RESENHA ק Amigos da escola e a gestão educacional. Samuel Mendonça 1 Ana Carolina Godoy Tercioti 2



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ENTREVISTA Questões para Adauto José Gonçalves de Araújo, FIOCRUZ, em 12/11/2009

Transcrição:

180 Samuel Mendonça, Ana Tercioti RESENHA ק Amigos da escola e a gestão educacional Samuel Mendonça 1 Ana Carolina Godoy Tercioti 2 CALDERÓN, Adolfo Ignacio et. al. Gestão Educacional amigos da escola em ação. Campinas: Alínea, 2013, 170p. O livro Gestão Educacional amigos da escola em ação é o resultado do trabalho de quatro autores: Adolfo Ignacio Calderón, Pós-doutor em Ciências da Educação pela Universidade de Coimbra, e docente-pesquisador do Programa de Mestrado em Educação da Pontifícia Universidade Católica de Campinas; Elza Maria Tavares Silva, Doutora em Psicologia pela PUC-Campinas e pós-doutoranda em Psicologia pela escola Universidade Camilo Castelo Branco; Maria Angélica Batista, Doutora em Educação pela PUC-SP, docente na Universidade de Mogi das Cruzes e supervisora de ensino da rede estadual de ensino de São Paulo e Neusa Haruka Sezaki Gritti, Doutora em Psicologia pela PUC-Campinas e docente na área de Letras, atuando nas Faculdades Atibaia, na Universidade de Mogi das Cruzes e nas Fatecs, de Itaquaquecetuba e Mogi das Cruzes. Os autores discorrem sobre os acontecimentos, opiniões e contradições em torno do tão festejado Projeto Amigos da Escola Todos pela Educação, de 1999, da Rede Globo de Televisão, em parceria com a Comunidade Solidária e várias outras organizações. A pesquisa envolve os municípios de Biritiba Mirim, Mogi das Cruzes e Salesópolis, localizados na Região Metropolitana de São Paulo. Discute-se a importância do Projeto como trabalho que convida voluntários a participarem ativamente do aprimoramento das escolas. Esse Projeto apresenta diferentes perspectivas, exaustivamente examinadas, com destaque para o descaso do Estado em relação às Escolas, numa tentativa de convocar o voluntariado transferindo-lhe obrigações, deturpando o verdadeiro sentido de cidadania e colocando um pessoal adentrando o ambiente da escola em uma situação de menoridade, pois 1 Professor Pesquisador e Coordenador do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação da PUC Campinas, docente das Faculdades de Educação e Filosofia da PUC Campinas. Email: samuelms@gmail.com 2 Mestra em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (2014) na Linha de Pesquisa Políticas Públicas em Educação. Email: atercioti@yahoo.com.br

Resenha: Amigos da escola e a gestão educacional 181 se pretende que a escola seja o local de gente com maior preparo para promover a educação das crianças e dos jovens, sem contar com o despreparo que houve do pessoal envolvido: diretores, professores, funcionários e mesmo os voluntários, todos incipientes para a nova situação. Frente a esse cenário, houve reação de pesquisadores na tentativa de ponderar os prós e contras aos novos desafios, fazendo com que o Projeto se tornasse um grande motivo de questionamentos e descontentamentos, por debruçar-se no que se denominou neoliberalismo - tão duvidoso para todos -, principalmente para os agentes da Educação que sofriam de um descaso por parte dos governantes. A obra é estruturada em cinco capítulos, quais sejam: Ações e Reações no Cenário Educacional; As Contribuições das Pesquisas Acadêmicas; Participar do Projeto: motivações e expectativas; Os Amigos da Escola no Cotidiano Escolar; e Uma Importante Proposta de Trabalho Coletivo. O prefácio foi redigido pelo Professor Mário Sergio Cortella, do Programa de Pósgraduação em Educação, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Ele fornece explicações sobre os significados de voluntário e de voluntarioso, e mostra que no Brasil, todas as vezes que se pondera sobre necessidade do voluntário, existe uma resistência, pois, em nossa cultura, o dever é sempre do Estado e não do voluntário. Então quando foi lançado - em grande estilo - pela Rede Globo de Televisão, o Projeto Amigos da Escola, o pessoal especializado da Educação não parou para analisar, e não teve nenhuma boa vontade com os novos personagens: os voluntários. Ele faz referência à cautela nesses momentos de mobilização e de solidariedade, para não bloquear o olhar, até mesmo crítico sobre o que está acontecendo, embora não seja imune a falhas e deslizes. Mário Sergio Cortella analisa os pesquisadores que fizeram um inventário crítico sobre o Amigos da Escola em que se utilizam de dois capítulos para recolher argumentos contrários ao Projeto, e, ainda, a observação dos voluntários com seus encantos e desencantos, mostrando a importância do trabalho coletivo. Termina com um apelo ao princípio acadêmico honesto de compreender para então aceitar ou rejeitar. Após o Prefácio, o autor Adolfo Ignacio Calderón faz uma apresentação do livro dando maiores explicações pontuais do Projeto, por ser um tema complexo revestido de componentes políticos e ideológicos e devido ao tema conter uma estratégia neoliberal, criando um ambiente favorável à desresponsabilização do Estado. O estudo também detecta a desqualificação do profissional da educação na medida em que supervaloriza as ações voluntárias, ainda que tímidas.

