LEITURA E LÍNGUA ESTRANGEIRA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
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- Luciana Lemos Affonso
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1 LEITURA E LÍNGUA ESTRANGEIRA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS Luziana de Magalhães Catta Preta PG/ UFF Nesta comunicação, conforme já dito no título, desejamos apresentar os resultados parciais de uma pesquisa em leitura interativa nas aulas de língua estrangeira-espanhol (E/LE) realizada no Projeto de Educação de Jovens e Adultos (PEJA). Teve como objetivo específico trabalhar o conhecimento prévio do aluno como fator preponderante para o seu melhor desempenho como leitor. Para uma melhor compreensão do trabalho, devemos aclarar que o PEJA está respaldado pela Lei 9394/96 Lei de Diretrizes e Bases da Educação, ocorre em horário diurno e/ou noturno, em curso presencial, dividese em dois blocos (PEJA I e II), com grupos que têm como máximo 30 alunos, fato fundamental para o objetivo a que se destina: complementação dos estudos e o exercício da cidadania, facilitando a entrada dos mesmos no mercado de trabalho. No caso do PEJA II, proposta da presente comunicação, compreende os quatro anos finais do ensino fundamental. O interesse por este tema especificamente em um grupo considerado para muitos educadores como sendo problemático deveu-se ao fato de termos percebido que, além das dificuldades do aluno já adulto em reintegrarse ao contexto escolar, muitas vezes, o próprio professor não possuía conhecimento necessário sobre leitura interativa. Nesta pesquisa, propusemos selecionar temas e materiais de compreensão leitora e aplicá-las durante as aulas, sensibilizando os alunos para a tarefa de leitura com a finalidade de atingir um alvo concreto: mostrar ao aluno que ele seria capaz de compreender melhor um texto em língua estrangeira se utilizasse, para isso, seu conhecimento prévio. Para o desenvolvimento da pesquisa, levamos em consideração os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), documento ministrado pelo MEC que contém as diretrizes básicas para as modificações curriculares adaptado às novas tendências. Este documento introduz temas transversais como ética,
2 meio ambiente, saúde, orientação sexual, pluralidade cultural e temas locais, devendo-se ter o cuidado de trabalhá-los como uma nova forma de considerar os conteúdos, e não como assunto a ser tratado paralelamente aos mesmos. Assim, buscamos enfocar temas que trabalhassem de acordo com os PCN através de textos nos quais se levavam em conta a interdisciplinaridade e a transversalidade. Tentamos no decorrer da pesquisa responder as seguintes perguntas: Funcionaria a compreensão leitora em língua estrangeira neste grupo, uma vez que os alunos possuem uma grande dificuldade na língua materna? Que tipos de textos os professores deveriam levar aos alunos e com que objetivos? Outro ponto relevante neste grupo que tivemos que levar em consideração foi a diversidade dos alunos que possuíam histórias de vida diferentes, pois eram trabalhadores, donas de casa, jovens, religiosos ou ainda aposentados que sentiram a necessidade de recomeçar seus estudos do qual tiveram uma interrupção forçada ocasionada por condições adversas. Diante de todo o exposto nos coube refletir sobre a forma pela qual sensibilizaríamos nossos alunos para dita tarefa, uma vez que conhecemos também os problemas pelos quais passam os professores de língua estrangeira, que comumente escutam de seus alunos: Por que tenho que aprender espanhol se não sei nem o português? Ou ainda: Como vou ler em espanhol se não leio bem nem português? Tais questionamentos nos levaram a pensar sobre o conceito de leitura, o qual Sole (1998, p. 22) define como um processo de interação entre o leitor e o texto; neste processo tenta-se satisfazer (obter uma informação pertinente para) os objetivos que guiam sua leitura. Tal afirmativa envolve a presença de um leitor ativo que processa o texto e o examina. Também implica que deve existir um objetivo para a leitura, isto é, lemos para algo, para alcançar uma finalidade. A perspectiva interativa da leitura, ainda segundo Sole (1998), pressupõe uma síntese de outros enfoques elaborados ao longo da história para explicar o processo de leitura: modelo bottom up e top down. O primeiro se centra no texto, em um modelo ascendente, que flui do texto para o
3 leitor e não considera a bagagem deste. Já o segundo é descendente, onde o leitor usa seu conhecimento e seus recursos para antecipar o conteúdo do texto. Do ponto de vista do ensino, Sole pondera que as propostas fundamentadas nesta perspectiva ressaltam a necessidade de que os alunos aprendam a processar o texto e seus diferentes elementos, assim como as estratégias que tornarão possível sua compreensão. (1998, p. 24) Com relação aos alunos do PEJA, podemos perceber que, aproveitando a heterogeneidade da turma e incorporando-a como parte constitutiva das estratégias de leitura, a dificuldade e o desinteresse do aluno nos proporcionaram um final diferente. Por isso, acreditamos ser inevitável priorizar a leitura na aula de língua estrangeira através dos temas assinalados pelos PCN, pois estes fazem parte da realidade dos alunos e precisamos garantir-lhes a oportunidade de aprender mais sobre si mesmo e os demais, proporcionando a capacidade de se posicionarem diante das diversas manifestações culturais. Para que isso seja possível, é importante que o ensino esteja fundamentado também pela função social que exerce, principalmente por meio do uso que se faz da língua estrangeira via leitura. Segundo Kleiman (2002a), a utilização na aula de tipos de textos diferentes, não só contribui para o aumento do conhecimento intertextual do aluno, como proporciona também a possibilidade de buscar em outros textos conhecidos, resposta para o desconhecido. Ao mostrar que os textos são usados com propósitos diferentes na sociedade, o professor situa o aluno no fato de que, ao atuar no discurso por meio da linguagem, as pessoas fazem eleições que mostram suas visões de mundo, seus projetos políticos, etc. A consciência crítica com relação à leitura possibilita o surgimento de novas práticas sociais por meio da criação de espaços na própria escola para a construção de contra discursos. Assim, o professor, durante as aulas, ao fazer com que o aluno se deparasse com a leitura de textos em língua estrangeira, buscou orientá-lo a fazer correlações com assuntos já vividos e, portanto, possíveis de serem
