Fortalecendo Competência e Autoconfiança na Performance Musical. Consciência Corporal para Músicos. Eleni Vosniadou



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Transcrição:

Fortalecendo Competência e Autoconfiança na Performance Musical Consciência Corporal para Músicos Eleni Vosniadou

Como percussionista erudita busquei jeitos para tornar meu estudo mais eficiente, uma vez que, na música clássica, o nível de perfeccionismo exigido é tão alto que facilmente faz nossa alma congelar! Nessa busca procurei cuidar do meu corpo para que minha tendinite crônica não voltasse. Descobri, com o passar do tempo, que além de prevenir a tendinite, essas táticas estavam me proporcionando um novo nível de autoconfiança e tranquilidade emocional para tocar. Neste manual vou apresentar algumas táticas da metodologia que encontrei durante a minha pesquisa de consciência corporal como musicista. São sugestões para ajudar a revelar o potencial artístico que temos disponível em nós. Independente de ser estudante de música, músico profissional ou amador, a sua relação com o estudo e a performance musical pode sempre tornar-se um pouco mais consciente. Táticas de Estudo para construir Competência e Autoconfiança na Performance Musical Estudo inteligente versus repetição Desmistificando a dificuldade técnica Renovar a presença corporal Distribuição do esforço A Imagem Maior Começar do fim Intervalos: parte obrigatória do estudo Criar as condições para a apresentação

Estudo inteligente versus repetição Uma situação comum entre os músicos é quando tentamos tocar ou cantar um trecho difícil e quando não chegamos no resultado desejado logo na primeira tentativa, iniciamos uma sequência interminável de repetições até que este trecho fique melhor. Se prestarmos atenção no que está realmente acontecendo nesse instante, nos daremos conta que, ao repetir o trecho esperando que ele fique melhor, estamos ensinando o nosso sistema nervoso de que nunca vamos conseguir a performance desejada na primeira vez. O que é trágico, pois no momento da apresentação, a primeira vez é a única vez... Além do mais, agindo assim criamos um padrão no estudo, começamos a associar à prática musical crenças como: Preciso repetir este trecho, pois ele é difícil Provavelmente este trecho não vai sair na primeira Estou com medo e isso significa que estou tenso Estou com medo, não quero estar lá (na apresentação), quero me esconder Dentre várias outras associações inconscientes, ou não, que criamos em relação àquele trecho que está sendo incansavelmente repetido... É sensato pensar que, ao invés de assustar meu sistema no processo do estudo, é preferível ensinar meu sistema a estar disposto e tranquilo no momento em que a dificuldade se aproxima. Se a mente estiver tranquila e não criar tensão o corpo também o fará. Evitar a repetição com esperança e criar estratégias para um estudo inteligente.

Desmistificando a dificuldade técnica Quando se trata de uma peça mais rápida do que estamos habituados, a maneira mais comum de estudar é começar com um andamento mais lento e aumentar a velocidade gradualmente. Encontrei uma alternativa para estudar este tipo de trechos que me permitiu desmistificar o conceito de dificuldade técnica: colocar o metrônomo no andamento desejado! Nem um número a menos! Em vez de tentar tocar a frase musical inteira, que pode ser impossível no início, toco apenas a última nota da frase no tempo. Com muita precisão e sem muita repetição. Começo a praticar estar num estado de tranquilidade executando uma nota só. Com presença e precisão, como se essa nota única fosse a peça inteira. Na hora que vejo que consigo executar a nota com tranquilidade e precisão, adiciono a penúltima nota e continuo estudando do mesmo jeito até que consigo tocar duas notas no tempo, com tranquilidade e precisão! Depois disso executo as três últimas notas e assim vai, cada vez que consigo executar a minha mini frase com precisão e tranquilidade, continuo adicionando notas, até chegar no começo do trecho. Este método de desconstruir o trecho cria uma condição de segurança e presença em todas as notas, além do fato de que, a cada nota, estou ensinando o meu sistema nervoso a estar relaxado e focado ao mesmo tempo. É o tipo de qualidade, autoconfiança e eficiência que admiramos quando a Elis Regina cantava, quando Louis Armstrong tocava trompete ou quando Martha Argerich toca piano Praticar tranquilidade e precisão nos trechos difíceis começando com mini frases de notas.

