Insper Instituto de Ensino e Pesquisa Faculdade de Economia e Administração. Ana Cristina Guasti Xavier



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Transcrição:

Insper Instituto de Ensino e Pesquisa Faculdade de Economia e Administração Ana Cristina Guasti Xavier PIRATARIA NA INDÚSTRIA MUSICAL: UMA ANÁLISE DOS FATORES DE INFLUÊNCIA São Paulo 2012

Ana Cristina Guasti Xavier Pirataria na indústria musical: uma análise dos fatores de influência Monografia apresentada ao curso de Ciências Econômicas, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel do Insper Instituto de Ensino e Pesquisa. Orientador: Profa. Dra. Luciana Yeung Luk Tai Insper São Paulo 2012

Xavier, Ana Cristina Guasti Pirataria na indústria musical: uma análise dos fatores de influência / Ana Cristina Guasti Xavier São Paulo: Insper, 2012. 28 f. Monografia: Faculdade de Economia e Administração. Insper Instituto de Ensino e Pesquisa. Orientador: Profa. Dra. Luciana Yeung Luk Tai 1. Pirataria 2. Indústria musical 3. Fatores de influência

Ana Cristina Guasti Xavier Pirataria na indústria musical: uma análise dos fatores de influência Monografia apresentada à Faculdade de Economia do Insper, como parte dos requisitos para conclusão do curso de graduação em Economia. Aprovado em Dezembro 2012 EXAMINADORES Profa. Dra. Luciana Yeung Luk Tai Orientador(a) Prof. Dr. Charles Kirschbaum Examinador(a) Prof. Me. Sérgio Ricardo Martins Examinador(a)

Agradecimentos Agradeço, em primeiro lugar, aos meus pais, pelos esforços realizados para pagar o curso e me sustentar em São Paulo. Sou grata a toda a minha família por compreender e me apoiar quando passei por períodos de nervosismo, ansiedade e stress durante os últimos quatro anos. Agradeço à minha orientadora, Profa. Dra. Luciana Yeung Luk Tai, por ter se interessado pelo tema e por ter me auxiliado na elaboração deste trabalho. Agradeço ao Prof. Me. Sérgio Ricardo Martins, que também esteve pronto para me ajudar quando necessário.

Dedicatória Dedico esta monografia à minha mãe, Ana Paula Guasti Xavier, e ao meu pai, Marcelo Teixeira Xavier, que são a base dos meus valores e um exemplo de vida para mim.

Resumo XAVIER, Ana Cristina Guasti. Pirataria na indústria musical: uma análise dos fatores de influência. São Paulo, 2012. 28p. Monografia Faculdade de Economia e Administração. Insper Instituto de Ensino e Pesquisa. A digitalização e o compartilhamento de arquivos via Internet tem se tornado cada vez mais recorrente e isso também afeta a indústria fonográfica. As vendas de CDs originais caíram muito nos últimos anos, seja por causa da pirataria física (a venda de CDs sem direitos autorais), seja pela pirataria digital (obtenção de faixas de música online). O objetivo deste trabalho é analisar a influência de uma variável econômica, uma variável institucional e o preço de um bem substituto sobre as vendas de CD pirateados em cada país. As variáveis escolhidas foram, respectivamente, o PIB per capita, uma nota institucional e o preço médio do CD original ponderado por um índice de preços. Para este estudo, foi feita uma adaptação do trabalho de Peitz e Waelbroeck (2003), de acordo com os países e dados disponíveis. Os resultados encontrados indicam que os três fatores selecionados são, de fato, relevantes para a quantidade de CDs piratas vendida e isso pode ajudar governos e gravadoras a combater a pirataria musical. Palavras-chave: pirataria, indústria musical, preço de CD original, PIB per capita e qualidade institucional

Abstract XAVIER, Ana Cristina Guasti. Music Industry Piracy: an analysis of influence factors. São Paulo, 2012. 28p. Monograph Faculdade de Economia e Administração. Insper Instituto de Ensino e Pesquisa The scanning and file sharing via the Internet has become more and more frequent and it impacts the music industry. CD sales have dropped steadily in recent years, either because of physical piracy (selling CDs without copyright) or because of digital piracy (procuring music tracks online). The objective of this paper is to analyze, in each country, the influence of an economic variable, an institutional variable and the price of a substitute good on sales of pirated CD. The variables chosen are, respectively, GDP per capita, an institutional grade and the average price of original CDs weighted by a price index. This study is an adaptation of the work made by Peitz and Waelbroeck (2003), according to countries and data available. The results indicate that the three selected factors are indeed relevant to the amount of pirated CDs sold and it can be helpful to governments and record labels willing to fight music piracy. Keywords: piracy, music industry, price of original CD, GDP per capita and quality of institutions.

