NOTA ECONÔMICA. Indústria brasileira perde competitividade há uma década. Custo Unitário do Trabalho em dólares reais - CUT

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Transcrição:

Informativo CNI NOTA ECONÔMICA 1 Indústria brasileira perde competitividade há uma década A indústria brasileira tornou-se menos competitiva nos últimos 10 anos. A perda de competitividade é retratada pelo crescimento do custo unitário do trabalho em dólares reais (CUT), significativamente acima de nossos principais concorrentes. O Custo Unitário do Trabalho em dólares reais - CUT O CUT é uma medida de competitividade baseada nos determinantes da competitividade. Ele representa o custo com trabalho para se produzir uma unidade de um bem. Quanto maior o CUT, menor tende a ser a competitividade do país. A competitividade é um conceito relativo, de modo que o importante é a evolução do CUT de um país com relação ao CUT de seus principais concorrentes. Para isso, é necessário mensurar os CUTs em uma mesma unidade monetária, usualmente o dólar norte americano. Nesta Nota Econômica, comparamos a evolução do CUT em dólares reais do Brasil com o de outros 11 países 1. O CUT é influenciado por três fatores: salário, produtividade do trabalho e taxa de câmbio 2. Um aumento do salário aumenta o CUT, reduzindo a competitividade do país. Trabalhadores mais produtivos geram mais produtos, reduzindo o custo por unidade de produto e aumentando a competitividade. A apreciação da moeda doméstica aumenta o CUT e reduz a competitividade. Entre 2002 e, o CUT da indústria brasileira acumula um crescimento de 136%, taxa cerca de duas vezes maior que a da Austrália (67%), país com maior crescimento do CUT após o Brasil. O terceiro país com o maior crescimento do CUT registra um aumento de 26%, e sete dos 12 países considerados apresentam redução do CUT no período. Custo Unitário do Trabalho em dólares reais - CUT Taxa anual média de crescimento (%) 1 No período de 2007 a, o México também é incluído na análise, totalizando para este período 12 países, além do Brasil. 2 Veja quadro na página 3. 1 Fonte: Elaborado pela CNI, com base em estatísticas do BLS, The Conference Board, OCDE, Banco Mundial, IBGE, BACEN, FGV, INEGI, SINGSTAT, DGBAS e da CNI.

O que está por trás do crescimento do CUT? De 2002 a, os três fatores salário, câmbio e produtividade contribuíram negativamente para a competitividade brasileira. Entre os 12 países considerados, o Brasil registra o menor crescimento da produtividade do trabalho, a maior apreciação cambial real e o segundo maior aumento do salário médio real. O salário médio real dos trabalhadores industriais brasileiros cresceu a uma taxa média anual de 1,8%, inferior apenas à taxa da Coreia do Sul (2,5% a.a.). A produtividade do trabalhador industrial brasileiro cresceu, em média, 0,6% a.a. e a moeda brasileira apreciou-se a uma taxa anual média de 7,2%. Como resultado, o CUT no Brasil cresceu em média 9,0% a.a., durante os 10 anos considerados. Componentes do CUT Taxa anual média de crescimento (%) - Salário médio real (em moeda doméstica) Produtividade do trabalho (produto por hora trabalhada) Taxa de câmbio real (moeda doméstica por dólar) Fonte: Elaborado pela CNI, com base em estatísticas do BLS, The Conference Board, OCDE, Banco Mundial, IBGE, BACEN, FGV, INEGI, SINGSTAT e DGBAS. A Coreia do Sul registra a maior taxa de crescimento do salário médio real e ainda sofre o impacto negativo adicional de uma apreciação real de sua moeda, ainda que de apenas 0,9% a.a. a terceira menor dos países considerados. No entanto, o país registra o maior crescimento da produtividade do trabalho (6,7%), de modo que o CUT cai a uma taxa média anual de 3,0%, a terceira maior redução, abaixo apenas dos Estados Unidos e Taiwan. Taiwan, que apresenta a maior queda do CUT entre 2002 e, registra um desempenho relativo positivo dos três componentes. O salário médio real dos trabalhadores industriais de Taiwan cresce 0,1% a.a., perdendo apenas para os Estados Unidos, único país com redução do salário médio real: -1% a.a. Diferentemente dos demais países, a moeda taiwanesa deprecia-se, em termos reais, com relação ao dólar norte-americano. A produtividade do trabalho também teve um papel de destaque. O país apresenta a segunda maior taxa de crescimento: 6,2% a.a. Os Estados Unidos, segunda maior queda do CUT, também foi beneficiado pela depreciação de sua moeda com relação a todas as demais economias (exceto Taiwan) e por uma elevada taxa de crescimento da produtividade do trabalho: 4,4% (a terceira maior, igual à de Cingapura). Ademais, foi o único país que registrou queda no salário médio real. 2