Renovar a presença corporal Não existe músico que não use o corpo para tocar. Estar presente e consciente do que o seu corpo está te dizendo é parte importantíssima do estudo. Quantos músicos não param o seu estudo por causa de uma dor ou desconforto corporal? Durante a peça que você está estudando, precisa saber exatamente onde você pode renovar a sua presença corporal sem se distrair da música, e inclusive, se for o caso, colocar isso na partitura! Para começar este processo de consciência corporal, preste atenção em dois pontos simples durante o estudo: apoio e postura. Apoio Durante o estudo da técnica ou de uma frase musical, tente reconhecer onde está o seu apoio corporal enquanto está tocando. Isso é fácil, só existem três posições nas quais podemos estar: deitados, sentados ou em pé. E geralmente, tocamos sentados ou em pé. Quando não há clareza sobre onde está o apoio corporal, sentar pode ser uma atividade desconfortável e potencialmente perigosa, que pode evoluir para uma inflamação ou problemas mais graves na coluna. Na parte de baixo da sua pélvis existem dois ossos que formam duas superfícies onde o peso do corpo está apoiado quando estamos sentados, essas duas superfícies chamam-se ísquios, eles são os nossos apoios quando estamos sentados. ísquios

Postura É importante reconhecer que a postura não é uma posição estática que nós mantemos durante o estudo. Quem já tentou manter a postura certa sabe muito bem a sensação desagradável e antinatural que surge uns segundos depois. O que nós achamos que é certo, não é necessariamente certo... A postura é algo dinâmico, sentar ou estar em pé são ATIVIDADES e não posições estáticas. O ponto chave aqui é reconhecer que uma postura natural depende de um centro de controle do corpo, que é a relação entre cabeça e corpo. A qualidade com que a sua cabeça se equilibra em cima da sua coluna vai determinar a qualidade do tônus muscular no resto do seu corpo. Em todos os vertebrados encontramos o corpo principal, que contém a cabeça e o tronco (coluna - caixa torácica). Enquanto o resto do corpo (estrutura dos braços e estrutura das pernas) constituem o corpo secundário. Essa ideia ficará mais clara quando puder se observar realizando algumas atividades no seu instrumento. Por exemplo, o que acontece quando você está sentado em uma cadeira sem encosto? Observe a tensão muscular na coluna inferior (região lombar), se o corpo principal (postura) estiver rígido (nesse caso a lombar), as pernas não terão mais a possibilidade de se mover livremente. Se o corpo principal estiver relaxado demais, as pernas não terão a possibilidade de se mover livremente mais uma vez.

Outro exemplo: na próxima vez que você levantar o seu instrumento para tocar (ou levantar o arco, a baqueta, no caso do cantor na hora da preparação para o som nascer), observe a tensão muscular no corpo principal (nesse caso, principalmente no pescoço). Se houver excesso de tensão no pescoço, a musculatura dos braços também estará tensionada. Se houver apenas tensão muscular necessária no corpo principal, os braços estarão livres para usar a força necessária (no caso do cantor ou instrumentista de sopro, a musculatura livre nos braços, também terá um impacto grande na qualidade do som) Se você está com o pescoço tenso na hora de tocar, o resto do seu corpo não tem chance de estar tranquilo!

Distribuição do esforço Na maioria dos instrumentos, a única parte do nosso corpo que efetivamente toca o instrumento são as nossas mãos. Quando precisamos tocar mais rápido ou mais forte, a agilidade ou a força muscular é para ser feita pelas mãos, mais especificamente, pelos dedos e não por outras partes do corpo. A tendência de tensionar a mandíbula, o pescoço, os ombros ou as pernas quando precisamos de mais esforço ou de mais velocidade é bem familiar para a maioria de nós. Não podemos gastar energia com esse tipo de tensão desnecessária! Durante o estudo, queremos continuar nos lembrando que: Nem o meu tronco nem a minha cabeça vão tocar o instrumento, mas sim os meu dedos! p.s. Para instrumentos como a voz ou instrumentos de sopro, onde o esforço precisa acontecer em outras partes do corpo, ou a bateria onde há também esforço nos pés, o princípio de distribuição de esforço é para ser aplicado nessas partes. Tensionar partes do seu corpo que não estão diretamente em contato com o instrumento NÃO vai ajudar sua performance! Tente direcionar este esforço para as mãos e os dedos.

A Imagem Maior Qual é a história da peça? Começo, meio e fim? Antes de apresentar qualquer música é necessário poder contar a história da peça, do mesmo jeito que contamos a historinha da Chapeuzinho Vermelho! Para decidir qual é o melhor jeito de estudar cada peça é importante se conectar com a partitura ANTES de começar o estudo com o instrumento. Na minha história pessoal, dado meus sérios problemas de tendinite, foi determinante para evitar inflamações, que eu criasse clareza de como deveria ser meu estudo, antes de ir para o instrumento. Cada um tem sua própria maneira de criar sua imagem maior da partitura. Isso depende de escolhas muito individuais de cada um, depende do estilo da música, mas principalmente dos objetivos que cada um deseja alcançar. Por exemplo: quero me conectar melhor com a peça? Quero poder tocar até o fim sem dor? Quero poder sentir mais a vontade com o público? Etc. Os objetivos que quero alcançar ou o lugar onde quero chegar precisam ser definidos antes de criar a imagem maior. Outro exemplo: se o meu objetivo é tocar a peça inteira sem ficar com dor, a minha imagem maior me facilita saber em quais partes da música posso renovar a minha presença corporal e como fazê-lo. Criar a SUA imagem maior, para desmistificar a dificuldade, criar blocos onde você pode renovar a sua energia e pensamento, e mais importante, criar uma estrutura que permite conectar-se melhor com a sua peça!

