O TRABALHO DE CAMPO NA FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES DE BIOLOGIA E GEOLOGIA: OPINIÃO DOS ESTUDANTES SOBRE AS PRÁTICAS REALIZADAS



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Transcrição:

O TRABALHO DE CAMPO NA FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES DE BIOLOGIA E GEOLOGIA: OPINIÃO DOS ESTUDANTES SOBRE AS PRÁTICAS REALIZADAS Luís Dourado Universidade do Minho Braga, Portugal ldourado@iep.uminho.pt Introdução A importância que o Trabalho de Campo (TC) tem assumido na Educação em Ciências conduz a que seja considerado como um recurso de inegável valor, considerado para alguns como fundamental quando se pretende que os alunos estabeleçam a relação dos conhecimentos adquiridos em contexto de sala de aula com a realidade envolvente. O Currículo Nacional do Ensino Básico (2001) prevê que os alunos tenham oportunidade de observar o meio ambiente, de planificar saídas de campo, de elaborar roteiros de observação, instrumentos simples de registo de informação, diários de campo e de usar instrumentos auxiliares (bússola, lupa, etc.). Pese todo o valor educativo que unanimemente é atribuído ao TC (Gayford, 1985), verifica-se contudo que continua a ser pouco implementado, e quando tal acontece os resultados não correspondem ao esperado, pois nem o factor de motivação, normalmente atribuído à realização de TC, faz com que os alunos alcancem uma aprendizagem significativa dos conceitos, nem a sua realização faz com que os alunos consigam adquirir hábitos e destrezas científicas. Na opinião de diversos autores, este fracasso resulta da orientação que tem sido dada ao TC realizado. Este assume habitualmente características prescritivas, assentes no cumprimento de instruções detalhadas que conduzem os alunos para a resposta correcta e tem como objectivos fundamentais comprovar a teoria e desenvolver habilidades manipulativas (Rebelo & Marques, 1999; Dourado, 2001). Os professores desempenham um papel fundamental tanto a implementação do TC como na mudança de orientação das actividades que poderão implementar. Ao longo do seu percurso de formação tanto inicial como decorrente da prática profissional constroem todo um conjunto de concepções que influenciam a sua prática profissional. A utilização do TC, na maioria das vezes, não é coerente com as actuais orientações da Educação em Ciências. É privilegiada a realização de actividades que têm como objectivo primordial o reforço da teoria abordada anteriormente, em detrimento de situações que coloquem o aluno perante situações problemáticas que terá de resolver. Um futuro professor de Biologia e Geologia (BG) possui um sistema de concepções sobre TC, resultante das aulas de campo (AC) que realizou ao 1

longo do seu processo de formação, que é necessário conhecer de modo a que, se necessário, as suas práticas futuras possam ser coerentes com as actuais orientações da Educação em Ciências. Objectivos do Estudo A experiência dos alunos, futuros professores de ciências, relativamente à implementação de TC, na maioria das vezes, resume-se às actividades que realizaram enquanto alunos, pelo que possuem um conhecimento muito limitado relativamente ao modo como se pode planificar e implementar o TC. Por outro lado, o TC que é habitualmente realizado não obedece às mais recentes orientações da educação em ciências mas antes continua a reproduzir formas de implementação diversas vezes criticadas. Este estudo procurou caracterizar as opiniões dos alunos da Licenciatura em Ensino de Biologia e Geologia da Universidade do Minho relativas ao TC implementado durante o seu curso. Fundamentação teórica O papel do TC na Educação em Ciências No âmbito da Ciências Naturais e da Biologia e Geologia, a deslocação da turma a um ambiente que não o da sala de aula, proporciona aos alunos a oportunidade de observarem a frequência e distribuição de animais e plantas no seu habitat natural (Switzer, 1995), assim como compreender as relações dos seres vivos com o seu ambiente (Cutter, 1993; Lock, 1998). De acordo com Del Carmen & Pedrinaci, (1997), o TC permite que os alunos estabeleçam relações entre os conceitos de diferentes unidades didácticas e que os apliquem a contextos diferentes, aprofundando assim os conhecimentos. Segundo Orion & Hofstein (1991), o TC complementado com uma unidade preparatória pode servir de ponte para a construção de conhecimentos mais abstractos. Pedrinaci et al. (1994) consideraram ainda que o TC deve funcionar como um instrumento valioso para a compreensão dos fenómenos que ocorrem na Natureza. Para alguns autores, o espaço fora da sala de aula é considerado um espaço de excelência e indispensável para a compreensão de alguns conceitos (Compiani & Carneiro, 1993; Rebelo & Marques, 1999). Em estudos efectuados com alunos que realizaram TC e outros que não o utilizaram em determinados conteúdos concluiu-se que os primeiros foram mais eficazes quando confrontados com problemas complexos, demonstraram esquemas de conhecimento mais sólidos e comparativamente com os outros, analisaram problemas propostos com uma grande variedade de argumentos, aparentando um bom 2

