EM BUSCA DA SUSTENTABILIDADE: UM PLANO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL COM ÊNFASE EM MICRO BACIAS HIDROGRÁFICAS. Laila da Silva Vieira Graduanda em Geografia - Bolsista de IC FAPEMIG, Faculdade Católica de Uberlândia lailasgeo@yahoo.com.br Luana de Souza Castro Graduanda em Geografia Bolsista de IC FAPEMIG Faculdade Católica de Uberlândia lua_geo@yahoo.com.br Drª Suely Regina Del Grossi, Professora, Faculdade Católica de Uberlândia suelydelgrossi@hotmail.com INTRODUÇÃO Este trabalho é parte integrante do projeto Agricultura familiar e recursos hídricos: um projeto para conservação de Micro Bacias hidrográficas- Uberlândia- MG e tem como proposta organizar atividades e projetos de educação ambiental, junto as comunidades que fazem parte dos conselhos comunitários das bacias hidrográficas que demandam ao rio Araguari e que tem suas nascentes nas proximidades da área de expansão urbana de Uberlândia (sub-bacias dos córregos Olhos d água, Marimbondo e Terra Branca) e utiliza grande quantidade de água para a irrigação das hortaliças. Essas referidas bacias constituem uma importante área de ocupação antiga e são tradicionalmente produtoras de alimentos graças à água em abundância e aos solos férteis. Atualmente é a zona mais importante do município na produção de alimentos perecíveis como hortaliças e legumes, que necessitam de muita água para a sua produção. O intenso uso do solo necessitando cada vez mais de insumos químicos e agrotóxicos tem provocado também a contaminação das águas. O caminho da mudança deverá ser feito não só com técnicas preventivas, mas principalmente pelas mudanças provocadas pela Educação Ambiental. A Educação Ambiental é um processo que inclui construção, reconstrução, transformação, participação, trocas e consolidação da cidadania. Para construirmos um modo justo e ecologicamente equilibrado, é preciso transformar a destruição em qualidade de vida. 1
O homem, para isso, não poderá contar somente com avanços tecnológicos e com a ciência. Serão necessários principalmente o envolvimento e a conscientização do próprio homem numa mudança de valores. A Educação Ambiental se constitui numa forma abrangente de educação, que se propõe atingir todos os cidadãos, através de um processo pedagógico participativo permanente que procura infundir no educando uma consciência crítica sobre a problemática ambiental, compreendendo-se como crítica a capacidade de captar a gênese e a evolução dos problemas ambientais. De acordo com Jacobi (2003), a realidade atual exige uma reflexão cada vez mais linear, e isto se produz na inter-relação dos saberes e das práticas coletivas que criam identidades e valores comuns e ações solidárias. Dentro deste contexto, é clara a necessidade de mudar o comportamento do homem em relação à natureza, no sentido de promover sob um modelo de desenvolvimento sustentável, a compatibilização de práticas econômicas e conservacionistas, com reflexos positivos evidentes junto à qualidade de vida de todos. A Educação Ambiental deve ser transmitida de forma responsável, ética e coerente, bem como buscar sensibilizar os participantes destas atividades sobre estes valores. Deve-se visar, além da participação política, uma melhor qualidade de vida, soluções aos problemas ambientais e desenvolver alternativas que não agridam, ou agridam menos, seguindo os limites da ética e do auto-respeito, estaremos estabelecendo assim uma sociedade mais justa, saudável e consciente. OBJETIVOS Essas reflexões sobre Educação Ambiental forneceram as bases para a elaboração de atividades que fazem parte do projeto. Os principais objetivos elencados são: Elaborar um plano motivador como instrumento de apoio e subsídios nos debates com a comunidade; Realizar reuniões e palestras com a comunidade sobre a importância de conhecer a realidade local e a necessidade de sua preservação; Mostrar resultados de pesquisas em andamento e trocar experiências com a comunidade na busca de conservar os recursos hídricos. 2
