SUMÁRIO EXECUTIVO. Bolha chinesa ainda pode cair mais 10%; Uma guerra monetária; FED não irá subir os juros; BCB terá que subir ainda a SELIC. A verdadeira bolha não é a China, mas sim o ocidente. O mundo acordou em pânico na manhã desta segunda-feira na esteira de um tombo de 8% no principal índice acionário chinês. Investidores incrédulos fogem para a liquidez ou colocam seus recursos em quase moeda como os títulos norteamericanos ou europeus. Vamos acessar esse problema por etapas. Em primeiro lugar sim, a China vive uma bolha no seu mercado acionário. Isso não é segredo algum e nós mesmos já alertamos nossos clientes em Flash Econômico dia 28/05 ou em Comentário Diário do dia 2 de junho. Não há nada brilhante nisso, afinal a bolsa do gigante asiático havia subido 150% naquele período. De lá para cá a bolsa corrigiu cerca de 35%. 1
Este processo e correção da bolsa chinesa pode ainda se acentuar mais uns 10% e mesmo assim em 12 meses a bolsa daquele país estará subindo 30% em 12 meses. Muita gente leu errado o recado do governo de Pequim ao desvalorizar o Yuan. Muitos acreditaram que isso era uma medida para incentivar sua economia, e sem dúvida também ajuda, mas o verdadeiro motivo para os técnicos do Banco Central Chinês ter desvalorizado o Yuan foi para contrapor uma possível alta dos juros nos EUA. Se os EUA sobem os juros e Pequim não faz nada o Dólar ia se apreciar e levar na garupa o Yuan. Como o Banco Central Chinês não pode cortar os juros o que iria incentivar outras bolhas em sua economia eles preferiram alterar o câmbio que eles controlam na marra tendo como retaguarda as maiores reservas mundiais de dólares. Só que a questão não é mais dinheiro. Desvalorizar o Yuan poderia tornar a China barata e atrair mais capitais, mas não é essa a questão. Dinheiro não falta no mundo, o que falta é sentido. Do que adianta dinheiro na mão se não há futuro para investir? Com o futuro aprisionado num mundo bipolar que não decide o que fazer o único remédio é liquefazer, pronto para virar geleia. Como diria Delfim a desgraça da insegurança é que se todos ficam líquidos acabamos morrendo afogados. O Yuan desvalorizado não vai ajudar a China exportar mais ou importar menos; lembremos que mesmo com a depreciação da moeda chinesa contra o Dólar, o Real se deprecia contra o Yuan desde setembro do ano passado mais de 50%. O jogo atual é de perde-perde para todos. As a bolsa chinesa talvez seja o menor dos problemas, infelizmente o problema é mais profundo. 2
Os Bancos Centrais norte-americano, japonês e europeu estão num processo de afrouxamento quantitativo que perdeu qualquer tipo de critério há algum tempo. Não há forma objetiva de avaliar a eficiência desses programas a não ser um critério difuso de um mix de inflação (que cai na esteira da desaceleração econômica) e de emprego (que melhora através da precarização). Depois dos últimos desdobramentos na China me parece impossível os EUA subirem os juros e na Europa o QE continental vai continuar injetando Euros até atingir a meta revelada de recompor os ativos do BCE nos patamares de 2012. Essa liquidez abundante criou um descolamento da bolsa dos seus fundamentos. O DAX em Frankfurt e o S&P em Nova York renovam máximas como se não houvesse nada anormal na economia real. 3
Para ver isso de maneira mais clara tomemos o S&P e a Produção Industrial dos EUA. As duas séries guardam uma correlação forte, mas esta relação perdeu sentido no pós 2008 quando iniciou-se o QE norte-americano. Enquanto a Produção Industrial subiu entre 1996 e 2015 43% o S&P subiu 230%. 4
O FED forçou a renda para cima através de um efeito riqueza que nos EUA está intimamente ligado a Bolsa de Valores, afinal os americanos tem hábito de investir. Esse efeito riqueza não pode ser desfeito agora por isso uma alta de juros não deve acontecer uma vez que daria a senha para uma realização global de ativos e os EUA não sabe como incentivar a economia. O certo seria uma política fiscal expansionista com obras pelos EUA e pelo mundo, afinal os EUA se financiam a virtualmente 0%, mas a oposição norte-americana impediu que o presidente Obama fizesse isso. Sobrou para o FED forçar ladeira a cima a carteira dos norte-americanos via emissão monetária. A bolsa nos EUA e na Europa podem ter que enfrentar alguma correção, e isso sim será mais preocupante. Por aqui o Banco Central do Brasil não terá alternativa a não ser subir ainda mais os juros. Nosso cenário contempla mais uma alta de 25 p.b.. O ideal seria que os agentes percebessem que há uma crise econômica mundial, logo a desaceleração global irá segurar os preços por aqui também. No entanto a desvalorização de 14% do Real contra o Dólar no trimestre irá forçar nos modelos dos economistas um choque cambial que se traduzirá em mais inflação forçando assim o BCB suba mais um pouco os juros. Fosse só isso seria fácil. A deterioração política somada à queda da bolsa chinesa instalou o medo na mentalidade dos investidores e isto forçou os juros longos para novos patamares. Hoje a curva-pré que estava negativamente inclinada praticamente está flat e o miolo desta tende a subir nos próximos dias. (linha laranja hoje, verde ontem) 5
A curva está no lugar errado em minha opinião, ao que tudo indica o BCB terá que cortar os juros curtos o ano que vem para algo próximo de 11%. Muitos argumentam que o Brasil irá perder o grau de investimento e isso seria justificativa suficiente para manter os juros longos fora do lugar. Concordo com a hipótese, mas temos que lembrar que 11% já são os maiores juros nominais entre os países similares. Manter em 14,5% (no caso deles subirem 25 pontos) irá desarticular de vez a economia doméstica. O mundo perdeu o senso de direção e quando isso acontece nem todo o dinheiro do mundo é suficiente. Por aqui a discussão do poder pelo poder fez o país perder o sentido de um projeto e quando os nervos se exaltam não há racionalidade que dê conta, ou pior, a única coisa racional é apostar contra. André Perfeito, economista-chefe aperfeito@gradualinvestimentos.com.br Rafael Gonçalves Cardoso rgoncalves@gradualinvestimentos.com.br 6
DISCLAIMER Este relatório foi preparado pela Gradual Investimentos e é distribuído gratuitamente, com a finalidade única de prestar informações ao mercado em geral. Não possuindo a Gradual Investimentos qualquer vínculo com pessoas que atuem no âmbito das companhias analisadas, assim como a empresa não recebe remuneração por serviços prestados ou apresenta relações comerciais com as companhias analisadas. Apesar de ter sido tomado todo o cuidado necessário de forma a assegurar que as informações no momento em que as mesmas foram colhidas, a precisão e a exatidão de tais informações não são por qualquer forma garantidas e a Gradual Investimentos por elas não se responsabiliza. Os preços, as opiniões e as projeções contidas nesse relatório estão sujeitos a mudanças a qualquer momento sem necessidade de aviso ou comunicado prévio. Este relatório não pode ser interpretado como sugestão de compra ou de venda de quaisquer ativos e valores imobiliários. Este relatório não pode ser reproduzido, distribuído ou publicado por qualquer pessoa, para quaisquer fins. 7