ACESSO DA POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA À ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE



Documentos relacionados
AUTO-AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL: instrumento norteador efetivo de investimentos da IES

5 Considerações finais

Descrição do processo de priorização para tomada de tempos: Pesquisa ação em uma empresa job shop de usinados aeronáuticos.

A INCLUSÃO DOS PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS EDUCATIVAS NAS SÉRIES INICIAIS SOB A VISÃO DO PROFESSOR.

DIRETRIZES E PARÂMETROS DE AVALIAÇÃO DE PROPOSTAS DE CURSOS NOVOS DE MESTRADO PROFISSIONAL

1 Introdução. Componentes Usuários. Provedor de Serviços. Figura 1.1 Ambiente de oferecimento de serviços

ANIS ENSINO RELIGIOSO

Gestão de Pessoas - Ênfase em Recrutamento, Seleção e Integração de novos funcionários.

Dúvidas Freqüentes IMPLANTAÇÃO. 1- Como aderir à proposta AMQ?

Universidade Estadual de Londrina/Departamento de Ciência da Informação/Londrina, PR.

Chamada Pública Procedimentos para utilização da Chamada Pública no sistema SMARam Versão 1.0

MÍDIAS NA EDUCAÇÃO Introdução Mídias na educação

MANUAL DO ALUNO DO CURSO DE INGLÊS EF

Curso: Diagnóstico Comunitário Participativo.

Pesquisa das Características e motivação de consumidores de produtos do Comércio Justo e Solidário

Código de Convivência: Desenvolvendo a cidadania e o protagonismo juvenil

PROCEDIMENTOS DE AUDITORIA INTERNA

3º Seminário Internacional de Renda Fixa Andima e Cetip Novos Caminhos Pós-Crise da Regulação e Autorregulação São Paulo 19 de março de 2009

COMISSÃO PRÓPRIA DE AVALIAÇÃO DA FACULDADE ARAGUAIA RELATÓRIO FINAL DE AUTO-AVALIAÇÃO DO CURSO DE CIÊNCIAS CONTÁBEISDA CPA DA FACULDADE ARAGUAIA

Realizado de 25 a 31 de julho de Porto Alegre - RS, ISBN

PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

SISTEMA CFC: UMA ABORDAGEM BASEADA NA GOVERNANÇA CORPORATIVA 1

CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES Niterói RJ: ANINTER-SH/ PPGSD-UFF, 03 a 06 de Setembro de 2012, ISSN X

COMO REDIGIR ARTIGOS CIENTÍFICOS. Profa. EnimarJ. Wendhausen

Opinião N13 O DEBATE SOBRE AÇÕES AFIRMATIVAS NO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL E NA ÁFRICA DO SUL 1

perspectivas e abordagens típicas de campos de investigação (Senra & Camargo, 2010).

nos princípios norteadores da saúde com equidade, eficácia, eficiência e efetividade 2. Inicialmente,

Fanor - Faculdade Nordeste

Sinaes Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior. Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes. Relatório da IES

Pesquisa de Impacto Social. Aprendizagem COMBEMI

3 Qualidade de Software

Manual MQS. Logo após colocar essas informações abrirá a página inicial do sistema:

A-1 Modelo de planilha para avaliação inicial (basal) do programa

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE MEDICINA DEPARTAMENTO MEDICINA SOCIAL ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA

A HOTELARIA NA CIDADE DE PONTA GROSSA PR: UMA ANÁLISE DO PERFIL DO HÓSPEDE E DA OCUPAÇÃO HOTELEIRA ATRAVÉS DE PROJETO DE EXTENSÃO

Sumário. 1 Introdução. Demonstrações Contábeis Decifradas. Aprendendo Teoria

Conceitos Básicos de Rede. Um manual para empresas com até 75 computadores

O Sr. ÁTILA LIRA (PSB-OI) pronuncia o seguinte. discurso: Senhor Presidente, Senhoras e Senhores. Deputados, estamos no período em que se comemoram os

Tarcia Paulino da Silva Universidade Estadual da Paraíba Roseane Albuquerque Ribeiro Universidade Estadual da Paraíba

A IMPORTÂNCIA DE SE TRABALHAR OS VALORES NA EDUCAÇÃO

Portaria nº 1.555, de 30 de julho de 2013 Perguntas e respostas mais frequentes

12 DE JUNHO, DIA DE COMBATE A EXPLORAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL: RELATO DE EXPERIÊNCIA NO PIBID DE GEOGRAFIA

Módulo 9 A Avaliação de Desempenho faz parte do subsistema de aplicação de recursos humanos.

