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Transcrição:

Analgésicos Centrais Prof. Dr. Roosevelt Albuquerque Gomes roosevelt.ag@gmail.com Conceito Analgésicos são depressores seletivos do SNC empregados para aliviar a dor sem causar a perda de consciência. Agem por elevar o limiar da percepção da dor. 2 Dor Experiência subjetiva, difícil de definir exatamente Variável na intensidade, que inclui um forte componente emocional A descrição da dor do indivíduo é o indicador mais confiável 1

Dor Resposta direta a um evento indesejável: Lesões teciduais: o trauma o inflamação o câncer Independentemente de uma causa predisponente Dor Afecções dolorosas, não diretamente ligadas a lesões o comuns o incapacitantes o angustiantes o menos responsíveis aos analgésicos convencionais Podem ser distúrbios da função neural Classificação da Dor Aguda Crônica Causada por trauma: prognóstico previsível Estímulo nociceptivo excessivo Aberrações da fisiologia normal, sem qualquer estímulo precipitante 2

Prevalência E.U.A. (milhões) 25/04/2015 Prevalência de doenças associadas com dor significativa 60 50 40 30 20 54.6 43 40 25 16 15.7 Dor lombar Artrite Enxaqueca Osteoporose Osteoartrite Diabetes Artrite reumatóide Fibromialgia 10 0 2.5 2 AmericanPharmacists Association, 2004 Manejo Farmacológico da Dor Crônica Controle da dor Melhorar as funções do paciente Estabilizar as relações familiares Buscar uma vida ativa Belgrade MJ. Postgrad Med. 1999;106:115 6, 119 24. Marcus DA. Am Fam Phys. 2000;61(5):1331 8, 1345 6. Manejo Farmacológico da Dor no Cancer 3

Analgésicos Opioides Histórico Extrato do suco da papoula Ópio Papaver somniferum 1ª referência: 300 a. C. Dependência a opiáceos: desastre social Histórico Ópio 1680 Sydenham escreveu: Entre os remédios que Deus deu ao homem para aliviar seus sofrimentos, nenhum é tão universal e tão eficaz quanto o ópio Finalidades sociais e medicinais há milhares de anos euforia, analgesia e sono Sec XIX: seringas hipodérmicas e agulhas Dependência a opiáceos: desastre social 4

Histórico Ópio contém Mais que 20 alcaloides distintos Morfina Referida a Morpheus, Deus do sonho, por Set urner em 1806 Codeína Papaverina Robidequet em 1832 Merck em 1848 Metade do séc. XIX: alcaloides isolados passaram a ser utilizados no lugar do ópio Opioides Substância endógena ou sintética que produza efeitos semelhantes aos da morfina Opiaceos Substâncias derivadas da Papoula Opioides Endógenos Encefalinas São pentapeptídeos, sendo um opioide mais simples, localizadas em determinadas estruturas do SNC Endorfinas Dinorfinas São peptideos mais longos que contêm, em sua extremidade N- terminal, uma das sequências das encefalinas, sendo distribuidas mais difusamente 5

Opioides Endógenos Endorfinas Principal representante: β-endorfina Exercícios físicos, competições, danças, trabalhos extenuantes, autoflagelação, sofrimento, ferimentos, jogos, exposição ao sol, acupuntura, uso de alimentos como pimenta, chocolate, etc. 16 Receptores Opioides Receptores Responsáveis pela maioria dos efeitos analgésicos dos opioides e por efeitos adversos importantes Receptores Mais importantes na periferia, mas tampém podem contribuir para analgesia Receptores Contribuem para analgesia em nível espinal e podem desencadear sedação e disforia; menos efeitos adversos, não contribuem para dependência Mecanismo de Ação AMPA (α-amino-3-hidroxi-5-metilisoxazol-4) NMDA (N-metil-D-Aspartato) Neurotransmissores excitatórios: Glutamato, Acetilcolina, Norepinefrina, Serontonina e Substância P 6

