DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO Nº 353169-23.2013.8.09.0137 (201393531695) COMARCA DE RIO VERDE : MINISTÉRIO PÚBLICO : EURÍPEDES FELIZARDO NUNES



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Transcrição:

DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO Nº 353169-23.2013.8.09.0137 (201393531695) COMARCA DE RIO VERDE AUTOR RÉU : MINISTÉRIO PÚBLICO : EURÍPEDES FELIZARDO NUNES APELAÇÃO CÍVEL APELANTE APELADO RELATOR : MINISTÉRIO PÚBLICO : EURÍPEDES FELIZARDO NUNES : CARLOS ROBERTO FÁVARO JUIZ DE DIREITO SUBSTITUTO EM 2º GRAU DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMÓVEL RURAL. RESERVA LEGAL. AVERBAÇÃO. NOVO CÓDIGO FLORESTAL. FACULDADE DO PROPRIETÁRIO. CADASTRO AMBIENTAL RURAL/CAR. CRIAÇÃO NO ESTADO DE GOIÁS. AUSÊNCIA DE IMPLANTAÇÃO COMPLETA DO SISTEMA PARA ANÁLISE DOS CADASTROS DOS PROPRIETÁRIOS. NECESSIDADE DE AVERBAÇÃO JUNTO À MATRÍCULA DO IMÓVEL. MULTA DIÁRIA EM CASO DE DESCUMPRIMENTO. INDENIZAÇÃO. DANOS AMBIENTAIS NÃO DEMONSTRADOS. 1. O novo Código Florestal (Lei Federal nº 12.651/12), assim como o anterior, manteve a obrigação de constituição de área 1

de reserva legal nos imóveis rurais, porém facultou sua averbação junto ao Cadastro Ambiental Rural CAR, não mais subsistindo a obrigatoriedade de averbação da área de reserva legal na matrícula do imóvel. Contudo, o presente caso é dotado de peculiaridades, uma vez que o sistema de cadastro aludido ainda não foi devidamente implantado no Estado de Goiás, fazendo com que persista a obrigação de averbar a reserva legal junto ao Cartório de Registro de Imóveis, sob pena de multa diária para o caso de descumprimento. 3. Não existindo nos autos provas da degradação ambiental no imóvel rural do apelado, não subsiste o pedido de indenização. 4. Remessa Obrigatória e Apelação Cível conhecidas e parcialmente providas (art. 557, 1ºA, do CPC). DECISÃO MONOCRÁTICA Trata-se de DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO E APELAÇÃO CÍVEL em face da sentença proferida pelo Juiz de Direito da Vara das Fazendas Públicas da Comarca de Rio Verde, Márcio Morrone Xavier, nos autos da Ação de Civil Pública proposta pelo MINISTÉRIO PÚBLICO em face de EURÍPEDES FELIZARDO NUNES. A ação foi ajuizada pelo Ministério Público, com base em Inquérito Civil, para investigar degradação ambiental em área de 2

preservação permanente e de reserva legal da Fazenda Cambaúbas, de propriedade do réu/apelado. Na ação, objetivou-se que o requerido procedesse à instituição da reserva legal nos imóveis rurais de sua propriedade, bem como a averbação daquela à margem da matrícula junto ao Cartório de Registro de Imóveis, bem como multa diária para o caso de descumprimento das medidas postuladas e a condenação do réu em indenização, no valor de R$ 500.000,0, correspondente aos eventuais danos ambientais. Decisão às fls. 36/42, deferindo ao autor a medida liminar pleiteada, sob pena de multa diária de R$ 5.000,00 para o caso de descumprimento das obrigações de fazer ora determinadas. Contestação ofertada pelo requerido às fls. 49/51, rebatendo as alegações de degradação ambiental, reserva legal e reserva permanente, sob o argumento de que a sua propriedade rural é administrada com observância à legislação do meio ambiente. 52/72. Apresentou com a contestação os documentos às fls. contestação, fls. 75/79. O Ministério Público apresentou impugnação à Intimadas as partes para demonstrar interesse na 3

