Autismo e Síndrome de Down Habilidades comunicativas, sociais e cognitivas Palavras-chave: autismo, síndrome de Down, linguagem infantil



Documentos relacionados
Desempenho comunicativo de crianças com síndrome de Down em duas situações diferentes

A INTERFERÊNCIA DA PRODUÇÃO VERBAL NA APLICAÇÃO DO AUTISM BEHAVIOR CHECKLIST EM CRIANÇAS AUTISTAS VERBAIS E NÃO VERBAIS

A RESPONSIVIDADE DE UMA CRIANÇA COM TRANSTORNO GLOBAL DO DESENVOLVIMENTO EM INTERAÇÃO COM O PAI

A Psiquiatria e seu olhar Marcus André Vieira Material preparado com auxílio de Cristiana Maranhão e Luisa Ferreira

Ultrassonografia aplicada na produção de fala: análise da produção das. fricativas /s/ e /ʃ/

Equivalência de Estímulos e Autismo: Uma Revisão de Estudos Empíricos 1. Stimulus Equivalence and Autism: A Review of Empirical Studies

SIMPÓSIO: ESTUDOS PSICOLINGUÍSTICOS E NEUROLINGUÍSTICOS EM LEITURA

O IMPACTO DOS DISTÚRBIOS DE DESENVOLVIMENTO DE LINGUAGEM NA APRENDIZAGEM NOEMI TAKIUCHI*

Transtornos Mentais diagnosticados na infância ou na adolescência

Avaliação do Processamento Numérico e de Cálculo em Pacientes com Afasia

COMUNICACÃO FALA E LINGUAGEM

I - ÁREA PROFISSIONAL FONOAUDIOLOGIA

Objetivos. Introdução. Letras Português/Espanhol Prof.: Daniel A. Costa O. da Cruz. Libras: A primeira língua dos surdos brasileiros

A variação da velocidade de fala como estratégia comunicativa na expressão de atitudes

A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR PARA AS CRIANÇAS COM O TRANSTORNO

AUTISMO: UM ESTUDO DE HABILIDADES COMUNICATIVAS EM CRIANÇAS

Aquisição lexical no desenvolvimento normal e alterado de linguagem um estudo experimental

AUTISMO MITOS, REFLEXÕES E ATUALIDADES KLIGIEL V. B. DA ROSA. NEUROPEDIATRA.

USO DA TECNOLOGIA ASSISTIVA COMO FERRAMENTA MEDIADORA DE COMUNICAÇÃO

A atividade lúdica no autismo infantil *

TEA Módulo 3 Aula 2. Processo diagnóstico do TEA

Perfil comunicativo de crianças de 2 a 24 meses atendidas na atenção primária à saúde

Estudo do desempenho de crianças das séries iniciais do ensino fundamental I em testes de leitura, escrita e nomeação rápida

AUTISMO: O QUE DIZEM AS PESQUISAS PUBLICADAS NA REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO ESPECIAL?

Páginas para pais: Problemas na criança e no adolescente A criança com Autismo e Síndrome de Asperger

Profa. Ma. Adriana Rosa

FENÔMENOS GRAMATICIAS RELEVANTES PARA O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA NO ENSINO MÉDIO PREPARATÓRIO PARA O VESTIBULAR

Resultados da Pesquisa IDIS de Investimento Social na Comunidade 2004

Autismo Rede Biomédica de Informações

Secretaria Municipal de Educação Claudia Costin Subsecretária Helena Bomeny Instituto Municipal Helena Antipoff Kátia Nunes

COMO AS CRIANÇAS ENFRENTAM SUAS ALTERAÇÕES DE FALA OU FLUÊNCIA?

Processo de Pesquisa Científica

OS CONHECIMENTOS DE ACADÊMICOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA E SUA IMPLICAÇÃO PARA A PRÁTICA DOCENTE

Introdução à Terapia ABA. Psic. Me. Robson Brino Faggiani Especialista em Terapia Comportamental e Cognitiva

Revista Perspectiva. 2 Como o artigo que aqui se apresente é decorrente de uma pesquisa em andamento, foi possível trazer os

Pré-Escola 4 e 5 anos

CONSIDERAÇÕES DA APLICAÇÃO DO MÉTODO PECS EM INDIVÍDUOS COM TEA*

Relação entre pausas silentes e classe gramatical em narrativas de crianças com distúrbio específico de linguagem

