SUPLEMENTO DO PROFESSOR As regras do jogo LANNOY DORIN Elaborado por Janaina Tiosse de Oliveira Corrêa
SUGESTÕES DIDÁTICAS A partir da migração da família de Raimundo e Arminda, o livro As regras do jogo aborda sérias questões de nossa sociedade: desenvolvimento econômico e desigualdades sociais, exclusão social, delinquência juvenil, trabalho infantil, desestruturação familiar, alcoolismo, urbanização e favelização, entre outros. Qual será a saída para superar todas essas barreiras? Os personagens do livro representam as pessoas reais que vivem esses problemas cotidianamente: aqueles que se desesperam, mas se acomodam; aqueles que se revoltam contra todo o sistema, passando a viver à margem da sociedade; e aqueles que lutam com as poucas armas que têm e se agarram às oportunidades que aparecem, utilizando as ferramentas do próprio sistema para vencer na vida. Este suplemento propõe algumas atividades que podem ser desenvolvidas em sala de aula, segundo seus critérios pedagógicos e o perfil dos alunos, ficando a seu cargo a proposição de outras discussões e atividades. HERÓI CONTEMPORÂNEO Mateus é um garoto pobre, afrodescendente, abandonado pelo pai verdadeiro e rejeitado pelo pai adotivo, que com dedicação, empenho e boa vontade consegue vencer a miséria seguindo as regras do próprio sistema. Contrariando todas as expectativas, ele se torna um filho zeloso, rapaz estudioso e trabalhador. Analisando a trajetória de vida de Mateus, podemos classificá-lo como um herói contemporâneo, que venceu muitos obstáculos, escapou das tentações da marginalidade para se tornar um exemplo a ser seguido. Problematizando todas essas questões, proponha a montagem de um painel em sala de aula que analise todos os obstáculos enfrentados por esse personagem. Para iniciar a atividade, levante entre os alunos suas interpretações sobre o título do livro, escrevendo todas as respostas no painel. Prossiga a atividade propondo as seguintes questões: quais são as dificuldades encontradas pelos negros no Brasil? Por que muitas vezes renegamos nossa origem, mascarando nossa identidade, como quando Mateus afirma não ser negro? O fato de ser rejeitado pelo pai adotivo poderia deixar quais possíveis marcas na personalidade dele? Quais pers- 2
pectivas de vida pode ter um catador de garrafas de vidro? Como é a escola pública no Brasil e que tipo de futuro essa escola pode proporcionar para garotos como Mateus? Qual é a porcentagem de pessoas que estudaram em escolas públicas dentro das universidades públicas e que fator explica esse número? Quais seriam as barreiras sociais impostas a um possível namoro entre Mateus e Manoela, mesmo ambos sendo afrodescendentes? A que se deve o fato de ele vencer a miséria? Ao final da montagem do painel, com todas as respostas e interpretações dos alunos, peça que, individualmente, eles pensem em quem consideram um vencedor, assim como Mateus. Esse herói real pode ser uma pessoa do convívio do aluno, a quem ele admira pela trajetória de vida, segundo as regras do jogo, ou, caso ele não conheça pessoalmente ninguém, pode ser uma personalidade: político, atleta, escritor, músico, empresário etc. Os alunos devem escrever uma breve biografia da pessoa admirada e apresentá-la em sala de aula. DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E DISTRIBUIÇÃO DE RIQUEZA A família de Mateus saiu de uma cidade pequena para uma maior, em busca de novas oportunidades. Para entender os motivos de deslocamento de milhares de brasileiros, em parceria com o professor de Geografia, proponha uma análise do território brasileiro e do desenvolvimento econômico do país. Leve um mapa do Brasil ou do estado de São Paulo para a sala de aula e peça aos alunos que localizem Tambaú e Campinas. Oriente-os a pesquisar a distância entre as duas localidades, o número populacional de cada cidade, o tamanho do território, suas atividades econômicas e, consequentemente, as possibilidades de emprego existentes e possíveis carências que a população da cidade pode sofrer. Depois, amplie o exercício pedindo aos alunos que identifiquem a cidade onde moram e respondam se ela é um polo econômico que recebe migrantes ou uma cidade pequena cuja população se caracteriza como migrante. Refletindo sobre a história do livro 3