produção de provas (fl. 80), o requerido apresentou interesse na oitiva de testemunhas (fl. 84), enquanto o autor informou que não deseja especificar provas (fl. 87). dos documentos de fls. 115/119. Petição juntada pelo requerido à fl. 114, acompanhada Audiência de Instrução e julgamento realizada, na qual foram ouvidas duas testemunhas arroladas pelo requerido (fls. 120/121). Razões finais apresentadas pelo Ministério Público às fls. 124/140, reiterando alegações da inicial. Já o requerido ofereceu alegações finais às fls. 151/153, informando que já procedeu o pedido de registro de inscrição do imóvel rural no CAR, com a demarcação da reserva legal. termos (fls. 154/157): O ato judicial atacado restou exarado nos seguintes Trata-se de ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público do Estado de Goiás, em face de Eurípedes Felizardo Nunes. Não foram suscitadas preliminares, assim, passo ao exame do mérito. Ao que ressai dos autos, o Ministério Público ajuizou a presente ação, objetivando seja o Requerido compelido a cumprir a obrigação legal de realizar a averbação da reserva legal no imóvel de sua propriedade. Pois bem. Conforme Informação nº 687/2014 da Corregedoria-Geral de Justiça, o Cadastro Ambiental Rural CAR, foi implementado pelo Decreto Federal nº 4

8235/2014 e da IN 02/2014, em face do que no dia 07/05/2014, o Governo Federal liberou para os Estados a operacionalização do Sistema CAR para envio de declarações, que emitirão um recibo a ser apresentado nos Cartórios de Registro de Imóveis. Assim, seguindo orientação da Corregedoria-Geral de Justiça por meio do Ofício Circular nº 123/2014-SEC, bem ainda a Decisão Liminar deferida pelo Conselho Nacional de Justiça no Procedimento de Controle Administrativo nº 0002118-22.2013.2.00.0000, tem-se que com a implantação do Cadastro Ambiental Rural CAR, a averbação da reserva legal no Registro de Imóveis passou a ser facultativa, restando a obrigação de registro tão somente no Cadastro Ambiental Rural. Deste modo, considerando que o Requerido procedeu a inscrição do imóvel rural objeto da presente ação junto ao Cadastro Ambiental Rural - CAR, conforme comprovam os documentos acostados às fls. 115/116 e 122, a manutenção da exigência da averbação da reserva legal é uma burocratização desnecessária, tendo em vista a eficiência do Cadastro, tornando-se desnecessária a averbação da reserva legal. Nesse mesmo sentido, dispõe o artigo 18, do Novo Código Florestal Lei nº 12651/12, verbis: Art. 18. A área de Reserva Legal deverá ser registrada no órgão ambiental competente por meio de inscrição no CAR de que trata o art. 29, sendo vedada a alteração de sua destinação, nos casos de transmissão, a qualquer título, ou de desmembramento, com as exceções previstas nesta Lei. ( ) 4º. O registro da Reserva Legal no CAR desobriga a averbação no Cartório de Registro de Imóveis, sendo que, no período entre a data da publicação desta Lei e o registro no CAR, o proprietário ou possuidor rural que desejar fazer a averbação terá direito à gratuidade deste ato. Logo, a improcedência dos pedidos contidos na inicial é a medida que se impõe, posto que não subsiste a 5

obrigação de averbação da reserva legal no Cartório de Registro de Imóveis. Por todo o exposto, JULGO IMPROCEDENTE os pedidos iniciais, oportunidade em que revogo a liminar concedida às fls. 36/42. Sem custas. Sem honorários. Inconformado, o apelante (Ministério Público) interpôs o presente recurso, fls. 159/165, afirmando que instaurou inquérito civil por meio da Portaria G-502/2010, restando apurado que o apelado negligenciou com cuidados ao meio ambiente, uma vez que o imóvel rural de sua propriedade não havia averbação da área de reserva legal. Ressalta que o princípio da prevalência do meio ambiente, precaução e preservação, pilares do novo direito ambiental, induzem a entender a necessidade de proteger o patrimônio pertencente às presentes e futuras gerações. Diz que a existência de Reserva Legal é indispensável e necessária ao uso sustentável dos recursos naturais, bem como à conservação e reabilitação dos processos ecológicos, servindo ainda para conservação da biodiversidade e ao abrigo e proteção da fauna silvestre e flora nativas (art. 3º, inciso III, da Lei n. 12.651/2012). Pontua que o antigo Código Florestal de 1965 previa que o controle deveria ser feito por meio da averbação da área no Registro de Imóveis, sendo esta obrigação confirmada pela Lei n. 6.015/1973, ainda em vigor. Assim, diz que o novo Código Ambiental constou, em seu art. 12, que 6

