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Transcrição:

266 3.5 ARRANJO PRODUTIVO DE MÓVEIS DA REGIÃO DE SÃO BENTO DO SUL Fernando Seabra Débora de Paula ** Lenina Formaggi *** O arranjo moveleiro de São Bento do Sul é o maior exportador do país neste setor e responde por aproximadamente metade das vendas de móveis brasileiros ao exterior. Ele possui em torno de 290 empresas, é composto pelos municípios de São Bento do Sul, Campo Alegre e Rio Negrinho que fazem parte da região de São Bento do Sul e apresenta uma elevada participação de micro e pequenas empresas. Além disso, destina cerca de 80% de sua produção, composta basicamente de móveis residenciais de madeira de pínus, para o mercado externo. Neste contexto, o presente trabalho pretende caracterizar o arranjo produtivo de São Bento do Sul em seus diversos aspectos cooperativos, tecnológicos, institucionais e ambientais. Para tal, o trabalho é subdividido em 4 partes, além desta introdução. A primeira parte aborda a localização e caracterização produtivo-institucional do arranjo e subdivide-se em: configuração e trajetória de constituição; caracterização do arcabouço institucional público e privado; nível tecnológico do arranjo; impactos ambientais e incentivos públicos incidentes no arranjo. A segunda parte trata especificamente da capacitação tecnológica e inovação, subdividindo-se em fontes e formas de capacitação internas ao arranjo e fontes e formas de capacitação externas ao arranjo. As atividades relacionadas à cooperação e governança encontram-se na terceira parte, e nela encontram-se os atores participantes em atividades de coordenação e mobilização coletiva. A quarta e última parte apresenta as principais vantagens competitivas e entraves ao desenvolvimento do arranjo, indicando políticas de desenvolvimento para o mesmo. Professor dos Cursos de Graduação e Pós-graduação Mestrado em Economia da Universidade Federal de Santa Catarina. ** Graduanda em Economia na Universidade Federal de Santa Catarina. *** Bacharel em Economia na Universidade Federal de Santa Catarina.

267 3.5.1 Localização e caracterização produtivo-institucional 3.5.1.1 Configuração e trajetória de constituição 3.5.1.1.1 Composição do arranjo e população total e da microrregião O arranjo produtivo moveleiro de São Bento do Sul é o centro da indústria moveleira de Santa Catarina, está localizado no Nordeste do Estado a 259 km de Florianópolis e a 117 km do porto marítimo de São Francisco do Sul. É composto pelos municípios de Campo Alegre, Rio Negrinho e São Bento do Sul, que constituem a região de São Bento do Sul, como pode ser visto na Figura 3.5.1. Rio Negrinho Campo Alegre São Bento do Sul Fonte: Governo do Estado de Santa Catarina. Figura 3.5.1 - Localização das áreas de produção de móveis no estado de Santa Catarina - 2005 A população total da região é de aproximadamente 115 mil habitantes, sendo que o município de São Bento do Sul concentra 57% deste total (65 mil habitantes), seguido por Rio Negrinho, com 33% (38 mil habitantes), e por Campo Alegre (10% do total, com 12 mil habitantes). O PIB per capita da região é de R$ 9.200,00, 16% superior ao PIB per capita de Santa Catarina (R$ 7920,00), e o PIB total da região corresponde a 2,5% do PIB catarinense, conforme a Tabela 3.5.1. Apesar desta reduzida participação, a região é a quarta maior exportadora do Estado e o primeiro pólo exportador de móveis no Brasil.

268 Tabela 3.5.1 - PIB e PIB per capita da região de São Bento do Sul do estado de Santa Catarina 2000 MUNICÍPIOS PIB PIB PER CAPITA Campo Alegre 70.059.948 6.022 Rio Negrinho 265.834.350 7.050 São Bento do Sul 678.778.001 10.373 Microrregião 1.014.672.299 9.200 SANTA CATARINA 42.428.000.000 7920 Fonte: Elaboração própria com base no Atlas IDH 2000. No que se refere ao desenvolvimento humano da região, seus municípios apresentam alguns dos maiores IDHs (Índice de Desenvolvimento Humano) do Estado, segundo os indicadores da Tabela 3.5.2. Em relação à renda média per capita, esta encontra-se um pouco abaixo da média catarinense no município de São Bento do Sul, sendo bem mais reduzida nos municípios de Rio Negrinho e Campo Alegre. Tabela 3.5.2 - IDH-M e PIB per capita da microrregião de São Bento do Sul e do estado de Santa Catarina 1991, 2000 MUNICÍPIOS IDH-M RENDA PER CAPITA MÉDIA (R$ 2000) 1991 2000 1991 2000 São Bento do Sul 0.759 0.838 227.3 324.5 Rio Negrinho 0.724 0.789 187.5 242.8 Campo Alegre 0.693 0.772 137.9 214.7 SANTA CATARINA 0.748 0.822 232.27 348.72 Fonte: Elaboração própria com base no Atlas IDH 2000. Os indicadores sociais relacionados à expectativa de vida esperança de vida ao nascer, ao analfabetismo e à pobreza listados na Tabela 3.5.3 indicam um desenvolvimento alto da região e uma evolução significativa destes indicadores entre os anos de 1991 e 2000. O município de Campo Alegre, por exemplo, que exibe os maiores índices de analfabetismo (8,6%) teve uma queda de quase quatro pontos percentuais nesta taxa em nove anos. Percebese também uma diminuição importante na proporção de pobres, que chega a cair para a metade neste mesmo município, e um pouco menos nos demais. Tabela 3.5.3 - Indicadores sociais selecionados do estado de Santa Catarina e da região de São Bento do Sul 1991, 2000 ESPERANÇA DE VIDA AO NASCER (1) TAXA DE ANALFABETISMO PROPORÇÃO DE POBRES (2) MUNICÍPIOS POPULAÇÃO 1991 2000 1991 2000 1991 2000 1991 2000 São Bento do Sul 49.787 65.437 70,1 75,9 7,3 4,1 15,1 10,8 Rio Negrinho 31.019 37.707 67,7 71,8 9,1 5,3 24,8 18,4 Campo Alegre 9.307 11.634 68,1 71,8 12,1 8,6 43,0 23,1 Fonte: Elaboração própria com base no Atlas IDH 2000. (1) Dados em anos. (2) Proporção em percentual.

