imagens. Neste sentido encontramos no Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa a seguinte definição para ilustração: adorno ou elucidação de texto por meio de estampa, figura etc.; desenho, gravura, imagem que acompanha um texto; publicação que contém estampas, gravuras, desenhos etc. Seguindo esta mesma linha, encontramos em Simone Rhis outra definição para ilustração: É uma imagem pictórica, geralmente figurativa (representando algo material), embora algumas raras vezes também abstrata, utilizada para acompanhar, explicar, acrescentar informação, sintetizar ou até simplesmente decorar um Texto. Embora o termo seja usado frequentemente para se referir a desenhos, pinturas ou colagens, uma fotografia também é uma ilustração. Além disso, a ilustração é um dos elementos mais importantes do design gráfico (RHIS, 1997, p. 2) São comuns em jornais, revistas e livros, especialmente na literatura infantojuvenil (assumindo, muitas vezes, um papel mais importante que o texto), sendo também utilizadas na publicidade e na propaganda. Essas definições tornam a ilustração como um apoio ao texto escrito, impresso. Em sentido oposto, encontramos em Régis Debray (1993) uma observação que nos reporta para quatro mil anos atrás, período em que o homem inicia o processo dos sons, e o inicio dos seus primeiros esboços semânticos sobre fragmentos dos ossos até os pictogramas 2 e mitogramas 3. Notamos aqui, que a imagem toma o lugar da escrita. Em uma primeira tentativa de o homem buscar representar seus pensamentos. 1 World Wide Web: é um sistema de documentos em hipermídia que são interligados e executados na Internet, em português significa rede de alcance mundial. 2 Do latim picto = pintado + grego graphe = caráter, letra: é um símbolo que representa um objeto ou conceito por meio de ilustrações. Pictografia é a forma de escrita pela quais ideias são transmitidas através de desenhos. Isso é a base da escrita cuneiforme e dos hieróglifos. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/pictograma>. Acesso 14 out. 2011, ás 16h48min. 3 São representações gráficas originadas de tradições mitológicas indígenas, encontradas em toda a América. Revelam a importância da relação desses povos com a natureza e servem como fator de identidade e união entre diferentes grupos. Escola Sá Pereira, p.6. Disponível em: <http://www.escolasapereira.com.br/relatorios/f4tb_1_2007.pdf>. Acesso em: 14 out. 2011. Revista Philologus, Ano 17, nº 51, set./dez.2011 Suplemento. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2011, p. 347

Atualmente, o uso do pictograma tem sido muito frequente na sinalização de locais públicos, na infografia, e em várias representações esquemáticas de diversas peças de design gráfico. Embora os pictogramas pareçam ser absolutamente autoexplicativos e universais, na realidade, eles possuem limitações culturais. Segundo Mitchell (1987, p. 9-10), a palavra imagem é utilizada em vários discursos institucionalizados, em particular os de crítica literária, história da arte, teologia e filosofia. Observamos que a imagem é utilizada sob as mais variadas formas e objetivos, desde os mais remotos tempos até os dias de hoje. E estas representações são originadas pela constante necessidade do homem tentar estabelecer a sua relação com o mundo. No próximo momento, encaminhamos nosso estudo para a origem da ilustração no campo editorial. 2. Origens da ilustração editorial Como podemos perceber a ilustração já nos acompanha há bastante tempo e a cada necessidade do homem vai adquirindo objetivos e características diferentes. Traremos para este trabalho a ilustração voltada para o mundo editorial, em especial as destinadas aos livros infantojuvenis. Segundo Rhis a ilustração editorial tem origens: Na Iluminura 1, utilizada largamente na Idade Média, nos manuscritos, mas atualmente difere desta por se servir de meios mecânicos (e mais recentemente de meios fotomecânicos e digitais) para a sua reprodução. Portanto, a sua evolução e história está intimamente ligadas à imprensa e à gravura (RHIS, 1997, p. 2) Passamos a ter neste momento a ilustração fazendo parte das escrituras. Inicialmente sendo desenhadas manualmente, pintadas para ilustrar os antigos manuscritos, pergaminhos 2. 1 Iluminuras são as pinturas de figuras, flores ou ornamentos, em geral de feição miniaturista, executadas em pergaminhos, para ilustrar antigos manuscritos, originais ou traslados. A ilustração de manuscritos com iluminuras era geralmente executada a pena e tinta, preta ou em cores, ou em aquarela opaca ou transparente, sobre papiro, e também a têmpera, sobre pergaminho. Iluminura - Antiga Pintura de Feição Miniaturista. Disponível em: <http://emdiv.com.br/pt/arte/enciclopediadaarte/1862- iluminura-antiga-pintura-de-feicao-miniaturista.html>. Acesso em 17 out 2011, às 21h00min. 2 Pergaminho (do grego pergaméne e do latim pergamina ou pergamena) é o nome dado a uma pele de animal, geralmente de cabra, carneiro, cordeiro ou ovelha, preparada para nela se escrever. De- Revista Philologus, Ano 17, nº 51, set./dez.2011 Suplemento. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2011, p. 348