Decompondo o Custo Unitário do Trabalho em dólares reais - CUT O CUT pode ser decomposto em salário, produtividade e taxa de câmbio, o que permite identificar o principal fator determinante da evolução da competitividade. Desse modo, o CUT em dólares reais pode ser expresso como: salário médio real inverso da taxa de câmbio real inverso da produtividade do trabalho Onde: w é o salário médio nominal em moeda doméstica, que inclui além dos salários propriamente ditos, os gastos previdenciários e outros tributos relacionados ao trabalho; e é a taxa de câmbio nominal em moeda doméstica por dólar; P dom é o índice de preço ao produtor da indústria manufatureira doméstica e P US$ é o índice de preço ao produtor da indústria manufatureira dos Estados Unidos; Y é o produto e H o número de horas trabalhadas. A razão Y H é a produtividade do trabalho (produto por horas trabalhadas); o produto wh é o total do gasto com trabalhadores e a expressão wh/y é o custo com trabalho por unidade de produto em moeda doméstica. A evolução dos fatores determinantes do CUT não foi uniforme durante os 10 anos considerados A apreciação cambial foi o principal determinante do aumento do CUT nos primeiros cinco anos, enquanto o salário médio real o foi nos últimos cinco. Ainda que a produtividade do trabalho não apareça como o principal fator para o crescimento do CUT, ela mostra-se decisiva para o desempenho relativo, ou seja, para a competitividade do país. O Brasil apresentou o pior desempenho da produtividade do trabalho em ambos os períodos. De 2002 a, a intensidade da apreciação do real é determinante para o aumento do CUT, mas a baixa competitividade não é apenas um efeito do câmbio. Considerando a taxa de câmbio nominal fixa durante todo o período, o crescimento médio anual do CUT brasileiro cai de 9% para 4,7%. Ainda assim, o Brasil permaneceria no topo do ranking, mais especificamente na segunda posição entre os maiores aumentos do CUT. CUT e seus componentes Indústria de transformação brasileira Variação acumulada 2007 2007- Variação média anual 2007 2007- CUT 136,0 76,7 33,5 9,0 12,1 6,0 Salário médio real 19,1-5,0 25,3 1,8-1,0 4,6 Produtividade do trabalho 6,6 6,9-0,3 0,6 1,3-0,1 Taxa de câmbio real -52,6-49,7-5,9-7,2-12,8-1,2 Fonte: Elaborado pela CNI, com base em estatísticas do BLS, IBGE, BACEN, FGV e da CNI. 3