Sumário 1 Introdução..............................................................10 2 Revisão de Literatura.....................................................13 3 Base de Dados, Variáveis e Resultados Econométricos..........................17 4 Conclusão...............................................................21 Referências............................................................... 24 Apêndice................................................................. 27

Lista de tabelas Tabela 1 Dados utilizados para a estimação do modelo............................27 Tabela 2 Análise descritiva dos dados......................................... 28 Tabela 3 Modelo encontrado pelo Método de 2SLS...............................28

10 1 Introdução Uma canção pode ser considerada um bem público, que tem a característica de ser não-rival e não-excludente. A primeira característica significa que o fato de uma pessoa ouvir a música não evita que outras pessoas também a ouçam. A segunda implica que, uma vez que a música está disponível para uma pessoa, é impossível (ou muito difícil) prevenir que outas pessoas também tenham acesso a ela. Além disso, a música é um bem informacional, ou seja, o valor de um CD não é dado pelo seu valor físico, mas sim pelo valor de seu conteúdo (as faixas musicais gravadas nele). De acordo com a Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI), a venda global de CDs tem caído continuamente, especialmente a partir do ano 2000. A indústria da música culpa, principalmente, a pirataria por esta queda. Esta, por sua vez, é dividida entre pirataria física, que corresponde à venda de CDs feitos sem direitos autorais, e pirataria digital, que é a aquisição de arquivos de música online, tanto por compartilhamento com outros usuários (procedimento conhecido como peer-to-peer) como por download 1 na Internet. Segundo North (1994), Instituições são [...] restrições inventadas por humanos que moldam a interação humana. Por consequência elas estruturam incentivos nas trocas, sejam elas políticas, sociais ou econômicas (p. 3). O nível de desenvolvimento das instituições legais é um elemento significante na relação entre a compra legal de CDs e a pirataria musical. Quando a legislação não é tão clara ou não é crível, ou seja, quando as instituições legais são fracas, torna-se mais difícil combater o consumo ilegal de músicas. A tecnologia é um componente muito importante para a indústria da música. Com o avanço tecnológico, surgiram novos formatos de arquivos digitais, como o MP3, que ocupam menos memória e são mais fáceis de compartilhar, reproduzir e enviar via Internet. Esses tipos de arquivo permitem a regravação em outros CDs e facilitam a reprodução em larga escala com a manutenção da qualidade. A Internet também é um fator que atinge a indústria da música. Diversos sites, softwares e programas de computador utilizam a Internet para a disseminação de faixas musicais, seja para download, para compartilhamento ou para ouvir o conteúdo online. O Napster surgiu em 1999 e foi o primeiro programa a oferecer esse tipo de serviço: o programa era o intermediário entre os usuários e estes podiam baixar músicas sem pagar pelos direitos 1 Ato de baixar arquivo pela Internet.

11 autorais. Isso infringia as leis de copyright 2 e, em dezembro de 1999, a Associação da Indústria Fonográfica dos Estados Unidos (RIAA), processou o Napster. Em 2002, o site declarou falência, mas isso não deteve a dispersão do compartilhamento ilegal de música. Como alternativa, surgiu a tecnologia peer-to-peer, que não precisava de um programa para ser intermediário nas trocas de arquivos entre os usuários. Com isso, a RIAA passou a processar indivíduos (desde estudantes a assistentes de laboratório e párocos), mas isso não foi suficiente para combater o compartilhamento ilegal (JANSSENS, VANDAELE e BEKEN, 2009). Além do compartilhamento ilegal, existem outras causas para a queda das vendas: o desaquecimento da economia, a substituição por DVDs e vídeo-games e os elevados preços fixados pelas principais gravadoras. Não há motivos para se cobrar um preço tão alto pelos CDs, pois é muito fácil e barato para as gravadoras replicarem uma faixa de música em diversos CDs; com a digitalização dos arquivos, o custo de estocagem diminuiu muito. Além disso, com a Internet, surgiram novos meios de distribuição mais baratos e que não possuem problemas com o excesso ou falta de oferta, por exemplo. No entanto, o compartilhamento ilegal pode ter seu lado positivo. Segundo Laudon e Laudon (2011, p. 31): [...] pesquisadores declararam que os usuários dos serviços de compartilhamento de arquivos tendiam a aumentar seus gastos com música mais do que os não usuários, pois sua grande exposição às canções alimentava seu entusiasmo pela música em geral. Ademais, a disponibilidade de músicas online funciona como propaganda gratuita, pois pode auxiliar na divulgação de trabalhos de artistas já conhecidos ou, então, no lançamento de novos talentos; esse auxílio contribui, por sua vez, para um aumento do consumo de bens musicais, como shows e CDs, pois, ao ouvir as músicas de um determinado artista na Internet, as pessoas podem querer comprar o CD e assistir aos shows. A adaptação da indústria da música, mais especificamente das gravadoras, a esse novo modelo de negócio que está surgindo pode ser benéfica. O fato de existir o download ilegal de músicas não significa que as pessoas não estão dispostas a pagar pela música. Se for pago um valor justo por cada download, as gravadoras já deixam de perder uma grande quantia para a pirataria. Assim, as gravadoras já estão se movimentando em direção ao novo modelo. Em 2003, a Apple Computer lançou o itunes Music Sotre, que oferece mais de dois milhões de 2 Legislação que regula a produção de obras originais, como a composição musical. É uma instituição formal que surgiu para incentivar produtores de bem informacionais (no caso, os compositores) a produzirem novos produtos (no caso, canções).