entendimento dos aspectos estudados. (Manzanal et al., 1999). Perante isto, verificamos que o contacto com o ambiente e a realidade envolvente, utilizando TC, de acordo com os autores anteriores, permite a compreensão conceptual dos conhecimentos, facilitando a construção de conceitos abstractos. Para além da compreensão conceptual de conhecimentos, o TC pode permitir ainda a aquisição de conhecimento procedimental com a utilização de metodologia científica, criando oportunidades aos alunos de adquirirem técnicas de campo, atitudes, e linguagem, assim como aprenderem metodologia investigativa. (Schnoebelen, 1990; Orion, 1998; Lock, 1998). Alguns autores referem ainda que o TC é um recurso dos professores e das escolas para motivarem os alunos para o ensino das Ciências. (Switzer, 1995; Del Carmen & Pedrinaci, 1997; Seniciato & Cavassan, 2004). Estes consideram que este tipo de actividades pode servir de iniciação a um determinado conteúdo programático, e é apontado como uma metodologia eficaz por envolver e motivar os alunos para novos conhecimentos. A utilização e implementação de TC pode criar nos alunos o gosto pelo meio envolvente e acima de tudo fazer nascer neles uma curiosidade acerca do mundo natural. A motivação permite que os alunos se envolvam nas situações desenvolvendo assim atitudes positivas relativas à Ciência. É de destacar o importante, crescente e urgente papel da escola nesta responsabilidade de educar para a cidadania, criando cidadãos activos, críticos e intervenientes nas decisões. Concepções dos professores de Ciências sobre o TC As concepções que os professores de ciências revelam acerca do TC são de especial importância, uma vez que, de acordo com alguns autores aquilo que um professor pensa, sobre os diversos aspectos do processo de ensino e aprendizagem, influencia as suas práticas. (Mellado Jimenez, 1996 & Gallagher, 1991). Diversos estudos procuraram analisar as concepções os professores têm sobre as actividades de campo. A análise que tem sido efectuada têm-se centrado no estudo das concepções dos professores relativamente aos objectivos pretendidos com a utilização de TC, ou então que objectivos que entendem ser possíveis de concretizar com a utilização de TC. Alguns estudos centram-se na análise dos principais obstáculos que, na opinião dos professores, condicionam a implementação do TC nas aulas de Ciências. Relativamente aos objectivos do TC, em alguns dos estudos realizados os professores referem que a utilização deste tipo de actividades permite obter melhores resultados, isto porque o TC motiva os alunos despertando-lhes interesse para determinados conteúdos. (Mitchie, 1998; Rebelo & Marques, 1999; Marques et al., 2002; Kisiel, 2005). A implementação de TC é, 3

para alguns professores, também uma oportunidade de desenvolver e melhorar as relações entre alunos e entre professor e alunos. (Mitchie, 1998; Tal, 2000). Estas actividades melhoram de alguma forma, segundo alguns professores, as atitudes relativas à Ciência, proporcionando ainda aos alunos expectativas satisfatórias relativamente à escola (Mitchie, 1998; Kisiel, 2005). No entanto, alguns autores verificaram que a maioria dos professores considera que a grande finalidade da implementação de TC é servir para facilitar a observação e interpretação de conceitos/fenómenos (Rebelo & Marques, 1999; Marques e tal., 2002) e que o que é observado no campo não pode ser visto na aula ou laboratório (Tal, 2000). Para além desta finalidade, alguns professores consideram que, após a realização de TC, os alunos voltariam para a sala de aula com um melhor compreensão da matéria dada, que o TC pode ajudar a entender melhor os conteúdos e que estas actividades têm como objectivo fundamental complementar, reforçar e enriquecer o curriculum das Ciências (Kisiel, 2005). Em relação às dificuldades ou obstáculos, manifestados pelos professores na concretização destas actividades são muito diversificados. Após uma análise cuidada das dificuldades manifestadas pelos autores relativamente à realização de TC, verificamos que, de uma forma geral, estes autores referem dificuldades relativas aos professores, dificuldades ao nível da organização curricular e da gestão da escola e dificuldades logísticas e financeiras. Relativamente às dificuldades manifestadas pelos professores, as razões que os próprios apontam são relativas lacunas de natureza científica na interpretação de fenómenos que possam vir a ser observados em campo (Kerr, 1963; Rebelo & Marques, 1999). Para além desta razão, outros consideram que a falta de conhecimentos dos alunos é um obstáculo à realização deste tipo de actividades (Gayford, 1985). Quanto às dificuldades ao nível da organização e gestão da escola, razões como a elevada extensão do programa (Rebelo & Marques, 1999; Dourado, 2001), a limitação do tempo disponível para o TC (Kerr, 1963; Fido & Gayford, 1982; Kinchin, 1993; Mitchie, 1998), a falta de cooperação entre professores (Fido & Gayford, 1982), as dificuldades de organização e de planificação de TC (Kerr, 1963; Fido & Gayford, 1982; Mitchie, 1998; Dourado, 2001; Kisiel, 2005), o receio pela segurança dos alunos (Dourado, 2001; Fisher, 2001) ou o excessivo número de alunos por turma (Fido & Gayford, 1982; Kinchin, 1993; Dourado, 2001) são motivos relevantes para a justificação da pouca adesão a este tipo de actividades. Por último, dificuldades financeiras (Fido & Gayford, 1982; Rebelo & Marques, 1999; Fisher, 2001; Kisiel, 2005), de transporte (Fido & Gayford, 1982; Kinchin, 1993; Dourado, 2001; Kisiel, 2005) e a distância dos locais 4