2007: a apreciação real da moeda brasileira Entre 2002 e 2007, o salário médio real do trabalhador industrial brasileiro caiu, em média, 1% a.a., contribuindo para uma redução do CUT. O Brasil ocupa a segunda posição, atrás apenas de Cingapura, em termos de contribuição dos salários para a redução do CUT. Nesse período, sete países registraram aumento do salário médio real, ou seja, além de Brasil e Cingapura, apenas Alemanha, Estados Unidos e Taiwan apresentaram redução salarial. A produtividade do trabalhador industrial brasileiro também contribuiu positivamente para uma redução do CUT. No entanto, diferentemente dos salários, o desempenho brasileiro nesse fator foi o pior entre os países avaliados, de modo que o efeito sobre a competitividade do Brasil foi negativo. Apesar da redução nos salários e do aumento da produtividade, o Brasil registrou a maior elevação do CUT entre os países considerados no período de 2002 a 2007: 12,1% a.a. Tal desempenho devese à apreciação real da moeda brasileira: 12,8% a.a., que equivale a uma apreciação acumulada de quase 50%. A Coreia do Sul registrou a maior taxa de crescimento do salário médio real entre os 12 países considerados (4,4% a.a.). Ademais, a moeda sul coreana apreciou-se a uma taxa de 4,5% a.a. No entanto, a produtividade do trabalho aumentou em média, 8,3% a.a. (a maior taxa dos 12 países) e praticamente compensou o efeito negativo do salário e da taxa de câmbio. O CUT da indústria sul coreana aumentou a uma taxa de 0,9% a.a., a sétima maior. CUT e seus componentes Indústria de transformação Taxa anual média de crescimento (%) - 2007 País CUT Salário médio real Produtividade do trabalho Taxa de câmbio real Brasil 12,1-1,0 1,3-12,8 Austrália 7,4 0,3 1,9-8,4 Canadá 5,8 1,9 1,4-5,0 Itália 5,6 0,3 1,4-6,3 Espanha 4,9 0,6 3,0-6,9 França 2,4 0,2 3,7-5,6 Coreia do Sul 0,9 4,4 8,3-4,5 Alemanha -0,1-0,2 5,4-5,2 Cingapura -1,8-2,5 3,0-3,7 Estados Unidos -6,5-0,8 6,1 0,0 Japão -6,6 0,2 5,0 2,2 Taiwan -7,3-0,8 7,4-0,5 Fonte: Elaborado pela CNI, com base em estatísticas do BLS, The Conference Board, OCDE, Banco Mundial, IBGE, BACEN, FGV, INEGI, SINGSTAT, DGBAS e da CNI. 4

2007-: crescimento do salário médio real Na segunda metade do período estudado, a contribuição do salário médio real para a competitividade da indústria passa a ser negativa. O salário médio real registra um crescimento anual médio de 4,6%, o maior entre os 13 países considerados 4. No que diz respeito à produtividade do trabalho, o Brasil continua a ocupar a última posição no ranking do crescimento, com o agravante que entre 2007 e a produtividade caiu. O Brasil foi o único país a registrar queda na produtividade, ainda que em pouca intensidade uma queda acumulada de 0,3%. Mais uma vez o efeito absoluto sobre o CUT foi pequeno, mas o efeito relativo foi significativo. A tendência de apreciação da moeda brasileira parece ter chegado ao fim em. Nesse ano, o real se depreciou, em termos reais, com relação ao dólar norte-americano em 14%. Tal movimento, quase que compensou a apreciação acumulada entre 2007 e 2011, sendo que o resultado final do período foi uma apreciação real de 5,9%, o que equivale a uma taxa de apreciação real anual média de 1,2%, a quarta maior entre os 13 países considerados. O resultado final é um aumento anual médio do CUT no Brasil de 6% a.a. O país com o segundo maior crescimento do CUT no período foi o Japão com uma taxa de 3,4% a.a., seguido pela Austrália, com 3,2% a.a. Todos os outros países registraram queda no CUT, sendo que Coreia do Sul apresentou a maior queda (6,8% a.a.), seguida por Taiwan (5,2% a.a.) e Espanha (4,8%). O México aparece na quarta posição entre os países com maior ganho de competitividade, resultado da redução do salário médio real, do aumento da produtividade e da depreciação real de sua moeda com relação ao dólar norteamericano. Quanto à competitividade brasileira, os três fatores contribuíram para a queda verificada nesses últimos cinco anos, mas foi o salário médio real o principal determinante do crescimento do CUT. No entanto, mais uma vez, não se deve minimizar o papel da produtividade. Em Cingapura, por exemplo, o salário médio real cresceu, em média, 3,8% a.a. Essa é a segunda maior taxa de crescimento do salário, abaixo apenas da brasileira. O dólar de Cingapura registra, entre 2007 e, uma apreciação real com relação ao dólar norteamericano de 1,4% a.a., pouco acima da brasileira. Não obstante, a produtividade do trabalho cresceu 5,9% a.a., a maior taxa entre os 13 países, resultando em uma redução média anual do CUT de Cingapura de 0,5% a.a. CUT e seus componentes Indústria de transformação Taxa anual média de crescimento (%) - 2007- País CUT Salário médio real Produtividade do trabalho Taxa de câmbio real Brasil 6,0 4,6-0,1-1,2 Japão 3,4 0,6 1,2-3,9 Austrália 3,2 1,5 0,6-2,3 Cingapura -0,5 3,8 5,9-1,4 Canadá -1,0-0,3 0,8 0,0 Itália -2,1 0,9 0,2 2,8 Alemanha -2,8 0,8 0,5 3,2 França -3,2 0,7 0,8 3,1 Estados Unidos -3,8-1,3 2,7 0,0 México -4,1-1,6 1,4 1,2 Espanha -4,8 0,2 3,1 2,1 Taiwan -5,2 1,0 4,9 1,5 Coreia do Sul -6,8 0,7 5,1 2,9 Fonte: Elaborado pela CNI, com base em estatísticas do BLS, The Conference Board, OCDE, Banco Mundial, IBGE, BACEN, FGV, INEGI, SINGSTAT, DGBAS e da CNI. 4 Entre 2007 e, o México também foi incluído na análise, elevando o número de países considerados para 13. 5