e seus conhecimentos a respeito do movimento migratório no Brasil, responda o que os migrantes de sua cidade procuram que a economia local não pode oferecer, ou, se você vive num polo econômico avançado, quais são as características dos migrantes que chegam à cidade e o que eles procuram. Ainda observando o mapa, peça que os alunos assinalem todas as cidades ricas do país, caracterizadas pela presença de indústrias, comércio e serviços. Questione se a riqueza gerada nessas grandes cidades alcança todo o território e, principalmente, as pessoas menos favorecidas que habitam esses centros. Levante também os principais problemas enfrentados pelas populações das pequenas cidades: pobreza, desemprego, isolamento, concentração de terras etc. Em contraposição, fale sobre as consequências do excesso de gente nos grandes polos econômicos: desemprego, marginalidade, falta de assistência e urbanização descontrolada. Colocadas todas essas questões, peça que, em grupos, os alunos façam uma pesquisa sobre o PIB do Brasil, características industriais, dados de exportação e renda per capita. E depois, refletindo se o Brasil é ou não um país pobre, quais seriam as possíveis causas para a concentração de renda e a má distribuição de riqueza, e o que poderia ser mudado no país. A ideia do exercício não é levantar respostas fechadas, mas problematizar as causas da existência de uma reduzida elite riquíssima e, em contrapartida, de milhares de famílias pobres como a de Raimundo e Arminda. DELINQUÊNCIA JUVENIL João e Pedro tornaram-se delinquentes juvenis porque se revoltaram contra o sistema que os oprimia, não vislumbrando nele nenhuma possibilidade de mudança, assaltando pessoas que diretamente não tinham relação com a situação social deles. Rita e Rosana se entregaram por um período à prostituição, também chamada de vida fácil, quando perceberam que como empregadas domésticas jamais conseguiriam mudar de vida. Peça aos alunos uma pesquisa sobre prostituição e levante entre eles se a vida das prostitutas é realmente fácil. Depois peça 4
que façam uma pesquisa sobre os centros de recuperação de menores e respondam se esses centros conseguem cumprir o objetivo de recuperar os menores infratores. Questione sobre qual seria a melhor situação: jovens que sofrem maus-tratos nos centros de recuperação, porque são bandidos e merecem apanhar, fazendo crescer sua revolta, ou jovens que estudaram lá dentro, aprenderam um ofício e, estão preparados para conviver em sociedade? João e Pedro apanharam da polícia e, na prisão, João descobriu que somente os pobres estão na cadeia, enquanto políticos e empresários corruptos e sonegadores dificilmente ficam na penitenciária e, no máximo, cumprem prisão domiciliar. Problematize essas questões com os alunos, fale sobre os motivos que levam crianças e jovens a entrarem na criminalidade, contraponha as noções de falta de caráter, malandragem e sem-vergonhice às de revolta, falta de resignação e ausência de perspectivas de futuro. Inicie uma discussão em sala de aula sobre a redução da maioridade penal, a negligência em relação aos crimes de colarinho-branco e até mesmo assassinatos quando se trata de gente rica e poderosa. Fale sobre o caso da freira e militante norte-americana Dorothy Stang e o processo de julgamento dos envolvidos no crime. Destaque a importância do trabalho e do estudo para a ascensão de pessoas que vivem na extrema pobreza como sendo os meios legais e seguros de sobrevivência, mas não deixe de falar sobre as altas porcentagens de desemprego ou subempregos que exaurem as forças dos trabalhadores, não os permitindo mudar de vida. Fale também da situação do sistema educacional no Brasil, onde boa parte dos alunos se forma no Ensino Fundamental e Médio como analfabetos funcionais. Questione de que maneira esses alunos conseguirão um bom emprego e como passarão nos vestibulares das universidades. Fale sobre a desagregação familiar como uma das características da delinquência juvenil, visto que muitos pais não conhecem a rotina dos filhos, quem são seus amigos, seus projetos e sonhos para o futuro, e não impõem limites nem zelam por sua educação. Termine essa discussão pedindo que os alunos reflitam sobre as diferenças entre delinquir e transgredir: 5