MINAS, IDEB E PROVA BRASIL

PARECER DE AVALIAÇÃO Comitê de Seleção Edital 01/2010 Formulário Padrão Concorrência 2010 Data da avaliação: Projeto nº:

ORGANIZAÇÃO DE COMPUTADORES MÓDULO 1

Breve histórico da profissão de tradutor e intérprete de Libras-Português

TREINAMENTO SOBRE PRODUTOS PARA VENDEDORES DO VAREJO COMO ESTRATÉGIA PARA MAXIMIZAR AS VENDAS 1. Liane Beatriz Rotili 2, Adriane Fabrício 3.

CONTRATAÇÃO DE MÃO DE OBRA TEMPORÁRIA PELO COMÉRCIO VAREJISTA

Escola de Contas Públicas Tribunal de Contas do Estado de São Paulo

MINISTÉRIO PÚBLICO DE GOIÁS CENTRO DE APOIO OPERACIONAL DO CONSUMIDOR E USUÁRIOS DE SERVIÇOS PÚBLICOS NOVO GAMA 1-ABASTECIMENTO DE ÁGUA

Meios de pagamento aceitos pelas micro e pequenas empresas brasileiras Agosto/15

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E NATURAIS CURSO DE CIÊNCIAS DA COMPUTAÇÃO

DataSenado. Secretaria de Transparência DataSenado. Março de 2013

1.1. ANÁLISE DOS DADOS AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL INTERNA: respondida por alunos, professores e coordenadores

Dicas que ajudam pais na escolha da escola dos seus filhos

A Atenção Primária à Saúde

Projeto de Extensão. Um Olhar Para a Realidade e o Resgate da Dignidade.

IMPLANTAÇÃO DOS PILARES DA MPT NO DESEMPENHO OPERACIONAL EM UM CENTRO DE DISTRIBUIÇÃO DE COSMÉTICOS. XV INIC / XI EPG - UNIVAP 2011

Título Economia de baixo carbono, desafios e oportunidades para o setor elétrico Veículo Canal Energia Data 16 dezembro 2015 Autor Claudio J. D.

O modelo Entidade-Relacionamento. Agenda: -Modelagem de dados utilizando O Modelo Entidade-Relacionamento

LIBERAÇÃO DE ATUALIZAÇÃO CORDILHEIRA VERSÃO 2

Categoria: Pôster Eixo Temático Tecnologias SISTEMA TERRA: CRIAÇÃO, ADEQUAÇAO E USO DE INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE NA USP

ORIENTAÇÕES PARA ELABORAÇÃO DO RELATÓRIO DE PRÁTICA PROFISSIONAL INTEGRADA TÉCNICAS DE VENDAS E NEGOCIAÇÃO

função de produção côncava. 1 É importante lembrar que este resultado é condicional ao fato das empresas apresentarem uma

MINISTÉRIO DA SAÚDE CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE

INFORMAÇÕES AOS COMITÊS E FRANQUEADOS

Relatório Simplificado

POLÍTICA DE RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL

Aula 2 Revisão 1. Ciclo de Vida. Processo de Desenvolvimento de SW. Processo de Desenvolvimento de SW. Processo de Desenvolvimento de SW

PROGRAMAÇÃO E PLANO DE ESTUDOS

Gerenciamento de Projeto: Planejando os Riscos. Prof. Msc Ricardo Britto DIE-UFPI

Indicamos inicialmente os números de cada item do questionário e, em seguida, apresentamos os dados com os comentários dos alunos.