todo o imóvel rural deve manter área com cobertura de vegetação nativa, a título de Reserva Legal, não havendo, portanto, alteração acerca da obrigação de preservar parte da cobertura vegetal nativa na propriedade rural. Discorre que apenas o registro da reserva legal no CAR desobriga a averbação no Cartório de Registro de Imóveis, ou seja, o registro no Cadastro Rural é fator crucial para a total aplicação do preceito legal, sendo que se não há registro/cadastro, permanece a obrigação imposta pela lei n. 6.015/73 para averbação na matrícula do imóvel, uma vez que o novo Código Florestal não preconiza liberação geral e abstrata. Alega que embora exista o Cadastro Ambiental Rural (CAR), este ainda não está em pleno funcionamento no Estado de Goiás, conforme informações encaminhadas pela atual Secretária de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, por meio de ofício datado de 12/09/2014, estando em uso apenas o módulo cadastro e emissão de protocolo, não havendo apreciação de nenhum cadastro. Sustenta que pela demonstração realizada, verificouse que é um 'auto lançamento', em que o próprio proprietário baixa a página do Ministério do Meio Ambiente, insere seus dados e com o cursor em uma imagem do mapa da área, indica os limites das áreas de reserva legal e preservação permanente, de imediato já sendo gerado o protocolo. Aduz que persiste a obrigação de averbar a reserva legal enquanto não estiver funcionando de forma efetiva o CAR, uma vez que a 7

faculdade de averbar depende da opção pelo Registro no Cadastro Rural, situação que se coaduna com o princípio da prevenção ambiental, tal qual previsto pela lei n. 6.938/1981. Pondera que o legislador não agiu de modo correto ao extirpar do ordenamento jurídico a obrigatoriedade da averbação da reserva legal na matrícula do imóvel, conforme previsão contida no 4º, do art. 18, da Lei Federal n. 12.651/12, uma vez que referida medida vai de encontro à eficiência e segurança jurídica e afronta o princípio da concentração no Registro Público. recurso, nos moldes acima delineados. Ao final, pugna pelo conhecimento e provimento do Dispensado o preparo, ante a isenção legal. Intimado, o apelado apresentou contrarrazões às fls. 170/174, ocasião em que refutou os argumentos expendidos no recurso e pugnou pela manutenção da sentença objurgada. Instada a se manifestar, a douta Procuradoria Geral de Justiça opinou que fosse acrescentado ao presentes feito o Duplo Grau de Jurisdição e, no mérito, opinou pelo conhecimento e provimento da remessa obrigatória e da apelação cível (fls. 179/196). É o relatório. Passo a decidir. 8

Presentes os pressupostos de admissibilidade, passo simultaneamente ao reexame necessário e à apreciação da apelação. Por se tratar de questão abrangida pelo disposto no artigo 557, do CPC, e Súmula 253 do STJ, passo a decidir monocraticamente. Conforme relatado, cuida-se de DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO E APELAÇÃO CÍVEL em face da sentença proferida pelo Juiz de Direito da Vara das Fazendas Públicas da Comarca de Rio Verde, Márcio Morrone Xavier, nos autos da Ação de Civil Pública proposta pelo MINISTÉRIO PÚBLICO em face de EURÍPEDES FELIZARDO NUNES. A ação foi ajuizada pelo Ministério Público, com base em Inquérito Civil, para investigar degradação ambiental na área de preservação permanente e de reserva legal da Fazenda Cambaúbas, de propriedade do réu/apelado. Na ação, objetivou-se que o requerido procedesse à instituição da reserva legal nos imóveis rurais de sua propriedade, a averbação desta na matrícula junto ao Cartório de Registro de Imóveis, bem como multa diária para o caso de descumprimento das medidas postuladas e a condenação do réu em indenização, no valor de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais), correspondente aos danos ambientais. Pois bem, como se sabe, é dever do proprietário ou possuidor de imóveis rurais, mesmo em áreas onde não houver florestas, adotar 9