12 canções e cobra 99 centavos de dólar por cada download. Em 2005, por exemplo, a IFPI estimou que as vendas mundiais de música digital haviam triplicado comparadas com 2004. Peitz e Waelbroeck (2003) estudaram, através de um cross-section entre 16 países no período de 2000 a 2001, o impacto do download de músicas sobre a venda legal de CDs. Este trabalho tem como objetivo analisar o impacto de bens substitutos e de variáveis econômicas e institucionais sobre a pirataria. Para isso, será feita uma réplica do estudo de Peitz e Waelbroeck (2003), adaptado aos países e dados disponíveis para o ano de 2005. Vale notar que, no entanto, a variável a ser explicada é o número de CDs comercializados ilegalmente através da pirataria física e não o número de CDs vendidos legalmente, como os autores analisaram. Busca-se, portanto, responder à seguinte pergunta: como, em um país, o preço de um CD original, ponderado por um índice de preços, o PIB per capita e um índice institucional influenciam na venda de CDs piratas neste mesmo país? A seção 2 será composta por uma revisão de literatura, abrangendo diferentes fatos e pontos de vista sobre o assunto. A seção 3 compreenderá uma descrição sobre a base de dados, as variáveis e o modelo utilizado, além dos resultados encontrados. Por último, a seção 4 encerra o estudo com a conclusão.

13 2 Revisão de Literatura Segundo o Committee on Intellectual Property Rights and the Emerging Information Infraestructure da National Academy (2000), pirataria é a duplicação sem autorização em escala comercial de uma obra protegida por direitos autorais com a intenção de defraudar o detentor do direito. De acordo com Cooter e Ullen (2010), quando os direitos de propriedade intelectual são eficazes, o criador (compositor, no caso) não precisa temer que sua invenção seja roubada. Ele pode difundi-la e cobrar taxas pelo uso. No entanto, quando a invenção não possui um substituto similar, a concessão de patente ou direito autoral possibilita poder de monopólio, ou seja, o vendedor pode aumentar o preço através de uma taxa, que é paga pelo usuário, mais alta. Isso leva a uma menor disseminação da invenção do que o nível que seria considerado ótimo. Os autores ainda defendem que países desenvolvidos criam mais inovações que resultam em direitos autorais ou patentes do que os países em desenvolvimento. Assim, os primeiros possuem direitos de propriedade intelectual fortes para proteger seus criadores e os segundos se beneficiam da vasta difusão tecnológica a baixo custo. Por último, Cooter e Ullen (2010) argumentam que o futuro dos direitos autorais na era digital é incerto. Uma opção é que os usuários de informações digitais poderão baixá-las via Internet, pagando um preço justo, e o direito autoral será tido como lei dominante. Outra possibilidade, porém, é que a tecnologia tornará os direitos autorais desnecessários, uma vez que modelos de criptografia de baixo custo serão mais eficientes para proteger a propriedade intelectual do que a lei. Existem diferentes fatores que levam pessoas a fazer download ilegal de músicas. Para Easley, Michel e Devarj (2003), o modelo de arquivo MP3, a disponibilidade de softwares gratuitos para codificar esses arquivos, a reprodução fonográfica digital e a facilidade com que os arquivos são transportados pela Internet são as principais ameaças para a indústria da música. Eles também afirmam que o principal problema econômico é que o custo marginal da distribuição online de música é negligenciável, o que pressiona os preços cobrados pelas gravadoras. Shapiro e Varian (1999, p. 97) comentam sobre o trade off entre proteção da propriedade intelectual e lucratividade:

14 Acreditamos que a tendência natural é os produtores se preocuparem demais em proteger suas propriedades intelectuais. O principal é maximizar o valor da propriedade intelectual, não proteger apenas por proteger. Se você perde um pouco de sua propriedade quando você a aluga ou a vende, isso é apenas um custo de se fazer negócio, assim como depreciação, perda de estoque e obsolescência. Já para Janssens, Vandaele e Beken, (2009), não é apenas o fato de a música ser um bem intangível (propriedade intelectual) e a facilidade com que os CDs são copiados que podem levar ao crime. Regulações governamentais, o nível de implementação e de enforcement delas também afetam a extensão da pirataria. Cortez e Madeira (2010) realizaram uma análise empírica a qual apontou que as receitas, com produtos de áudio, da indústria fonográfica brasileira caíram 70% entre 1999 e 2007. Esse resultado, comparado com valores mundiais, implica que o Brasil teve uma queda de receita mais acentuada e isso pode ser consequência de características institucionais do país que influenciam no comportamento dos brasileiros. Segundo Easley (2005), o maior custo que as gravadoras têm é com o desenvolvimento de novos talentos e a propaganda deles. O maior problema imposto pela distribuição online está relacionado às margens das gravadoras, pois as pessoas, ao gravarem seus próprios CDs com as músicas que quisessem, descobriram que o custo de produção não passava de alguns centavos e agora também sabem que o custo de distribuição online é próximo de zero, porque não tem CD nem embalagem. Isso eleva a expectativa das pessoas de que o preço seja justo, mas as gravadoras estão relutantes em baixa-los. Ademais, o autor afirma que as ameaças vêm de diferentes direções. Além de haver perda de valor da economia de escala de produção de CDs, mesmo no formato eletrônico existe perda de controle de formato e a tentativa de criar formatos protegidos contra a cópia não atraiu a quantidade de usuários necessários. Também há ameaça ao controle do canal de distribuição existente. É importante destacar que, atualmente, existe tanto a pirataria física (de CDs) quanto a pirataria digital (download ilegal de músicas). De acordo com Janssens, Vandaele e Beken (2009), não é a pirataria física, mas sim a digital que tem recebido muita atenção devido ao fato de ser uma das principais ameaças à indústria da música atualmente. Dentre as diversas formas que a pirataria digital pode tomar, a peer-to-peer é a principal responsável pela queda das vendas dos CDs. No entanto, a pirataria física deveria receber mais atenção, uma vez que mais de um terço dos CDs comprados mundialmente corresponde a CDs pirateados. E, como o preço desses CDs não é legal, a perda total para a economia não pode ser calculada. A questão dos preços também tem um papel importante, uma vez que as gravadoras tentam

