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Transcrição:

APELAÇÃO. PENAL E PROCESSUAL PENAL. Apropriação indébita. Causa especial de aumento de pena. Sentença condenatória. Recurso defensivo que visa obter a des0classificação da conduta para a de estelionato simples, com a consequente remessa dos autos à origem para efeito de oferecimento de proposta de suspensão do processo. A análise das condutas perpetradas mostra que qualquer eventual intenção precedente de realizar os negócios mediante fraude, induzindo em erro os clientes, não afastará a configuração da apropriação indébita relativamente aos valores que deveriam ingressar, licitamente, na contabilidade da empresa lesada e não o foram porque o sujeito, que detinha a posse de tais numerários, não os repassou ao dono do negócio. Revelia decretada validamente, sendo certo que a ausência do sujeito à audiência representa a falta de manifestação expressa acerca da aceitação ou recusa da proposta de suspensão condicional do processo. Desprovimento ao recurso. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação n.º 0416922-97.2010.8.19.0001, originários da 23.ª Vara Criminal da Comarca da Capital, em que é apelante George Ivan de Souza Borges e, apelado, o Ministério Público: ACORDAM os Desembargadores que compõem a 1.ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, em sessão realizada aos cinco dias do mês de novembro do ano de 2013, por - 1 -

unanimidade e nos termos do voto do Desembargador Relator, em desprover o recurso. Rio de Janeiro, 06 de novembro de 2013. Desembargador Antônio Jayme Boente Relator - 2 -

Voto Colhe-se dos autos que, no período compreendido entre 09/07/2008 e 08/09/2009, o réu, ora apelante, GEORGE IVAN DE SOUZA BORGES, com o dolo próprio da espécie e seguindo o mesmo modus operandi, apropriou-se das quantias referentes a vendas de aparelhos auditivos, pagos pelos clientes da referida empresa. Segundo consta da denúncia, o réu e apelante agia com má-fé e não repassava os valores integrais cobrados nas vendas; por vezes, efetuava trocas nos aparelhos sem prestar contas ao sócio da empresa, apropriandose da diferença da venda e, por tudo isso, consumando o delito de apropriação indébita. O sujeito foi denunciado por violação às normas contidas no artigo 168, parágrafo 1.º, inciso III do Código Penal, sobrevindo, ao término da instrução criminal, sentença de procedência da pretensão punitiva estatal, com penas concretizadas em 01 (um) ano e 04 (quatro) meses de reclusão, no regime aberto, mais pagamento de 13 DM. A pena corporal foi substituída por duas restritivas de direitos, nas modalidades de prestação de serviços à comunidade e limitação de fim-de-semana. A Defensoria Pública interpôs o presente recurso de apelação, visando obter a desclassificação da conduta para a de estelionato simples, com remessa dos autos à origem para oferecimento de proposta de suspensão do processo. Não lhe assiste razão. - 3 -

A materialidade ficou plenamente configurada na prova documental, consistente em cópias de notas fiscais referentes à compra de aparelhos auditivos (fls. 07/22) e auto de qualificação direta (fls. 26/27). Muito embora tenha o sujeito negado a responsabilidade pelos fatos em sede policial e, na fase processual, permanecido revel, a prova oral coligida ao feito corrobora a versão do órgão estatal de acusação e efetivamente permite a assertiva acerca da autoria delitiva. Senão vejamos. A testemunha Daniele Ferreira de Souza Batista, que é fonoaudióloga e trabalhava na mesma empresa, disse, em juízo, que (fls. 191): [...] num determinado dia o cliente Sandoval ligou para loja pedindo assistência técnica do aparelho; que a depoente estranhou pois que o último aparelho vendido para o sr. Sandoval ocorrera um ano antes e o Sr. Sandoval disse que havia adquirido dois meses antes; que a depoente perguntou quem havia lhe vendido o aparelho dizendo o Sr. Sandoval que adquiriu o mesmo de Sr. George Ivan; que o Sr. Sandoval levou o aparelho até a loja constatando a depoente que não havia marca da empresa no aparelho não tendo o mesmo sido adquirido na loja que o comercializa aparelhos com a marca da empresa; que mesmo assim prestou assistência técnica que não lhe foi apresentado recibo de aquisição do aparelho pelo Sr. Sandoval nem a depoente pediu recibo; que comunicou o fato ao Sr. Edison o qual descobriu que os clientes Lody e Geni haviam sido lesados constatando o Sr. Edison que as vias das notas fiscais emitidas quando da aquisição dos aparelhos por tais vítimas apresentavam valores diversos inobstante o mesmo - 4 -