Posteriormente, com o advento da imprensa sua reprodução transfere-se de manual para mecânica. A ilustração como parte integrante do texto, auxiliando na sua compreensão e quebrando um pouco a leitura direta. A cada ilustração o leitor pode parar a leitura, sem se desligar dela. A ilustração o ajuda a refletir sobre o texto. Contribuindo desta maneira como um auxílio para a história. No livro as linguagens, visual e não visual compartilham o mesmo suporte de forma que facilita a leitura e cria redes mentais interpretativas, dando-lhe um todo. Segundo Geraldo Jesualdo é importante que se tenha a preocupação em fazer uma obra voltada para os infantes, pois: Uma literatura para crianças com pretensões a alcançar completamente as finalidades a que se propôs não pode descurar sua feição material. E isto não apenas para que a leitura se faça mais agradável devido ao formato do livro, a graça e riqueza dos tipos utilizados na impressão, devendo, no caso do livro infantil, predominar os tipos redondos e graúdos, que são atrativos e agradáveis à vista; mas também pela proporção do volume a até pela encadernação, que o torna mais facilmente manuseável, como pelo material nele empregado papel, tinta, cartão, etc. e muito especialmente por suas ilustrações (JE- SUALDO, 1993, p. 201) Diante do exposto, é possível afirmar que para as crianças muito pequenas, o desenho das letras é um sinal incompreensível, não significa nada. A imagem (desenho, fotografia, recorte, gravura) é um sinal que elas traduzem facilmente, é um ícone. Este sinal mantém uma relação mais próxima, o objeto representado para a criança é imediatamente entendido. Encontramos na ilustração uma parte integrante do texto, que se inter-relaciona com as outras linguagens e é capaz de transitar em vários espaços. Tal afirmação está em Marisa Mokarzel: A ilustração convive e faz parte do contexto da história da arte. Ela é um objeto de reprodução e está inserida em uma indústria cultural. Interrelaciona-se com outras linguagens, transita em um espaço multifacetado. Dialoga com o verbal, mas pode utilizar recursos advindos do cinema, da pintura, dos quadrinhos. Pertence a um período em que diferentes manifestações artísticas interagem, se interpenetram. Não há, ou não deveria ter, mais a divisão preconceituosa em arte maior e menor, nem a divisão rígida de categorias artísticas. Picasso, Matisse ou Miró pintam, produzem cartazes, criam cenários (MOKARZEL, 1998, s/n) signa ainda o documento escrito nesse meio. O seu nome deriva do nome da cidade onde se terá fabricado pela primeira vez: Pérgamo, na Grécia. Foi largamente utilizado na Antiguidade ocidental e na Idade Média, até a difusão da invenção chinesa do papel. Revista Philologus, Ano 17, nº 51, set./dez.2011 Suplemento. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2011, p. 349

Na ilustração abaixo, página do livro A Casa Sonolenta, temos o encontro perfeito entre o texto a ilustração. Página do livro A Casa Sonolenta Fonte: http://profleilapryjma-educacao.blogspot.com/2011/05/casa-sonolenta.html 3. A importância da ilustração com texto A ilustração é um reconhecimento fácil e rápido do pequeno leitor, que estabelece de imediato as conexões com o que está sendo narrado e as suas conexões interpretativas. E diante de um livro ilustrado a criança penetra na história de uma maneira mais natural, pois, mesmo não sabendo ler, é possível através das figuras compreenderem e inclusive recontar o que percebeu através das imagens. Desenvolvendo um processo de criação e imaginação. A ilustração desperta no pequeno leitor Revista Philologus, Ano 17, nº 51, set./dez.2011 Suplemento. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2011, p. 350