269 3.5.1.1.2 Elementos históricos de constituição A consolidação do Arranjo Produtivo Local (APL) de São Bento do Sul deu-se através da exportação do móvel de pínus, a partir do aproveitamento de uma infra-estrutura existente em matéria-prima, aglomeração de diversas empresas, experiência e padrão de tecnologia para competição internacional. O desenvolvimento da indústria moveleira de São Bento do Sul ocorreu desde o início do século XX, sendo sua fase inicial até 1920 caracterizada pelo predomínio do artesanato, das pequenas iniciativas individuais e de pequenas fábricas. Dentre os fatores indutores do processo de evolução das atividades de transformação da economia local, Kaesemodel (1990) aponta a abundância de matéria-prima (araucária e outras madeiras); a melhoria de poder aquisitivo dos colonos da região - proporcionada pela extração e beneficiamento da erva-mate - e o aproveitamento da matéria-prima rejeitada no processo de exportação da madeira bruta para a produção de artefatos de madeira. A atividade industrial da região de São Bento do Sul voltada para a produção de móveis experimenta uma rápida expansão no período entre 1920-1950. De acordo com Kaesemodel (1990), a partir dos anos 40 inicia-se o processo de proliferação das empresas moveleiras e reestruturação das existentes. O pólo moveleiro vai sendo constituído basicamente de pequenas e médias empresas, atuando como força descentralizadora de mãode-obra, de pequenos investimentos de formação de capital local e gerenciamento empresarial de base familiar. A indústria moveleira de São Bento do Sul beneficiou-se do crescimento da demanda interna, conseqüência da industrialização e do crescimento econômico alcançado em especial no período pós-2ª Guerra. A consolidação do arranjo produtivo moveleiro de São Bento do Sul no início dos anos 1970 apresenta duas características que merecem destaque. Primeiro, é importante notar que esse processo foi marcado pela criação de novas empresas a partir do desligamento de antigos funcionários de firmas pioneiras, como no caso da Artefama, que se originou de mão-de-obra dissidente das Indústrias Zipperer. Segundo, a expansão industrial na região resulta na escassez de mão-de-obra qualificada. Embora as próprias empresas adotem a estratégia de treinamento de aprendizes, a demanda por trabalhadores qualificados não é atendida e surgem iniciativas institucionais para minimizar este problema. Em 1977, foi criado o Centro de Treinamento do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI),

270 com a intenção de oferecer formação técnica na área de produção de móveis. Também focado na indústria moveleira, inaugura-se, em 1975, a Fundação de Ensino, Tecnologia e Pesquisa (FETEP), a qual também oferta cursos para capacitação de mão-de-obra, além de promover pesquisas sobre o desenvolvimento tecnológico setorial (principalmente ligado ao setor moveleiro). A década de 1970 apresenta, devido sobretudo ao grande aumento da demanda e ao crédito abundante, mudanças estruturais nas indústrias de móveis, como a modernização tecnológica e a reestruturação das empresas. Surgem, nessa época, muitas transportadoras para atender às próprias empresas e investimentos em atividades de verticalização da produção. Tal estratégia teve efeitos significativos sobre o desempenho na década de 80, quando o mercado brasileiro entrou em crise. Os anos 1980 marcaram uma nova e decisiva fase no desenvolvimento da indústria de móveis da região, caracterizada pela retração do mercado interno, mudança de matéria-prima (consolidação do pínus) e busca pelo mercado internacional. Segundo Denk (2002), a riqueza natural das matérias-primas regionais e a estrutura profissional-artesanal do setor moveleiro nos seus primeiros tempos acabaram multiplicando os estabelecimentos, o que constituiu para São Bento do Sul, Rio Negrinho e Campo Alegre um fator de economia de aglomeração quanto à disponibilidade de mão-de-obra especializada, administradores, insumos e meios de circulação. De forma geral, os anos 1990 caracterizam-se por processos de modernização tecnológica e aprofundamento da opção por exportações. De acordo com Lanzer et al. (1998), as principais condições que influenciaram o acesso ao mercado externo das empresas do pólo moveleiro de São Bento do Sul foram: (i) o prolongado quadro recessivo da economia brasileira com forte retração no mercado interno de móveis; (ii) a escassez de madeiras nobres na região; (iii) o conhecimento e certa experiência de algumas empresas na exportação de móveis maciços de pínus para a Europa; (iv) a experiência e capacidade técnica para trabalhar com essa madeira na produção de móveis em estilo semelhante ao padrão europeu e americano de consumo; e (v) a disponibilidade na região de grandes áreas reflorestadas com pínus, matéria-prima demandada nos móveis para exportação. Para Coutinho et al. (2001), outra característica importante do pólo moveleiro de São Bento do Sul é o fato de que quase todas as suas empresas exportadoras são subcontratadas para executar a produção dos móveis, uma vez que o projeto e o design são determinados pelos importadores. Com um elevado padrão tecnológico, elas apresentam uma extraordinária

271 capacidade de absorver e adaptar os projetos encomendados e manufaturá-los com eficiência, escala produtiva adequada e custos competitivos. Atualmente, o APL moveleiro de São Bento do Sul é o maior exportador do país neste setor e responde por metade das vendas de móveis brasileiros ao exterior, destinando cerca de 80% de sua produção ao mercado externo. Mais de 90% das empresas em São Bento do Sul são exportadoras, sendo que a produção de quase a totalidade destas é composta basicamente de móveis residenciais de madeira de pínus. 3.5.1.2 Especialização produtiva e número e porte das empresas Uma característica fundamental do arranjo é o predomínio de pequena e média empresa. Observa-se, na Tabela 3.5.4, que aproximadamente 93% das empresas situam-se nas categorias de micro e pequenas empresas 1. Entretanto, segundo Denk (2002), as micro e pequenas empresas representam apenas 17% do faturamento total, ao passo que as médias respondem por 35%, e as grandes compreendem 48% do faturamento. Ainda assim, as pequenas empresas destacam-se pela produtividade da hora trabalhada (R$ 28,29 contra R$ 26,53 da média do setor), o que pode ser explicado pela maior terceirização de etapas do processo produtivo de algumas pequenas empresas. Por sua vez, as grandes empresas apresentam maior utilização da capacidade instalada (86% nas grandes, 77% nas médias e 73% nas pequenas empresas 2 ). Tabela 3.5.4 Tamanho e número de empresas do APL de móveis de São Bento do Sul 2004 SÃO BENTO DO NÚMERO DE CAMPO ALEGRE RIO NEGRINHO TOTAL SUL ESTABELECIMENTOS Número Part. (1) Número Part. (1) Número Part. (1) Número Part. (1) Micro 19 73 86 77,4 116 75,8 221 76,3 Pequena 5 19,5 19 17,2 28 18,4 52 17,9 Média 2 7,5 6 5,4 8 5,2 16 5,5 Grande 0 0 0 0 1 0,6 1 0,3 TOTAL 26 100 111 100 153 100 290 100 Fonte: IBGE, RAIS (2004). (1) Participação em percentual. 1 Para finalidade da pesquisa, foi adotada a metodologia do Sebrae para definir o tamanho das empresas, dividido entre micro, pequenas, médias e grandes. As micro são aquelas que possuem entre 01 e 19 funcionários, as pequenas encontram-se na faixa de 20 a 99 funcionários, as médias, entre 100 e 499 funcionários, e as grandes são empresas com mais de 500 funcionários. 2 Denk, 2002.

