DA LITERATURA AO TEATRO: LEITURA E CRIAÇÃO NO ESPAÇO ESCOLAR



Documentos relacionados
ÁLBUM DE FOTOGRAFIA: A PRÁTICA DO LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL 59. Elaine Leal Fernandes elfleal@ig.com.br. Apresentação

Programa de Pós-Graduação em Educação

LEITURA E ESCRITA NO ENSINO FUNDAMENTAL: UMA PROPOSTA DE APRENDIZAGEM COM LUDICIDADE

Prefeitura Municipal de Santos

ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA N.4/2014 PROCEDIMENTO DE OBSERVAÇÃO DE AULA

Gincana de Integração. Formandos Paulo Freire. N E S T A E D I Ç Ã O : * J A N * F E V * M A R Ç O * A B R I L

INTEGRAÇÃO DE MÍDIAS E A RECONSTRUÇÃO DA PRÁTICA PEDAGÓGICA

Orientadora: Profª Drª Telma Ferraz Leal. 1 Programa de Pós-Graduação em Educação da UFPE.

PIBID: DESCOBRINDO METODOLOGIAS DE ENSINO E RECURSOS DIDÁTICOS QUE PODEM FACILITAR O ENSINO DA MATEMÁTICA

A DANÇA E O DEFICIENTE INTELECTUAL (D.I): UMA PRÁTICA PEDAGÓGICA À INCLUSÃO

A PRODUÇÃO DE VÍDEOS COMO RECURSO METODOLÓGICO INTERDISCIPLINAR

A ORALIZAÇÃO COMO MANIFESTAÇÃO LITERÁRIA EM SALA DE AULA

EXPRESSÃO CORPORAL: UMA REFLEXÃO PEDAGÓGICA

X Encontro Nacional de Educação Matemática Educação Matemática, Cultura e Diversidade Salvador BA, 7 a 9 de Julho de 2010

INTERPRETANDO A GEOMETRIA DE RODAS DE UM CARRO: UMA EXPERIÊNCIA COM MODELAGEM MATEMÁTICA

O professor que ensina matemática no 5º ano do Ensino Fundamental e a organização do ensino

GESTÃO DE PROCESSO PARA SOCIALIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO AUDIOVISUAL EM SAÚDE

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NUMA ESCOLA DO CAMPO

USO DAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES PRESENCIAL E A DISTÂNCIA

A educadora avalia a formação de nossos professores para o ensino da Matemática e os caminhos para trabalhar a disciplina na Educação Infantil.

OS SENTIDOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NA CONTEMPORANEIDADE Amanda Sampaio França

AS CONTRIBUIÇÕES DAS VÍDEO AULAS NA FORMAÇÃO DO EDUCANDO.

O PROCESSO DE INCLUSÃO DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA VISUAL: UM ESTUDO DE METODOLOGIAS FACILITADORAS PARA O PROCESSO DE ENSINO DE QUÍMICA

Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa

OS SABERES PROFISSIONAIS PARA O USO DE RECURSOS TECNOLÓGICOS NA ESCOLA

A LUDICIDADE NO CONTEXTO ESCOLAR

Política de Formação da SEDUC. A escola como lócus da formação

Recomendada. A coleção apresenta eficiência e adequação. Ciências adequados a cada faixa etária, além de

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE EDUCAÇÃO

Organização Curricular e o ensino do currículo: um processo consensuado

A MATEMÁTICA ATRÁVES DE JOGOS E BRINCADEIRAS: UMA PROPOSTA PARA ALUNOS DE 5º SÉRIES

O JOGO COMO INSTRUMENTO FACILITADOR NO ENSINO DA MATEMÁTICA

PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO: ELABORAÇÃO E UTILIZAÇÃO DE PROJETOS PEDAGÓGICOS NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM

Palavras-chave: Educação Física. Ensino Fundamental. Prática Pedagógica.