Aluno: Carolina Terra Quirino da Costa Orientador: Irene Rizzini

XADREZ NAS ESCOLAS E PARA TODOS

Maxi Indicadores de Desempenho da Indústria de Produtos Plásticos do Estado de Santa Catarina Relatório do 3º Trimestre 2011 Análise Conjuntural

Inovação aberta na indústria de software: Avaliação do perfil de inovação de empresas

Comportamentos comunicativos não verbais em crianças com Transtorno do Espectro do Autismo

O uso de habilidades comunicativas verbais para aumento da extensão de enunciados no autismo de alto funcionamento e na síndrome de Asperger***

Propostas para melhorias da fala de crianças com síndrome de down

Palavras chave: voz, prevenção, criança

ELEIÇÕES PARA GOVERNADOR DISTRITO FEDERAL ANÁLISE DOS LOG'S. Belo Horizonte, Nov/2003. staff TECHNOLOGY

A INTERFERÊNCIA DE COMPORTAMENTOS ATÍPICOS EM HABILIDADES DE ADAPTAÇÃO SOCIAL NAS CRIANÇAS DO ESPECTRO AUTÍSTICO

SÍNDROME DE ASPERGER

5 CONCLUSÃO Resumo

O DESAFIO DE ENVELHECER COM SÍNDROME DE DOWN

Plano de Aula de Matemática. Competência 3: Aplicar os conhecimentos, adquiridos, adequando-os à sua realidade.

Formação Profissional em Psicologia Social: Um estudo sobre os interesses dos estudantes pela área.

Apresentação. Estrutura Curricular

SOFTWARE EDUCACIONAL: RECURSO PEDAGÓGICO PARA MELHORAR A APRENDIZAGEM NA DISCIPLINA DE MATEMÁTICA

A Linguagem de crianças nascidas pré-termo e termo na primeira infância

RELAÇÃO MÃE-BEBÊ: UMA COMPREENSÃO PSICANALÍTICA

O DIAGNÓSTICO DE ESQUEMAS MENTAIS NA EDUCAÇÃO INFANTIL. Palavras Chaves: Educação Matemática, Educação Infantil; Diagnóstico de Esquemas Mentais.

Estruturas das Sessões em TCC

Formação do professor do aluno surdo usuário de implante coclear: uma proposta em parceria com o fonoaudiólogo

ANÁLISE!ACÚSTICA!DA!VIBRANTE!MÚLTIPLA!/r/!NO!ESPANHOL!E!EM! DADOS!DE!UM!APRENDIZ!CURITIBANO!DE!ESPANHOL!COMO!LÍNGUA! ESTRANGEIRA!

A aula de leitura através do olhar do futuro professor de língua portuguesa

RECURSOS DA INTERNET PARA O USO PEDAGÓGICO NAS AULAS DE

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Anais. IV Seminário Internacional Sociedade Inclusiva

JOVENS COM PARALISIA CEREBRAL: AVALIAÇÃO DAS HABILIDADES SOCIAIS ATRAVÉS DA COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA

UMA ANÁLISE DAS PUBLICAÇÕES DE ARTIGOS INTERNACIONAIS SOBRE A EDUCAÇÃO DE PESSOAS COM IMPLANTE COCLEAR

Atuação fonoaudiológica no Programa Saúde na Escola (PSE) Autores: RENATA CORREIA DA SILVA, APARECIDO JOSÉ COUTO SOARES, MARIA SILVIA CÁRNIO,

O PAPEL DOS JOGOS LÚDICOS PARA O DESENVOLVIMENTO POR MEIO DA COMPREENSÃO

O que é coleta de dados?

Orientações Preliminares. Professor Fábio Vinícius

TALKING ABOUT THE PRESENT TIME

Denise Fernandes CARETTA Prefeitura Municipal de Taubaté Denise RAMOS Colégio COTET

5 Considerações finais

Produtividade no Brasil: desempenho e determinantes 1

De acordo com estudos recentes o autismo é mais freqüente em pessoas do sexo masculino.