CONSIDERAÇÕES FINAIS O Brasil apresenta o pior desempenho quanto à evolução da competitividade da indústria, no período 2002 a, entre os países considerados. O país registra a maior taxa de crescimento do custo unitário do trabalho em dólares reais (CUT). Esse resultado deve-se ao baixo crescimento da produtividade, ao crescimento do salário médio real e à apreciação do real. Nos primeiros cinco anos do período estudado, a apreciação cambial respondeu pela maior parcela do crecimento do CUT. No segundo período, esse papel coube ao salário médio real. Não obstante, a importância da produtividade não pode passar desapercebida. O desempenho comparativo nesse quesito foi o pior nos dois períodos. O Brasil registrou o menor crescimento da produtividade em ambos os períodos, sendo que no segundo, foi o único país a registrar redução. A combinação de baixa produtividade e de elevados custos sistêmicos é fatal. A perda de competitividade resulta em baixo crescimento e maiores dificuldades para as empresas brasileiras. A redução da confiança do empresário é uma das consequências, o que leva à queda do investimento. Assim, um círculo vicioso é gerado, uma vez que o aumento da produtividade depende do aumento do investimento. Com a estagnação da produtividade não há futuro para a indústria brasileira. O País não tem mais como crescer baseado apenas no aumento do emprego. A reversão do processo atual passa pela redução dos custos sistêmicos, que refletirá positivamente na confiança dos empresários e, consequentemente, no investimento. A retomada do investimento é essencial, tanto para o aumento imediato da produção o que aumentará ainda mais a confiança como para o aumento da produtividade, decorrente da introdução de novas tecnologias. NOTA ECONÔMICA Publicação da Confederação Nacional da Indústria - CNI www.cni.org.br Diretoria de Políticas e Estratégia - DIRPE Gerência Executiva de Política Econômica - PEC Gerente executivo: Flávio Castelo Branco Gerência Executiva de Pesquisa e Competitividade - GPC Gerente executivo: Renato da Fonseca Análise: Renato da Fonseca e Samantha Cunha Informações técnicas: (61) 3317-9472 Design Gráfico: Carla Gadêlha Autorizada a reprodução desde que citada a fonte. Documento elaborado em 11 de dezembro de 2014.