Pedagogia Estácio FAMAP

TÍTULO: Entendendo a divisão celular. NÍVEL DA TURMA: 1º ano do ensino médio. DURAÇÃO: 1h e 80 minutos (3 aulas)

ESCOLA ESPECIAL RENASCER- APAE PROFESSORA: JULIANA ULIANA DA SILVA

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro

O ESTUDO DE CIÊNCIAS NATURAIS ENTRE A TEORIA E A PRÁTICA RESUMO

Ensino Fundamental I Regra de Jogo. Gêneros Textuais. Links para os conteúdos sugeridos neste plano estão disponíveis na aba Saiba Mais.

APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA ATRAVÉS DO LUDICO

O LÚDICO COMO INSTRUMENTO TRANSFORMADOR NO ENSINO DE CIÊNCIAS PARA OS ALUNOS DA EDUCAÇÃO BÁSICA.

SEDUC SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO ESCOLA ESTADUAL DOMINGOS BRIANTE ANA GREICY GIL ALFEN A LUDICIDADE EM SALA DE AULA

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO BÁSICO: PROJETO AMBIENTE LIMPO

POSTER/PAINEL O PROJETO PIBID E A INSERÇÃO DO TEATRO NO ENSINO MÉDIO

QUANTO VALE O MEU DINHEIRO? EDUCAÇÃO MATEMÁTICA PARA O CONSUMO.

QUALIFICAÇÃO DAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NAS REDES PÚBLICAS DE EDUCAÇÃO BÁSICA DA REGIÃO SUL DO RIO GRANDE DO SUL: REINVENTANDO O PODER ESCOLAR

Nivelamento Português. Prof. Renata Paula de Oliveira

A EDUCAÇAO INFANTIL DA MATEMÁTICA COM A LUDICIDADE EM SALA DE AULA

PLANO DE ENSINO PROJETO PEDAGÓGICO: 2010

Projeto Educativo de Creche e Jardim de Infância

FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES 1

Sua Escola, Nossa Escola

Avaliação-Pibid-Metas

ITINERÁRIOS DA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA: O ESTÁGIO SUPERVISIONADO E A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA

A IMPORTANCIA DOS RECURSOS DIDÁTICOS NA AULA DE GEOGRAFIA

Profa. Ma. Adriana Rosa

Métodos de ensino-aprendizagem aplicados às aulas de ciências: Um olhar sobre a didática.

ESTADO DE SANTA CATARINA Secretaria de Estado da Educação Diretoria de Educação Básica e Profissional

PRAZER NA LEITURA: UMA QUESTÃO DE APRESENTAÇÃO / DESPERTANDO O PRAZER NA LEITURA EM JOVENS DO ENSINO MÉDIO

Disciplina: Alfabetização

UM OLHAR SOBRE A PRÁTICA PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

PAULO FREIRE CONTEMPORÂNEO

Aula SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS NO ESTUDO DOS GÊNEROS TEXTUAIS. (Fonte:

Rádio escolar, vídeo popular e cineclube popular: um panorama sobre a atuação do Grupo de Estudos e Extensão em Comunicação e Educação Popular

LEITURA E LÍNGUA ESTRANGEIRA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

UnP. fazendo e compartilhando a gente aprende mais

ESTATÍSTICA BÁSICA NO CURSO DE TÉCNICO INTEGRADO DE SEGURANÇA DO TRABALHO

PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: COMPROMISSOS E DESAFIOS

O COORDENADOR PEDAGÓGICO COMO FORMADOR: TRÊS ASPECTOS PARA CONSIDERAR

JOGOS MATEMÁTICOS: EXPERIÊNCIAS COMPARTILHADAS

OBJETIVO GERAL OBJETIVOS ESPECÍFICOS

SIGNIFICADOS ATRIBUÍDOS ÀS AÇÕES DE FORMAÇÃO CONTINUADA DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DO RECIFE/PE

ENTENDENDO A PRÁTICA DE PESQUISA REALIZADA POR PROFESSORES DE CIÊNCIAS DA NATUREZA, NO SEMINÁRIO INTEGRADO DO ENSINO MÉDIO POLITÉCNICO EM IJUÍ 1