as providências necessárias à restauração ou à recuperação das formas de vegetação nativa, para se adequar aos limites percentuais previstos no Código Florestal. Outrossim, o meio ambiente ecologicamente equilibrado é direito que a Constituição assegura a todos, conforme art. 225 da CF, tendo em consideração as gerações presentes e futuras, daí a obrigação de os proprietários rurais procederem com a delimitação e averbação da reserva florestal. O instituto da reserva legal, por definição normativa, é a área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, com função de garantir o uso econômico e a reabilitação dos processos ecológicos e gerar a conservação da biodiversidade, bem como o abrigo e a proteção de fauna silvestre e da flora nativa (art. 3º, inciso III, da Lei nº 12.771/12). O jurista PAULO AFFONSO LEME MACHADO, em sua obra DIREITO AMBIENTAL BRASILEIRO, esclarece que: "A Área de Reserva Legal tem como funções: (1) assegurar o uso econômico de modo sustentável dos recursos naturais do imóvel rural; (2) auxiliar a conservação dos processos ecológicos; (3) auxiliar a reabilitação dos processos ecológicos; (4) promover a conservação da biodiversidade; (5) promover o abrigo da fauna silvestre e da flora nativa; (6) promover a proteção da fauna silvestre e da flora nativa. As funções mencionadas estão apontadas no art. 3º, III, da Lei 12.651, de 25.5.2012." (in Direito Ambiental Brasileiro; Editores Malheiros - 21ª edição; São Paulo - 2012; pág.902). 10

Assim, fica evidente que o objetivo primordial da reserva legal é a preservação do meio ambiente em determinado espaço territorial rural, evitando-se, assim, a ação destruidora do ser humano. Daí, toda propriedade rural, seja na legislação anterior (Lei nº 4.771/65) quanto no atual Código Florestal (Lei nº 12.651/2012), deve possuir uma área de reserva legal. Confira: Lei n. 12.651/2012. Art. 12. Todo imóvel rural deve manter área com cobertura de vegetação nativa, a título de Reserva Legal, sem prejuízo da aplicação das normas sobre as Áreas de Preservação Permanente, observados os seguintes percentuais mínimos em relação à área do imóvel, excetuados os casos previstos no art. 68 desta Lei: I - localizado na Amazônia Legal: a) 80% (oitenta por cento), no imóvel situado em área de florestas; b) 35% (trinta e cinco por cento), no imóvel situado em área de cerrado; c) 20% (vinte por cento), no imóvel situado em área de campos gerais; II - localizado nas demais regiões do País: 20% (vinte por cento). O STJ já reconheceu que a averbação da reserva florestal é condição para a prática de qualquer ato que implique transmissão, desmembramento ou retificação de área do imóvel. (REsp 831212/MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, 3ª Turma, julg. 01-09-2009). Evidente, desse modo, a obrigação do requerido em providenciar a reserva legal nos imóveis rurais de sua propriedade, a fim de evitar degradação ambiental, que, com a determinação liminar, foi cumprida, 11