15 manter um preço uniforme mundialmente para evitar que as pessoas importem CDs de outros países. Mas os CDs piratas custam menos da metade do preço dos CDs legalizados, o que significa que as gravadoras têm que considerar esse fator ao montarem a estratégia de precificação. Além disso, Janssens, Vandaele e Beken (2009) relacionam a pirataria física com o crime organizado, pois, uma vez que a pirataria é uma atividade ilegal que gera lucro, ela pode ser caracterizada como tal crime. Essa atividade alcança pessoas que estão dispostas a pagar pelas faixas, mas não estão dispostas a pagar o preço cobrado pela indústria musical. Os piratas da música, ao terem acesso à mesma tecnologia que as gravadoras, têm o mesmo custo marginal que estas, mas não têm o custo fixo de desenvolver os CDs que as gravadoras possuem. Isso gera uma vantagem competitiva aos piratas. No entanto, com o grande crescimento do número de downloads ilegais, até mesmo a pirataria física é afetada. Isso porque, assim como o CD é importante para a indústria musical, ele também é importante para pirataria física. Logo, o download ilegal de músicas não afeta somente a venda legalizada de CDs, mas também o número de CDs vendidos ilegalmente através da pirataria física. Não é totalmente óbvio que a disponibilidade de downloads seja prejudicial para a produção musical. De acordo com Cortez e Madeira (2010, p. 2): A disponibilidade de músicas na internet pode a princípio contribuir para a divulgação de artistas e difusão do seu trabalho. Isso poderia contribuir para o consumo de bens musicais, entre os quais shows e CDs. Ainda, de acordo com os mesmos autores, o nível de desenvolvimento das instituições legais tem grande influência sobre a disponibilidade de músicas para download na internet e compra de CDs. Janssens, Vandaele e Beken (2009) também apontam um efeito positivo do compartilhamento, que é conhecido como sampling: ao compartilhar arquivos, as pessoas podem experimentar o produto antes de decidir se compram ou não. Isso pode substituir, pelo menos em parte, os altos custos com propaganda e também aumentar a demanda por novas músicas e novos artistas mais rapidamente. Andersen e Frenz (2012) comprovaram esse efeito ao realizarem um estudo no Canadá. Quando analisaram toda a população, não encontraram correlação nem positiva nem negativa entre o uso do sistema peer-to-peer e a venda de CDs. No entanto, quando selecionaram apenas pessoas que praticam o compartilhamento peer-topeer, a correlação com o número de CDs vendidos é positiva, mesmo que seja difícil concluir o que acontece com a venda online de faixas musicais.

16 Quanto ao sucesso do formato de MP3, Janssens, Vandaele e Beken (2009), argumentam que a indústria da música reagiu de duas formas. Primeiramente, tentou desencorajar as pessoas a usarem o sistema peer-to peer através de avisos. Como não obteve sucesso, começou a processar plataformas de compartilhamento, provedores de Internet e até pessoas físicas. Isso também não fez bem à imagem da indústria. Ao perceber que os consumidores necessitavam de alternativas legais para a pirataria digital, a indústria da música decidiu oferecer as faixas para venda online. Segundo Laudon e Laudon (2011), as gravadoras resistiram ao máximo vender legalmente músicas online. Quando começaram, colocaram tantas ressalvas para prevenir abusos que, juntamente com os preços, desestimularam as pessoas a comprarem online. Mais tarde, em 2003, a Apple Corporation lançou o itunes, que oferecia um vasto catálogo de canções por menos de um dólar cada e com poucas restrições. O itunes obteve sucesso, mas as vendas digitais ainda não compensam a queda da venda de CDs. Easley, Michel e Devarj (2003) afirmam que com as ameaças à indústria da música, as gravadoras estão desenvolvendo novas capacidades para diminuir os danos. Uma ação importante foi a criação de sites que lhes proporcionam habilidades, conhecimentos, tecnologias e contatos com clientes potenciais. Além disso, esses sites ajudam a reter mais clientes, aumentam a lealdade destes para com as gravadoras e permitem a estas competir nesse novo ambiente. Assim, pode-se dizer que o modelo de arquivo MP3 forçou as gravadoras a desenvolverem o comércio online de músicas. Atualmente, os piratas de música, que participam do crime organizado na pirataria física, possuem a capacidade de vender músicas digitais, mas não o fazem porque, uma vez que as transações online deixam rastros, eles seriam facilmente pegos pelas agências do governo. Além disso, se as pessoas forem pagar por uma música digital, elas não terão incentivos a comprar uma que é ilegal, sendo que a legal está disponível com uma qualidade igual ou superior e a diferença entre os preços já não é tão grande. (JANSSENS, VANDAELE e BEKEN, 2009). No entanto, de acordo com Laudon e Laudon (2011), a situação ainda não está tão boa para a indústria, pois o número de downloads ilegais ainda corresponde a 20 vezes o número de downloads legais realizados no itunes. Além disso, as principais gravadoras já realizaram demissões e duas, das principais nos Estados Unidos, já se fundiram. Para Janssens, Vandaele e Beken (2009), uma possível solução seria legalizar o compartilhamento de arquivos e encontrar novos meios de compensar os direitos de propriedade.