adequados à realização de actividades de campo à escola (Fido & Gayford, 1982; Dourado, 2001; Fisher, 2001) são expostos como impedimentos às saídas de campo. Representações dos professores de Ciências sobre as práticas detc Até aqui já verificamos que os professores referem atribuir grande importância à realização de actividades de campo. Contudo, é necessário saber se essa importância se traduz em actividades realmente implementadas nas aulas de Ciências e, caso tal aconteça, de que modo são concretizadas. São alguns os estudos que procuraram analisar as representações professores sobre as práticas que dizem implementar relativamente ao TC. Rebelo & Marques (1999) procuraram saber de que forma os professores preparam as saídas de campo e as implementam, analisando o papel que atribuem em cada uma das fases ao aluno e ao professor. Assim, e relativamente à preparação da saída de campo, alguns professores referem que planificam sempre as saídas de campo (43%), sendo que destes inquiridos, alguns não integram os alunos na preparação (35%), atribuindo-lhes por isso um papel passivo na preparação da actividade. De entre os 36% que envolvem os alunos na preparação, 23% afirmam propor apenas actividades de rotina aos alunos e 45% dizem que solicitam a colaboração de outros professores ou outros especialistas da área de especialidade. Relativamente à implementação da saída, a maioria dos professores refere que propõe aos alunos a realização de tarefas de rotina (52%). Alguns dos docentes dizem que não integram as actividades de campo no currículo (45%), sendo por isso consideradas actividades extracurriculares. A maioria dos inquiridos (65%) refere utilizar fichas e/ou registos de observação para a avaliação do trabalho de campo e de entre os que apontam instrumentos de avaliação, 23% referem avaliar a relação professor - aluno, a identificação de amostras e a observação/interpretação de fenómenos. Assim, a partir destes dados verifica-se que a maioria dos docentes não faz a preparação da viagem de campo de modo a promover as suas verdadeiras potencialidades. Do estudo realizado por Dourado (2001) com professores do Ensino Básico, verificou-se que a maior parte dos professores sugere a questão/problema a resolver (71,1%). No que respeita ao equipamento utilizado, constata-se que este é esmagadoramente sugerido pelo professor (80,3%). Na planificação/elaboração do procedimento, verifica-se a tendência das etapas anteriores, ou seja, esta é, na maior parte dos casos, uma etapa da responsabilidade do professor (56,6%). A execução e recolha de dados surge, normalmente, de sugestões resultantes de discussão entre professor/aluno (64,5%). A análise e interpretação dos resultados ocorre para a grande maioria dos professores, em discussão entre professor e 5

alunos (76,3%). A última etapa, elaboração de conclusões, assume um padrão de resultados similar à etapa anterior. A grande maioria dos professores (80,3%) afirma que a elaboração de conclusões é da responsabilidade conjunta entre professor e alunos. Verifica-se assim que nas três primeiras etapas, a maioria dos professores afirma que a responsabilidade se centra fundamentalmente no professor, enquanto que nas três etapas seguintes a responsabilidade é partilhada entre professor e alunos. No estudo realizado por Rebelo & Marques (1999) constatou-se ainda que o número de saídas que os professores realizam é escasso, a preparação da saída é centrada no professor, resultado que coincide com o estudo efectuado por Dourado (2001), existe uma desarticulação das saídas relativamente ao currículo, as actividades que normalmente os professores propõem aos alunos não promovem a construção do conhecimento geológico e o instrumento mais utilizado para a avaliação do trabalho de campo é um tipo de relatório redutor da forma como se constrói o conhecimento científico. Assim, e de acordo com o mesmo estudo, conclui-se que a prática da maior parte dos professores se coaduna com o modelo de trabalho de campo predominantemente expositivo, pouco problematizante, claramente excursionista, centrado no professor, indevidamente articulado com o trabalho de sala de aula e laboratório, fraco promotor da construção do conhecimento e deficiente avaliador das aprendizagens. Metodologia Para a realização deste estudo recorremos à aplicação de um questionário aos alunos do quarto ano da Licenciatura em Ensino de Biologia e Geologia da Universidade do Minho, no ano lectivo de 2005/2006, com o objectivo de caracterizar as suas opiniões acerca do TC por eles realizado ao longo do curso. O questionário foi aplicado no início e no final do ano lectivo. Com a primeira aplicação pretendemos conhecer as opiniões sobre TC resultantes das actividades que implementaram nos três primeiros anos do curso. Com a aplicação do questionário no final do ano lectivo, pretendemos conhecer as eventuais alterações nas suas opiniões resultantes da frequência da disciplina de Trabalhos de Campo de Geologia (TCG), inteiramente dedicada ao TC. No estudo participaram todos os alunos do quarto ano da referida licenciatura, num total de catorze, que correspondeu à nossa amostra. O questionário procurou abordar diversos aspectos associados à realização de TC, nomeadamente: a organização e funcionamento das aulas de campo, a utilidade das aulas de campo; relevância do TC na compreensão de conceitos e na aprendizagem da Geologia e preparação obtida para organizar aulas de campo e sugestões para a melhorar. Os dados recolhidos foram analisados qualitativamente e organizados em torno dos assuntos focados no questionário. 6