Mecanismo de Ação Aspectos Químicos Análogos da morfina Morfina (Dimorf ) Diacetilmorfina (Heroína) Codeína (Codaten, Tylex ) Nalorfina Levalorfano Naloxona (Narcan ) Antagonista Análogos da morfina Diacetilmorfina (Heroína) Euforia, seguida de disforia; Sonolência; Disfunção sexual em altos graus; Obstipação (Prisão de ventre) e Vômitos; Miose (Contração da pupila)*; Humor bipolar. Depressão do centro neuronal respiratório; 21 7

Análogos da morfina Hidrocodona NCH 3 HO O Hidrocodona O Opiáceo semi-sintético; Agonista moderado dos receptores opiáceos; Utilizado em associação com paracetamol (Vicodin ) 22 Aspectos Químicos Série da fenilpiperidina Petidina (Dolatina ): quimicamente diferente da morfina, com ações farmacológicas semelhantes Fentanila (Fentanil ) e sufentanila (Sufenta ): derivados mais potentes com ações mais curtas, utilizados para dor crônica e complemento da anestesia Aspectos Químicos Série da metadona Metadona (Dolophine ): - A metadona não tem os efeitos euforizantes da heroína. - Uma única dose diária é compatível com uma vida ativa, estável e organizada. 8

Aspectos Químicos Série do benzomorfano Pentazocina e ciclazocina: diferem da morfina no perfil de ligação aos receptores, aprensentado efeitos colaterais um tanto diferentes Uso declinado Aspectos Químicos Derivados da tebaína Etorfina: fármaco semelhante à morfina, altamente potente, usado mais na prática veterinária Buprenorfina: agonista parcial, embora muito potente, seu efeito máximo é menor que o da morfina Etorfina Aspectos Químicos NCH 3 OH CCH 2 CH 2 CH 3 HO O CH 3 OCH 3 Etorfina Cerca de 6.000 X mais potente que a morfina Uso restrito à captura de animais selvagens; Dose habitual: 0,1 mg 27 9

Ações da Morfina Analgesia (maioria das dores agudas e crônicas) Euforia (sensação de contentamento e bem estar) e sedação Depressão respiratória Náusea e vômitos (40% dos pacientes; desaparecem com administração repetida) Constrição pupilar (miose): pupilas puntiformes são características de intoxicação por morfina da motilidade gástrica, levando à constipação Liberação da histamina (não relacionada aos receptores opioides), causando constrição brôquica e hipotensão Ações da Morfina Receptores analgesia supra-espinhal, depressão respiratória, euforia e dependência física maioria dos farmácos em baixas doses tem ação sobre este tipo de receptor Receptores analgesia espinhal, miose, sedação e disforia Receptores alterações no comportamento afetivo Receptores disforia, alucinações, estimulação vasomotora Ações da Morfina Administração: injeção (i.v e intramuscular) ou v.o Superdosagem aguda: coma e depressão respiratória 10

Ações da Morfina morfina-6-glicuronídeo: metabólito da morfina, mais potente como analgésico morfina-6-glicuronídeo e morfina: metabólitos ativos da heroína e codeína Tolerância e dependência Tolerância: desenvolve-se rapidamente acompanhada da abstinência física Administração de grandes doses a intevalos curtos Tolerância cruzada 60 mg Parada respiratória 2.000 mg (adictos) Ação farmacológica Tolerância e dependência Dependência física: caracteriza-se pela síndrome de abstinência nítida Sintomas: agitação, coriza, diarreia, tremores, piloereção Raramente evolui para dependência psicológica (desejo compulsivo pelo fármaco) 11

Tolerância e dependência Agonistas fracos de ação longa nos receptores (ex.: metadona), podem ser usados para aliviar os sintomas da abstinência) Codeína, pentazocina, buprenorfina, tramadol: menos probabilidade de causar dependência física ou psicológica Tramadol (Tramal ) 12