A ORALIZAÇÃO COMO MANIFESTAÇÃO LITERÁRIA EM SALA DE AULA

MODA INFANTIL ATUANDO NO DESENVOLVIMENTO DE CRIANÇAS AUTISTAS. Fashion child acting in the development of autistic children

Processo Diagnóstico: CID/DSM/Diagnóstico Diferencial. Módulo 3: Aspectos Diagnósticos

INTERVENÇÃO ABA COM ESTUDANTES COM AUTISMO: ENVOLVIMENTO DE PAIS E PROFESSORES

CLIRE CLÍNICA DE DOENÇAS RENAIS LTDA. PROGRAMA DE ESTÁGIO EM NUTRIÇÃO RENAL (HEMODIÁLISE E DIÁLISE PERITONEAL)

A importância da audição e da linguagem

AUTISMO E FAMÍLIA: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA EM BASES DE DADOS NACIONAIS, BRUNA LASELVA HAMER 1 ; MILENA VALELONGO MANENTE 2 ;

ESTEQUIMETRIA LÚDICA: RESSIGNIFICANDO A APRENDIZAGEM POR MEIO DE UMA MARATONA QUÍMICA

O BRINCAR COMO MEDIADOR DE INTERAÇÃO NO DESENVOLVIMENTO DE LINGUAGEM EM CRIANÇAS AUTISTAS

150 ISSN Sete Lagoas, MG Dezembro, 2007

Abaixo está a relação dos experimentos que serão descritos, detalhadamente, no capítulo 5.

EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA - Disciplina semestral 32 aulas previstas

19/07 ENSINO E APRENDIZAGEM DA LINGUAGEM ESCRITA EM CLASSES MULTISSERIADAS NA EDUCAÇÃO DO CAMPO NA ILHA DE MARAJÓ

A DISLEXIA E A ABORDAGEM INCLUSIVA EDUCACIONAL

A TEORIA DA PROPOSIÇÃO APRESENTADA NO PERIÉRMENEIAS: AS DIVISÃO DAS PRO- POSIÇÕES DO JUÍZO.

Pediatria do Desenvolvimento e do Comportamento. Faculdade de Ciências Médicas Prof. Orlando A. Pereira Unifenas

SIMPROS /01/2008. VIII Simpósio Internacional de Melhoria de Processo de Software. Análise da Correlação entre Métricas de Tamanho, Apoio:

PALAVRAS-CHAVE: Desastres naturais; hidrologia; Porto Alegre

Medidas de Avaliação de Desempenho Financeiro e Criação de Valor: Um Estudo com Empresas Industriais

UMA PROPOSTA DE LETRAMENTO COM FOCO NA MODALIDADE ORAL DE LINGUAGEM EM SUJEITOS COM SÍNDROME DE DOWN

PARECER TÉCNICO Nº 16/GEAS/GGRAS/DIPRO/2016 COBERTURA: IMPLANTE COCLEAR

Título: Escuta dicótica em indivíduos com gagueira: efeito do tipo de tarefa, estímulo e demanda cognitiva.

JOGOS ELETRÔNICOS CONTRIBUINDO NO ENSINO APRENDIZAGEM DE CONCEITOS MATEMÁTICOS NAS SÉRIES INICIAIS

Medindo a Produtividade do Desenvolvimento de Aplicativos

IX DESAFIO CULTURAL DO CURSO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS- 2016

Transcrição:

