ACESSO DA POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA À ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE Trabalho de Conclusão de Curso da Especialização em Saúde da Família UNASUS/UNIFESP 2012 Bruna Ballarotti orientada por Francisco Moreno de Carvalho
Introdução A população em situação de rua inclui pessoas que ficam na rua (circunstancialmente), estão na rua (recentemente) e são da rua (permanentemente)(1). A relação dessa população com o restante da sociedade muitas vezes é marcada por uma relativa hostilidade de forma tal que essas pessoas passam a ser vistas como pessoas que não têm direito a ter direitos(2). Dessa relação hostil deriva também a dificuldade do Estado em alcançar esse grupo populacional, fazendo com que muitas vezes essas pessoas pareçam ser invisíveis, especificamente para o serviço de saúde(2). Essa situação é especialmente grave se consideramos que a pessoa em situação de rua está exposta, na verdade, a riscos de saúde mais elevados se comparados com o restante da população(4).
Objetivo O objetivo deste trabalho é encontrar evidências de que a população em situação de rua acessa os serviços de saúde pela atenção primária, bem como identificar de qual forma se dá este acesso. Apontar também suas características e fragilidades para assim subsidiar a implementação de novas ações e políticas que tenham a ampliação e a melhora desse acesso enquanto meta. Trabalho de Conclusão de Curso da Especialização em Saúde da Família UNASUS/UNIFESP
Metodologia O presente artigo é um estudo de revisão bibliográfica da literatura. Através do mecanismo de busca dos sites BVS e PUBMED foram pesquisados artigos usando descritores DeCS/MeSH: homeless e primary health care de 2000 a 2012. Foram localizados 38 artigos em inglês e 2 artigos em português a partir de 2000. Foram selecionados 7 que tem relevância para o tema deste artigo. Foram excluídos artigos de países que não possuem um sistema de saúde universal.
Resultados Foram localizados apenas dois artigos brasileiros. Demais artigos são do Reino Unido, Bélgica, Canadá, Dinamarca. Dos sete artigos selecionados 2 são pesquisas de campo sobre acesso da população em situação de rua à atenção primária, 2 são relatos de caso de abordagem dessa população por unidades de saúde da cidade de São Paulo, 1 revisão bibliográfica de literatura sobre demandas de saúde dessa população e a relação com serviços, 1 metanálise publicada pela OMS/Europa, e 1 artigo de opinião/debates.
Discussão A partir de 2009 o Ministério da Saúde (MS) propôs o Consultório de Rua (CR) como uma das estratégias do Plano Emergencial de Ampliação de Acesso ao Tratamento e Prevenção em Álcool e outras Drogas e em setembro de 2010 já eram mais de 30 municípios do país que haviam aderido ao programa com apoio do MS. Apesar disso, na revisão bibliográfica realizada foram encontrados apenas 2 artigos relatando experiências brasileiras que estabelecem interface com atenção primária nessas bases de dados pesquisadas, ambas no município de São Paulo, nenhuma compondo o programa de CR.
Discussão A abordagem da população em situação de rua pela atenção primária em países com sistemas universais de saúde é uma realidade e já possibilita que pesquisas de campo sejam realizadas conforme Verlinde et al, Khandor et al, Wright et al na Bélgica, Canadá e Reino Unido respectivamente. É possível, pois, conhecer melhor a demanda de saúde dessa população, bem como quais os desafios para que o sistema de saúde responda a essa demanda. Foi consenso nos três estudos citados de que o acesso atenção primária com ofertas de promoção de saúde, prevenção, tratamento e reabilitação impactam positivamente na saúde dessa população e de o mesmo tem que ser aprimorado.
Conclusão Há evidências de que a população em situação de rua acessa os serviços de saúde pela atenção primária, bem como de que uma atenção primária acessível é necessária para ações efetivas e consequentemente um melhor impacto na saúde dessa população.
Conclusão O acesso à atenção primária por parte da população em situação de rua varia consideravelmente em cada um dos sistemas de saúde descritos nos artigos revisados. Há desde casos como de Gante, na Bélgica, onde o acesso ao serviço de saúde por essa população se dá preferencialmente através da atenção primária, até casos como de São Paulo onde esse acesso ainda se dá de forma incipiente, havendo grande necessidade de capacitação dos profissionais e estruturação dos serviços para responder a tal demanda. Apesar disso, todos os estudos analisados apontaram para a insuficiência dos serviços e ações voltados para a provisão desse acesso.
Referências Vieira MA, Bezerra EMR, Rosa CMM, organizadores. População de rua: quem é, como vive, como é vista. São Paulo: Hucitec; 1992. Adorno RCF. Atenção à saúde, direitos e o diagnóstico como ameaça: políticas públicas e as populações em situação de rua. Etnográfica. 2011; 15 (3): 543-567. Hewett N, Hiley A, Gray J. Morbidity trends in the population of a specialized homeless primary care service. Br J Gen Pract. 2011 Mar; 61: 200 2. Silva MLLd. Trabalho e população em situação de rua no Brasil. São Paulo: Cortez;2009. p. 257-71.
Obrigada! Contato: bballarotti@gmail.com