272 3.5.1.3 Emprego: qualificação, escolaridade e remuneração O grau de escolaridade dos trabalhadores do arranjo concentra-se entre 1º grau incompleto e 1º grau completo basicamente 80% de toda a mão-de-obra da região situam-se nesta faixa de instrução e apenas 13,2% da mão-de-obra têm o 2º grau completo ou nível de instrução maior, conforme a Tabela 3.5.5. Ao compararmos o nível de escolaridade do arranjo moveleiro com o nível geral da microrregião, observa-se que 71,2% da mão-de-obra total possuem entre 1º grau incompleto e 1º grau completo (contra 80% do arranjo), e o percentual de trabalhadores com 2º grau completo ou mais é significativamente superior ao do arranjo cerca de 28% da mão-de-obra total. Tabela 3.5.5 - Nível de escolaridade média dos trabalhadores do APL de São Bento do Sul - 2004 NÍVEL DE PERCENTUAL DE TRABALHADORES POR NÍVEL DE ESCOLARIDADE ESCOLARIDADE CAMPO ALEGRE RIO NEGRINHO SÃO BENTO DO SUL TOTAL Analfabeto 0,4 0,0 0,35 0,3 1º grau incompleto 31,3 47,0 47,0 45,1 1º grau completo 47,0 41,0 28,0 34,3 2º grau incompleto 9,0 4,3 6,7 6,1 2º grau completo 11,1 6,3 14,0 10,7 Superior incompleto 0,9 0,8 0,1 1,0 Superior completo 0,3 0,7 3,9 2,4 TOTAL 100 100 100 100 Fonte: IBGE, RAIS (2004). Valores em percentual. A remuneração média por trabalhador da indústria moveleira no APL de São Bento do Sul é de aproximadamente R$ 585 mensais. Este valor inclui todos os municípios do APL e níveis de escolaridade dos trabalhadores. Segundo a Tabela 3.5.6, verifica-se, neste arranjo, que o diferencial salarial, por faixa de escolaridade, é maior para o nível superior em relação ao 2 grau do que deste em relação ao 1 grau. Este resultado ratifica a importância do curso universitário, para o setor de móveis, como fator determinante de ascensão salarial. Pode-se notar, ainda, que o trabalhador de São Bento do Sul tem a maior remuneração média do APL, 26% maior do que a remuneração paga em Rio Negrinho, a menor do arranjo. Tabela 3.5.6 - Remuneração média do trabalhador, por nível de escolaridade do APL de móveis de São Bento do Sul 2004 NÍVEL DE ESCOLARIDADE REMUNERAÇÃO MÉDIA (R$ MENSAIS) CAMPO ALEGRE RIO NEGRINHO SÃO BENTO DO SUL TOTAL

273 Analfabeto 393 355 474 449 1º grau incompleto 546 459 583 536 1º grau completo 510 458 565 513 2º grau incompleto 450 473 586 539 2º grau completo 560 633 770 722 Superior incompleto 1.391 1.164 1.232 1.227 Superior completo 2.033 1.776 1.771 1.774 TOTAL 533 484 656 585 Fonte: IBGE, RAIS (2004). 3.5.1.4 Mercados de destino das vendas e canais de comercialização As informações a respeito do destino da produção de móveis de madeira no APL de São Bento do Sul são baseadas em pesquisa de campo na região. Conforme Denk (2002), cerca de 80% do faturamento do setor é devido às exportações. Em Seabra et al. (2003), a estimativa é que as vendas externas são responsáveis por 75% das receitas do setor moveleiro. É absolutamente marcante, portanto, o papel das exportações no desempenho deste setor o que permite que se afirme que a dinâmica do arranjo está intimamente associada a fatores que afetam a competitividade externa. De acordo com Lefebvre e Lefebvre (2002), os determinantes da competitividade de uma pequena e média empresa, em especial exportadora, dependem de sua capacidade tecnológica entendida como sendo a habilidade da firma de resolver problemas técnicos, aperfeiçoar seu processo produtivo e criar novos produtos e de sua capacidade comercial. O sentido que se atribui à capacidade comercial inclui atividades como canais de distribuição e marketing, mecanismos de financiamento e alianças estratégicas. Apesar da importância da capacitação tecnológica das firmas exportadoras, para o caso específico do APL de móveis em Santa Catarina, tem sido destacado o papel dos canais de comercialização no desempenho empresarial. Diversos estudos ressaltam a contribuição dos agentes de exportação, que não apenas estabelecem o contato comercial entre o exportador e o importador, mas também como agentes de importação, de difusão de conhecimentos tecnológicos, atuando como verdadeiros difusores de informações, de novos conhecimentos, de novas técnicas e de novos desenhos e produtos (LANZER et al., 1998, p.80). Dentre os principais canais de comercialização das empresas, destacam-se os agentes de exportação, que chegam a estar presentes em praticamente 56% das empresas, conforme a Tabela 3.5.7. Devido aos diferentes destinos das vendas (mercado interno ou exportação), a utilização dos canais de comercialização é diferente entre pequenas, médias e grandes empresas. De acordo com Denk (2002), as médias e grandes empresas utilizam mais os