Resultados 1. Organização e funcionamento das aulas de campo Até ao quarto ano da os alunos licenciatura em ensino de BG realizaram algumas aulas de campo (AC) integradas em diversas disciplinas do curso. O número de aulas realizadas, oscilou entre um máximo de quatro aulas (dois alunos) e um mínimo de uma (dois alunos). A maioria dos alunos realizou três aulas. De salientar que três alunos referiram que não tinham ainda realizado qualquer aula de campo. No quarto ano os alunos frequentaram a disciplina semestral de Trabalhos de Campo de Geologia (TCG) no âmbito da qual efectuaram, semanalmente, aproximadamente quinze saídas de campo com a duração de um dia. Relativamente ao modo como decorreram as aulas de campo realizadas até ao 4º ano da licenciatura (Quadro 1) a maioria dos alunos concordou com a sua organização e funcionamento em todos os casos (cinco alunos) ou na maior parte dos casos (três alunos). Um aluno concordou com a organização que foi seguida em metade dos casos e um outro concordou com a organização que foi seguida em alguns casos dos casos. Apenas um aluno manifestou a sua discordância relativamente ao modo como as aulas decorreram. Três alunos não manifestaram qualquer opinião. Quadro 1 Organização e funcionamento das aulas de campo (N = 14) Grau de concordância AC até ao 4º ano Trabalhos Campo Geologia Concordo, em todos os casos 1, 2, 7, 10, 11 5 3, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 7 Concordo, na maior parte dos casos 5, 9, 14 3 1, 2, 4, 5, 13 5 Concordo, em cerca de metade dos casos 12 1 12 1 Concordo, em alguns casos 6 1 14 1 Discordo 4 1 0 0 Não responde 3, 8, 13 3 0 0 Sobre a organização das aulas de TCG (Quadro 1) os alunos manifestaram opiniões semelhantes às anteriores, pois a maioria dos alunos concordou com a organização que foi seguida em todas as aulas ou na maior parte das aulas. Verifica-se contudo que todos os alunos assinalaram uma opção e que nenhum aluno discordou do modo como as aulas funcionaram. Os alunos que apresentaram uma justificação relativa ao modo como decorreram as aulas (Quadro 2) referiram tanto aspectos positivos como aspectos negativos, embora, como seria de esperar, os segundos estejam mais presentes nas justificações apresentadas pelos alunos que manifestaram menor grau de concordância. 7

Relativamente às AC que tiveram antes do 4º ano da licenciatura, os alunos referiram como aspectos positivos o facto de as aulas de campo terem permitido estabelecer uma relação entre a teoria e a prática (três alunos), de terem permitido a aquisição de um conhecimento mais prático (um aluno) e de terem permitido novas aprendizagens (dois alunos). Um aluno referiu como positivo um aspecto não directamente ligado ao modo como a aula decorreu, referindo o cumprimento do horário de transporte. Relativamente às aulas de campo de TCG verificou-se que alguns alunos consideraram positiva a organização formal das aulas. Um deles referiu como positivo o facto destas aulas terem permitido que os alunos trabalhassem com mais autonomia. Tal como tinha acontecido para as AC antes do 4º ano, um dos alunos realçou as aprendizagens obtidas com as AC e um outro assinalou como positivo o estabelecimento da relação entre a teoria e a prática. Aspectos positivos Aspectos negativos Quadro 2 Justificação do funcionamento das aulas de campo (N = 14) Justificação AC até ao 4º ano Trabalhos Campo Geologia Estabelecimento da relação da prática a 1, 5,10 3 1 1 teoria Aprendizagens obtidas 7, 14 2 6 1 Aquisição de um conhecimento mais prático 9 1 ----------- --- Cumprimento horários transporte 7 1 ----------- --- Organização formal adequada ----------- --- 2, 6, 7, 11 4 Autonomia dada para realização das ---------- 11 1 actividades Aulas de campo resumiram-se à observação 4 1 ----------- --- Não estabelecimento da relação 6 1 ----------- --- teoria/prática Intervenção reduzida dos alunos no TC 11 1 ----------- --- TC não direccionado para futuros 12 1 12 1 professores Relatório final desajustado à formação ----------- --- 4 1 obtida Preparação teórica insuficiente ----------- --- 11, 12, 13, 14 4 Necessidade de maior apoio do professor ----------- --- 9 1 Necessidade de mais aulas ----------- --- 5, 10 2 Más condições atmosféricas ----------- --- 3, 8 2 Não justifica 2, 3, 8, 13 4 ----------- --- Como aspectos negativos, e relativamente às AC anteriores ao 4º ano da licenciatura, um aluno referiu o facto das aulas de campo se resumirem apenas à observação não sendo postas em prática técnicas de campo, e um aluno referiu a falta de fundamentos teóricos das aulas de campo que não permitiram estabelecer uma adequada relação entre a teoria e a prática. Um outro aluno referiu a pouca intervenção dos alunos nas realização de actividades, e um outro chega a sugerir que se deveria procurar uma maior adequação da organização e funcionamento das aulas de campo aos destinatários que serão futuros professores de BG e 8