conforme documentos às fls. 52/72. Concernente à obrigação de o proprietário rural proceder com a averbação da reserva legal junto ao Cartório de Registro de Imóvel à margem da matrícula dos imóveis, ressalta-se que o novo Código Florestal desobrigou de forma expressa, uma vez que pela nova legislação, a imposição será apenas quanto à inscrição junto ao Cadastro Ambiental Rural/CAR. A este respeito, veja-se o disposto na Lei n. 12.651/2012 e Lei Estadual n. 18.104/2013: Lei n. 12.651/2012: Art. 18. A área de Reserva Legal deverá ser registrada no órgão ambiental competente por meio de inscrição no CAR de que trata o art. 29, sendo vedada a alteração de sua destinação, nos casos de transmissão, a qualquer título, ou de desmembramento, com as exceções previstas nesta Lei. 1º A inscrição da Reserva Legal no CAR será feita mediante a apresentação de planta e memorial descritivo, contendo a indicação das coordenadas geográficas com pelo menos um ponto de amarração, conforme ato do Chefe do Poder Executivo. (...) 4º O registro da Reserva Legal no CAR desobriga a averbação no Cartório de Registro de Imóveis, sendo que, no período entre a data da publicação desta Lei e o registro no CAR, o proprietário ou possuidor rural que desejar fazer a averbação terá direito à gratuidade deste ato. ( ) Art. 29. É criado o Cadastro Ambiental Rural - CAR, no âmbito do Sistema Nacional de Informação sobre Meio Ambiente - SINIMA, registro público eletrônico de âmbito nacional, obrigatório para todos os imóveis rurais, com a finalidade de integrar as informações 12

ambientais das propriedades e posses rurais, compondo base de dados para controle, monitoramento, planejamento ambiental e econômico e combate ao desmatamento. 1º A inscrição do imóvel rural no CAR deverá ser feita, preferencialmente, no órgão ambiental municipal ou estadual, que, nos termos do regulamento, exigirá do proprietário ou possuidor rural: (...) 3º A inscrição no CAR será obrigatória para todas as propriedades e posses rurais, devendo ser requerida no prazo de 1 (um) ano contado da sua implantação, prorrogável, uma única vez, por igual período por ato do Chefe do Poder Executivo. Lei Estadual n. 18.104 de 2013: Art. 1º Esta Lei estabelece normas sobre a proteção da vegetação, dispõe sobre as áreas de Preservação Permanente e as áreas de Reserva Legal, define regras sobre a exploração florestal, cria o Cadastro Ambiental Rural do Estado de Goiás CAR GOIÁS e prevê programas de incentivo para o alcance de seus objetivos. ( ) Art. 3º Fica criado o Cadastro Ambiental Rural do Estado de Goiás CAR GOIÁS, registro público eletrônico de âmbito estadual, obrigatório para todos os imóveis rurais, com a finalidade de integrar as informações ambientais destes, compondo uma base de dados para controle, monitoramento, planejamento ambiental, econômico, registro declaratório da reserva legal, áreas de preservação permanente e combate ao desmatamento ilegal. (...) Art. 26. A Reserva Legal deverá ser registrada no órgão ambiental competente por meio de inscrição no Cadastro Ambiental Rural CAR, sendo vedada a sua redução, atendidas as diretrizes gerais estabelecidas pelo art. 129 da Constituição do Estado de Goiás. 1º A inscrição da Reserva Legal no CAR será feita 13

mediante declaração, contendo a indicação das coordenadas geográficas com pelo menos 1 (um) ponto de amarração. (...) 4º Feita a inscrição da Reserva Legal no CAR, o proprietário ou possuidor do imóvel rural fica desobrigado de qualquer averbação no Cartório de Registro de Imóveis. (Grifei). Da interpretação sistemática dos dispositivos acima transcritos, infere-se que a intenção do legislador com o advento do novo Código Florestal foi tornar facultativa a averbação da reserva legal no Cartório de Registro de Imóveis, afastando-se, portanto, a exigência prévia da mencionada averbação como condição para todo registro envolvendo imóveis rurais. Sobre o tema, Júlio Cézar Lima Brandão, ao comentar o art. 18, do novo Código Florestal, preconiza que: "A partir do advento deste Código a averbação da RLF à margem da matrícula do imóvel, no registro de imóveis competente, não é mais obrigatória, como acontecia no regime da revogada Lei 4.771/65. Obrigatória, agora, é a inscrição no Cadastro Ambiental Rural (CAR), registro público eletrônico de âmbito nacional, de todas as propriedades e posses rurais, na forma disciplinada nos arts. 29 e 30 deste Código" (in Novo Código Florestal Brasileiro; Editora Juruá - 1ª Edição; Curitiba - 2012; pág. 179/180). Todavia, apesar de o sistema de Cadastro Ambiental Rural/CAR já ter sido criado no Estado de Goiás, não está totalmente 14