17 3 Base de Dados, Variáveis e Resultados Econométricos 3.1 Base de Dados e Variáveis Utilizadas O presente estudo é de cunho empírico. O objetivo, como dito anteriormente, é analisar o impacto de bens substitutos e de variáveis econômicas e institucionais sobre a pirataria. Para isso, será realizado um cross-section entre 41 países com diferentes níveis de desenvolvimento. Por falta de dados disponíveis, o período analisado será o ano de 2005. Também devido à falta de dados, a variável a ser explicada será Vendas Piratas em milhões de unidades físicas, ou seja, o número de CDs piratas vendidos, e não o número de downloads ilegais realizados. Porém, isto não será grande problema, uma vez que parte dos piratas da música fazem downloads ilegais para a produção dos CDs piratas. O número de CDs piratas vendidos em 2005 foi encontrado no Policy Report 188 do International Federation of Phonographic Industry (IFPI). As variáveis explicativas são: Preço CD/PC: o preço legal de um CD (Policy Report 188 do International Federation of Phonographic Industry (IFPI)) em relação ao nível de preço de consumo ( Price Level of Consumption, encontrado no Penn World Table). Essa variável, medida em dólares, é uma proxy para bem substituto, já que o CD vendido legalmente pode ser um dos substitutos do CD pirata. PIB per capita: está em dólares, foi encontrado no World Bank e é uma proxy para a variável econômica, uma vez que serve como medida para o nível de desenvolvimento econômico dos países. IPR: esse índice é parte do índice final divulgado pelo International Property Rights Index (IPRI) 2008 Report, que é composto por três categorias essenciais para fortalecer e proteger o sistema de propriedade privada de um país (a primeira é o ambiente legal e político, a segunda é o direito de propriedade física e a última é o direito de propriedade intelectual). Dado que as músicas não são bens físicos, o direito de propriedade intelectual é o mais relevante e, assim, será utilizado apenas a terceira parte do índice final. O IPR é composto pela proteção dos direitos de propriedade intelectual, pela proteção de patente, pela pirataria de copyrights e pela proteção de marcas registradas. Ele é constituído de notas que podem variar de zero a dez, sendo que dez representa o nível institucional mais forte e zero é a ausência dele. O fato de o índices ser do ano de 2008 não gerará

18 maiores danos, pois as características institucionais de um país não variam muito em um período tão curto (de 2005 a 2008). A variável instrumental utilizada é Tempo Gasto com Impostos, ou seja, é o número de horas que um indivíduo gasta, por ano, realizando pagamentos de impostos. Ela foi encontrada na base de dados do Doing Business 2010, na área Paying Taxes, e é considerada uma boa proxy para a medida de imposto pago pelas produtoras de CDs legais, valor este que não foi possível ser encontrado. Isso é importante porque ela está relacionada com o preço do CD legal, mas não tem relação nenhuma com os CDs piratas, uma vez que um bem pirata é exatamente aquele que não paga impostos. Novamente, o fato de essa variável ser do ano de 2010 não terá forte impacto no resultado, porque ela é relacionada com as instituições de cada país e estas, por sua vez, não sofrem grandes alterações no prazo de cinco anos. Todos os dados utilizados para a estimação do modelo podem ser encontrados na Tabela 1 do Apêndice. As estatísticas descritivas dos dados utilizados estão contidas na Tabela 2 do Apêndice. 3.2 O Modelo Utilizado Em primeiro lugar, todas as variáveis, com exceção do IPR, tiveram as variâncias reduzidas pela aplicação do logaritmo neperiano. A variável IPR também entra no modelo como, porque se espera que quanto mais desenvolvido for o país, ou seja, quanto maior for sua nota IPR, menor será o impacto da variação de um ponto dessa nota nas Vendas Piratas (efeito marginal decrescente). Este fato poderá ser comprovado na próxima subseção. Como a variável Preço CD/PC é endógena ao modelo, ou seja, Vendas Piratas também impacta no Preço CD/PC, foi estimado pelo Método dos Mínimos Quadrados de Dois Estágios (2SLS). Para os regressores exógenos, eles próprios servem como variáveis instrumentais e para o regressor endógeno, Preço CD/PC, a variável instrumental utilizada é o Tempo Gasto com Impostos, como já foi explicado anteriormente. O modelo estimado, com as variáveis instrumentais, é: ( ) ( ) ( ) (1)