274 agentes de exportação em virtude da maior participação na exportação, e as pequenas empresas utilizam mais o representante comercial (mercado interno). Vale ressaltar, entretanto, que as grandes empresas também dirigem suas vendas para o mercado interno, o que pode ser verificado através da importância da venda direta aos varejistas como canal de comercialização utilizado por 31,34% das grandes empresas moveleiras. Tabela 3.5.7 - Principais canais de comercialização por tamanho de empresa do APL de móveis de São Bento do Sul 2002 CANAL DE COMERCIALIZAÇÃO CLASSIFICAÇÃO PERCENTUAL PERCENTUAL TOTAL Agentes de exportação/ tradings P M G 46,07 75,27 31,34 55,97 Representantes comerciais no Brasil Venda direta varejistas P M G P M G 35,21 18,94 1,67 25,23 5,86 2,06 31,34 7,10 Outros.... 11,7 TOTAL.... 100 Fonte: Elaboração com base em Denk (2002). Nota: Sinal convencional utilizado:.. Não se aplica dado numérico. No que se refere ao escoamento da produção moveleira do APL de São Bento do Sul, pode-se verificar que esta é feita através do Porto de São Francisco do Sul, este que representa o quinto maior porto brasileiro em movimentação de contêineres. A questão da logística de transporte da produção moveleira está intimamente associada à vocação exportadora do setor. O escoamento da produção ocorre principalmente por meio do Porto de São Francisco do Sul. Para alcançar o porto, proveniente se São Bento do Sul (principal cidade do arranjo produtivo), existem dois percursos: 120 Km, via rodovia SC-301 (rodovia estadual pavimentada); ou 105 Km, via rodovia BR-208 (rodovia federal pavimentada). No primeiro trajeto, o volume de tráfego é significantemente menor, porém, há trechos de grande declive/aclive (Serra Dona Francisca). Já o segundo trajeto percorre regiões mais populosas e industrializadas (como Jaraguá do Sul), com mais tráfego e trechos com estrada com más condições de conservação. Vale destacar, como um dos principais gargalos logísticos, o excesso de veículos na BR-280, especialmente no trecho a leste da BR-101, único acesso ao Porto de São Francisco do Sul.

275 A duplicação da Rodovia BR-280, prevista pelo Governo Federal, inicialmente no trecho do porto à Jaraguá do Sul, é uma medida essencial para garantir a competitividade das exportações da região Norte do Estado. 3.5.1.5 Fornecedores dos insumos e de máquinas e equipamentos As relações entre os fornecedores e empresas produtoras são essenciais quando o intuito é entender os clusters industriais, bem como a eficiência produtiva e as formas de cooperação. No caso da região moveleira de São Bento do Sul-SC, pode-se identificar, em âmbito nacional, as regiões do Planalto Nordeste de SC (Canoinhas e Porto União) e de Bento Gonçalves (RS) como a localização dos principais fornecedores de máquinas e equipamentos. O estado de São Paulo é a origem principal no fornecimento de acessórios, tintas e vernizes. Em termos de matéria-prima, os principais fornecedores de madeira (pínus reflorestados) estão próximos do APL, especialmente na região do planalto serrano de Santa Catarina. Cabe ressaltar ainda que a Tafisa Brasil S.A., grande fornecedor mundial de MDF, está instalada na cidade de Piên (PR), distante cerca de 50 KM de São Bento do Sul. Numa análise geral dos fornecedores, segundo Denk (2002), observa-se que 95% do faturamento é devido ao gasto com os fornecedores de insumos e os 5% restantes, aos fornecedores de máquinas. Destaca-se que o faturamento de máquinas é pouco representativo, pois as principais empresas estão localizadas fora do cluster muitas delas no exterior, principalmente na Itália, que é a maior exportadora mundial de bens de capital para o setor moveleiro. No setor de máquinas localizadas no contexto do APL, salienta-se a produção de seccionadeiras, lixadeiras, destopadeiras e furadeiras cujos valores individuais não são expressivos. A capacidade instalada dos fornecedores localmente estabelecidos tem crescido rapidamente, tornando assim tal setor mais capacitado para atender a demanda. Destacam-se empresas produtoras de máquinas e equipamentos, que duplicaram suas instalações nos últimos dois anos. A expansão local dos fornecedores pode ser vista como uma conseqüência da desverticalização das empresas moveleiras. É importante ressaltar que as empresas fornecedoras são geralmente supridas por diversos subfornecedores, dependendo do ramo de atuação. Conforme Denk (2002), os fornecedores de madeira, na sua maioria, possuem fonte própria de suprimento na região, tratando-se de madeira de pínus. As empresas produtoras de tintas e vernizes são supridas por

276 produtos químicos vindos de São Paulo e 40% de componentes importados. As empresas de papelão obtêm a sua matéria-prima principal em Santa Catarina, Paraná e São Paulo. A busca por inovações no processo produtivo, visando assim à modernização tecnológica mediante a inclusão de novos equipamentos e adoção de novas técnicas, vem sendo percebida através do grande investimento que está sendo feito pelos fornecedores nestes últimos anos. Vale mencionar que a origem das inovações técnicas é caracterizada pela aquisição no mercado nacional e cooperação com clientes. Fica clara a visão de desenvolvimento próprio em detrimento de parcerias com centros tecnológicos e outras instituições, de acordo com Denk (2002, p. 204), essas informações demonstram a preocupação das empresas nos aspectos internos, deixando em segundo plano a preferência pelas especificações dos clientes como importante fonte de pesquisa para o desenvolvimento dos seus produtos, visando à satisfação dos clientes. De modo geral, a relação entre empresas moveleiras e fornecedores demonstra, segundo Denk (2002, p. 212),...de um lado, os fabricantes de móveis buscam tecnologias no exterior através da importação de máquinas e equipamentos e, por outro lado, os fornecedores procuram acompanhar o processo de evolução tecnológica das empresas locais, participando de feiras internacionais e criando as condições locais de competitividade para não perder o mercado nas suas portas. 3.5.1.6 Caracterização do arcabouço institucional público e privado Para Denk (2002), as instituições são um dos principais atores de APLs, prestando serviços de apoio para a consolidação das relações, planejando atividades que promovam iniciativas conjuntas para o desenvolvimento regional e identificando pontos de melhoria contínua para a superação de fraquezas da indústria em questão. Neste sentido, a análise das instituições pode ajudar significativamente na compreensão de um arranjo produtivo local. Dentre as principais instituições que atuam sobre o APL de São Bento do Sul, destacam-se a Associação Brasileira da Indústria do Mobiliário (ABIMÓVEL), o Programa Brasileiro de Incremento à Exportação (PROMÓVEL), o SENAI, a FETEP, a Fundação de Ensino, Tecnologia e Pesquisa e Centro Tecnológico do Mobiliário (CTM) e as associações regionais locais. A ABIMÓVEL foi fundada em São Paulo, em 1976, e possui representatividade nacional, congregando fabricantes de móveis e fornecedores de insumos para a cadeia