implantado, consoante informação trazida no ofício às fls. 197, expedido pela Secretaria do Meio Ambiente, uma vez que a segunda parte do sistema ainda não foi liberado pelo Ministério do Meio Ambiente MMA e em virtude disso os cadastros criados ainda não estão sendo analisados. Assim, mostra-se razoável que, enquanto a implantação do sistema CAR não estiver concluída no Estado de Goiás, persiste a obrigação do proprietário rural de averbação da reserva legal junto ao Cartório de Registro de Imóvel, à margem da matrícula do imóvel. o seu parecer, assim ressaltou: Nesse sentido, a douta Procuradoria de Justiça, ao emitir Com efeito, não havendo a implementação efetiva do CAR no Estado de Goiás, uma vez que não foi liberada a segunda parte do sistema, impossibilitando a análise do cadastro, necessariamente deve o autor/apelado efetivar a averbação da área de reserva legal de sua propriedade rural no registro de imóveis. Oportuno ressaltar que o Conselho Nacional de Justiça, ao analisar e julgar o Procedimento de Controle Administrativo nº 0002118-22.2013.2.00.0000, interposto pelo Ministério Público do Estado de Minas Gerais, pertinente à matéria subexame, determinou, de forma extensiva a todos os Tribunais de Justiça, 'a suspensão da Orientação nº 59.512/2012 e do Provimento nº 242/2012, objetivando manter inalterada a obrigatoriedade da averbação junto aos Cartórios de Registro de Imóveis rurais até a efetiva implantação do Cadastro Ambiental Rural previsto na Lei nº 12.651/12 (Novo Código Florestal)', nos termos do voto da relatora, Conselheira Ana Maria Duarte Amarante Brito. 15

Eis a ementa correlata: PROCEDIMENTO DE CONTROLE ADMINIS- TRATIVO. NOVO CÓDIGO FLORESTAL. RESERVA LEGAL. CADASTRO AMBIENTAL RURAL AINDA NÃO IMPLANTADO. AVERBAÇÃO NO CARTÓRIO DE REGISTRO DE IMÓVEIS. OBRIGATORIEDADE. 1. O texto do Novo Código Florestal (Lei n.º 12.651/2012, alterada pela Lei n.º 12.727/2012) provocou alterações no sistema de proteção e controle da área de reserva legal das propriedades rurais, uma vez que o referido dispositivo promove consistente modificação na forma de realização do seu registro junto aos órgãos competentes. 2. Somente o Cadastro Ambiental Rural desobriga a averbação no Cartório de Registro de Imóveis. Assim, considerando-se que o registro no CAR é fator imprescindível para a total aplicação do preceito legal, enquanto não implantado, permanece a obrigação imposta na Lei nº 6.015/73 para averbação na matrícula do imóvel, pois o Novo Código Florestal não preconiza liberação geral e abstrata. 3. A manutenção da obrigação de averbar no Registro de Imóveis, enquanto ainda não disponível o Cadastro Rural, atende, portanto, ao princípio da prevenção ambiental, tal qual previsto pela Lei nº 6.938, de 1981, em seu art. 2º. 4. Pedido que se julga procedente para manter hígida a obrigação da averbação da Reserva Legal junto ao Cartório de Registro de Imóveis.' (...) referido entendimento: A jurisprudência desta Corte de Justiça coaduna do APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. AVERBAÇÃO DE RESERVA LEGAL. OBRIGA- TORIEDADE. NOVO CÓDIGO FLORESTAL. CADASTRO AMBIENTAL RURAL. 1 - Com a publicação do novo Código Florestal (Lei no 16