não geólogos. Quatro alunos não apresentaram justificação. Relativamente ao conjunto de aulas de TCG verificou-se que os alunos revelaram um espírito crítico mais acentuado e assinalaram diversos aspectos que consideram negativos. Questionaram a organização seguida, pois embora apele ao trabalho autónomo do aluno (o que seria positivo) conduziu contudo a que os alunos sentissem algumas dificuldades em gerir essa forma de trabalho. Alguns alunos (quatro) consideraram insuficiente preparação teórica necessária para as AC sugeridas, dois deles referiram que o número AC foi insuficiente para os objectivos traçados para a disciplina e um deles considerou insuficiente o apoio prestado pelo professor. Ficou também expressa a ideia da inadequação destas AC aos destinatários (futuros professores de BG) ao referirem expressamente isso e ao considerarem desajustado o relatório que foi necessário elaborar. Para ultrapassar estas dificuldades os alunos sugeriram um reforço da preparação teórica necessária, a criação de uma disciplina preparatória do TC, que exista mais um docente na disciplina de TCG, que as aulas sejam mais curtas e decorram mais vezes por semana. Referiram-se ainda ao modo como as aulas deveriam ser organizadas. Um deles sugeriu que a disciplina fosse estruturada para futuros professores e não para geólogos, e um outro sugeriu um maior envolvimento dos alunos na preparação das etapas iniciais das saídas de campo. 2. Utilidade das aulas de campo realizadas durante a licenciatura Os alunos foram questionados explicitamente acerca da utilidade que as AC para a suas futura actividade profissional (Quadro 3). Relativamente às AC que realizaram nos três primeiros anos do curso, a grande maioria dos alunos considerou que estas foram de grande utilidade para a sua futura actividade profissional. Cinco alunos referiram que tiveram muita utilidade e quatro alunos referiram que tiveram bastante utilidade. Apenas três alunos manifestam menor grau de optimismo ao referiram que essas aulas tiveram alguma utilidade. Quadro 3 Utilidade das aulas de campo (N = 14) Grau AC até ao 4º ano Trabalhos Campo Geologia Nenhuma ----------- ---- ----------- ---- Pouca ----------- ---- 4 1 Alguma 2, 4, 5 3 11, 12, 14 3 Bastante 1, 6, 9, 13 4 1, 2, 3, 5, 8, 9 6 Muita 7, 10, 11, 12, 14 5 6, 7, 10, 13 4 Não respondeu 3, 8 2 ----------- ---- Relativamente às aulas de campo da disciplina de TCG, os alunos fizeram uma apreciação semelhante acerca da sua utilidade futura. As respostas demonstram que a maioria dos alunos 9

as considerou bastante úteis (seis alunos) ou até mesmo muito úteis (quatro alunos). Tal como relativamente às AC realizadas antes do 4º ano da licenciatura, existem três alunos que apenas lhe reconheceram alguma utilidade. Um dos alunos concluiu da pouca utilidade das mesmas. Nas justificações que apresentam relativas à utilidade das AC realizadas até ao 4º ano da (Quadro 4), notamos que, embora a maioria dos alunos tenha entendido o que era pedido na pergunta, outros alunos não o conseguiram, pois nas justificações que deram acerca da utilidade das aulas de campo reportam-se à utilidade das aulas de campo para as aprendizagens que efectuaram enquanto alunos de BG, e não à utilidade que as aulas de campo poderiam ter para a sua futura actividade profissional. O grupo de alunos que se reportou efectivamente à utilidade da AC para a sua futura actividade profissional salientou a preparação que foi facultada para realizar aulas de campo no futuro (6 alunos), embora não tenham caracterizado o modo como ela decorreu. Um destes alunos não se mostrou tão optimista e referiu que a especificidade das aulas de campo realizadas torna difícil a transposição do conhecimento adquirido com as aulas realizadas para a organização das aulas que futuramente irá realizar. Quadro 4 Justificação da utilidade das aulas de campo (N = 14) Justificação AC até ao 4º ano Trabalhos Campo Geologia Preparação para realizar no futuro AC 1, 2, 5, 7, 9, 11 6 2, 3, 5, 7, 8,, 10 6 Deficiente estruturação destas AC ----------- ----- 12 1 Pouca fundamentação teórica das AC ----------- ----- 14 1 AC muito específicas 4 1 ----------- ----- Estabelecimento relação entre a T e P 4, 6, 9, 13 4 6, 7, 9, 10 4 Melhor assimilação conhecimentos 10, 12, 14 3 3, 11 2 Motiva os alunos 14 1 8, 9 2 Alunos aprendem mais facilmente 14 1 ----------- ----- Utilização da bússola ----------- ----- 13 1 Não justificou 3, 8 2 1, 4 2 Os alunos que se reportaram à utilidade das AC para as aprendizagens nas disciplinas em que foram realizadas referiram algumas razões que habitualmente são assinaladas para justificar a realização das aulas de campo: a motivação que promovem (um aluno), o estabelecimento da relação entre o conhecimento teórico e a prática (4 alunos) e as aprendizagens que promovem (3 alunos). Relativamente às aulas de TCG também se verificou que alguns alunos assumiram apenas uma utilidade próxima das AC enquanto alunos e não a utilidade futura enquanto futuros professores. Como se verifica no quadro 6 as justificações foram semelhantes às produzidas pelos alunos após as AC realizadas nos três primeiros anos do curso. De salientar contudo as apreciações negativas que dois alunos fizeram destas aulas, um deles considerou- 10