Autismo e Síndrome de Down Habilidades comunicativas, sociais e cognitivas Palavras-chave: autismo, síndrome de Down, linguagem infantil Introdução As perspectivas pragmáticas em psicolingüística têm fornecido elementos para a consideração dos aspectos funcionais dos distúrbios da comunicação e de suas correlações com outros aspectos do desenvolvimento da criança, especialmente seu desenvolvimento sócio-cognitivo (Eaves et.al.,2006; Baltaxe e D Angiola, 1996). Sendo assim, para entendermos a linguagem das crianças com autismo, são interessantes e de grande importância para a prática fonoaudiológica, as pesquisas que relacionam os dados sóciocognitivos e o desempenho lingüístico dos sujeitos. As pesquisas mais recentes comparando linguagem e comunicação de crianças autistas, com crianças com síndrome de Down, envolvem, em geral, um número reduzido de sujeitos. Outra característica destas pesquisas é a forma pela qual os sujeitos são pareados: alguns estudos utilizam idade cronológica, outros a extensão média dos enunciados ( mean lenght of utterance - MLU) e outros, coeficiente de inteligência verbal - QI verbal, ou apenas teste de QI (p. ex., Loveland e Tunali, 1991; Libby et. al., 1997; Libby et. al., 1998; Sigman et. al., 1999 e etc.). Existem algumas críticas quanto à utilização destes métodos de pareamento e sendo assim, a pesquisadora procurou utilizar outro método de pareamento para esta população. Objetivos A proposta deste estudo visa investigar e comparar o perfil funcional da comunicação (modelo proposto por Fernandes, 2004) de dois diferentes grupos de sujeitos (crianças com Autismo e com síndrome de Down) pareados segundo o desempenho sócio-cognitivo, testado segundo o modelo elaborado por Molini (2001) e analisados segundo os critérios propostos por Wetherby e Prutting (1984). Métodos Sujeitos: 40 crianças entre 2 e 11 anos de idade, em atendimento fonoaudiológico em serviços especializados, divididas em 2 grupos de acordo com o diagnóstico: G1 autismo (média de idade de 7 anos) e G2 Síndrome de Down (média de idade de 6 anos e 4 meses). Todos os sujeitos estavam em terapia fonoaudiológica em serviços especializados. Coleta de Dados: Uma das investigadoras aplicou o teste sócio-cognitivo e verificou o desempenho dos sujeitos nos aspectos de: intenção comunicativa gestual e vocal, imitação gestual e vocal, uso de objeto mediador, jogo combinatório e simbólico. Após a aplicação deste teste e sua análise, foi feito o pareamento dos sujeitos em duplas (1 com Autismo e 1 com síndrome de Down). Para serem considerados pares, os sujeitos tiveram que apresentar os mesmos escores em todos os sete aspectos sócio-cognitivos analisados pelo teste.

Em uma segunda etapa, os sujeitos pareados foram filmados em situação de brincadeira individual espontânea, durante 30 minutos, na presença de uma fonoaudióloga, que procurou estabelecer interação a partir dos interesses manifestados pela criança, e o protocolo da pragmática foi aplicado. Análise dos Dados: Através de uma escolha aleatória foi selecionada a ordem de análise inter e intra grupos. Genericamente, podemos afirmar que a amostra apresenta distribuição gaussiana (normal), sendo utilizado o teste de ANOVA (Análise de Variância). Foi aplicada, também, a Análise de Correlação de Spearman, com o objetivo de identificar possíveis relações entre pares de variáveis. O terceiro teste utilizado foi a análise de aglomerados significativos (Clusters), para identificar subgrupos específicos. Resultados Grupo com Autismo: apresentou o pior perfil funcional da comunicação, ocupando o menor espaço comunicativo, utilizando o menor número de funções interpessoais e a menor porcentagem de atos comunicativos interpessoais; demonstrando a característica mais marcante: incapacidade de interagir com o interlocutor; apresentou um menor número de correlações entre os aspectos sócio-cognitivos e o perfil funcional da comunicação; deixa claro que o grupo apresenta um distúrbio de desenvolvimento, principalmente nos aspectos analisados: linguagem, socialização e cognição; apenas os atos comunicativos verbais correlacionaram-se com todos os aspectos sócio-cognitivos, demonstrando que a comunicação do autista explica-se por fatores relacionados às habilidades sociais e cognitivas. Tabela 1 - Coeficiente de correlação (+ ou -) e significância (p) entre o perfil funcional da comunicação e os aspectos sócio-cognitivos de crianças com Autismo ESP. ICG ICV OM IG IV JC JS / COM. VE VO G MIN POR MINUTO +0,555* p=0,011 +0,336 p=0,147 +0,371 p=0,107 +0,290 p=0,214 +0,273 p=0,244 +0,429 p=0,059 +0,201 p=0,396 + PORC. ESPAÇO COMUNICATIVO +0,305 p=0,191 +0,284 p=0,225 +0,314 p=0,178 +0,272 p=0,246 +0,254 p=0,280 +0,376 p=0,102 +0,178 p=0,452 +0,667* + NÚMERO DE FUNÇÕES +0,606* p=0,005 +0,333 p=0,151 +0,243 p=0,302 +0,217 p=0,359 +0,294 p=0,208 +0,403 p=0,078 +0,333 p=0,152 +0,455* p=0,044 +0,446* p=0,049 FUNÇÕES +0,633* p=0,003 +0,438 p=0,053 +0,387 p=0,091 +0,298 p=0,202 +0,285 p=0,223 +0,536* p=0,015 +0,461* p=0,041 +0,466* p=0,038 +0,483* p=0,031 +0,960* PORCENT. +0,655* +0,573* p=0,008 +0,468* p=0,037 +0,429 p=0,059 +0,401 p=0,079 +0,535* p=0,015 +0,471* p=0,036 +0,482* p=0,031 +0,445* p=0,049 +0,579* p=0,007 +0,622* p=0,003 PORCENT. VERBAIS +0,518* p=0,019 +0,706* +0,750* +0,736* +0,746* +0,679* +0,565* +0,305 p=0,191 +0,438 p=0,053 +0,313 p=0,179 +0,380 p=0,098 +0,608* p=0,004 PORCENT. VOCAIS -0,173 p=0,466-0,295 p=0,207-0,252 p=0,284-0,311 p=0,182-0,202 p=0,393-0,329 p=0,157-0,335 p=0,148 +0,250 p=0,288 +0,243 p=0,302 +0,020 p=0,933-0,041 p=0,863-0,221 p=0,350-0,394 p=0,086 PORCENT. GESTUAIS -0,251 p=0,286-0,445* p=0,050-0,336 p=0,148-0,350 p=0,130-0,563* p=0,010-0,438 p=0,053-0,293 p=0,210-0,448* p=0,048-0,580* p=0,007-0,312 p=0,180-0,312 p=0,180-0,465* p=0,039-0,594* p=0,006-0,284 p=0,226 Grupo com síndrome de Down: apresentou um maior número de atos comunicativos por minuto, de funções comunicativas totais e interpessoais, demonstrando a característica própria: grande capacidade de interação social;