19 O resultado se encontra na Tabela 3 do Apêndice. Ao se observar os coeficientes encontrados, é possível notar que todos possuem o sinal esperado e também são relevantes ao nível de significância de 10%, o que é um bom resultado para uma amostra de 41 observações. 3.3 Interpretação dos Resultados A partir dos resultados da Tabela 3 do Apêndice, é possível fazer a interpretação dos coeficientes e. O coeficiente, a partir do modelo estimado, vale 5,668486. Isso significa que, supondo todas as outras variáveis constantes, o aumento do Preço CD/CP em 1% leva, em média, a um aumento de 5,668486% nas Vendas Piratas. O sinal está correto, pois CDs originais e piratas são bens substitutos. O coeficiente, a partir do modelo estimado, vale -1,55088. Isso significa que, supondo todas as outras variáveis constantes, o aumento do PIB per capita em 1% leva, em média, a uma queda de 1,550880% nas Vendas Piratas. O sinal está correto, pois o PIB per capita é uma medida de desenvolvimento econômico. Em relação ao IPR, tanto o coeficiente quanto o são importantes para se analisar o impacto sobre as Vendas Piratas. O valor encontrado para o coeficiente é -10,18992, ou seja, supondo todas as outras variáveis constantes, a variação de 1 ponto na nota do IPR faz com que, em média, as Vendas Piratas diminuam. No entanto, o valor positivo encontrado para o coeficiente (0,754641) indica que, quanto maior for a nota IPR de um país, menor será, em média, esse impacto da variação de 1 ponto na nota do IPR sobre as Vendas Piratas. Seguem, abaixo, as equações relacionadas ao IPR : ( ) (2) ( ) (3) A partir da equação (3), que mostra a influência dos direitos de propriedade, fica claro o que foi anteriormente explicado, ou seja, que a variação de um ponto na nota do IPR impacta de maneira variável nas Vendas Piratas, dependendo da nota que o país possui. Replicando os resultados encontrados para outros países no mundo e para outros anos, podem-se tirar conclusões interessantes em relação a políticas governamentais, analisando-se as variáveis PIB per capita e IPR, e à indústria fonográfica, analisando-se a variável Preço CD/PC.

20 Um governo realmente preocupado em combater a pirataria física de CDs, não precisa, necessariamente, desenvolver uma política específica para isso, como a elevação do número de policiais nas ruas para impedir a venda de CDs piratas. Ele pode, por exemplo, usar o dinheiro, que seria gasto com policiais extras, para outras políticas que, a longo prazo, elevem o PIB per capita e o nível institucional do país e, assim, de acordo com o modelo estimado, levem a uma queda na venda de CDs piratas. Talvez uma medida que desenvolva o PIB per capita e o nível institucional seja mais eficiente do que o aumento do número de policiais nas ruas, mas devido à falta de dados, isso não pode ser afirmado com certeza. É de interesse das gravadoras que sejam vendidos cada vez mais CDs originais. Assim, levando em conta o modelo encontrado, elas deveriam se preocupar com o preço destes CDs, ou seja, deveriam se atentar para as taxas cobradas, os custos de divulgação e outros fatores que influenciam o preço do CD vendido. Como é muito fácil para as gravadoras replicarem uma faixa de música em diversos CDs e muito barato, já que o custo marginal de estocagem e de distribuição online são muito baixos, não há motivos para que o preço de um CD original seja tão elevado.

21 4 Conclusão A venda de CDs tem caído mundialmente, principalmente a partir do ano 2000. Isso se deve a diversos fatores, como, por exemplo, o desaquecimento da economia, a substituição por DVDs e vídeo-games, os altos preços fixados pelas gravadoras e o desenvolvimento tecnológico que, juntamente com a Internet e com a facilidade de se copiar CDs, permite uma maior disseminação de faixas musicais. No entanto, um fator extremamente importante para essa queda da venda de CDs originais é a pirataria. Esta é dividida entre pirataria física, que corresponde à venda de CDs feitos sem direitos autorais, e pirataria digital, que é a aquisição online de arquivos de música, tanto por compartilhamento com outros usuários como por download na Internet. Além disso, o nível do desenvolvimento institucional de um país também é um elemento de grande influência no que tange a pirataria musical. Isso porque, quanto mais fracas forem as instituições legais, ou seja, quanto menos clara e crível for a legislação, mais difícil será combater o consumo ilegal de músicas. Assim, as regulações governamentais, o nível de implementação e de enforcement delas também afetam a extensão da pirataria. O fato de existir a pirataria, tanto física quanto digital, não implica que as pessoas não estejam dispostas a pagar pela música. Um fator importante, como já foi dito, é o preço cobrado, seja pelo CD original ou pelo download de faixas unitárias. Parte dos pesquisadores nesta área defende que a pirataria possui um lado positivo, já que pessoas que fazem downloads ilegais ficam mais expostos às canções, o que pode elevar o interesse e entusiasmo delas por música. Isso, por sua vez, funciona como propaganda gratuita, auxilia na divulgação dos artistas e pode elevar os gastos das pessoas com bens musicais (shows e CDs originais). Segundo Janssens, Vandaele e Beken (2009), a pirataria digital tem recebido muita atenção devido ao fato de ser uma das principais ameaças à indústria da música atualmente. No entanto, a pirataria física deveria receber mais atenção, uma vez que mais de um terço dos CDs comprados mundialmente corresponde a CDs pirateados. E, como o preço desses CDs não é legal, a perda total para a economia não pode ser calculada. Replicando o estudo de Peitz e Waelbroeck (2003), adaptado aos países e dados disponíveis para o ano de 2005, este estudo teve como objetivo analisar o impacto de bens substitutos e de variáveis econômicas e institucionais sobre a pirataria física. Como se pôde ser observado, o bem substituto (CD original, medido neste trabalho como Preço CD/PC ), a