12.651/12), a obrigatoriedade da averbação da reserva legal em Cartório de Registro de Imóveis (CRI) não mais existe, bastando apenas a averbação no Cadastro Ambiental Rural (CAR). 2 Todavia, referido cadastro não se encontra em pleno funcionamento no Estado de Goiás, razão pela qual persiste a obrigação de averbar a reserva legal enquanto não efetivamente funcionando o CAR. Apelação cível a que se dá provimento, nos termos do art. 557, 1º-A, do CPC. (TJGO, 6ª CC, Relª Desª Sandra Regina Teodoro Reis, Ac n. 160134-64, julgado em 19.10.2015). APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE EXPEDIÇÃO DE ALVARÁ JUDICIAL PARA REGISTRO PÚBLICO DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL RURAL. AUSÊNCIA DE AVERBAÇÃO DE RESERVA LEGAL. CADASTRO AMBIENTAL RURAL - CAR. DEMORA NA ANÁLISE DE PEDIDO ADMINISTRATIVO. 1. O Novo Código Florestal, instituído pela Lei Nº 12.651, de 25 de maio de 2012 (art. 18, 4º), expressamente, afastou a obrigatoriedade de averbação da reserva legal à margem da matrícula do imóvel. 2. A melhor exegese do 4º, art. 18, Lei 12.651/2012 caminha na senda de que, efetivamente, a nova Codificação dispensou a compulsoriedade da averbação da área de reserva legal junto ao registro de imóveis, mas desde que haja o registro no Cadastro Ambiental Rural (CAR). Ou seja, em interpretação literal, tem-se que a desobrigação da indigitada averbação está condicionada ao registro no CAR. Então, nessa tessitura, "fica evidente que a faculdade de averbar depende da opção pelo registro no Cadastro Rural: não havendo o cadastro, não há faculdade. Subsiste, portanto, a obrigação constante da Lei nº 6.015, de 1973" (CNJ, Procedimento de Controle Administrativo n. 0002118-22.2013.2.00. 0000, rel. Cons. Neves Amorim, j. 19.4.2013). 3. Não restam dúvidas sobre a imprescindibilidade da regularização da reserva legal para a transmissão imobiliária, conforme regra prevista na Lei 17

4.771/65 e que se manteve sob o império da novel Lei 12.651/2012. 4. A demora excessiva e injustificável pelo órgão responsável pela averbação da reserva legal do imóvel rural atenta contra os princípios da razoabilidade e eficiência do serviço público, no entanto, não pode o judiciário invadir a esfera administrativa para suprir referida falha, cabendo ao interessado buscar a medida adequada para fazer valer seu direito. APELAÇÃO CONHECIDA E DESPROVIDA. (TJGO, 1ª CC, REL. DES. ORLOFF NEVES ROCHA, Ac n. 81584-46, DJ 1804 de 15/06/2015). Constata-se, portanto, que a obrigação de averbar a reserva legal junto ao Cartório de Registro de Imóveis continua tendo eficácia plena e imediata até a implantação do Cadastro Ambiental Rural e o efetivo registro da Reserva Legal neste sistema (tornando-se uma opção facultativa somente após o completo funcionamento do CAR). Por último, não restou demonstrado que a omissão na instituição da reserva legal nos imóveis rurais de propriedade do apelado gerou degradação ao meio ambiente ou supressão da vegetação nativa, de modo a condenar-lhe em indenização. Ante o exposto, acolho o parecer da douta Procuradoria Geral de Justiça e, nos termos do art. 557, 1º-A, do CPC, conheço da remessa obrigatória e da apelação cível e lhes dou parcial provimento, para julgar parcialmente procedente a ação civil pública, a fim de impor ao apelado o ônus de instituir em seus imóveis rurais objeto do litígio a reserva legal, obrigando-o a proceder com as averbações destas às margens das matrículas junto ao Cartório de Registro de Imóvel, no prazo de 30 dias, sob pena de multa diária 18

de R$ 300,00 (trezentos reais). Intimem-se. Juízo de origem. Decorrido o prazo legal, encaminhem-se os autos ao Goiânia, 21 de outubro de 2015. CARLOS ROBERTO FÁVARO JUIZ DE DIREITO SUBSTITUTO EM 2º GRAU 102/CR 19