apresentou a maior correlação entre a porcentagem de atos comunicativos interpessoais e os aspectos sócio-cognitivos; os sujeitos que apresentaram altos escores no desempenho sócio-cognitivo apresentaram o perfil funcional da comunicação mais próximo ao grupo normal. Provavelmente, a habilidade social destas crianças influenciou no cognitivo e na linguagem, aproximando-as das crianças normais; quando apresentaram baixo desempenho sócio-cognitivo, aproximaram-se mais das crianças autistas; demonstrando que com baixa capacidade social, este grupo aproxima-se mais de outro que tem como característica básica a dificuldade de interação. Tabela 2 - Coeficiente de correlação (+ ou -) e significância (p) entre o perfil funcional da comunicação e os aspectos sócio-cognitivos de crianças com síndrome de Down ESP. ICG ICV OM IG IV JC JS / COM. VE VO G MIN POR MINUTO +0,270 p=0,249 +0,388 p=0,091 +0,558* p=0,011 +0,677* +0,570* +0,655* +0,643* + PORC. ESPAÇO COMUNICATIVO +0,434 p=0,056 +0,540* p=0,014 +0,641* +0,706* +0,715* +0,754* +0,766* +0,860* + NÚMERO DE FUNÇÕES -0,005 p=0,982 +0,055 p=0,818 +0,411 p=0,072 +0,357 p=0,122 +0,275 p=0,241 +0,217 p=0,358 +0,295 p=0,206 +0,621* p=0,004 +0,426 p=0,061 FUNÇÕES +0,189 p=0,424 +0,319 p=0,171 +0,595* p=0,006 +0,561* p=0,010 +0,510* p=0,022 +0,467* p=0,038 +0,554* p=0,011 +0,750* +0,605* p=0,005 +0,925* PORCENT. +0,436 p=0,054 +0,564* p=0,010 +0,565* +0,573* p=0,008 +0,712* +0,710* +0,639* +0,845* +0,797* +0,525* p=0,017 +0,738* PORCENT. VERBAIS +0,567* +0,776* +0,773* +0,745* +0,791* +0,702* +0,569* +0,456* p=0,043 +0,640* +0,180 p=0,447 +0,390 p=0,089 +0,599* p=0,005 PORCENT. VOCAIS +0,353 p=0,127 +0,171 p=0,470 +0,405 p=0,076 +0,408 p=0,074 +0,395 p=0,085 +0,488* p=0,029 +0,621* p=0,003 +0,829* +0,696* +0,549* p=0,012 +0,675* +0,742* +0,166 p=0,484 PORCENT. GESTUAIS -0,537* p=0,015-0,586* p=0,007-0,730* -0,748* -0,724* -0,755* -0,714* -0,866* -0,876* -0,442 p=0,051-0,639* -0,805* -0,751* -0,662* Através dos dendogramas, pode-se perceber que o primeiro critério de agrupamento para as crianças com síndrome de Down foi presença ou não de linguagem verbal. O segundo critério foi porcentagem de atos comunicativos interpessoais. Já para as crianças autistas, o primeiro critério foi a porcentagem de atos interpessoais e o segundo, a presença ou ausência de fala, demonstrando que o que diferencia as crianças autistas é sua dificuldade de interação e não a ausência de fala. Figura 1 - Clusters determinados pelas variáveis do perfil funcional da comunicação