22 variável econômica ( PIB per capita ) e a variável institucional ( IPR ) influenciam, exatamente com o sinal que era esperado, de maneira significante nas Vendas Piratas. A pergunta inicial deste estudo é: como, em um país, o preço de um CD original, ponderado por um índice de preços, o PIB per capita e um índice institucional influenciam na venda de CDs piratas neste mesmo país? Para responder a esta pergunta, deve-se levar em consideração os resultados econométricos encontrados na seção anterior: Supondo todas as outras variáveis constantes, de acordo com o modelo estimado, o aumento do Preço CD/CP em 1% leva, em média, a um aumento de 5,668486% nas Vendas Piratas. O sinal está correto, pois CDs originais e piratas são bens substitutos. Supondo todas as outras variáveis constantes, o aumento do PIB per capita em 1% leva, em média, a uma queda de 1,550880% nas Vendas Piratas. O sinal está correto, pois o PIB per capita é uma medida de desenvolvimento econômico. Em relação ao IPR, os coeficientes encontrados indicam que, tudo o mais constante, a variação de 1 ponto na nota do IPR faz com que, em média, as Vendas Piratas diminuam, mas quanto maior for a nota IPR de um país, menor será, em média, esse impacto da variação de 1 ponto na nota do IPR sobre as Vendas Piratas. A partir da equação (4), fica claro que a variação de um ponto na nota do IPR impacta de maneira variável nas Vendas Piratas, dependendo da nota que o país possui. Como tanto o Preço CD/PC quanto o PIB per capita e o IPR são fatores relevantes para o número de CDs piratas vendidos, um governo ou uma gravadora que deseje diminuir as Vendas Piratas poderia, por exemplo, tomar medidas que afetem estas variáveis em prol de seu objetivo. Vale ressaltar, entretanto, que a pirataria física, assim como a digital, apesar de ser um assunto de extrema importância, ainda não é muito estudada. Este fato implicou algumas dificuldades para o desenvolvimento do trabalho. Como muitos países não monitoram os dados relacionados à pirataria com muita frequência, foram encontrados dados apenas de 2005 e para 41 países, o que limitou o estudo, cujo objetivo inicial era realizar um painel com mais países e um maior número de anos. Além disso, faltaram dados como o número de downloads ilegais realizados por ano em cada país, que seria, inicialmente, a variável explicada utilizada no estudo; e o número de policiais nas ruas em cada país, que poderia ser usado como proxy para uma medida institucional.

23 Por outro lado, espera-se que este trabalho tenha colaborado para uma melhor análise da pirataria e que instigue outras pessoas a continuarem na mesma direção deste estudo, contribuindo para a complementação dele.

24 Referências ANDERSEN, Birgitte; FRENZ, Marion. The Impact of Music Downloads and P2P File- Sharing on the Purchase of Music: A Study for Industry Canada. Disponível em <http://www.ic.gc.ca/eic/site/ippd-dppi.nsf/eng/h_ip01456.html>. Acesso: em 12 abr. 2012. COMMITTEE ON INTELLECTUAL PROPERTY RIGHTS AND THE EMERGING INFORMATION INFRAESTRUCTURE, NATIONAL RESEARCH COUNCIL. The Digital Dilemma: Intellectual Property in the Information Age. National Academy Press, 2000. Disponível em <http://nap.edu/openbook.php?record_id=9601&page=23>. Acesso em: 11 abr. 2012. COOTER, Robert; ULLEN, Thomas. Direito & Economia. Tradução: Luis Marcos Sander, Francisco Araújo da Costa. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2010. CORTEZ, Igor S.; MADEIRA, Gabriel de A. Música e Pirataria na Universidade: Um Estudo Empírico. In: Encontro Nacional de Economia (ANPEC), 2010, Salvador. Anais do Encontro Brasileiro de Economia. Salvador, 2010. DOING BUSINESS. Paying Taxes. Disponível em: <http://www.doingbusiness.org/>. Acesso em: 08 out. 2012. EASLEY, Robert F. Ethical Issues in the Music Industry Response to Innovation and Piracy. Jorunal of Business Ethichs, v. 62, n 2, p. 163-168, 2005. EASLEY, Robert F.; MICHEL, John G.; DEVARJ, Sarv. The MP3 Open Standards and the Music Industry s Response to Internet Piracy. Communications of the ACM, v. 46, n 11, p. 90-96, 2003. INTERNATIONAL FEDERATION OF THE PHONOGRAPHIC INDUSTRY. Disponível em <www.ifpi.com>. Acesso em: 7 mai. 2012. INTERNATIONAL INTELLECTUAL PROPERTY ALLIANCE. Disponível em <http://www.iipa.com/>. Acesso em: 12 abr. 2012. INTERNATIONAL PROPERTY RIGHTS INDEX 2008 Report. Disponível em <http://www.eseade.edu.ar/ciima/articulos/022508ot-report.pdf>. Acesso em: 21 mai. 2012.