A PRÁTICA PEDAGÓGICA DO PROFESSOR DE PEDAGOGIA DA FESURV - UNIVERSIDADE DE RIO VERDE

PRODUTO FINAL ASSOCIADA A DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

Planejamento de Aula - Ferramenta Mar aberto

OLIMPIADAS DE MATEMÁTICA E O DESPERTAR PELO PRAZER DE ESTUDAR MATEMÁTICA

BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS NOS ANOS INICIAIS: UMA PERSPECTIVA INTERGERACIONAL

INVESTIGANDO O ENSINO MÉDIO E REFLETINDO SOBRE A INCLUSÃO DAS TECNOLOGIAS NA ESCOLA PÚBLICA: AÇÕES DO PROLICEN EM MATEMÁTICA

O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA: ANÁLISE DO PLANO DE AULA

Projeto Bem-Estar Ambiente, educação e saúde: sustentabilidade local. Tema 9 - Elaboração de projetos de intervenção nas escolas

Colégio Estadual Vicente Tomazini - Ensino Fundamental, Médio e Normal Francisco Alves - Paraná

Projeto - por que não se arriscar com um trabalho diferente?

AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA DA ESCRITA COMO INSTRUMENTO NORTEADOR PARA O ALFABETIZAR LETRANDO NAS AÇÕES DO PIBID DE PEDAGOGIA DA UFC

PROVA BRASIL E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS

O LÚDICO NA APRENDIZAGEM

Projeto Pedagógico. por Anésia Gilio

FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES NO CONTEXTO TECNOLÓGICO: DESAFIOS VINCULADOS À SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO

PROBLEMATIZANDO ATIVIDADES EXPERIMENTAIS NA FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES/AS

Curso: Diagnóstico Comunitário Participativo.

2.2 O PERFIL DOS PROFISSIONAIS DE EDUCAÇÃO INFANTIL

DIFICULDADES DE LEITURA E ESCRITA: REFLEXÕES A PARTIR DA EXPERIÊNCIA DO PIBID

Atividade Pedagógica Teatro de fantoches. Junho 2013

PEDAGOGIA EM AÇÃO: O USO DE PRÁTICAS PEDAGÓGICAS COMO ELEMENTO INDISPENSÁVEL PARA A TRANSFORMAÇÃO DA CONSCIÊNCIA AMBIENTAL

INFORMÁTICA NA ESCOLA: UM PROJETO COMO INSTRUMENTO DE ESTÍMULO PARA O INGRESSO NO ENSINO SUPERIOR

AÇÕES FORMATIVAS EM ESPAÇO NÃO ESCOLAR: UM ESTUDO DE CASO NO PROJETO SORRIR NO BAIRRO DO PAAR

Presença das artes visuais na educação infantil: idéias e práticas correntes

SALAS TEMÁTICAS: ESPAÇOS DE EXPERIÊNCIAS E APRENDIZAGEM. Palavras Chave: salas temáticas; espaços; aprendizagem; experiência.

Transcrição:

