Protocolo 15488/2011 Ação Representação Autos 220-95.2011.6.04.0000 Classe XLII Representante: Ministério Público Representado: Wellington Lins de Albuquerque Junior Patrona do Maria Benigno OAB/AM A 619 Representado SENTENÇA Cuida-se de representação, com pedido INITIO LITIS e INAUDITA ALTERA PARS de quebra de sigilo fiscal, ajuizada pelo Ministério Público contra Wellington Lins de Albuquerque Junior, sob o fundamento de violação ao art. 23 e seus parágrafos e art. 81 e seus parágrafos, ambos da Lei 9.504/97; art. 1º, inciso I, alínea p, da Lei Complementar n.º 64/90 e art.16 e seus parágrafos da Resolução TSE n.º 23.217/10, intentada perante o TRE/AM. Aduziu o Representante que Wellington Lins de Albuquerque Junior excedeu o limite estabelecido no art. 23, 1º, inciso I, da Lei 9504/97, de 10% (dez por cento) dos rendimentos brutos auferidos no ano anterior à eleição, para as doações de recursos às campanhas eleitorais no pleito 2010. Determinou o Tribunal Regional do Amazonas a remessa dos autos ao juízo de primeira instância, em razão da competência originária do juiz eleitoral do domicílio do doador representado, à fl. 22. Recebidos os autos no juízo da 1ª Zona, domicilio do doador, abriu-se vista ao MPE, que ratificou a Representação em todos seus termos, às fl. 31/32. Determinou o juízo competente a notificação do Representado para apresentar defesa prévia, deixando para apreciar o pedido de quebra de sigilo bancário, em momento posterior. Foi oferecida a defesa prévia pelo representado, às fls. 40/53.
Manifestou-se o Ministério Público pela condenação maxima do Representado. Declararam-se suspeitos, por motivo de foro íntimo, os Juízes da 1ª, 2ª e 31ª Zonas Eleitorais, à fls. 61, 67 e 70. É o relatório. Passo então a decidir: Alegou o Representante que houve infração ao art. 23, 1º, inciso I, da Lei 9504/97 in verbis: Art. 23. Pessoas físicas poderão fazer doações em dinheiro ou estimáveis em dinheiro para campanhas eleitorais, obedecido o disposto nesta Lei. (Redação dada pela Lei nº 12.034, de 2009) 1º As doações e contribuições de que trata este artigo ficam limitadas: I - no caso de pessoa física, a dez por cento dos rendimentos brutos auferidos no ano anterior à eleição; Como prova do alegado, o Representante aparelhou a exordial com cópia de relação fornecida pela Secretaria da Receita Federal, onde consta o nome da Representado no rol das pessoas físicas que ultrapassaram o limite para doações de campanha. O Representado solicitou que fosse declarada a improcedência da Representação sob o fundamento de que o valor da doação não ultrapassou o limite estipulado no art. 23, 1º, I da Lei 9504/97, cujo parâmetro argumentou ser o rendimento bruto do doador e juntou à defesa a Declaração de Imposto de Renda DIRF 2010 (ano calendário 2009). Estatui a norma do art. 23 da Lei 9504/97 que o limite da doação diz respeito aos rendimentos brutos auferidos pelo doador no ano anterior, não fazendo referência ao patrimônio que o doador detenha, ou eventuais rendimentos auferidos.
O valor doado foi de R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais), conforme certidão às fls.17 e 18. Assim sendo, para que se possa definir se efetivamente houve excesso de doação por parte do Representado, deve ser aplicado o conceito insculpido no art. 3º, 1º, da Lei 7713/88 ( Lei do Imposto de Renda), in verbis: Art. 3º O imposto incidirá sobre o rendimento bruto, sem qualquer dedução, ressalvado o disposto nos arts. 9º a 14 desta Lei. (Vide Lei 8.023, de 12.4.90) 1º Constituem rendimento bruto todo o produto do capital, do trabalho ou da combinação de ambos, os alimentos e pensões percebidos em dinheiro, e ainda os proventos de qualquer natureza, assim também entendidos os acréscimos patrimoniais não correspondentes aos rendimentos declarados. Compulsando a declaração de ajuste anual, às fls. 47-53, verifico que a composição dos rendimentos brutos auferidos pelo Representado no ano-calendário 2009, exercício 2010, é a seguinte: Rubrica Valor Rendimentos Tributáveis R$ 96.292,52 Rendimentos isentos e não tributáveis R$ 0,00 Rendimentos sujeitos à tributação exclusiva/definitiva Venda de Imovel Apartamento Millenium Center R$ 0,00 R$ 90.000,00 Total R$ 186.292,52 Limite para doação (dez por cento dos R$ 18.629,25
rendimentos brutos auferidos no ano anterior à eleição) art. 23, 1º, inciso I, da L. 9.504/97. Total dos recursos doados (recursos financeiros e recursos estimáveis) R$ 25.000,00 Valor excedente R$ 6.370,75 Identificado o excesso de doação, faz-se necessário definir o quantum da multa. Entendo que deva ser fixada em seu patamar mínimo, em virtude da ausência de elementos que justifiquem o agravamento da pena, nos termos do art. 23, 3º da L. 9.504/97, vazado nos seguintes termos: 3º A doação de quantia acima dos limites fixados neste artigo sujeita o infrator ao pagamento de multa no valor de cinco a dez vezes a quantia em excesso. Assim sendo, aplico a multa no valor correspondente a 5 (cinco) vezes o excesso de doação, perfazendo o montante de R$ 35.439,60 (trinta e cinco mil, quatrocentos e trinta e nove reais e sessenta centavos). Por fim, cabe a análise do pedido formulado pelo Representante para a aplicação da inelegibilidade prevista no art. 1º, inciso I, alínea p, da LC 64/90, com as alterações introduzidas pela Lei Complementar nº 135/2010. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do Recurso Extraordinário nº 633.703, relator o Ministro Gilmar Mendes, ocorrido em 23.3.2011, decidiu que a Lei Complementar nº 135/2010 não se aplica para as eleições de 2010, em razão da incidência do princípio da anterioridade insculpido no art. 16 da Constituição Federal.
O dispositivo legal a que se refere o Representante foi incluído na lei das inelegibilidades por força da LC 135/2010, que, conforme já explicitado, não se aplica ao pleito/2010. Assim, o pedido formulado pelo Representante não possui amparo legal e deve ser rejeitado. Ante o exposto, julgo parcialmente procedente a Representação por infração ao disposto no art. 23, 1º, inciso I, da Lei n. 9.504/97, condenando o Representado à multa de R$ 31.853,15 (trinta e um mil, oitocentos e cinquenta e três e quinze centavos), correspondente a 5 (cinco) vezes o valor excedido. Ressalto, desde já, que, caso não haja o exato cumprimento dos termos acima fixados, deverá o Cartório imediatamente aplicar a regra disposta nos arts. 4º a 6º da Portaria TSE n. 288/05. PUBLIQUE-SE. REGISTRE-SE. INTIME-SE. CUMPRA-SE. Após, arquivem-se os autos com as cautelas de praxe. Manaus - AM, 02 de abril de 2013 DRA. MÔNICA CRISTINA RAPOSO DA CÂMARA C. DO CARMO Juíza da