25 JANSSENS, Jelle; VANDAELE, Stijn; BEKEN, Tom V. The Music Industry on (the) Line? Surviving Music Piracy in a Digital Era. European Journal of Crime, Criminal Law & Criminal Justice, v. 17, n 2, p. 77-96, 2009. LAUDON, Kenneth C.; LAUDON, Jane P. Estudo de Caso: Resolvendo Problemas Organizacionais. Será que a Indústria Fonográfica Consegue Mudar de Ritmo?. In:. Sistema de Informação Gerenciais. Peason, 2011, p. 30-32. NORTH, Douglass C. Custos de Transação, Instituições e Desempenho Econômico. Rio de Janeiro: Instituto Liberal, 1994. NORTH, Douglass C. Institutions. Journal of Economic Perspectives, v. 5, p. 97-112, 1991. PEITZ, Martin; WAELBROECK, Patrick. The Effect of Internet Piracy on CD Sales: Cross- Section Evidence. Review of Economic Research on Copyright Issues, v. 1, n 2, p. 71-79, 2004. Disponível em <http://www.serci.org/2004/waelbroeck.pdf>. Acesso em: 16 mai. 2012. PENN WORLD TABLE. Disponível em <http://pwt.econ.upenn.edu/>. Acesso em: 08 out. 2012. RECORDING INDUSTRY ASSOCIATION OF AMERICA. Disponível em <www.riaa.com>. Acesso em: 12 abr. 2012. SHANG, Rong-An; CHEN, Yu-Chen; CHEN, Pin-Cheng. Ethical Decisions About Sharing Music Files in the P2P Environment. Journal of Business Ethichs, v. 80, n 2, p. 349-365, 20. SHAPIRO, Carl; VARIAN, Hal R. Information Rules: A Strategic Guide to the Network Economy. Boston: Harvard Business School Press, 1999. 368 p. SIWEK, Stephen E. The True Cost of Sound Recording Piracy to the US Economy. Institute for Policy Innovation: Policy Report #188. 2007, 28 p. Disponível em <http://www.ipi.org/ipi%5cipipublications.nsf/publicationlookupfulltextpdf/51cc65a1 D4779E408625733E00529174/$File/SoundRecordingPiracy.pdf>. Acesso em: 17 mai. 2012. THE WORLD BANK. Disponível em <www.worldbank.org>. Acesso em: 23 mai. 2012.

26 WOOLDRIDGE, Jeffrey M. Introdução à Econometria: uma abordagem moderna. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2006. 684 p.

27 Apêndice País Tabela 1: Dados utilizados para a estimação do modelo. Venda Piratas (milhões de un.) Preço CD (un) / PC (dólares) PIB per capita (dólares) IPR Horas (por ano) para pagar impostos África do Sul 14,2 0,15 5.234,31 7 200 Alemanha 7 0,15 33.542,78 8,4 221 Argentina 24,9 0,16 4.735,98 4,8 415 Austrália 2,2 0,16 34.149,49 7,9 109 Áustria 0,6 0,25 37.067,32 7,9 170 Bélgica 0,8 0,2 36.002,21 7,9 156 Brasil 32,7 0,12 4.743,26 5,1 2600 Canadá 3 0,13 35.087,89 7,8 131 Chile 9 0,1 7.253,81 6,1 316 China 424,6 0,05 1.731,13 4,4 398 Colômbia 12 0,16 3.405,40 5,5 193 Coréia do Sul 2,2 0,13 17.550,85 6,7 225 Dinamarca 0,5 0,13 47.546,59 8,1 135 Espanha 7,1 0,17 26.041,89 6,4 187 EUA 39,1 0,15 42.568,51 7,9 187 Filipinas 2,9 0,13 1.204,80 5 195 Finlândia 1,6 0,14 37.318,80 8,5 93 França 5,9 0,16 33.912,90 8,1 132 Grécia 4,5 0,21 21.620,72 5,7 224 Holanda 5,2 0,16 39.122,29 8 127 Hong Kong 1,4 0,13 26.092,25 7,2 80 Hungria 3,2 0,16 10.936,95 6,2 277 Índia 172,7 0,05 731,58 5,2 254 Indonésia 220,7 0,06 1.257,65 4,2 266 Irlanda 0,4 0,14 48.866,39 7,6 76 Itália 20,5 0,18 30.478,85 6,5 285 Japão 12,4 0,18 35.627,25 8,2 330 Malásia 2,6 0,12 5.285,50 5,8 133 México 112,3 0,09 7.972,55 5,1 347 Noruega 0,6 0,15 65.767,02 7,8 87 Nova Zelândia 0,4 0,17 26.845,74 7,9 172 Polônia 6 0,18 7.963,02 5,7 296 Portugal 1,7 0,15 18.185,62 7,1 275 Reino Unido 9,6 0,17 37.867,42 8,2 110 República Checa 2,2 0,2 12.167,90 5,8 557 Rússia 160,8 0,1 5.337,07 3,9 290 Singapura 0,3 0,1 28.952,81 7,5 84 Suécia 0,8 0,12 41.040,67 7,6 122 Suíça 0,9 0,11 50.083,37 8 63 Tailândia 17,2 0,1 2.644,02 4,6 264 Turquia 45,3 0,08 7.087,72 5,1 223 Fonte: Elaboração própria.

28 Venda Piratas (milhões de un.) Tabela 2: Análise descritiva dos dados Preço CD (un) / PC (dólares) PIB per capita (dólares) IPR Horas (por ano) para pagar impostos Média 33,95 0,14 22.952,01 6,64 268,41 Erro padrão 12,52 0,01 2.699,79 0,22 60,58 Mediana 5,20 0,15 26.041,89 7,00 195,00 Modo 2,20 0,16 #N/D 7,90 187,00 Desvio padrão 80,15 0,04 17.287,12 1,38 387,90 Variância da amostra 6.424,07 0,00 298.844.395,35 1,91 150.467,95 Curtose 14,50 0,41-0,87-1,26 34,70 Assimetria 3,60-0,08 0,33-0,38 5,69 Intervalo 424,30 0,20 65.035,44 4,60 2.537,00 Mínimo 0,30 0,05 731,58 3,90 63,00 Máximo 424,60 0,25 65.767,02 8,50 2.600,00 Soma 1.392,00 5,75 941.032,28 272,40 11.005,00 Contagem 41,00 41,00 41,00 41,00 41,00 Fonte: Elaboração própria Tabela 3: Modelo encontrado pelo Método de 2SLS Fonte: Eviews.