277 moveleira de todo o país. Dentre seus programas de incentivo à indústria moveleira, tem-se: (i) a realização da Feira Internacional de Vendas e Exportação de Móveis (FENAVEM), mais antiga feira do setor moveleiro; (ii) o programa Brazilian Furniture 3, desenvolvido com a Agência de Promoção de Exportações (APEX), do Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior; e (iii) o PROMÓVEL, criado em 1998. Com recursos da APEX (50%), do setor (25%) e de seus fornecedores (25%), o Promóvel tinha como objetivo inicial atingir um nível de exportação de US$ 2,5 bilhões após três anos de funcionamento por meio de reestruturação das empresas, aumentando sua capacitação para exportar e especificamente incrementando as vendas para o mercado norte-americano. Segundo Denk (2002), 29% das empresas consideram o programa muito bom, embora deva se enfatizar que 29% acreditam que a idéia é boa, mas não atinge os objetivos. O SENAI surgiu na década de 1970 devido à percepção, por parte dos empresários, da falta de escolas técnicas para o preparo de marceneiros. Sua criação ocorreu em 1972, e a inauguração do Centro de Treinamento deu-se em 1977. Apesar da criação do Centro de Treinamento, acentuou-se a preocupação quanto à capacitação dos trabalhadores, diante das novas necessidades de quantidade e qualidade da mão-de-obra. Conforme Bercovich (1993), a capacitação não conseguiu acompanhar as transformações com a implantação de novas máquinas e equipamentos, além da elevação do nível de qualidade exigido no início do processo de internacionalização. Assim, em 1975, foi criada a FETEP, que tinha como objetivo principal o desenvolvimento tecnológico, econômico e social, promovendo cursos e treinamento para a capacitação de mão-de-obra, com prioridade para o setor moveleiro. Em 1994, criou-se o primeiro curso superior do Brasil em Tecnologia Mecânica em Móveis, um convênio realizado entre a FETEP e a Universidade do Desenvolvimento de Santa Catarina (UDESC). Também foi criado, na segunda metade dos anos 90, o CTM, que recebe todos os equipamentos do SENAI. A administração do CTM é feita em parceria SENAI/FETEP. Segundo Denk (2000), as instalações anteriores do SENAI são cedidas em comodato para a formação do Centro de Gestão Empresarial (CGE). Outra grande parceria estimulada por lideranças locais, para abrigar a Associação Comercial e Industrial de São Bento do Sul (ACISBS), Junta Comercial, Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), Centro Internacional de Negócios (CIN), Projeto Promóvel, Sindicato Patronal da Indústria da Construção e do Mobiliário de São Bento do Sul e Campo Alegre (SINDUS-MOBIL), 3 O programa Brazilian Furniture, desenvolvido junto aos principais pólos moveleiros do país, tem como objetivo o assessoramento e incentivo das empresas na exportação de seus produtos e na participação em feiras internacionais.

278 Associação Regional de Pequenas e Médias Empresas de Móveis (ARPEM), além de salas de treinamento e auditório. Pode-se destacar o papel do CTM, que, diante do aumento das necessidades de especialização da mão-de-obra, aumentou o número de cursos oferecidos, investiu na melhoria dos equipamentos dos laboratórios e passou a realizar entrevistas e pesquisas constantes para avaliar as necessidades das empresas. Apesar da significativa malha institucional relacionada com a atividade moveleira no APL de São Bento do Sul, percebe-se a baixa freqüência de relações entre as empresas e entidades como o SENAI, CTM e Universidades. A dificuldade de relacionamento pode ser creditada, de acordo com Denk (2002), à visão voltada para dentro da empresa, ratificando a posição de que tais relações significam mais trabalho e desvio de foco para a empresa. Assim, como pode ser constatado na Tabela 3.5.8 abaixo, as relações inter-firmas para trocas de informações ocorrem predominantemente com serviços de manutenção (aspecto interno ligado diretamente à produção), seguidas por agentes de exportação e representantes (elos naturais para os negócios das empresas). Tabela 3.5.8 - Relações inter-firmas para troca de informações no APL de móveis da região de São Bento do Sul 2002 FONTE FREQÜÊNCIA DE RELAÇÕES (1) FREQÜENTE OCASIONAL NUNCA TOTAL Serviços de manutenção 50 36 7 93 Agentes de exportação 46 39 11 96 Representantes 36 39 25 100 Consultorias 21 68 11 100 SENAI 11 68 18 97 FETEP CTM 7 72 14 93 Bibliotecas especializadas 4 18 71 93 Universidades --- 32 57 89 Fonte: Elaboração própria com base em Denk (2002). (1) Freqüência em percentual. Nota: Sinal convencional utilizado: --- Dado numérico igual a zero não resultante de arredondamento. As empresas fornecedoras do APL também apresentam baixos índices de utilização das instituições de apoio da região. Apenas 9% das fornecedoras utilizam freqüentemente o SENAI e a FETEP-CTM. As razões para a baixa utilização podem ser apontadas como sendo: realização por conta própria da busca pela pesquisa e informação tecnológica de ponta; as instituições de pesquisa estavam fragilizadas no início da década de 90 e recentemente passaram a intensificar esforços para o desenvolvimento de pesquisas e aproximação com as empresas. Ainda assim, os principais serviços utilizados junto ao Centro Tecnológico estão relacionados a cursos e treinamentos 64% da utilização dos serviços oferecidos pelo CTM

279 são de cursos específicos, seguidos por 18% de análise e ensaios de produtos acabados e de 18% de parcerias para desenvolvimento de projetos. Os percentuais relativamente baixos relacionados à pesquisa de novos materiais e às parcerias indicam a possibilidade de crescimento desta inter-relação, o que poderia integrar de forma mais consistente a cadeia produtiva. 3.5.1.7 Nível tecnológico De um modo geral, pode-se afirmar que as empresas investem em avanço técnico com dois objetivos: (i) aumentar a produtividade de seus recursos e, com isso, reduzir seus custos; e (ii) gerar novos produtos ou acrescentar serviços a eles e, assim, diferenciar o produto vendido no mercado. Em Seabra et al. (2003), a pesquisa de campo com empresas moveleiras de São Bento do Sul revela que a liderança de custo das empresas tem pouca relação com a adoção de uma tecnologia avançada. Na verdade, a estratégia de baixo custo é justificada principalmente pelo acesso privilegiado à matéria-prima (madeira de pínus). Já as empresas que se identificam com a liderança em diferenciação apontam como principal fator determinante para tal estratégia o alto padrão de qualidade adotado nas diversas fases de produção de móveis. Na concepção de Seabra et al. (2003), o alto padrão tecnológico adotado no APL de móveis associado à existência de mão-de-obra qualificada confere às empresas moveleiras da região uma destacada capacidade de produzir móveis diferenciados, conforme a especificação requerida pelo cliente, com custos competitivos no mercado internacional e em um prazo de entrega rigorosamente compatível com o contratado. De maneira geral, pode-se assinalar que a cadeia produtiva de móveis tem experimentado significativas mudanças quanto ao padrão tecnológico. Além da modernização de máquinas e equipamentos com dispositivos microeletrônicos e da reestruturação organizacional protagonizada, destacam-se as inovações com respeito à matéria-prima. Tais inovações foram necessárias devido às restrições ambientais, interpostas em escala ampla, que forçaram uma diminuição drástica da exploração de madeiras nobres especialmente a partir do final dos anos 1980 (COUTINHO et al., 2001). Esta modificação em direção ao uso de madeiras reflorestadas pínus, eucaliptos e madeira aglomerada (em especial MDF) condicionou o uso de máquinas adaptadas a estes tipos de madeira.