How To de instalação de chicotes para farol de neblina Vectra C

O PROCESSO DE INCLUSÃO DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIAS NO MUNICÍPIO DE TRÊS LAGOAS, ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL: ANÁLISES E PERSPECTIVAS

MODELO PARA ENVIO DE CONTRIBUIÇÕES REFERENTE À CONSULTA PÚBLICA Nº 019/2014

COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS PRONUNCIAMENTO TÉCNICO CPC 44. Demonstrações Combinadas

INOVAR PARA FIDELIZAR: ANÁLISE DAS DIMENSÕES CLIENTES, RELACIONAMENTO E REDE DO SEGMENTO DE DROGARIAS

Apostilas OBJETIVA Atendente Comercial / Carteiro / Op. Triagem e Transbordo CORREIOS - Concurso Público º CADERNO. Índice

SONDAGEM ESPECIAL INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO

PBQP-H QUALIDADE HABITACIONAL OBRAS DE EDIFICAÇÕES

PROGRAMA DE MELHORAMENTO GENÉTICO DE ZEBUÍNOS - PMGZ

Parecer Consultoria Tributária Segmentos PIS e COFINS sobre Reposição de Peça em Garantia

Satisfação dos consumidores: estudo de caso em um supermercado de Bambuí/MG

(MAPAS VIVOS DA UFCG) PPA-UFCG RELATÓRIO DE AUTO-AVALIAÇÃO DA UFCG CICLO ANEXO (PARTE 2) DIAGNÓSTICOS E RECOMENDAÇÕES

Garanta o direito à alimentação adequada.

Administração e Finanças

Engenharia de Software Unidade I Visão Geral

Índice. 1. Os preços dos planos de saúde são controlados? 2. Como funcionam as regras de reajuste. 3. Quais as regras de reajuste dos planos

AIDS EM IDOSOS: PRODUÇÃO CIENTÍFICA EM PERIÓDICOS ONLINE NO ÂMBITO DA SAÚDE

ENSINO DE BIOLOGIA E O CURRÍCULO OFICIAL DO ESTADO DE SÃO PAULO: UMA REFLEXÃO INICIAL.

ADMINISTRADOR LEIA ATENTAMENTE AS INSTRUÇÕES

A efetividade da educação à distância para a formação de profissionais de Engenharia de Produção

Artigo publicado. na edição Assine a revista através do nosso site. maio e junho de 2013

ANÁLISE DAS CARGAS E MÉTODOS DE TREINAMENTO UTILIZADOS NA PREPARAÇÃO FÍSICA DO FUTSAL FEMININO AMAZONENSE

Administração de Pessoas

DOENÇAS VIRAIS: UM DIÁLOGO SOBRE A AIDS NO PROEJA

CALENDÁRIO - PED CULTURA E LITERATURA Grupo Maio/2012 CursoID GradeID 650

Transcrição:

ACESSO DA POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA À ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE Trabalho de Conclusão de Curso da Especialização em Saúde da Família UNASUS/UNIFESP 2012 Bruna Ballarotti orientada por Francisco Moreno de Carvalho

Introdução A população em situação de rua inclui pessoas que ficam na rua (circunstancialmente), estão na rua (recentemente) e são da rua (permanentemente)(1). A relação dessa população com o restante da sociedade muitas vezes é marcada por uma relativa hostilidade de forma tal que essas pessoas passam a ser vistas como pessoas que não têm direito a ter direitos(2). Dessa relação hostil deriva também a dificuldade do Estado em alcançar esse grupo populacional, fazendo com que muitas vezes essas pessoas pareçam ser invisíveis, especificamente para o serviço de saúde(2). Essa situação é especialmente grave se consideramos que a pessoa em situação de rua está exposta, na verdade, a riscos de saúde mais elevados se comparados com o restante da população(4).