4 compreendidos. A ativação do conhecimento prévio, ou seja, do conhecimento de mundo adquirido ao longo de sua vida foi necessário para que houvesse a compreensão do texto. Kleiman (2002b), inclusive, defende que caso não exista a ativação do conhecimento prévio do leitor com relação aos padrões estruturais do texto, a mensagem pode ser dificultada ou até mesmo não se concretizar. Ao falar sobre procedimentos de leitura proporcionamos ao aluno não só uma nova forma de aprender um idioma, mas também fizemos com que ele adquirisse um novo olhar sobre o texto. A leitura, como sabemos, leva o aluno a conquistar novas fontes de conhecimento e sendo este trabalho bem assimilado, o mesmo apresentará enriquecimento em outros âmbitos necessários para o seu crescimento pessoal e profissional. Dos resultados que obtivemos com a pesquisa, constatamos que, apesar das dificuldades, ficou patente que é possível realizar um trabalho nestas aulas e que a chave para o êxito seria justamente trabalhar com o que, em princípio, seria o problema: a heterogeneidade. Aproveitar a diferença para obter a concretização do trabalho, pois também são indivíduos portadores de cultura e de conhecimento de mundo e, se chegam cansados à escola, igualmente chegam com suas histórias de vida, ou seja, com o conhecimento prévio que lhes proporcionou ajuda na discussão e compreensão da leitura dos textos, assim como a interação lhes despertou um melhor rendimento nas aulas. Durante o trabalho, notamos que o professor exerceu papel fundamental na orientação de seus alunos para que percebessem que elementos como desenhos, títulos e o próprio formato do texto fossem de grande valia para a sua compreensão e, portanto, não podem ser desprezados. Outro procedimento constatado como bom resultado foi a formulação de hipóteses de leitura na abordagem do texto, o qual teve como intuito reconstruir a auto-estima do aluno do PEJA. O professor serviu como orientador, dando pistas necessárias para que o aluno pudesse preparar-se previamente para a leitura do texto, fator que contribuiu para uma forma mais acessível de ler em língua estrangeira.
5 Assim sendo, acreditamos, sim, ser possível trabalhar a compreensão leitora neste grupo específico, apesar de todas as dificuldades encontradas. Através da aplicação de exercícios, percebemos a interferência da língua materna, pois o aluno apresenta dificuldades não só porque está aprendendo um novo idioma, mas por possuir esta defasagem na língua materna também. Por isso, a necessidade de apresentar-lhes variados textos extraídos de diversas fontes como jornais, revistas, ou seja, expositivos e com ênfase na informação com uma proposta que tem características instrumentais, porque, assim, estaríamos trabalhando também com a interdisciplinaridade e a transversalidade de acordo com os PCN. Outro aspecto observado diz respeito à integração que se estabeleceu durante as aulas, pois percebemos que alunos de diferentes idades, com histórias de vidas diferentes, com projetos de vidas diferentes conviveram e puderam trocar experiências de forma que um colaborasse com o outro e todos desejassem um mesmo objetivo: seguir adiante e realizar sua tarefa de terminar esta parte dos estudos já renunciadas outras vezes. Certamente, sabemos que não se solucionam problemas relacionados à leitura da noite para o dia, porém esperamos ter contribuído com o trabalho de alguma forma para o reingresso destes alunos aos estudos e que os mesmos obtenham êxito na arte de ler, mesmo que muitas dificuldades ainda tenham que ser sanadas. Para que tal fato ocorra, o professor também precisa compreender e conhecer as características e dimensões do ato de ler para conquistar seu propósito: a formação de leitores autônomos e críticos. Finalizando, ressaltamos a importância de se registrarem em congressos resultados de pesquisas que podem contribuir para o ensino de língua estrangeira, ainda mais no que tange a um fator relevante para o desenvolvimento de uma educação de qualidade: fazer com que nossos alunos jovens e adultos se tornem bons leitores, pois usando as palavras de Freire Agora, pelo contrário, o ensino como ato de conhecimento, como ato criador e como ato político é um esforço de leitura do mundo e da palavra. Agora já não é possível texto sem contexto (2003, p.30).
6 Referências bibliográficas: BRASIL. PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS: terceiro e quarto ciclos do Ensino Fundamental: LE/ Secretaria de Educação Fundamental. Brasília MEC/SEF, 1998, 120 p. FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 45ª ed. São Paulo: Cortez, KLEIMAN, Ângela. Oficina de Leitura: Teoria e prática. 9ª ed. Campinas, SP: Pontes, 2002ª.. Texto & Leitor: Aspectos cognitivos da leitura. 8ª ed. Campinas, SP: Pontes, 2002b. SOLE, Isabel. Estratégias de Leitura. 6ªed. Porto Alegre: Artmed, 1998.
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