DA LITERATURA AO TEATRO: LEITURA E CRIAÇÃO NO ESPAÇO ESCOLAR MARINA COELHO PEREIRA (FUNDAÇÃO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE NITERÓI), KAREN CERDEIRA BECK (FUNDAÇÃO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE NITERÓI), TATIANA FREIRE DE MOURA (FUNDAÇÃO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE NITERÓI). Resumo Este trabalho é resultado de um projeto pedagógico de Feira Literária com turmas do Primeiro Segmento do Ensino Fundamental, em uma escola municipal de Niterói (RJ), a Escola Municipal Helena Antipoff. Objetivando estimular o gosto pela leitura e escrita, possibilitamos aos nossos alunos o conhecimento de diferentes autores da literatura nacional. Um grupo de alunos escolheu trabalhar com o autor do Sítio do Picapau Amarelo, devido ao interesse pela adaptação desta obra para a televisão. A partir daí foram trabalhadas múltiplas linguagens. Utilizamos a linguagem audiovisual com a apresentação das produções atuais e antigas do Sítio; os alunos manusearam os livros da coleção de histórias da obra citada; foram realizadas pesquisas na internet sobre a vida do autor e suas outras criações literárias. Nesse contexto, houve a apropriação de diferentes gêneros e tipos textuais, tais como biografia, descrição, narração, peça teatral/dramatização, receita, imagens e fotos, notícias. Destaca se o desejo do grupo em transformar o texto literário em teatro. Assim, enfocamos nossas atvidades na (re)construção do Sítio de Monteiro Lobato. Percebemos que a experiência teatral pode ser um importante ato de diferir (n)a prática da leitura e da interpretação no processo ensino aprendizagem. Então, neste trabalho, socializamos a realização de nossas atividades, que visam à formação de um aluno leitor criador e criativo. Palavras-chave: Linguagens, Literatura, Produção do Conhecimento. Nosso trabalho refere-se ao desenvolvimento de um projeto que envolveu toda a escola onde trabalhamos e, com alguns desafios, conseguimos elaborar a segunda edição de uma Feira Literária com resultados maravilhosos para toda a unidade, especificamente para o nosso grupo que encenou uma peça contendo a adaptação de duas histórias de Monteiro Lobato: O casamento da Emília e No reino das águas claras. A Rede Municipal de Educação em Niterói é organizada em Ciclos de Aprendizagem e na nossa escola nós temos apenas alunos do Primeiro Ciclo (primeiro ao terceiro ano escolares) e Segundo Ciclo (quarto e quinto anos escolares). A escola também possui turmas de EJA (Educação de Jovens e Adultos), que seguem a mesma deliberação dos Ciclos de Aprendizagem. Nós somos professoras da rede pública no município de Niterói, no Rio de Janeiro, na Escola Municipal Helena Antipoff, que atende a alunos do primeiro segmento do Ensino Fundamental - do primeiro ao quinto ano. Nosso trabalho foi desenvolvido por mim, Marina Coelho e duas colegas de trabalho: Karen Cerdeira e Tatiana Freire. Nessa especificidade do Ciclo, em nossa rede organizamos o trabalho através de grupos (turmas) com as Professoras de Referência e as Professoras Articuladoras dos Ciclos, que atendem diferentes grupos de referência do 1º e 2º ciclos - no caso de nossa unidade escolar. Esse relato de experiência se apresenta em equipe por conta dessas articulações entre nós, professoras.

Em nossa prática pedagógica tentamos promover uma maior integração entre as áreas do conhecimento e os sujeitos envolvidos, trabalhando com a interdisciplinaridade por meio de projetos pedagógicos. O projeto visa proporcionar situações diferenciadas de aprendizagem e apropriação dos conteúdos socialmente disseminados, que extrapolam a simples memorização, focando na produção de significados. A experiência que trazemos para socialização começou a se desenvolver na escola a partir do projeto de uma feira literária com os objetivos principais de incentivar nos alunos o gosto pela leitura, estimular a imaginação e a criatividade e proporcionar o conhecimento de diferentes autores da nossa literatura infantil, infanto-juvenil e clássica, já nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Entendemos a construção curricular como a construção do conhecimento. Na escola encontramos diferentes pessoas, entre funcionários e alunos, que carregam consigo diferentes ideais e culturas. Quando planejamos um projeto, pensamos na reunião de experimentações que dialoguem com as diferenças. A escola ciclada nos aproxima de uma maior circulação de culturas, pois nos inquietamos com as diferenças e os conflitos nos provocam movimento. Segundo Moreira e Candau ( Moreira, 2008): Diferentes fatores sócio-econômicos, políticos e culturais contribuem assim, para que currículo venha a ser entendido como: (a) os conteúdos a serem ensinados e aprendidos; (b) as experiências de aprendizagem escolares a serem vividas pelos alunos; (c) os planos pedagógicos elaborados por professores, escolas e sistemas educacionais; (d) os objetivos a serem alcançados por meio do processo de ensino; (e) os processos de avaliação que terminam por influir nos conteúdos e nos procedimentos selecionados nos diferentes graus da escolarização. (p. 17-18) Isso nos leva a acreditar que a construção curricular na escola está historicamente impregnada de valores sociais e políticos, onde nossos conhecimentos nos levam a perceber uma cultura dominante e engessada. O antigo, com medo de se transformar, inicia um processo de permitir, ainda lentamente, que através de novas práticas curriculares, diferentes das secularmente utilizadas, (re) organizemos o que está estabelecido, com uma escola que busca se movimentar de maneira coerente com suas práticas pedagógicas. A primeira edição de nossa Feira Literária aconteceu em 2008 e a segunda edição foi neste ano de 2009. A proposta da nossa unidade escolar é que este projeto seja realizado anualmente. A estrutura e a organização do evento é realizada por toda a equipe de articulação pedagógica (Direção, Orientação e Supervisão Escolar), além do corpo docente e discente. Os ANEXO 1 e 2 ilustram o trabalho de outras turmas da escola. Todas as turmas da escola trabalham no projeto simultaneamente. Cada turma trabalha com um autor diferente, com atividades adequadas à faixa etária e nível de aprendizagem. Essa dinâmica possibilita o contato com obras de diversos