Objetivo O objetivo deste trabalho é encontrar evidências de que a população em situação de rua acessa os serviços de saúde pela atenção primária, bem como identificar de qual forma se dá este acesso. Apontar também suas características e fragilidades para assim subsidiar a implementação de novas ações e políticas que tenham a ampliação e a melhora desse acesso enquanto meta. Trabalho de Conclusão de Curso da Especialização em Saúde da Família UNASUS/UNIFESP

Metodologia O presente artigo é um estudo de revisão bibliográfica da literatura. Através do mecanismo de busca dos sites BVS e PUBMED foram pesquisados artigos usando descritores DeCS/MeSH: homeless e primary health care de 2000 a 2012. Foram localizados 38 artigos em inglês e 2 artigos em português a partir de 2000. Foram selecionados 7 que tem relevância para o tema deste artigo. Foram excluídos artigos de países que não possuem um sistema de saúde universal.

Resultados Foram localizados apenas dois artigos brasileiros. Demais artigos são do Reino Unido, Bélgica, Canadá, Dinamarca. Dos sete artigos selecionados 2 são pesquisas de campo sobre acesso da população em situação de rua à atenção primária, 2 são relatos de caso de abordagem dessa população por unidades de saúde da cidade de São Paulo, 1 revisão bibliográfica de literatura sobre demandas de saúde dessa população e a relação com serviços, 1 metanálise publicada pela OMS/Europa, e 1 artigo de opinião/debates.

Discussão A partir de 2009 o Ministério da Saúde (MS) propôs o Consultório de Rua (CR) como uma das estratégias do Plano Emergencial de Ampliação de Acesso ao Tratamento e Prevenção em Álcool e outras Drogas e em setembro de 2010 já eram mais de 30 municípios do país que haviam aderido ao programa com apoio do MS. Apesar disso, na revisão bibliográfica realizada foram encontrados apenas 2 artigos relatando experiências brasileiras que estabelecem interface com atenção primária nessas bases de dados pesquisadas, ambas no município de São Paulo, nenhuma compondo o programa de CR.

Discussão A abordagem da população em situação de rua pela atenção primária em países com sistemas universais de saúde é uma realidade e já possibilita que pesquisas de campo sejam realizadas conforme Verlinde et al, Khandor et al, Wright et al na Bélgica, Canadá e Reino Unido respectivamente. É possível, pois, conhecer melhor a demanda de saúde dessa população, bem como quais os desafios para que o sistema de saúde responda a essa demanda. Foi consenso nos três estudos citados de que o acesso atenção primária com ofertas de promoção de saúde, prevenção, tratamento e reabilitação impactam positivamente na saúde dessa população e de o mesmo tem que ser aprimorado.

Conclusão Há evidências de que a população em situação de rua acessa os serviços de saúde pela atenção primária, bem como de que uma atenção primária acessível é necessária para ações efetivas e consequentemente um melhor impacto na saúde dessa população.

Conclusão O acesso à atenção primária por parte da população em situação de rua varia consideravelmente em cada um dos sistemas de saúde descritos nos artigos revisados. Há desde casos como de Gante, na Bélgica, onde o acesso ao serviço de saúde por essa população se dá preferencialmente através da atenção primária, até casos como de São Paulo onde esse acesso ainda se dá de forma incipiente, havendo grande necessidade de capacitação dos profissionais e estruturação dos serviços para responder a tal demanda. Apesar disso, todos os estudos analisados apontaram para a insuficiência dos serviços e ações voltados para a provisão desse acesso.

Referências Vieira MA, Bezerra EMR, Rosa CMM, organizadores. População de rua: quem é, como vive, como é vista. São Paulo: Hucitec; 1992. Adorno RCF. Atenção à saúde, direitos e o diagnóstico como ameaça: políticas públicas e as populações em situação de rua. Etnográfica. 2011; 15 (3): 543-567. Hewett N, Hiley A, Gray J. Morbidity trends in the population of a specialized homeless primary care service. Br J Gen Pract. 2011 Mar; 61: 200 2. Silva MLLd. Trabalho e população em situação de rua no Brasil. São Paulo: Cortez;2009. p. 257-71.

Obrigada! Contato: bballarotti@gmail.com