número da nota fiscal. Constando na 1ª via o valor que efetivamente era repassado a loja sendo menor que o constante da via que ficava em poder do cliente que apresentava valor superior; que a depoente não teve acesso as notas fiscais que ficavam arquivadas na parte administrativa da empresa; que só trabalhavam na empresa a depoente como fonoaudióloga e o acusado; que Sr. George Ivan admitiu a prática dos fatos a depoente; que o réu praticou fatos semelhantes com outros clientes que não são as vítimas deste processo. [...] O aparelho adquirido pela sra. Lody tinha marca da empresa sendo adquirido na loja. Depôs também Edison Rocha, dono da loja, ut. fls. 192: [...] que o Sr. George era funcionário da loja às vezes permanecendo sozinho na loja atendendo clientes; que verificou que alguns clientes haviam sido lesados; que a lesada Lody havia adquirido na empresa dois aparelhos auditivos tendo pago pelos mesmos ao Sr. George valores superiores aos valores dos aparelhos que estavam sendo comercializados, não tendo sido repassados os valores cobrados da sra. Lody ao depoente, sendo este proprietário da empresa; que as cópias dos documentos de fls. 11 e 13 dos autos correspondem aos valores que foram apresentados ao depoente como sendo os da venda dos aparelhos da sra. Lody totalizando 5.910,00, porém em realidade como o depoente pode afirmar que os documentos cujas cópias se encontram as fls. 11 e 12 dos autos seriam referentes aos valores cobrados da cliente sra. Lody pela venda dos ditos aparelhos auditivos, sendo os valores de 4.230,00 e 1.970,00, totalizando 6.200,00; que posteriormente o acusado foi a residência da sra. Lody trocar o aparelho após a mesma dizer que não estava - 5 -

funcionando bem tendo então sido trocado o aparelho e cobrado da sra. Lody pela troca valor que não foi repassado a depoente; que as cópias dos documentos acostados aos autos mencionados anteriormente foram exibidos em originais nesta audiência perante as partes; que a nota fiscal do aparelho vendido a sra. Geny é a que corresponde a cópia acostada as fls. 14 sendo de 6.500,00 o valor, tendo sido cobrado a sra. Geny os valores de 6.500,00 e 2.800,00 conforme cópias de fls. 15 e 16 dos autos, sendo repassado ao depoente os valores mencionados as fls. 15 e 17, sem ser repassado o valor de fls. 16; que o acusado dava recibo em nome da empresa, usando o nome da empresa para a prática desses atos; que em relação as fls. 21/22 apresentou o original das mesmas e que o valor cobrado as fls. 21 não foi repassado ao depoente, nem mesmo teve notícia da venda relativa a nota fiscal de fls. 21; que só tomou conhecimento após a reclamação do cliente; que as cópias das notas ficais de fls. 21 e 22 foram emitidas sob o n. 000510, cada qual emitidas em favor de clientes diversos como se pode observar das mesmas; que assumiu todo o prejuízo causado pelo Sr. George ressarcindo os clientes lesados para manter a reputação da empresa; que em momento algum foi ressarcido pelo acusado; que demitiu o Sr. George por justa causa; que o Sr. George após procurado pelo depoente assumiu que praticara tais fatos; que reconhece os documentos de fls. 46 e 47 da sra. Doroti e que na verdade a empresa recebeu 4.500,00, valores de fls. 47, porém o que foi cobrado foi o valor de 5.500,00 conforme fls. 46; que George se apropriava de valores da empresa pois que não repassava ao depoente; que o acusado era pessoa de confiança do depoente; que era permitido a George movimentar o caixa da loja. Às perguntas da Defesa, respondeu que: A vítima Antonio teria adquirido - 6 -

um aparelho do Sr. George que não pertencia a empresa Interaud pertencente ao depoente onde o depoente trabalhava; que tal foi constatado por uma funcionária da depoente pelo fato de não haver logotipo da empresa no aparelho tendo o depoente entregue um aparelho para Sr. Antonio sem cobrar qualquer valor; que tal procedimento foi realizado por George anteriormente em relação a uma vítima chamada Sandoval; que para as vítimas Lody, Doroti e Geni, foram vendidos aparelhos pelo sr. George da empresa do depoente. A cliente, Lody Habib, uma dentre as pessoas que compraram aparelhos na loja, conforme referidas nos depoimentos anteriores, também depôs em juízo, ut. fls. 194: "(...) pagou ao Sr. Ivan ora acusado o valor de seis mil trezentos e poucos reais não se recordando ao certo pela aquisição de um aparelho auditivo tendo recebido um documento não se recordando qual tipo que lhe dava quitação do pagamento; que antes do pagamento final do preço recebeu o aparelho auditivo do Sr. Ivan o qual se identificou como gerente da loja sendo dono Sr. Edison; que tomou conhecimento que o valor de aquisição do aparelho era superior ao valor de mercado cobrado do mencionado aparelho; que tomou conhecimento que a sra. Geni foi vítima da mesma forma que a depoente de ter adquirido um aparelho auditivo de valor superior ao valor de mercado, sendo dito pela sra. Geni a depoente que havia pago pelo aparelho através de cheque pré-datado o qual foi depositado antes da data aprazada argumentando o réu que seria pelo fato de necessitar do dinheiro para pagar a pensão da mulher." - 7 -