280 O investimento em novas tecnologias tem sido também uma estratégia para reduzir custos e ajustar o produto segundo as especificações dos clientes, sobretudo do mercado externo. A região é responsável por apresentar 96% de sua produção verticalizada, e apenas 4% terceirizada. No que se diz respeito à eficiência da produção, as empresas adotam, de acordo Denk (2002, p. 139): Aperfeiçoar o processo (89%), modernizar as instalações (75%), aumentar a produtividade (71%), treinar o pessoal, racionalizar as tarefas da produção, diminuir o tempo de máquina parada, obter a melhor carga máquina conforme o mix de produção e instalar equipamentos modernos (64%). O cenário deste APL de móveis denota uma preocupação com a profissionalização da administração e com a implantação de sistemas de gestão de qualidade. Segundo Denk (2002, p. 142), o setor moveleiro não recebe a mesma pressão de certificação na cadeia produtiva como ocorre com outros setores e muitos empresários estão no processo de planejamento ou implantação de novas técnicas de gestão. De fato, a invasão técnica pode estar relacionada não com a área de produção, mas com a gestão dos recursos da empresa. Pode-se observar, na Tabela 3.5.9, que as empresas, de um modo geral, estão despertando cada vez mais o interesse de investir em treinamento e adoção de novas técnicas de gestão; o que caracteriza uma alta propensão à inovação organizacional e administrativa do setor. Para as grandes empresas, pode-se perceber que 100% das mesmas implantaram a utilização sistemática de PCP e CAD/CAM. Para algumas destas técnicas de gerenciamento, como qualidade total e PCP, a incidência para pequena e média empresa é bastante significativa. Porém, de uma maneira geral, as empresas de grande porte adotam inovações em gestão com maior freqüência. Isto se verifica, especialmente, para estratégias que envolvem custos elevados como ISO 9000, selo ambiental e CAD/CAM. Tabela 3.5.9 - Situação das tecnologias de gestão do APL de móveis da região de São Bento do Sul 2002 TECNOLOGIA DE GESTÃO TAMANHO DE EMPRESA (1) PEQUENA MÉDIA GRANDE ISO 9000 50 36 67 Selo Ambiental 57 45 67 Kanban 42 09 33 5 S-organização/limpeza 78 72 67 Qualidade total 86 63 67 CAD/CAM 35 63 100 PCP 64 91 100 Just in time 43 36 67 Fonte: Elaboração com base em Denk (2002). (1) Valores em percentual.

281 Apesar da preocupação em implantar novas técnicas para a melhoria dos aspectos organizacionais e administrativos das empresas, observou-se outro fator importante, cujas raízes são históricas/culturais, mas que impedem assim um maior desenvolvimento do potencial moveleiro da região. As empresas apresentam um foco no ambiente interno, definindo uma visão mais reativa do que sistêmica no gerenciamento do negócio; isto é, o empresário privilegia mais a produção do que investimentos em estratégias para melhor atendimento ao cliente. Analisando a origem do design utilizado pelas empresas da região de São Bento do Sul (SC), conforme Denk (2002, p. 152): De forma geral, há uma preferência pela utilização de especificação de cada cliente e desenvolvimento interno da empresa. De fato, o design dos móveis principalmente no caso de exportações é predominantemente concebido pelo cliente, com base no conhecimento de mercado consumidor específico, e repassando para a empresa moveleira. De modo alternativo, o desenho e o estilo dos móveis são desenvolvidos em setor interno à empresa, o que ocorre essencialmente para a produção com destino ao mercado doméstico. Outras formas mais desenvolvidas de cooperação para o design ainda são pouco freqüentes. Observa-se que as participações em feiras nacionais e internacionais têm se tornado importante fonte de inspiração e atualização de design para a indústria moveleira de São Bento do Sul, conforme a Tabela 3.5.10. A parceria com outras empresas, com universidades e escolas de design não tem muita representatividade, mostrando as fracas relações com a rede de externalidades do arranjo produtivo local. Há pouca preferência pelo intercâmbio com o CTM, sobretudo nas médias e grandes empresas. Tabela 3.5.10 Fontes de informações para inovações técnicas do APL de móveis da região de São Bento do Sul 2002 PROCEDÊNCIA TAMANHO DE EMPRESA PERCENTUAL Adquiridas no mercado nacional Adquiridas no mercado internacional Desenvolvido internamente Cooperação com os agentes de exportação e representantes Cooperação fornecedores de máquinas P 71 M 64 G 67 P 64 M 73 G 100 P 78 M 73 G 67 P 71 M 82 G 67 P 64 M 73 G 67

282 Cooperação com outras empresas locais Consultorias especializadas fora da região Feiras nacionais Feiras internacionais Intercâmbio Centro Tecnológico-CTM Fonte: Elaboração própria com base em Denk (2002). P 64 M 64 G 33 P 43 M 36 G 33 P 86 M 82 G 67 P 64 M 64 G 67 P 57 M 64 G 33 O avanço tecnológico na indústria moveleira representa um decisivo fator na redução de custos e ganhos de competitividade empresarial. Embora as barreiras tecnológicas não sejam muito representativas nesta indústria pois não existem significativas economias de escala no dimensionamento dos equipamentos, nem restrições ao acesso de novas tecnologias desenvolvidas, por exemplo, pelo setor de insumos químicos e de bens de capital a adoção de novas tecnologias (sua rapidez e eficiência) depende do acesso a informações e regime de cooperação. Dentre as principais fontes de informações para a inovação tecnológica no APL de São Bento do Sul, destaca-se a semelhança de incidência de tecnologias adquiridas nos mercados interno e externo, revelando alto grau de internacionalização do arranjo também quanto às suas decisões de incorporação de tecnologia. Vale a pena mencionar, ainda, a grande importância dos agentes de exportação e das feiras nacionais, vis-à-vis à baixa importância da cooperação com empresas locais e com o CTM. Tabela 3.5.11 Origem do design utilizado pelas empresas do APL da região de São Bento do Sul - 2002 FONTE TAMANHO DE EMPRESA PERCENTUAL Capacidade Interna P 86 Desenvolvimento interno da empresa M 82 G 67 P 50 Escritório de design M 64 G 33 P 43 Contratação de especialistas M 36 G 67 Capacidade Externa P 36 Parceria com outras empresas M 54 G 67 Contratação de Centro Tecnológico - CTM P 36