as pouco estruturadas e um outro considerou-as pouco fundamentadas do ponto de vista teórico. 3. Relevância do TC na compreensão de conceitos e na aprendizagem da Geologia Para melhor compreensão do papel que os futuros professores de BG atribuem às AC solicitamos que nos indicassem qual a relevância que atribuem à componente de campo para a compreensão de conceitos da disciplina de Geologia. Como podemos constatar no Quadro 5, a quase totalidade dos alunos atribuiu, quer às AC realizadas até ao 4º ano da licenciatura quer às AC de TCG, bastante ou até mesmo muita relevância. As resposta, tanto num momento como no outro, repartem-se entre estas duas opções. Quadro 5 Relevância da componente de campo na compreensão conceitos (N = 14) AC até ao 4º ano Trabalhos Campo Grau Geologia Nenhuma ----------- ----- ----------- ----- Pouca ----------- ----- ----------- ----- Alguma 5 1 ----------- ----- Bastante 1, 2, 3, 4, 6, 8, 9 7 1, 2, 3, 5, 7, 8, 9, 14 8 Muita 7, 10, 11, 12, 13, 14 6 4, 6,10, 11, 12, 13 6 Na fundamentação que efectuaram da sua escolha (Quadro 6), quer relativamente às aulas realizadas até ao 4º ano quer relativamente às TCG, os alunos referiram que a componente de campo promove uma melhor compreensão da teoria. Um destes alunos referiu que as AC permitem uma melhor assimilação de conhecimentos devido à conjugação entre a teoria e a prática e um outro referiu que permite aceder melhor à teoria. De salientar também o número de alunos que valorizou o contacto com a realidade proporcionado pelas AC. Os alunos referiram também o interesse pelas matérias que as AC promovem. Quadro 6 Justificação da relevância do TC na aprendizagem de conceitos (N = 14) AC até ao 4º ano Trabalhos Campo Relevância Geologia Melhor compreensão da teoria 4, 7, 13, 14 4 4, 10, 11, 12, 14 5 Visualização de exemplos 2, 5, 6, 8, 9, 6 2, 3, 5, 6, 7, 8, 9, 10 concretos/realidade 10 12, 13, 14 Interesse pela matéria 12 1 2, 10 2 Aplicação prática da teoria da sala de 3, 11 2 8, 9 2 aula Não refere 1 1 1 1 Os futuros professores foram ainda questionados acerca do contributo do TC para a aprendizagem de Geologia na Escola (Quadro 7). A análise das resposta obtidas permitiu 11

verificar o papel que eles atribuem ao TC na compreensão de conceitos, que reforça a ideia anteriormente referida, e à motivação que o TC promove na aprendizagem da geologia. Não se notaram diferenças significativas entre os dois momentos de aplicação do questionário Quadro 7 Contributo do TC para a aprendizagem da Geologia (N = 14) AC até ao 4º ano Trabalhos Campo Contributo Geologia Melhora a aquisição de conceitos 3, 1 ----------- ------ Permite a aplicação de conhecimentos 4 1 ----------- ------ Motiva para aprender Geologia 4, 9, 10 3 2, 5,10, 12, 13 5 Contacto com a realidade 5, 7, 8 3 3, 1 Melhora compreensão da teoria 6, 7, 11, 12, 13 5 1, 5, 7, 8, 9,10 6 Não responde ou sem significado 1, 2, 14 3 4, 6, 11, 14 4 4. Preparação para organizar aulas de campo e sugestões para melhorar A ideia de que alguns alunos não entenderam bem a questão acerca da utilidade das AC para a sua futura actividade profissional é reforçada com o conteúdo das resposta relativas à preparação que os futuros professores consideraram ter conseguido para organizar no futuro AC. Como podemos verificar no Quadro 8 a quase totalidade alunos (incluindo aqueles que referiam que as AC tiveram muita utilidade) considerou que a preparação para organizar aulas de campo, obtida nos três primeiros anos do curso era fraca e um deles considerou-a mesmo muito fraca. Esta apreciação melhorou após as aulas de TCG, pois se alguns alunos ainda consideraram essa preparação fraca, a maioria considerou que possuía uma preparação suficiente. Quadro 8 Preparação para organizar aulas de campo (N = 14) AC até ao 4º ano Trabalhos Campo Geologia Grau Muito fraca 11 1 ----------- ---- Fraca 1, 2,3, 4, 5, 6, 7, 9, 10, 12, 13, 14 13 1, 8, 12, 13, 14 5 Suficiente ----------- ---- 2, 3, 4, 5, 6, 7, 9, 10, 11 9 Boa ----------- ---- ----------- ---- Muito boa ----------- ---- ----------- ---- Os alunos, ao referirem-se à preparação obtida com a realização de AC nos três primeiros anos do curso, justificaram a fraca preparação obtida para realizar aulas de campo (Quadro 9) com o facto de ter sido realizadas um reduzido número de AC e com o facto de considerarem que as aulas de campo realizadas não lhes ter fornecido conhecimentos necessários que lhes permitam de futuro organizar AC. Um aluno referiu ainda o pouco conhecimento de locais adequados para a realização de AC. Apenas um aluno se mostrou mais satisfeito ao considerar 12