Também foi ouvida por carta precatória, em Carangola, Estado de Minas Gerais, a testemunha Antônio Arleo Filho, que disse, ut. fls. 175: chegou a comprar de Ivan um aparelho auditivo de quatro mil e poucos reais à época, há cerca de quatro anos atrás sendo que o indivíduo não lhe deu nota nem recibo do aparelho; que o pagamento foi feito através de dois cheques um da entrada e outra parcela quando da entrega do aparelho; que se recorda que seu contato com Edson se deu em razão do aparelho auditivo que adquiriu não ter funcionado, como de fato nunca funcionou corretamente apesar de Edson ter levado o aparelho para conserto mais de três vezes e o mesmo retorna com o mesmo defeito; que Edson pediu para o depoente à época apresentar uma declaração por qual valor que havia adquirido o aparelho e quanto ao mau funcionamento do mesmo; que há cerca de um ano veio a tomar conhecimento, através de Edson sobre os fatos narrados na denúncia contra a pessoa de Ivan. As testemunhas Daniele, Loby e Edison já haviam prestado seus depoimentos pelo sistema audiovisual, sendo renovadas as oitivas e reduzidos os depoimentos a termo, em razão de problema verificado na mídia e no sistema de gravação propriamente dito (fls. 178/179). O acervo probatório corrobora a narrativa dos eventos contida na denúncia, sendo inequívoco que o réu, ora apelante, se apropriou de valores relativos a vendas de aparelhos auditivos a clientes da empresa lesada, certo que em razão da função por ele exercida. No que diz respeito ao pleito defensivo, de desclassificação das condutas para o crime de estelionato simples, deve-se dizer que, com efeito, vislumbram-se no modus operandi do agente indícios da elaboração de fraude para induzir em erro os clientes, seja naqueles momentos em que cobrou preço a maior, seja nas ocasiões em que vendeu aparelhos que não pertenciam à loja. - 8 -

No entanto, é estreme de dúvida que o réu e apelante também se apropriava de valores que pertenciam licitamente à empresa, cuja posse detinha em razão das funções ali exercidas, os quais deveriam ser repassados ao dono do negócio. Se parte desses valores recebidos dos clientes pode ter sido gerado através de meio fraudulento, é certo que houve valores que deveriam ingressar licitamente na contabilidade da empresa e que não o foram porque o sujeito se apropriou indevidamente de tais numerários. A meu sentir, o indivíduo pode ter praticado também o estelionato, mas este delito não lhe foi imputado na denúncia, nem houve qualquer aditamento. Contudo, a existência de um eventual estelionato, não imputado, não implica a desclassificação pretendida, especialmente porque as condutas descritas pelo órgão ministerial, na exordial acusatória, comprovadamente ocorreram e efetivamente se amoldam ao crime insculpido no artigo 168, parágrafo 1.º, inciso III do Código Penal. O pedido residual, acerca da baixa dos autos para proposta de suspensão condicional do processo - que em verdade foi colocado como decorrente da desclassificação da conduta -, não oferece qualquer desafio à sentença ora recorrida. Observa-se nos autos que o réu e apelante foi validamente intimado para a audiência, ut. fls. 139/140 (documento eletrônico 00153 pp. 5/6), mas não compareceu, sendo decretada a sua revelia. Como revel, por óbvio, não poderia aceitar ou recusar expressamente a proposta, nos termos da Lei. - 9 -

As penas se concretizaram no patamar mínimo legal, sendo concedida a substituição da pena corporal por restritivas de direitos e fixado o regime aberto para a hipótese de conversão. Nada há a revisar de ofício. Destarte, voto no sentido de desprover o recurso e manter a sentença por seus próprios fundamentos. Rio de Janeiro, 06 de novembro de 2013. Desembargador Antônio Jayme Boente Relator - 10 -