182 Samuel Mendonça, Ana Tercioti No primeiro capítulo, Ações e Reações no Cenário Educacional, os autores analisam o movimento contra o Projeto Amigos da Escola, perante os estudantes universitários, sindicatos e associações de professores, mídia e professores universitários. A primeira manifestação contra o Projeto foi: Amigo da escola, inimigo da Educação Campanha pela Valorização dos Profissionais em Educação. O segundo movimento contra o Projeto foi feito por grupos políticos de jovens estudantes militantes de esquerda, como um discurso político ideológico. Outro posicionamento crítico refere-se às ações de sindicatos e associações de professores que atuam na área de Educação, que consideraram o Projeto uma estratégia do governo de Fernando Henrique Cardoso no sentido de implantar políticas públicas de caráter neoliberal, o alvo, portanto, era o governo. Outra reação ao Projeto Amigos da Escola foi formada por intelectuais: cronistas, jornalistas, sociólogos, professores e cidadãos, sendo o foco da crítica a omissão do Estado, diante do volume de impostos que se paga, portanto, uma ação contra o governo. Por fim, o último grupo da crítica, formado de professores universitários e pesquisadores, mostrando que as ações de caráter neoliberal são contrárias à garantia do direito de educação, com qualidade para todos. No segundo capítulo, As Contribuições das Pesquisas Acadêmicas, os autores narram a reação ao Projeto por meio dos trabalhos acadêmicos, pesquisas de iniciação científica e monografias de graduação, além de dissertações de mestrado. Por exemplo: em uma determinada dissertação de mestrado, aponta-se a transferência da responsabilidade do Estado para a sociedade civil e a tentativa de substituir profissionais da educação por voluntários. Outro texto apresenta as intenções neoliberais para a Educação e alerta o aspecto utilitarista da participação do voluntário. Em um terceiro texto, resultante de um curso de mestrado, mostrase o lado positivo do Projeto no sentido de que ele fortalece a gestão democrática na escola. No capítulo, são ventiladas, ainda, várias situações prós e contras do Projeto Amigos da Escola e houve a preocupação por parte da escola de os voluntários não substituírem os professores, mas não houve preocupação dos funcionários desempenharem outras atividades como limpeza, merenda, pequenos reparos e outros. No terceiro capítulo, Participar do Projeto: Motivações e Expectativas ressaltam-se diversos aspectos como: motivação, expectativas e os resultados com as escolas dos municípios de Biritiba Mirim, Mogi das Cruzes e Salesópolis. Muitas escolas se inscreveram, porém poucas participaram. O Projeto Amigos da Escola, por não ter sido claro como as pessoas envolvidas deveriam agir, resultou em frustração diante das expectativas criadas pelas propagandas televisivas. Embora tenha tido essas ocorrências, a campanha veio a facilitar a implantação de

