XVIII CONGRESSO NACIONAL DE LINGUÍSTICA E FILOLOGIA CLASSE HOSPITALAR DO HOSPITAL INFANTIL ISMÉLIA SILVEIRA: O OLHAR DO ALUNO/PACIENTE SOBRE O AMBIENTE E SUAS PERSPECTIVAS SOBRE O PÓS-ALTA Maria Inês de Andrade Cruz (UNIGRANRIO) nilacruz100@yahoo.com.br Renato da Silva (UNIGRANRIO) redslv333@gmail.com RESUMO A presente pesquisa será desenvolvida no Hospital Infantil Ismélia Silveira, que pertence ao Sistema Único de Saúde de Duque de Caxias, no Estado do Rio de Janeiro, aborda o atendimento educacional a crianças em ambiente hospitalar. Através de estudos de casos, serão analisadas as representações reveladas pelo o aluno/paciente sobre o espaço da classe hospitalar e suas perspectivas sobre o pós-alta. E, com a finalidade de referenciar a dissertação, são propostas reflexões sobre saúde e educação e sobre a importância do espaço educativo e lúdico para o desenvolvimento, a aprendizagem e a recuperação da criança hospitalizada. Palavras-chave: Classe hospitalar. Aluno/paciente. Representações. Educação. Saúde. 1. Introdução Este artigo faz parte do conjunto de atividades desenvolvidas junto ao Programa de Mestrado em Letras e Ciências Humanas da Universidade do Grande Rio e traz algumas reflexões sobre o espaço educativo da classe hospitalar. A possibilidade de levar a escola até o hospital surgiu após a Segunda Guerra Mundial (1937-1945), pois até então existiam escolas adaptadas para atender crianças enfermas. Durante a Segunda Guerra Mundial, foi grande o número de crianças e adolescentes afetados pela guerra, impossibilitados de frequentarem a escola; nesse momento fez-se RIO DE JANEIRO: CIFEFIL, 2014 401
Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos necessário pensar sobre a condição da criança e do adolescente enfermo. Neste sentido, houve uma mobilização por parte de profissionais da saúde e da educação que, por reconheceram a importância da continuidade do processo escolar para aquelas crianças e adolescentes atingidas pela Guerra, buscaram a efetivação de uma prática pedagógica educativa no espaço hospitalar. No Brasil, de acordo com Esteves (2008), a classe hospitalar regulamentada surgiu na década de 1990, quando os órgãos públicos finalmente investiram no serviço de pedagogia hospitalar, como modalidade da educação especial, oferecida para as crianças e adolescentes internados. Considerando a importância da existência da classe hospitalar no espaço hospitalar como recurso de promoção de humanização, saúde e educação, ressalto a contribuição deste trabalho educativo no que se refere a recuperação do aluno hospitalizado e do bem-estar possibilitado por este espaço de interação social. Na infância, assim como na adolescência a hospitalização afeta o desenvolvimento emocional, pois restringe as relações de convivência da criança, afastando-a da sua família, de casa, dos amigos e da escola. A pedagogia hospitalar vem se expandindo no atendimento à criança hospitalizada, como uma estratégia de humanização no tratamento de saúde, onde o trabalho deve ter os olhos voltados para o ser global, e não somente para o corpo e as necessidades físicas, emocionais, afetivas, e sociais do individuo. Atualmente, no Brasil, classe hospitalar é a denominação do atendimento pedagógico-educacional que ocorre em ambiente de tratamento de saúde em circunstância de internação. É compreendida na modalidade de educação especial por atender crianças e/ou adolescentes considerados com necessidades educativas especiais em decorrência de apresentarem dificuldades curriculares por condições de limitações especificas de saúde. Tem por objetivo propiciar o acompanhamento curricular do aluno quando hospitalizado, garantindo-se a manutenção do vínculo com as escolas por meio de um currículo flexibilizado. Esta ação se revela como um direito da criança hospitalizada, como consta na Lei de Direitos da Criança e do Adolescente Hospitalizados no 9º item: Direito a desfrutar de alguma forma de recreação, programas de educação para a saúde, acompanhamento do curriculum escolar, durante sua permanência hospitalar. E como afirma Fonseca (2000, p. 33): 402 CADERNOS DO CNLF, VOL. XVIII, Nº 03 ENSINO DE LÍNGUA E LITERATURA