283 Universidade e escolas de design Visitas e feiras nacionais Visitas e feiras internacionais Especificação de clientes Fonte: Elaboração com base em Denk (2002). M 45 G 33 P 28 M 36 G 33 P 78 M 91 G 67 P 57 M 73 G 67 P 57 M 73 G 100 A origem do design utilizado pelas empresas pode ser dividida entre aquisições internas ou externas às empresas. Dentre as aquisições internas, a Tabela 3.5.11 mostra que as pequenas e médias empresas desenvolvem internamente seu design 86% das pequenas e 82% das médias adotam esta estratégia ao passo que as grandes empresas contratam especialistas para desenvolverem o design de seus móveis (67% das grandes empresas utilizam serviços de especialistas). Tal resultado indica o padrão de exportação das pequenas e médias, que vendem seus móveis ao exterior sem marca própria e de acordo com critérios de design pré-determinados pelo importador dos móveis da região. As grandes empresas, que vendem grandes volumes para o mercado interno, apresentam uma preocupação maior com o design, visto que suas marcas precisam ser consolidadas internamente. Quanto à aquisição externa do design, percebe-se a importância da participação em feiras nacionais como principal origem, utilizada pela maior parte das empresas, independente do tamanho das mesmas. A especificação dos clientes também assume grande importância. Assim, a cooperação entre empresas e estas com instituições apresenta um elo relativamente fraco, indicando que as empresas preferem adquirir por conta própria, sem inter-relação com as demais empresas do arranjo, suas melhorias internas. 3.5.1.8 Impactos ambientais A indústria moveleira, em seu processo produtivo, não pode ser considerada como uma atividade poluente. Por outro lado, o uso da madeira tem sido crescentemente regulado. A exportação de móveis é praticamente restrita a produtos manufaturados a partir de madeira obtida de florestas plantadas (especialmente pínus).

284 O selo Forest Stewardship Council (FSC), ou Conselho de Manejo Florestal, implantado no Brasil desde 2002, visa identificar e rotular produtos provenientes de florestas manejadas. Neste sentido, desenvolveu dez regras que definem o que é um manejo responsável da floresta e as aplica ao mundo inteiro. Quando uma floresta é bem manejada e respeita todos os padrões estabelecidos pelo FSC, ela pode receber um certificado e toda a madeira que sai dessa floresta carregará um selo. Porém, para que um produto acabado (madeira serrada, cadeira, lápis, papel, etc) receba o selo, será necessário também demonstrar um controle sobre essa madeira certificada durante o processo de beneficiamento e garantir a sua rastreabilidade. Esse processo é chamado Cadeia de Custódia. No Brasil, 172 Cadeias de Custódia são certificadas pelo FSC. O estado de Santa Catarina possui 44 cadeias certificadas, e só a microrregião de São Bento do Sul conta com 11 certificações. Duas das maiores e mais antigas empresas do APL, Móveis Rudnick e Móveis Zipperer, participam desta cadeia. 3.5.1.9 Incentivos públicos incidentes no arranjo No que diz respeito à influência dos fatores relacionados a incentivos públicos que possam afetar o desempenho das empresas moveleiras de São Bento do Sul, estes estão associados à questão tributária, seguidos da política de estímulos à exportação, como pode ser observado na Tabela 3.5.12. Além disso, Denk (2002) destaca que 100% das médias e grandes empresas consideram a falta de incentivos na política exterior como um entrave ao desenvolvimento da indústria moveleira. Tabela 3.5.12 - Decisões políticas para apoio no desenvolvimento da indústria moveleira no APL de São Bento do Sul 2002 FATORES TAMANHO DE EMPRESA PERCENTUAL P 86 M 82 G 100 Mudança na alíquota dos impostos sobre o produto Política de estímulos às exportações Restrição de créditos e taxa de juros Política de estímulo à importação de máquinas P M G 100 91 67 Programas específicos para o desenvolvimento P 100 P M G P M G 100 91 67 93 91 67

285 Fonte: Elaboração com base em Denk (2002), p.242. M G 100 67 Neste sentido, os mecanismos financeiros mais utilizados pelas empresas exportadoras do arranjo limitam-se aos tradicionais Adiantamento de Contrato de Câmbio (ACC) e Adiantamento de Cambiais Entregues (ACE). Como pode ser constatado na Figura 3.5.2 a seguir, praticamente 82% das empresas utilizam ACC/ACE, e apenas 17% utilizam outros mecanismos de crédito. APEX 0% BNDES-Exim 11% FGPC 0% PROEX 7% ACE 45% ACC 37% Fonte: Seabra (2003). Figura 3.5.2 - Mecanismos de crédito utilizados pelas empresas do APL de móveis de São Bento do Sul 2003 3.5.2 Capacitação tecnológica e inovação 3.5.2.1 Fontes e formas de capacitação internas ao arranjo Como ressaltado anteriormente, a rápida expansão da indústria moveleira nos anos 1970 resultou em uma relativa escassez de mão-de-obra qualificada. Em resposta a esta carência, instala-se, em 1972, o SENAI, o qual inaugura seu Centro de Treinamento, passando a formar mão-de-obra para a área técnica (principalmente, marceneiros). Apesar da criação do Centro de Treinamento, acentua-se a preocupação quanto à capacitação da mão-de-obra, diante das novas necessidades de quantidade e qualidade de trabalhadores para o setor. Conforme Bercovich (1993), a capacitação profissional não conseguiu acompanhar as transformações induzidas pela aquisição de novas máquinas e equipamentos e também pela internacionalização das empresas (por exemplo, pessoal qualificado para operar com comércio exterior). Assim, também foi criada a FETEP, que tinha como objetivo principal o desenvolvimento tecnológico, econômico e social, promovendo cursos e treinamento para a capacitação de mão-de-obra, com prioridade para o setor moveleiro.