Resenha: Amigos da escola e a gestão educacional 183 projetos bem-sucedidos com o objetivo de fortalecer a relação escola-comunidade executados pelos governos estaduais e municipais. No quarto capítulo, Os Amigos da Escola no Cotidiano Escolar, analisam-se os voluntários, sua atuação perante os diretores, que ora se manifestaram a favor ora contra a participação deles na escola, pois não se sentiram preparados para a nova situação. Muitos voluntários não hesitaram em participar da Campanha em muitos casos, pais de alunos que já participavam desses eventos movidos pelas Associações de Pais e Mestres, porém muitos não compareceram devido a fatores adversos, como pobreza, violência dos bairros, esses são os motivos alegados pelos dirigentes. Os dirigentes imaginavam que pela convocação televisiva esses voluntários fossem profissionais que iriam se dedicar pelas escolas de sua comunidade, mas isso não ocorreu, comparecendo só os voluntários idealizadores e velhos colaboradores das escolas. Os diretores tinham receio que os voluntários quisessem interferir na parte didática e pedagógica da escola, e com isso eles se mantinham numa posição de resistência; nunca permitiam que os voluntários exercessem o papel de professor, mesmo que o voluntário tivesse formação para tal. Na verdade, poucos diretores souberam lidar com o voluntário e muitos não estavam preparados para isso, porque achavam que a obrigação de manter a escola em perfeito funcionamento cabia apenas ao Estado. A presença dos voluntários tem aspectos positivos, pela compreensão e carinho com o que levavam a cabo seu compromisso e teve o aspecto negativo, de não ter uma permanência duradoura devido a vários fatores como cansaço, distância e a pouca receptividade de alguns dirigentes, pela falta de conhecimento da parte deles de como gerenciar os voluntários, tornando, assim, uma atuação desarticulada e pouco proveitosa. No quinto e último capítulo, Uma Importante Proposta de Trabalho Coletivo, expõemse as contradições e os conflitos das mensagens televisivas, feitas pelo pessoal especializado da Rede Globo de Televisão, com as mensagens constantes dos sete fascículos da Coleção Amigos da Escola, elaborada pelo Cenpec (Centro de Estudos, Pesquisa, Educação e Cultura), uma organização não governamental, que poderiam ter atingido o objetivo se tivessem elaborado conjuntamente o material, o que não ocorreu resultando duas mensagens desencontradas resultando em prejuízo para o grande Projeto. Após o quinto capítulo, temos as Considerações Finais em que os autores fazem vários apontamentos, no sentido de que Projetos a semelhança do Projeto Amigos da Escola Todos pela Educação sejam melhor pensados e estudados, para que não criem contendas e

184 Samuel Mendonça, Ana Tercioti descontentamentos, como ocorreu, principalmente por parte dos profissionais da área de Educação, reforçando o despreparo dos gestores escolares frente a projetos que envolvem voluntários. Os autores também contemplaram a obra com um apêndice para que o leitor visualizasse melhor a postura da Rede Globo e o próprio Projeto Amigos da Escola enquanto ação social. Diante do Projeto em questão, convém realçar que não se permita que a Educação seja tratada dessa maneira, por meio de Projetos que podem estar esvaziando a ação governamental diante de um dos bens importantes para os cidadãos, a educação, um bem inestimável e intransferível do homem garantido na nossa Constituição Federal, para garantir a cada um de nós o bem estar social e a paz individual. Essa observação não invalida a atuação do voluntariado que teve boa intenção de ajudar, mas não cabe a todos os envolvidos minimizar a obrigação do governo de oferecer educação de qualidade e profissionais preparados e bem remunerados para fazer prosperar o Brasil grandioso. Devemos salientar que a educação é o melhor meio de manter a integridade e a soberania do Estado. É uma obra de amplo alcance, recomendada aos interessados no campo da educação, dado que a crítica apresentada ao Projeto Amigos da Escola levanta a discussão de que qualquer intervenção na escola requer preparo por parte dos gestores de conhecimentos específicos para se garantir efetividade na implantação e gestão de programas que envolvam a participação da comunidade. No mais, é também recomendada ao empresariado interessado na educação, estudiosos da mídia, gestores da educação e interessados em trabalho voluntário nas escolas. Recebido em 02-09-2013 Aprovado em 02-02-2015