autores, a partir das quais são feitas exposições de trabalhos escritos e artísticos. As turmas da EJA também participaram ativamente da Feira, culminado a apresentação de seus trabalhos num sarau que ficou para a história do "Helena"! Buscamos aplicar ao projeto uma função lúdica da aprendizagem, onde o cognitivo e o físico caminhassem juntos para a construção de um espaço significativo no desenvolvimento de diferentes linguagens, pois em cada grupo um determinado trabalho se desenvolvia. "A infância não se pode conceber sem a dimensão lúdica que alinhava e entrelaça as representações às coisas. Não existe ligação nem aprendizagem nem desenvolvimento, sem este espelho virtual que a educação lúdica implica." ( Levin, 1997: 223). No nosso caso, o grupo é constituído por 26 alunos de 10 e 11 anos que estão no quinto ano escolar, final do segundo ciclo. Antes desta experiência, o grupo apresentava dificuldades de relacionamento, porque não se identificava como uma turma, formando diversos grupinhos entre os quais os conflitos eram declarados e as agressões verbais constantes. Essa situação dificultava muito a realização de trabalhos coletivos. Quando, no contexto da feira literária, surgiu a proposta de apresentar uma peça teatral, a receptividade foi surpreendente, pois todos os alunos da turma demonstraram interesse em transformar a literatura que estava sendo trabalhada nas aulas, ou seja, as histórias do "Sítio", em um teatro. Dos 26 alunos, apenas dois não quiseram atuar, embora tenham participado de todo o processo: adaptação do texto, realização dos ensaios, produção de cenário e construção dos figurinos. No ANEXO 3 vemos a pesquisa feita pelos alunos de livros da década de 50, sendo alguns restaurados pelos próprios alunos. Depois de feita a adaptação do texto literário para a linguagem teatral, todos os alunos receberam o script na íntegra e, a partir daí, o trabalho de leitura e significação foi desenvolvido coletivamente, de tal modo que todos os alunos tornaram-se íntimos do texto: cada um sabia a fala dos demais personagens, o momento da entrada em cena, o posicionamento de "palco" e intervinham na atuação uns dos outros. Olga Reverbel, em sua obra Um caminho do teatro na escola (1989), segue princípios para a prática dramática na escola onde o aluno possui participação ativa; as atividades de expressão se relacionam com outros elementos plásticos, como a música; o trabalho é coletivo, pois as atividades de expressão ocorrem no grupo possibilitando ao aluno adquirir a idéia de dimensão social; a participação do aluno é voluntária, devendo atuar somente os que demonstrem vontade. Um dos aspectos de aprendizagem que essa dinâmica proporcionou foi a apropriação de termos técnicos do teatro, ainda que não tenhamos disponível na escola uma estrutura de teatro propriamente dita. Utilizamos a sala de aula para os ensaios e o pátio da escola como palco para a apresentação final. Após algum tempo de ensaios, os alunos já se auto-dirigiam: sabiam que os próximos a entrarem em cena deveriam ir para a coxia, referiam-se ao script, ficavam atentos a postura no palco, a entonação da voz, além da expressividade facial e corporal que deveriam apresentar, transpondo a leitura do script para a representação. De todo esse movimento resultou uma integração que antes não existia entre os alunos da turma, destes com as professoras e com toda a escola, culminando com uma apresentação para os alunos das demais turmas e responsáveis do grupo. No ANEXO 4 vemos a encenação do Príncipe Escamado dançando com Narizinho num baile no Reino das Águas Claras.