286 Os anos 1980 foram marcados por uma nova e decisiva fase de desenvolvimento da indústria de móveis da região, caracterizada pela retração do mercado interno, mudança na matéria-prima (o alto custo do pinho (araucária) e sua previsível extinção levaram os industriais a substituírem-no por cerejeira, mogno e pínus) e busca do mercado internacional. O setor moveleiro apresentou importantes avanços tecnológicos com a implantação da secagem artificial da madeira através de estufas e as exportações representavam, já no final da década de 1980, 30% das exportações brasileiras, segundo Denk (2002). No início da década de 1990, foi percebido, no aspecto tecnológico, um forte processo de reequipamento e modernização na infra-estrutura produtiva por parte das empresas. Para Bercovich (1993), os principais mecanismos que viabilizaram a penetração e assimilação de tecnologia externa são os seguintes: (i) FETEP apoiou a modernização do setor e difusão de conhecimentos técnicos; (ii) as firmas fornecedoras de insumos e equipamentos, com a rede de assistência técnica; (iii) os grandes clientes, que solicitaram novos requisitos de qualidade e design; (iv) as agências de exportações vinculando a indústria de São Bento do Sul (SC) com outros países, onde a nova tecnologia é gerada. Neste sentido, foi criado, em 1994, o primeiro curso superior do Brasil em Tecnologia Mecânica em Móveis, sob a forma de um convênio realizado entre a FETEP e a UDESC. Também foi criado, na segunda metade dos anos 1990, o CTM, que recebe todos os equipamentos do SENAI. A administração do CTM passa a ser feita em parceria SENAI/FETEP. De acordo com Denk (2002), as instalações anteriores do SENAI são cedidas em comodato para a formação do CGE, outra grande parceria estimulada por lideranças locais, para abrigar a ACISBS, a Junta Comercial, a CDL, o CIN, o Projeto Promóvel, a SINDUS-MOBIL, a ARPEM, além de salas de treinamento e auditório. Pode-se destacar o papel da CTM, que, diante do aumento das necessidades de especialização da mão-de-obra, elevou o número de cursos oferecidos, investiu na melhoria dos equipamentos dos laboratórios e passou a realizar entrevistas e pesquisas constantes para avaliar as necessidades das empresas. Apesar das transformações na base tecnológica experimentadas pela indústria moveleira durante este período, pode-se observar que o design do produto continua sendo ditado pelos clientes. As empresas não vendem design, e sim capacidade técnica, preço competitivo e capacidade de resposta à demanda. Uma importante medida da capacitação tecnológica interna das empresas é dada pelos investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D). Tais investimentos são ainda pouco

287 significativos no APL; a maioria das empresas continua utilizando conhecimentos tácitos internos dos prototipistas, funcionários da produção, e o apoio do próprio dono. Segundo Denk (2002), a principal maneira de desenvolvimento de P&D decorre do aprendizado das empresas por processos de learning by doing, através dos quais a experiência acumulada permite que os técnicos encontrem novas soluções definindo novos processos, adaptações tecnológicas e melhorias de qualidade. 3.5.2.2 Fontes e formas de capacitação externas ao arranjo A partir de uma avaliação abrangente dos diversos APLs de móveis de madeira no território nacional, pode-se apontar como estratégias gerais de aumento de competitividade as seguintes medidas: (i) investimentos na formação profissional em áreas relacionadas à melhoria do produto, em especial design de móveis; (ii) incremento da eficiência dos canais de comercialização, principalmente marca, participação em feiras e outras formas de marketing; e (iii) incentivo à formação de consórcios de exportação. Neste sentido, a Abimóvel teve a iniciativa de criar o Projeto Promóvel em parceria com a APEX, que tem como objetivo incentivar as empresas a implementar formas associativas (consórcios) para negociar diretamente com os seus clientes e fornecedores e viabilizar a participação em eventos e feiras nacionais e internacionais. Dentro do contexto do Promóvel, destaca-se o programa Brazilian Furniture, o qual visa converter o modelo de exportação de indústria brasileira para um modelo de maior valor agregado, baseado em design e comercialização próprios. Fatores locais e regionais externos às empresas também podem ser apontados como determinantes do avanço tecnológico das empresas do APL moveleiro da região de São Bento do Sul. Exemplos são: a criação da Fundação Promotora de Eventos de São Bento do Sul (PROMOSUL), um pavilhão de exposições com 15.500 m 2, com toda a infra-estrutura para feiras nacionais e internacionais, além de eventos como seminários e congressos: a consolidação da unidade da UNIVILLE em São Bento do Sul, que busca oferecer cursos de graduação e pós-graduação com características de interesse regional; (iii) a inauguração da Sociedade Educacional de São Bento do Sul (SOCIESBS), fundação mantenedora da Escola Tupy que possui instalações e estrutura própria na cidade. Há também uma significativa

288 aproximação, em termos de projetos de desenvolvimento tecnológico, com as outras universidades da região, como a UDESC e a UFSC. O aprendizado ocorre também por processos de learning by interacting, que se dá através da interação com outras empresas, centros tecnológicos e técnicos dos fornecedores locais. Como visto acima, tais interações são ainda pouco freqüentes. Por fim, de modo menos importante, conforme Denk (2002), as inovações ocorrem no APL moveleiro de São Bento do Sul por meio de um processo de learning by using, no qual a inovação é resultado da interação entre a empresa e os clientes no contato comercial. Isto porque a condição de exigência da demanda externa, qual seja, design pré-elaborado no país de origem da importação dos móveis de São Bento do Sul, favorece e incentiva a maior interação do processo tecnológico entre empresa e comprador na medida em que este pode colaborar para que o desenvolvimento de determinada tecnologia auxilie no atendimento às exigências e na efetivação dos negócios de forma mais ágil. 3.5.3 Cooperação e governança 3.5.3.1 Atores participantes em atividades de coordenação e mobilização coletiva As diversas empresas, em grande parte de pequeno e médio porte, do APL moveleiro de São Bento do Sul interagem ativamente especialmente devido à intermediação de instituições locais e regionais. Embora a natureza da cooperação seja muitas vezes de caráter informal e ocasional, ela ocorre motivada por apoios à atividade moveleira promovidos por entidades do setor. Neste aspecto, pode-se verificar com base na Tabela 3.5.13, que a associação regional de PME s moveleiras é apontada como sendo de média e grande importância para 100% das empresas entrevistadas. Justifica-se a destacada relevância desta instituição pela sua representatividade do segmento (pequena e média empresa) e pelo seu caráter regional. Quanto a este último aspecto, ratifica-se o papel das relações pessoais e da confiança alcançada por instituições locais, principalmente no contexto de cidades de pequeno porte. Outra entidade de apoio ao setor apontada como muito relevante (75% dos entrevistados atribuíram muita ou total importância) é a PROMÓVEL. Como salientado anteriormente, o objetivo da PROMÓVEL é especificamente estimular as exportações de móveis através de programas de treinamento empresarial, visando à implantação de uma