que essas aulas lhe tinham permitido adquirir conhecimentos básicos, ainda que insuficientes, para de futuro realizar AC. Após as AC de TCG as justificações relativas à utilidade das AC remeteram para aspectos semelhantes mas verificou-se um aumento do número de alunos que considerou ter adquirido conhecimentos básicos para organizar AC. Quadro 9 Justificação do grau de preparação para organizar aula de campo (N = 14) AC até ao 4º ano Trabalhos Campo Justificação Geologia Porque realizei poucas AC 1, 3, 5, 9, 10, 14 6 1, 9 1 Não contribuíram para aprender a 2, 4, 6, 8, 11 5 2, 6, 8, 11, 12, 14 6 preparar aulas de campo Pouco conhecimento de locais para AC 7 2 8 1 Aquisição conhecimentos básicos mas 13 1 3, 4, 5, 7, 10, 13 6 insuficientes Sinto-me mais preparado 12 1 -------------- ----- Para ultrapassar a situação referida anteriormente solicitamos aos alunos que apresentassem sugestões. Relativamente às AC realizadas nos 3 primeiros anos do curso, as resposta obtidas permitiram constatar que embora alguns alunos (seis alunos) revelassem alguma dificuldade em sugerir alterações (Quadro 10), outros referiam que seria conseguida uma melhor preparação dos futuros professores para organizar AC se houvesse uma melhor definição dos objectivos da AC (quatro alunos), se se realizassem mais aulas (três alunos), se se ensinasse a organizar aulas de campo (um alunos) e se o TC realizado fosse mais direccionado para a preparação de futuros professores de BG (dois alunos). Dois alunos referiram a necessidade de um maior conhecimento de locais apropriados para a realização de AC. Quadro 10 Sugestões para melhorar preparação (N = 14) AC até ao 4º ano Trabalhos Campo Sugestões Geologia Melhor definição de objectivos 4 1 ----------- ---- Ensino da organização de AC 6 1 6, 11 2 Conhecer locais indicados para AC 7, 8 2 7,12 2 Realizar mais AC 9, 10, 14 3 2, 3, 4, 9, 10, 13, 7 TC mais direccionado para a preparação de um futuro professor de geologia 14 12, 14 2 6, 14 2 Construir alguns guiões de campo ----------- ---- 8, 12 2 Não refere 1, 2, 3, 5, 11, 6 1, 5 2 13 Após as AC de TCG constatou-se que embora o tipo de sugestões seja semelhante ocorre contudo um aumento do número de alunos que considerou ser necessário realizar mais aulas. De notar a sugestão de dois alunos que consideraram ser necessário os alunos futuros 13

professores aprenderem a construir guiões de campo de modo a que fiquem mais preparados para organizar AC. Embora tenham manifestado que se sentem pouco preparados para organizar AC todos os futuros professores de BG participantes no estudo manifestaram, após terem realizados as AC de TCG, intenção de as organizar no futuro. A grande maioria dos alunos justificou esta sua intenção (Quadro 11) indicando as vantagens habitualmente atribuídas ao TC. Consideraram que com a sua realização poderão motivar e despertar o interesse dos alunos (6 alunos) e melhorar a compreensão de conteúdos (sete alunos). Quadro 11 Justificação da intenção de organizar aulas de campo (N = 14) Justificação Nº do aluno f Poderei motivar e despertar o interesse 2, 5, 6, 7, 11, 13 6 Pela melhor compreensão conteúdos 3, 4, 6, 10, 11, 12, 14 7 Para ensinar como ser geólogo por um dia 9 1 Ainda espero obter preparação 1, 5 2 Dois dos alunos consideraram que ainda poderão obter essa preparação. Curiosa a resposta de um aluno que justifica essa intenção com o facto de pretender que os seus alunos se tornem geólogos por um dia. Conclusões e implicações Os resultados obtidos permitem-nos caracterizar as opiniões dos futuros professores relativamente à preparação que obtiveram. De um modo geral os alunos concordaram com a organização e funcionamentos das aulas de campo que realizaram durante a licenciatura. Nas suas justificações fica patente a ideia do valor atribuído pelos alunos às actividades realizadas nomeadamente a importância que o TC teve no estabelecimento da relação teoria e prática. Esta relação é contudo assumida no sentido de a AC reforçar o conhecimento teórico obtido na sala de aula, pois os alunos sugerem nas suas respostas que a preparação teórica prévia obtida na sala de aula foi insuficiente para a concretização das actividades de campo. Esta ideia confirma conclusões obtidas em estudos anteriormente realizados com professores em que o TC assume habitualmente características ilustrativas. Alguns alunos, futuros professores de BG mostram-se particularmente críticos, especialmente depois de realizarem as aulas de TCG, com o facto das AC que realizaram não serem direccionadas para a preparação da sua futura actividade profissional mas antes acentuarem uma vertente de preparação de futuros geólogos. A maioria dos alunos considera contudo, que as actividades realizadas têm muita utilidade para a sua futura actividade profissional pois 14