esta possibilidade, além de mantê-lo atraído pelas imagens. Confirmamos o que foi exposto anteriormente por Ramos que ressalta: A presença de ilustrações/imagens acompanhando os textos, desde os primórdios de seu aparecimento, tinha a finalidade de enfeitar ou esclarecer, ilustrar/informar para educar ou criar e propiciar prazer estético. Essa noção ainda é explicitada nos dicionários contemporâneos, entretanto, várias outras funções podem surgir, reunindo-se a estas, predominando ou mesmo anulando-as (RAMOS, 2002, p. 84) Dentre as mais variadas funções das ilustrações podemos destacar descrever, narrar, simbolizar, brincar, e pontuar dando destaque às tramas, efetuando marcações no inicio ou final de cada capítulo (ANJOS, 2009, p. 22) Lins reforça que tal importância não vem sendo construída ao longo das últimas décadas com a evolução gráfica do setor. Se pegarmos os livros antigos, vamos observar que muitos deles traziam 10 ou 15 ilustrações numa obra com cerca de 200 páginas. Hoje, totalmente inconcebível (LINS, 2010). E ainda, segundo autor o lugar de destaque que a i- magem ocupa atualmente nas publicações infanto-juvenis é fruto de uma série de questões: Primeiro, não podemos nos esquecer que vivemos hoje numa sociedade que possui outro tempo e ritmo, outra linguagem estética. Quando eu era criança, a TV era preto e branco. Hoje, as crianças têm à disposição canais coloridos e exclusivos, 24 horas por dia. A ilustração extremamente literal ou puramente ornamental e decorativa não representa mais a diversidade, a pluralidade e a riqueza de informações visuais a que as crianças de hoje têm acesso (LINS, 2010) Além disso, a evolução, sem dúvida nenhuma, do parque gráfico e o surgimento do computador também contribuíram para essas mudanças. Uma imagem colorida impressa em um livro dos anos 50 ou 60 era muito cara e, às vezes, inviável. A globalização também é outro ponto. Ela permitiu um maior intercâmbio de títulos, recursos e serviços e a uma maior profissionalização do setor. Diante de tantas possibilidades a disposição de nosso leitor cabe aos nossos ilustradores manter técnicas e possibilidades que possam chamar a atenção de nossos pequenos leitores, além da escolhe adequada do material, cores e constantes estudos para poder acompanhar estas mudanças. A ilustração continua sendo um recurso muito importante para a- trair nossos pequenos leitores nesta fase tão importante, que é o seu con- Revista Philologus, Ano 17, nº 51, set./dez.2011 Suplemento. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2011, p. 351

tato com os livros. É comum este primeiro contato tendo outra pessoa narrado a história, mas também sua curiosidade é aguçada através das i- lustrações em que ele pode fazer uma associação do que está sendo contado com o que ele está vendo. Na atualidade, a ilustração constitui parte integrante do livro infantil. É possível afirmar que a literatura infantil atualmente utiliza a ilustração de forma constante, a ponto de parecer impossível pensar em livro infantil sem este elemento. O livro infantil conta histórias, e estas ficções são muito baseadas na informação pictórica, na ilustração. Portanto, diante do estudo aqui apresentando consideramos que a parceria entre o texto e as ilustrações é importante neste processo de formação inicial de leitores e também como auxilio para que nossas crianças e adolescentes possam interagir com o texto através das imagens. A imagem deixa de ser utilizada apenas como segundo plano e passa a fazer parte do processo de leitura. REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO ANJOS, Paula C.P. Tecendo significados: a importância das ilustrações do livro de literatura infantil A moça tecelã. Bahia: Universidade Estadual da Bahia, 2009. Disponível em: <http://www.uneb.br/salvador/dedc/files/2011/05/monografia- PAULA-CAROLINE-PEREIRA-DOS-ANJOS.pdf>. Acesso em: 14 set 2011. DEBRAY, Régis. Vida e morte da imagem: uma história do olhar no o- cidente. Petrópolis: Vozes, 1993. HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Disponível em: <http://houaiss.uol.com.br/busca.jhtm?verbete+ilustra%e3o>. Acesso em: 13 out 2011. ILUMINURA Antiga pintura de feição miniaturista. Disponível em: <http://emdiv.com.br/pt/arte/enciclopediadaarte/1862-iluminura-antigapintura-de-feicao-miniaturista.html>. Acesso em: 17 out 2011. JESUALDO, Geraldo. A literatura infantil. São Paulo: Cultrix, 1993. LINS, Guto. Livro infantil: a importância e o lugar da imagem. Entrevista realizada por Marcus Tavares, em 25 fev 2010. Disponível em: Revista Philologus, Ano 17, nº 51, set./dez.2011 Suplemento. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2011, p. 352

<http://www.revistapontocom.org.br/edicoes-anteriores-entrevista/livroinfantil-a-importancia-e-o-lugar-da-imagem>. Acesso em: 29/09/2011. MITCHELL, W.J.O. Iconology: text, image and ideology. Chigaco: University of Chicago Press, 1987. MOKARZEL, Marisa de Oliveira. O era uma vez na ilustração. Rio de Janeiro: UFRJ, 1998. Dissertação: Mestrado Centro de Letras e Artes, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1998. PERGAMINHO. Disponível em: <http://tipografos.net/glossario/pergaminho.html>. Acesso em: 17 out 2011. PICTOGRAMA. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/pictograma>. Acesso em: 14 out 2011. RAMOS, F. B. A representação da infância na narrativa infantil brasileira. Lajeado: Signos, 2002. RELATÓRIOS da Escola Sá Pereira. Disponível em: <http://www.escolasapereira.com.br/relatorios/f4tb_1_2007.pdf>. Acesso em: 14 out 2011. RHIS, Simone Elvira. A ilustração no livro infantil: uma análise através dos tempos. Minas Gerais: Universidade federal de Minas Gerais, 1997. Revista Philologus, Ano 17, nº 51, set./dez.2011 Suplemento. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2011, p. 353