Nesse período, conseguimos observar não apenas uma melhor interação entre o grupo, mas os alunos estavam nos revelando algo muito maior, como uma essência desse aprendizado, do desenvolvimento diante da desinibição, da torcida organizada com quem atuava muito bem, além da ampliação de suas expressões corporais no palco, o que nos chamava muita atenção. Para Moreira e Candau ( Moreira, 2008): Quando um grupo compartilha uma cultura, compartilha um conjunto de significados, construídos, ensinados e aprendidos nas práticas de utilização da linguagem. A palavra cultura implica, portanto, o conjunto de práticas por meio das quais significados são produzidos e compartilhados. (p. 27) O nosso objetivo principal desde o início foi estimular o gosto pela cultura da leitura e da escrita. Para tanto utilizamos múltiplas linguagens através de diferentes gêneros e tipos textuais, tais como: - biografia de Monteiro Lobato, para identificarmos quem foi o autor e a época em que os livros foram escritos; - descrição dos personagens envolvidos na peça para melhor caracterização dos mesmos; - narração através do estudo da peça que conta com um narrador; - peça teatral, com o script elaborado por nós, professoras e alunos contemplando a forma textual utilizada para tal contexto; - dramatização, com os ensaios e apresentação final para a escola e responsáveis; - receitas, sendo elaborada um eleição para escolherem a melhor receita da Tia Nastácia e esta foi realizada pelos próprios alunos; - imagens e fotos da vida do autor e de personagens de outras edições televisivas do Sítio; - notícias envolvendo a elaboração de um Jornal sobre a Feira Literária; - hipertexto - muitas pesquisas foram realizadas pela turma através da internet no Laboratório de Informática da escola; - audiovisual - filmes antigos e atuais do Sítio do Picapau Amarelo, comparando-os e usando-os como auxiliares na caracterização das personagens; - músicas antigas e atuais do Sítio. Para Kenski (Kenski, 2001): As interações feitas com as comunicações mediatizadas abrem os horizontes do pensamento, criam fantasias, envolvem e seduzem emocionalmente. A mixagem entre imagens, movimentos, cores, textos provocativos mobilizam sentimentos e pensamentos criativos. Transmitem novas formas de linguagens em que estão presentes o pensar e o sentir. (p.130)

Essa experiência foi possível devido a autonomia curricular que se constrói na prática cotidiana da rede colaborativa de sujeitos em nossa unidade escolar, onde nossos alunos também são atores dessa permanente construção. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. São Paulo: Cortez, 1989.. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2000. KENSKI, Moreira Vani. Múltiplas linguagens na escola. In: Encontro Nacional de Didática e Prática de ensino (ENDIPE). Linguagens, espaços e tempos no ensinar e aprender. Rio de Janeiro: DP&A, 2001. p. 123-140. MOREIRA, Antônio Flávio Barbosa. Indagações sobre o currículo: currículo, conhecimento e cultura. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2008. SACRISTÁN, J. Gimeno. O currículo: uma reflexão sobre a prática. São Paulo: Artmed, 2000. REVERBEL, Olga. Um caminho do teatro na escola. São Paulo: Scipione, 1989.