T5 T15 T11 T12 T13 T18 T1 T16 T4 T2 T20 T3 T6 T10 T8 T14 T7 T9 T19 T17 Não-falantes com alta porcentagem de VO Não-falantes com alta porcentagem de G e 35% espaço comunicativo 40% espaço comunicativo e 50% de atos G Alta porcentagem de atos interpessoais Menor porcentagem de atos interpessoais Maior porcentagem de atos interpessoais T8 T19 T7 T6 T10 T11 T12 T17 T1 T13 T5 T9 T3 T15 T16 T20 T4 T2 T18 T14 Três atos por minuto, 60% atos interpessoais, 40% atos VE 7% atos VE, 78% interpessoais 2 clusters Maioria é falante, com 45% espaço comunicativo e 3 atos por minuto Baixa porcentagem de atos VE e alta porcentagem de atos interpessoais e VO Não-falantes, 97% atos G e 35% atos interpessoais Não-falantes, 70% atos G e 55% atos interpessoais Não-falantes, com 35% de espaço comunicativo e menos de dois atos comunicativos por minuto Grupo com Autismo Grupo com síndrome de Down Discussão dos Dados As duplas que apresentaram bom desempenho sócio-cognitivo apresentaram melhor desempenho no perfil funcional da comunicação, assim como quando apresentaram baixo desempenho sóciocognitivo, também apresentaram baixo desempenho no uso funcional da comunicação, comprovando a inter-relação entre: cognição, socialização e linguagem; sendo que nos dois casos, o grupo de crianças autistas apresentou o pior desempenho funcional da comunicação. Nas tabelas 1 e 2 podemos verificar que os atos comunicativos gestuais apresentaram correlação negativa com todos os aspectos sócio-cognitivos e com as demais variáveis do perfil funcional da comunicação, demonstrando que quanto melhor a habilidade de linguagem oral das crianças, melhor será seu desempenho comunicativo, assim como o desenvolvimento social e cognitivo, retomando o princípio da heterocronia de Bates (1979), e corroborando relatos de Amato (2006) e Fernandes, Molini- Avejonas e Sousa-Morato (2006). Para Liebal et.al. (2008), a criança autista só utilizará funções interpessoais, para obter um fim no ambiente e raramente para direcionar a atenção do outro com um fim social. Esta afirmação é confirmada pelos dados encontrados no presente estudo, e corrobora relatos de Liber, Frea e Symon (2008) que citam o prejuízo severo em habilidades de interação social como característica de crianças com Autismo. As dificuldades com habilidades sociais, apresentadas pelas crianças com Autismo, explicam o fato deste grupo não ter apresentado o maior número de atos comunicativos por minuto, nem ter sido o que utilizou o maior número de funções comunicativas, tampouco foi o grupo que mais utilizou os meios verbal, vocal e gestual para se comunicar, uma vez que é a interação que se associa ao desenvolvimento cognitivo na determinação do desenvolvimento de linguagem (Fernandes,1996; Müller; Schuler; Yates, 2008). Chapman (1997), assim como o presente estudo, observou que as crianças com síndrome de Down apresentam uma interação maior que seus controles com a mesma idade mental. Observação também relatada por Castillo et.al. (2008) mencionam que as crianças com síndrome de Down dão sinais