forneceram, em sua opinião, conhecimentos que ajudam saber preparar futuramente AC. Não conseguem contudo explicitar o tipo de formação recebida. Alguns alunos não se centrando na utilidade futura assinalam a utilidade que o TC pode ter no estabelecimento da relação entre a teoria e a prática e na motivação dos alunos. Esta ideia aparece reforçada nas respostas obtidas à pergunta relativa ao contributo do TC na aprendizagem de conceitos. A grande maioria dos alunos assinala como bastante e até mesmo muito relevante o papel do TC na aprendizagem de conceitos, traduzida no reforço da teoria apresentada (o que reforça a ideia da apologia de TC com características ilustrativas. Nestas justificações fica também patente uma ideia já observada em outros estudos de se atribuir ao TC um papel central de contacto com a realidade. Uma ideia também expressa pelos alunos é a de que o TC motiva para as aprendizagens realizadas em geologia. Embora após a realização das aulas de TCG a sua apreciação tenha melhorado, os alunos futuros professores de BG não se sentem bem preparados para realizar de futuro AC, o que de alguma forma é contraditório com a utilidade que atribuem às aulas realizada. Muito provavelmente esta contradição resulta da dificuldade em caracterizar a preparação que obtiveram com as AC que realizaram bem como da dificuldade em conseguir prever a transposição dos conhecimentos obtidos para a sua futura actividade profissional. Assim se justifica também a necessidade que sentem em realizar mais AC pois, embora tenham realizado um número significativo de AC, estas, ou não foram suficientes ou não lhes facultaram conhecimentos necessários que lhes permitam de futuro organizar aulas de campo como os seus alunos. Consideraram que a realização de um maior número de AC, que para alguns deveriam ser fundamentalmente orientadas para a preparação de um futuro professor, seria o modo como essa preparação seria melhorada. Os resultados obtidos com este estudo reforçam a ideia de se assumir o TC como um recurso importante na aprendizagem das ciências em geral e da BG em particular. Os futuros professores de BG revelam concepções acerca do TC e da sua utilização que são muito semelhantes às evidenciadas por professores de Ciências com diversos anos de experiência, nomeadamente a ideia das AC ilustrarem a teoria e a ideia do TC possuir um função de motivação das aprendizagens. Estes resultados sugerem a necessidade de reforçar a preparação dos futuros professores de BG relativamente à utilização do TC. Pelas opiniões expressas pelos alunos fica assinalada a necessidade de para além da realização de AC ser necessário que o futuro professor de BG receba preparação que lhe permita saber organizar AC com os seus futuros alunos. Esta preparação deverá incluir uma análise das potencialidades do TC para a educação em ciências 15

e propor abordagens, teoricamente fundamentadas, de diversas modalidades de TC. O número de alunos envolvidos neste estudo não permite generalizar as conclusões para obtidas. Sugerese a necessidade de se efectuarem estudos semelhantes com mais alunos deste curso e a realização de estudos semelhantes noutros cursos de formação de professores de BG. Este tipo de estudos com características prospectivas prepararão eventuais alterações no currículo de algumas disciplinas do curso, nomeadamente nas disciplinas de Trabalhos de Campo e de Metodologias de Ensino. Referências Bibliográficas Compiani, M. & Ré Carneiro, C. (1993). Os papéis didácticos das escursões geológicas. Enseñanza de las Ciencias de la Tierra, 1(2), 90-98. Cutter, E. (1993). Fieldwork: an essential component of biological training. Journal of Biological Education, 27 (1), 3-4. Del Carmen L. & Pedrinaci, E. (1997). El uso del entorno y el trabajo de campo. In Carmen L. (Coord.). La enseñanza y el aprendizaje de las ciencias de la naturaleza en la educación secundaria. Barcelona: I.C.E. Universitat Barcelona e Editorial Horsori, 133-154. Dourado, L. (2001). O trabalho prático no ensino as Ciências Naturais: situação actual e implementação de propostas inovadoras para o trabalho laboratorial e o trabalho de campo. Tese de Doutoramento (não publicada), Universidade do Minho. Fido, H. & Gayford, C. (1982). Field work and the biology teacher: a survey in secondary schools in England and Wales. Journal of Biological Education, 16(1), 27-34. Fisher, J. (2001). The Demise of Fieldwork as an Integral Part of Science Education in United Kingdom Schools: a victim of cultural change and political pressure?. Pedagogy, Culture and Society, 9 (1), 75-96. Gallagher, J. (1991). Prospective and practicing secondary school science teachers knowledge and beliefs about the philosophy of science, Science Education, 75 (1), 121-133. Gayford, C. (1985). Biological fieldwork: a study of the attitudes of sixth-form pupils in a sample of schools in England and Wales. Journal of Biological Education, 19(3), 207-212. Kinchin, I. (1993). Teaching ecology in England and Wales: a survey of current practice. Journal of Biological Education, 27(1), 29-34. Kisiel, J. (2005). Understanding elementary teacher motivations for science fieldtrips. Lock, R. (1998). Fieldwork in life sciences. International Journal of Science Education, 20(6), 633-642. 16

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