METODOLOGIA Neste trabalho considerou-se a metodologia como um conjunto de métodos e técnicas para atingir determinado objetivo de pesquisa (ANDRADE, 1999). Se o objetivo da pesquisa é orientar atividades de Educação Ambiental compreendidas no projeto de conservação dos recursos hídricos, o caminho da mesma baseou-se na exploração da literatura especifica sobre Educação Ambiental e na pesquisa exploratória das temáticas relativas ao encaminhamento das atividades a serem realizadas. O trabalho teve como suporte teórico também a elaboração de um plano motivador segundo as idéias de Leal (2000). Foi desenvolvido segundo as seguintes etapas: primeiramente considerando que o interesse neste trabalho é a Educação Ambiental e a importância de compreender a realidade local, foi realizado um levantamento detalhado do ambiente urbano e rural das micro bacias, considerando sua localização em diferentes escalas, o processo histórico de produção deste espaço e seus aspectos naturais e sociais. A realização do resgate histórico do processo de urbanização e ocupação foi igualmente imprescindível na compreensão dos processos e no estabelecimento de propostas, pois atualmente o que se verifica nas bacias é um processo de urbanização acelerado nas suas nascentes que possivelmente tem ocasionado mudanças em áreas rurais mais distantes. Atualmente a região abriga patrimônios históricos e culturais consolidados. Tais patrimônios pertenceram a família Carrejo, que dividiram as terras em quatro fazendas com os seguintes nomes: Olhos D'Água, Lajes, Marimbondo e Tenda nomes esses que permanecem ate hoje. Na segunda etapa já construído o plano motivador como instrumento metodológico foi realizada uma atividade de gincana, primeiramente com as crianças do Assentamento Paciência, que localiza-se próximo a cidade de Uberlândia MG para testar a eficiência do método. Escolhemos começar pelas crianças, pois a importância de preservação ambiental deve ser aplicada o quanto antes, para que dessa forma cresçam com uma melhor conscientização ambiental. O procedimento seguinte foi envolver a comunidade através de palestras onde foram relatados os resultados encontrados nas etapas anteriores e outros resultados já alcançados pelo projeto integrado (Agricultura familiar e recursos hídricos: 3
um projeto para conservação da Micro Bacia do Córrego do Marimbondo Uberlândia MG). RESULTADOS O meio rural destaca-se pela presença dos elementos naturais da paisagem, os quais estão sujeitos a impactos ambientais negativos em decorrência das ações humanas. O papel político da Educação Ambiental no meio rural não é apenas um acessório da educação, pois envolve a reconstrução do sistema de relações entre a população rural e o ambiente natural. Nas visitas realizadas nas comunidades, foi possível perceber duas contradições: nas áreas de pequenos proprietários existe uma preocupação geral com a preservação dos recursos naturais e principalmente com a qualidade da água, enquanto que, na comunidade do Assentamento Paciência nota-se uma falta de cuidado quanto à degradação ambiental, especialmente com a disposição final do lixo. Diante dessa constatação foi aplicado como plano motivador uma gincana, primeiramente com as crianças do Assentamento Paciência (figura 01). É importante ressaltar que não só a escola, mas outros meios de comunicação são responsáveis pela educação do indivíduo e conseqüentemente da sociedade, uma vez que há o repasse de informações, isso gera um sistema dinâmico e abrangente a todos. Daí a atividade realizada com as crianças. 4
Figura 01: Crianças do Assentamento Paciência Fonte: Vieira, L.S 12/10/2009. A metodologia aplicada para o plano motivador foi, inicialmente, reunir essas crianças, através de uma aula expositiva sobre a necessidade de gostar do meio em que vivem, a fim de ajudar à sua preservação e utilização sustentável de seus recursos. O segundo passo foi dividir as crianças em dois grupos, em que ambos deveriam coletar a maior quantidade de lixo (figura 02), cronometradas em 10 minutos. Como forma de incentivo para participação e empenho das crianças, oferecemos bonificações ao grupo ganhador como, por exemplo, material escolar e brinquedos. Ressaltamos também como motivação essa atividade foi realizada no dia 12 de outubro de 2009 em comemoração ao dia das crianças. Figura 2: As crianças coletando o lixo para gincana. Fonte: Vieira, L.S 12/10/2009. 5
A atividade foi bastante produtiva, as crianças ficaram animadas e os resultados foram positivos. A continuidade de ações desse tipo serão realizadas com a população adulta do Assentamento Paciência incentivando o descarte correto dos lixos. Para os agricultores familiares foram realizadas uma série de palestras motivadoras em todas as comunidades integradas no projeto de pesquisa, levantando questões ambientais no meio rural abordando a necessidade da preservação ambiental. Contamos com a presença de um grande número de produtores da região. Apresentamos o respectivo projeto, com os objetivos propostos de forma expositiva e distribuímos, para facilitar a compreensão, cartilhas com o resumo do projeto. Observa-se que os produtores da Terra Branca - Marimbondo têm um maior conhecimento sobre a preservação