Integração gasífera na América do Sul sonho impossível?

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Transcrição:

Integração gasífera na América do Sul sonho impossível? Mercado de Gás na América do Sul Ieda Gomes Energix Strategy Ltd. 5 de agosto de 2013

Definição de mercado e competição George Stigler, define mercado como a área em que o preço de um bem tende à uniformidade, com deduções para os custos de transporte ( e também qualidade do bem). Preços tendem a convergir quando existe liquidez e conectividade entre mercados. Por exemplo, o preço do petróleo e recentemente o preço do GNL em mercados regionais

Definição de mercado e competição O objetivo da EU em matéria de gás natural aumentar a concorrência nos mercados nacionais e integrá-los em um único mercado regional ( os países da EU), com o objetivo de criar uma maior escolha e reduzir os preços para os consumidores por meio de aumento da concorrência

Objetivos das diretrizes de gás - UE Liberalisação dos mercados visando garantir competitividade e segurança de suprimento Interconectividade dos mercados Fim dos contratos de longo prazos Especificação do gás homogêneas nos pontos de entrada: produção, gasodutos internacionais, terminais de GNL Diversificação de suprimentos regra dos 40% Fim das destination clauses para GNL Não aceitação de production aggregators visando garantir competição na produção Aumento do número de wholesale marketers Acesso aberto ( com derrogação) aos gasodutos e terminais GNL Exceções: GNL quando utilizado por terceiros sem dominação de mercado Desverticalização da cadeia de valor Reguladores independentes Sustentabilidade energética Sucessivos pacotes gasíferos e diretrizes: 90 s, 2003, 2007

Europa vs América do Sul Europa América do Sul População 740 milhões 388 milhões Superficie 10.18 milhões km² - sem Russia Gasodutos de transporte/cross border Terminais de GNL Sistema > 200000 Km 63 24 em operação 7 em construção 17.84 million km 2 Sistema> 40000 Km 14 6 em operação 4 em construção/licitação Plantas de GNL 1 (Noruega) 2 (T&T e Peru) Reservas de gás 1348 Tcf (55 R/P) 268 Tcf (42,8 R/P) Consumo de gás 996 Bcma 165 Bcma Importação de gás 506 Bcma 42 Bcma Exportação de gás 406 Bcma 32 Bcma

País Status Reservas e R/P Brasil Importador líquido. Acesso de terceiros não efetivado. Monopólio transporte e distribuição. Preços negociados no upstream, margens reguladas downstream. Estados regulam distribuição. ANP regula upstream e midstream 16 Tcf 26 anos Argentina Importador liquido. Acesso de terceiros a gasodutos. Exclusividade geográfica distribuição, exceto grandes consumidores. Preços subsidiados. ENARGAS regula tarifas de transporte e distribuição 11,3 Tcf 8,5 anos Bolivia Exportador líquido - gasoduto YPFB é agregador de todo gás exportado 11,2 Tcf 17 anos Chile Importador líquido. Preços de gás refletem custos de importação de GNL. Orgão regulador: CNE

Uruguai Importador líquido sem produção local. Concessão exclusiva distribuição Peru Exportador líquido GNL Acesso aberto para grandes consumidores. Exclusividade distribuição 12 anos 12,7 Tcf 27,9 anos Colombia Exportador local( Venezuela e futuro GNL) Preços regulados para Gas Natural não associado (Guajira e Opón, e Gas Natural associado de Cusiana e Cupiagua. Preços livres para outros campos. CREG regula atividades downstream. 5,5 Tcf 12,9 anos Venezuela Importa gás da Colombia. PDVSA/Governo controlam cadeia de valor e preços. Ministério de Energia e Petróleo regula atividades. 196 Tcf 89 anos

América do Sul e domínio das empresas estatais Campeões nacionais com poderes monopolísticos locais: Petrobrás, YPFB, YPF, PDVSA, Ecopetrol, Petroequador Participação limitada das majors: Argentina; BP, Total. Saída da Repsol, BG e talvez Petrobrás Brasil: presença limitada de majors no suprimento Bolivia: YPFB controla marketing/agregação de gás Limitado ou nenhum acesso ao mercado para os produtores independentes

Sistemas de gasodutos e GNL TGNL GNL Peru TGNL TGNL TGNL TGNL TGNL TGNL TGNL

A importância da conectividade em situações de crise Ações dos operadores europeus quando a Rússia cortou o suprimento da Ucrânia em 2009 Fonte: Nico Keyaerts

Convergência mundial - mercado spot de GNL NBP/TTF HH Brent Fonte: FERC, preço agosto 2013, DES

Evolução de preços: subsidios vs paridade importação Fonte: CEPAL

Riscos e ameaças à integração Aumento do custo marginal de geração no Chile pós corte de gás pela Argentina Desinvestimento na Bolívia reservas caem para 11 Tcf em 2012.

Tratados e relações internacionais Projetos existentes baseados em compromissos bilaterais (binacionais) Ausência de mecanismos para Promoção do investimento. Por ex. EU reservou 9 bilhões de Euros para Corredor Sul. Coordenação de operação Resolução de conflitos

Tratados e relações internacionais Miriade de associações de promoção sem decisão vinculante: Associação Latino-americana de Integração (ALADI) Organização dos Estados Americanos (OEA) Associação Regional de Empresas de Petróleo e Gás Natural A. Latina/ Caribe (ARPEL) OrganisaçãoLatino-Americana de Energia (OLADE), Comissão de integração energética (CIER), Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul- Americana (IIRSA), União de Nações Sul-Americanas (UNASUL), Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), CAN (Comunidade Andina de Nações) CAF (Corporação Andina de Fomento) Conselho Energético Sul-Americano.

Requisitos para integração gasífera na América do Sul Ente integrador com visão de longo prazo e pacotes diretivos vinculantes Conectividade infraestrutura de transporte conectando os diversos mercados Não imposição de barreiras alfandegárias Qualidade do gás homogênea/intercambiável em todos os pontos de entrada Marco regulatório contemplando trocas, swaps, acesso à capacidade, tarifas de trânsito Existência de suprimentos excedentes exportáveis

Projetos de gasodutos estruturantes Investimentos > US$ 100 bilhões Quito-Cali 700 Km Venezuela-Brasil 6000 Km Peru-Brasil 3000 Km Pisco-Mejillones 1500 Km Chile-Bolivia 850 Km GASIN Argentina-Paraguai- Brasil 5250 Km Bolivia-Paraguai 846 Km Transiguazu Argentina-Brasil 3000 Km Argentina-Paraguai-Brasil 3100 Km

Conclusões Não existem excedentes de gás suficientes para alimentar grandes projetos de exportação na AS. Dúvidas sobre a capacidade da Bolívia e Venezuela em exportarem no longo prazo Futuros projetos de gasodutos internacionais requerem âncora de consumo e compradores com forte balance sheet : mercados rarefeitos no traçado de gasodutos estruturantes

Conclusões Inexistência de políticas de longo prazo e de marco regulatório regional e vinculante Mercosul não tem poderes para impor diretrizes e regulação. Existe infra-estrutura para integração no Cone Sul, mas questões geopolíticas, histórico de default e questões fiscais são barreiras importantes: Chile, Peru, Bolivia ( razões políticas e históricas) Argentina, Chile, Brasil, Uruguay ( default de suprimento)

OBRIGADA ieda@energixstrategy.com