Começar do fim Nós sabemos acompanhar muito bem a partitura ou a peça do começo ao fim. Naturalmente, o sistema nervoso está fresco no início da peça e vai ficando cada vez mais cansado do meio para o fim. Além do que, a tensão vai acumulando gradualmente. Por isso, quando tenho que estudar uma nova peça, inicio o estudo do fim para o começo, escolhendo trabalhar primeiro os trechos difíceis do final. Criar a condição para que o final também seja a parte mais familiar e aconchegante! Intervalos: parte obrigatória do estudo inteligente O músico está produzindo música porque adora música. Na hora do estudo ficamos encantados em tocar, obsessivos em lidar com as dificuldades técnicas e querendo conseguir cada vez mais! Mesmo com o melhor uso corporal do mundo, mesmo com a musculatura relaxada, o nosso cérebro fica cansado. Mesmo quando temos pouco tempo para estudar, precisamos fazer um intervalo para fazer um check para garantir se o estudo no momento é inteligente ou repetitivo. No estudo repetitivo podemos deixar o cérebro no piloto automático, mas o estudo inteligente tem como pré-requisito um cérebro acordado e por isso precisamos de intervalos! O tempo e a frequência dos intervalos depende da história, das circunstâncias atuais e dos objetivos que cada um quer alcançar com o estudo. Uma sugestão é não esperar para fazer o seu intervalo porque ficou cansado mental ou fisicamente, tentar fazer um mini-intervalo antes disso. Não fazer o intervalo por necessidade e sim para aumentar a eficiência e a qualidade do tempo de estudo.

Criar as condições para a apresentação Na hora da apresentação o nosso sistema nervoso está mais excitado do que durante o nosso estudo. Estudar numa condição normal do sistema nervoso não vai nos ajudar na hora da apresentação. Por isso, ao estudar a peça inteira ou até que uma parte fique pronta, é importante criar as condições que façam o nosso sistema ficar no mesmo estado de quando estamos nos apresentando! O uso de gravador, vídeo ou até um público de amigos é uma ótima oportunidade de praticar uma condição de tensão maior. Isso obviamente não vai ser um processo agradável para a maioria das pessoas que ficam nervosas na exposição. A questão é que quando subo no palco, não posso esperar que o meu sistema responda ao jeito para o qual não foi preparado. A ansiedade vai vir, então porque não nos preparar? Não precisa esperar até que a peça esteja pronta para criar as condições da apresentação. A ansiedade geralmente está lá mesmo se for para apresentar uma frase só. Então, assim que uma frase estiver pronta, apresente ela em frente da câmera ou de um amigo/testemunha, fortalecendo assim a sua disposição e boa vontade para se expor. Se as notas e os ritmos estiverem bem resolvidos, não adianta ficar repetindo a peça em condições tranquilas, prepare-se para o nervosismo também.

Eleni Vosniadou é percussionista e professora da Técnica Alexander. Formada em percussão erudita, encontrou o método buscando tratar uma tendinite crônica, obstáculo persistente no caminho de sua carreira professional. Em 2006, iniciou seus estudos na Internationale Sommerakademie Mozarteum (Salzburg, Áustria) e passou os próximos anos aprofundando o seu conhecimento na Alemanha, Suíça e Inglaterra. Certificou-se como professora da Técnica Alexander no London Centre for Alexander Technique and Training e um ano se especializando em Anatomia e Fisiologia em Londres. No ano de 2012, lecionou no Royal College of Music e Arts Educational London Schools. No Brasil, é frequentemente convidada a ministrar capacitações para o corpo docente da Escola de Música Estadual de São Paulo (EMESP) e do Projeto Guri. Em 2014 apresentou a Técnica Alexander e sua aplicação na educação musical no 31º Congresso internacional de Educação Musical, em Porto Alegre. Atualmente desenvolve o curso de especialização Consciência Corporal para Músicos, que visa capacitar profissionais, estudantes ou amadores de música a utilizar a Técnica Alexander como ferramenta indispensável na construção da performance e preparação musical. São trabalhadas desde questões relacionadas a postura e prevenção de problemas corporais até detalhes do aperfeiçoamento musical. Além de habilitar o estudante a compartilhar este processo de conscientização corporal com seus próprios alunos. Sobre este curso, Eleni, tem ministrado palestras e oficinas em instituições como Universidade Estadual Paulista (UNESP), Faculdade Santa Marcelina (FASM), Faculdade Mozarteum de São Paulo (FAMOSP), Instituto Baccarelli, dentre outros. Para mais informações visite: www.elenivosniadou.com Este material é livre para ser compartilhado para fins não comerciais, desde que lhe atribuam o devido crédito pela criação original.