quais são os caminhos possíveis para evitar que muitos jovens tornem- -se delinquentes? Em quais casos a transgressão é parte fundamental da personalidade do jovem e ferramenta para transformar a sociedade? IDEOLOGIA O professor Ricardo se considerava marxista e sentia-se culpado por não fazer nada para reverter as desigualdades sociais. Procurando compreender sua ideologia e em parceria com o professor de História, organize um debate opondo marxismo e liberalismo. Divida a sala em grupos e peça que alguns deles pesquisem e defendam os ideais marxistas, sua origem, relação com a religião e a Igreja, teologia da libertação e experiências reais de revolução pelo mundo. Outros alunos deverão falar sobre a origem do liberalismo, seus princípios, a relação com as religiões católica e protestante, o assistencialismo e as diferentes experiências entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento. Os professores deverão mediar o debate e comentar os argumentos de cada grupo. FAVELIZAÇÃO Em parceria com o professor de Artes, sugira aos alunos uma pesquisa sobre as condições de vida nas favelas, sua arquitetura, planejamento, saneamento básico, perfil dos moradores etc. Depois, em grupos, peça aos alunos que confeccionem uma maquete representando uma favela e escrevam uma poesia sobre a vida nesses lugares. Unindo poesia e imagem, os trabalhos poderão ser expostos para toda a escola, em espaço apropriado. MÚSICA Muitas músicas brasileiras cantam os reflexos sociais de nosso país. Assim, sugerimos levar algumas delas para a sala de aula para que os alunos analisem a letra e compare-as com a história do livro. A canção Deus lhe pague, de Chico Buarque, permite analisar as condições de trabalho insalubre, o alcoolismo, a falta de tempo para 6
amar e o conformismo de nosso povo. A canção Miséria S.A., de O Rappa, permite abordar a mendicância e a comparação com o trabalho dos coletores de vidros. Peça que os alunos também sugiram músicas relacionadas ao assunto para serem interpretadas em sala de aula. Além do som, imprima a letra das canções e distribua na sala de aula para que todos possam mais facilmente analisar as músicas e também escrever sobre suas impressões. Respostas e comentários do Suplemento de atividades 1 a) Como o desenvolvimento econômico não chega a todas as regiões do país, as pessoas se concentram nas áreas industrializadas, que não dão conta de absorver toda a mão de obra existente. Essa situação faz com que exista muito desemprego e também que as empresas, aproveitando-se da grande oferta de trabalhadores, paguem salários muito baixos. b) Desenraizamento significa perder as raízes, as características de origem. O aluno deve compreender o que a família de Raimundo e Arminda deixou para trás, como sua história com a cidade, a vivência e a comunhão entre os habitantes dela, os amigos, o ofício que aprenderam para sobreviver, as práticas cotidianas, o lazer etc. 2 Resposta pessoal. 3 Resposta pessoal. O aluno deve tomar consciência do valor da sobrevivência (casa, comida, saúde, educação, lazer etc.) e refletir sobre a exclusão social de milhões de brasileiros. 4 Por causa da miséria e da urgente necessidade de ajudar com o orçamento familiar, alguns filhos largaram os estudos e foram se afastando do lar para ganhar dinheiro a qualquer custo, seja com a prostituição ou a criminalidade. Os pais não tinham o controle do paradeiro dos filhos, pois precisavam trabalhar e aceitar o dinheiro que vinha deles. 7
Além disso, a degradação da família levou ao alcoolismo do pai, que não se conformava com toda essa situação. 5 F, F, V, F, V, F, V. 6 O Brasil, por conta da escravidão, tem uma forte história de exploração dos negros. Essa história deixou marcas no povo que envolvem sentimentos de superioridade, culpa, revolta, humilhação, orgulho, aceitação e não aceitação. O preconceito é causado pela visão equivocada de uns perante outros, e uma das formas de lidar com ele é entender a história de seu país, reconhecer-se nessa história e aceitar-se socialmente, tendo orgulho de suas raízes. Ao reivindicar o direito de ser igual, lutamos contra o preconceito e quebramos o sentimento de superioridade que algumas pessoas insistem em ter. 7 Alternativa D. 8 Resposta pessoal. Os alunos devem refletir sobre as desigualdades sociais, a impunidade dos crimes de colarinho-branco, o mau funcionamento do Estado nas áreas de educação, saúde, trabalho, distribuição da riqueza, sistema prisional etc. 9 Resposta pessoal. 8