e legalização ambiental de suas propriedades. Foram palestras muito produtiva, pois através da mesma conseguimos um grande número de produtores dispostos e muito animados. As questões levantadas por eles foram as dificuldades com a legislação ambiental e os problemas ambientais gerados pela ocupação urbana nas nascentes. Para os agricultores a cidade está afetando a água utilizada para irrigação e dessedentação dos animais. Foi feita uma proposta para o descarte do lixo nas propriedades rurais, de forma a evitar a contaminação das águas, tendo em vista a dificuldade que essa população tem para o destino final dos resíduos produzidos. A proposta levou em conta a seleção dos matérias e como forma de incentivo instalamos na sede da comunidade, ou seja o local onde são realizadas as reuniões, tambores coloridos de coleta seletiva nas cores padronizadas. Como resultado até o momento pode-se verificar que os anseios dos produtores rurais oralizados durantes as reuniões nos conselhos comunitários e a possibilidade da Educação Ambiental para inspirar o zoneamento agroecológico das áreas das micro bacias hidrográficas. Um dos objetivos deste projeto está relacionado a uma melhor gestão dos recursos hídricos e neste caso a Educação Ambiental é importante porque os atores sociais envolvidos através de uma metodologia participativa serão capazes de indicar os cenários alternativos de ocupação do solo, para evitar condições de deterioração ambiental e em conseqüência na qualidade das águas. 6
A educação Ambiental permite que se usem os conhecimentos tradicionais das pessoas, valorizando esse conhecimento e possibilita identificar os problemas e as suas causas. Essa é uma das mais importantes conclusões deste trabalho. O processo de implantação do zoneamento pode contemplar as interações da sociedade e o rico patrimônio cultural da área que até agora tem desafiado a nosso ver, as formas de poder e dominação. A educação Ambiental possibilita que se usem os conhecimentos tradicionais das pessoas, valorizando esse conhecimento e identificando os problemas e as suas causas. Essa é uma das mais importantes conclusões deste trabalho até o momento. REFERÊNCIAS ANDRADE, M.M. Introdução à metodologia de trabalho científico. São Paulo: Editora Atlas, 1999 ASSIS, J.C. Brasil 21: uma nova ética para o desenvolvimento. 5ª ed. CREA-RJ, 2000. 92p. CAPRA, F. Alfabetização ecológica: o desafio para a educação no século XXI. In: Meio ambiente no século 21: 21 especialistas falam da questão ambiental nas suas áreas de conhecimento/coordenação de André Trigueiro. 4ª ed. Campinas: Armazém do Ipê, 2005. p. 19-34. DIAS, Genebaldo Freire- Atividades interdisciplinares de Educação Ambiental. São Paulo, Global, 1996. FAJARDO, E. Se cada um fizer a sua parte... ecologia e cidadania. Rio de Janeiro, SENAC Nacional, 1998. FRANÇA, M. N; PINHEIRO M. S. F; SILVA, A. S. Guia para Normalização de Trabalhos Técnico-cientificos: projetos de pesquisa, trabalhos acadêmicos, dissertações e teses; 5ª ed. Uberlândia: Edufu, 2008.135 p. 7
JUNIOR, A.P. PELICONI, M.C.F. Alguns Pressupostos da Educação Ambiental. (p. 3 a 5). JACOBI, P. Educação Ambiental, cidadania e sustentabilidade. São Paulo. Cadernos de Pesquisa USP, n. 118, p. 189-205, março/2003. LEAL, A. C. Universidade e Comunidade na Gestão do Meio Ambiente. UNESP, Rio Claro, 2000. LEFF, E. Saber Ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade e poder. 2ª ed. Vozes, 1998. 343 p. LIMA, C.S; SANTOS, J.S. Gestão ambiental da bacia do rio Araguari rumo ao desenvolvimento sustentável. Uberlândia, Universidade Federal de Uberlândia/Instituto de Geografia; Brasília: CNPq, 2004. LIMA, E. F. Agricultura Sustentável: Origem e Perspectivas. Uberlândia. Sociedade & Natureza, 12 (23): 213-229 janeiro/junho. 2000. PHILIPPI JR, e outros - Educação Ambiental: desenvolvimento de cursos e projetos. São Paulo- USP- 2000. SANTOS, J.R; ALVES, B.K. Registro do Patrimônio Cultural e Edificado das Áreas Diretamente Afetadas, de Entorno e de Influência das Usinas Hidrelétricas de Capim Branco I e II. Uberlândia, Composer, 2005 SEGURA, D.S.B. Educação Ambiental na Escola Pública: da curiosidade ingênua à consciência crítica. 1ª ed. São Paulo. Anna Blume editora, 2001. 213p. SORRENTINO, M. et al. Educação Ambiental como Política Publica. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 2, p. 285-299, maio/ago. 2005 TRIGEIRO, A. Meio ambiente no século 21: 21 especialistas falam da questão ambiental nas suas áreas de conhecimento. 4. ed. Campinas: Armazém do Ipê (autores associados), 2005. 8
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