comunicativo-sociais em uma freqüência semelhante à de seus controles normais no mesmo nível de desenvolvimento. Conclusão O grupo de crianças com Autismo foi o que apresentou o pior desempenho no perfil funcional da comunicação, assim como o menor número de correlações estatisticamente significativas entre os aspectos sócio-cognitivos e o perfil funcional da comunicação, demonstrando a característica mais marcante das crianças com Autismo: a incapacidade de interagir com o interlocutor, e deixando claro que os mesmos apresentam um distúrbio de desenvolvimento, principalmente nestes aspectos estudados: linguagem, socialização e cognição. As crianças com síndrome de Down apresentaram o melhor desempenho no perfil funcional da comunicação e também foi o grupo que apresentou a maior correlação entre os aspectos sóciocognitivos e a porcentagem de atos comunicativos interpessoais, demonstrando a característica própria destas crianças que é a grande capacidade de interação social. Os dados encontrados nos dendogramas sugerem que as duplas com ausência do meio verbal apresentaram escores na média ou abaixo da mesma no desempenho sócio-cognitivo e um menor número de funções comunicativas interpessoais e, ao contrário, as duplas que utilizaram o meio verbal apresentaram escores acima da média no desempenho sócio-cognitivo e utilizaram um maior número de funções comunicativas interpessoais. A grande correlação encontrada entre os aspectos sócio-cognitivos e o perfil funcional da comunicação e o número significante de sujeitos desta pesquisa, permite concluir que o desempenho sócio-cognitivo pode ser usado como critério de pareamento para esta população. Referências Bibliográficas Amato CAH. Questões funcionais e sócio-cognitivas no desenvolvimento da linguagem em crianças normais e autistas. [tese]. São Paulo: Universidade de São Paulo Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas;2006. Baltaxe, C.A M.; D angiola, N. Referencing skills in children with autism and specific language impairment. European Journal of Disorders of Communication. 1996;31: 245-258. Bates E. Language and context: the acquisition of pragmatics. New York: New York Academic Press; 1976. Castillo H; Patterson B; Hickey F; Kinsman A; Howard JM; Mitchell T; Molloy CA. Difference in age at regression in children with autism with and without Down syndrome. J Dev Behav Pediatr. 2008;29(2):89-93. Chapman RS, Schwartz SE, Kay-Raining BE. Language skills of children with Down syndrome - I: Comprehension. J Speech Hear Res. 1991;34(1):106-20. Eaves LC, Wingert HD, Ho HH, Mickelson ECR. Screening for autism spectrum disorders with the social communication questionnaire. J Dev Behav Pediatr. 2006;27(2):95-103. Fernandes FDM. Autismo infantil - repensando o enfoque fonoaudiológico. São Paulo: Lovise; 1996. Fernandes FDM. Pragmática (Parte D). In: Andrade CRF; Befi-Lopes DM; Fernandes FDM; Wertzner HF. ABFW- Teste de Linguagem Infantil nas Áreas de Fonologia, Vocabulário, Fluência e Pragmática. Barueri: Pró-Fono; 2004. p. 83-97. Segunda edição. Revisada, ampliada e atualizada. Fernandes FDM, Molini-Avejonas DR, Sousa-Morato PF. Perfil funcional da comunicação nos distúrbios do espectro autístico. Rev CEFAC. 2006;8(1):20-26. Libby S, Powell S, Messer D, Jordan R. Imitation of pretend play acts by children with autism and Down syndrome. J Autism Dev Disord. 1997;27(4):283-365. Libby S, Powell S, Messer D, Jordan R. Spontaneous play in children with autism: a reappraisal. J Autism Dev Disord. 1998;28(6):487-97. Liber DB, Frea WD, Symon JB. Helping and cooperation in children with autism. J Autism Dev Disord. 2008;38(2):224-38. Loveland KA, Tunali B. Social scripts for conversational interactions in autism and Down syndrome. J Autism Dev Disord. 1991;21:177-86. Molini DR. Verificação de diferentes modelos de coleta de dados dos aspectos sócio-cognitivos na terapia fonoaudiológica de crianças com distúrbios psiquiátricos [dissertação]. São Paulo: Universidade de São Paulo - Faculdade de Medicina; 2001.

Müller E, Schuler A, Yates GB. Social challenges and supports from the perspective of individuals with Asperger syndrome and other autism spectrum disabilities. Autism. 2008:12(2):173-90. Sigman M, Ruskin E, Arbeile S, Corona R, Dissanayake C, Espinosa M, Kim N, Lopez A, Zierhut C. Continuity and change in the social competence of children with autism, Down syndrome, and developmental delays. Monogr Soc Res Child Dev. 1999:64(1):1-114. Wetherby A, Prutting C. Profiles of communicative and cognitive-social abilities in autistic children. J Speech Hear Res. 1984:27:364-77.