XVIII CONGRESSO NACIONAL DE LINGUÍSTICA E FILOLOGIA O atendimento pedagógico-educacional hospitalar contribui para a reintegração da criança hospitalizada na sua escola de origem ou para o seu encaminhamento à matrícula após a alta, uma vez que muitas delas, mesmo em idade de obrigatoriedade escolar, não frequentam a escola. O Hospital Infantil Ismélia Silveira pertence à Secretária Municipal de Saúde de Duque de Caxias, foi inaugurado em 22 de agosto de 1970, porém, já existia como uma unidade humanitária criada por um grupo de mulheres do Município, a Associação das Companheiras das Crianças, oferecendo cuidados médicos e também um trabalho assistencial coordenado pelo médico pediatra Moacyr do Carmo. É o único hospital municipal que atende somente crianças e que oferece atendimento em classe hospitalar em Duque de Caxias. Tendo em vista a necessidade de estruturação de ações políticas de organização do sistema de atendimento educacional em ambientes e instituições outros que não a escola, teve início assim em 2009, a classe hospitalar no hospital infantil, sendo vinculada à Coordenadoria de Educação Especial da Secretaria Municipal de Educação de Duque de Caxias. Surgiu com a proposta de assegurar o acesso à educação básica e à atenção às necessidades educacionais especiais, de modo a promover o desenvolvimento e contribuir para a construção do conhecimento desses educandos hospitalizados, possibilitando um retorno à Unidade Escolar de origem após a alta sem prejuízos a formação escolar. Assim, a classe hospitalar veio atender o direito à educação que se expressa como direito à aprendizagem e à escolarização, traduzido, fundamental e prioritariamente, pelo acesso à escola de educação básica, considerada como ensino obrigatório, de acordo com a Constituição Federal Brasileira. Como aponta Ceccim (1997), a aprendizagem pode ocorrer dentro do hospital, pois apesar das crianças estarem doentes, isso não as impede de continuar crescendo e se desenvolvendo. A classe hospitalar é o meio que vem ratificar o direito à educação, visando promover a escolarização, oportunizar o desenvolvimento e contribuir para a reintegração da criança hospitalizada à sociedade e à escola, após a alta hospitalar. A classe hospitalar é reconhecida pela legislação brasileira (CNDCA, 1995) e pressupõe a garantia do atendimento pedagógicoeducacional durante o período de internação, promovendo às crianças e aos jovens, assistência as suas necessidades educativas, prevenindo desta forma a evasão, o atraso escolar e o direito da criança desfrutar de alguma recreação, programas de educação para a saúde e acompanhamento RIO DE JANEIRO: CIFEFIL, 2014 403
Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos do currículo escolar durante sua permanência no hospital. (CNDCA, 1995) O atendimento pedagógico-educacional constitui-se a partir das diferenças idade-série, numa organização multisseriada, onde a professora conta com um grupo de alunos heterogêneo e diverso em relação ao nível de aprendizado e desenvolvimento, objetivando aproximá-los do ambiente escolar, propondo planejamento de conteúdos individualizados desde a educação infantil até diferentes disciplinas do ensino fundamental. A classe hospitalar contribui para o fortalecimento da autoestima, reintroduzindo a emoção no funcionamento cognitivo, além de promover o vínculo com um ambiente de escolarização prazeroso. Promove a interação do usuário/acompanhante por meio de atividades lúdicas; desenvolve propostas pedagógicas cabíveis no ambiente hospitalar; e possibilita a identificação de crianças e adolescentes com necessidades especiais que estejam fora da escola. O brincar surge como uma ferramenta fundamental no processo pedagógico, modificando o cotidiano da internação. Através das brincadeiras as crianças expressam seus medos, anseios, desejos, frustrações e alegrias, o que contribui significativamente para a aprendizagem e a recuperação. No espaço lúdico e educativo da classe hospitalar são propostas atividades pedagógicas e recreativas de acordo com o estado de enfermidade dos alunos e podem ser modificadas por desejo destes. Assim, é necessário um planejamento estruturado e flexível compatível com bebês, crianças e adolescentes. E, para os educandos que não podem ser locomover da enfermaria para a classe hospitalar, estas são oferecidas no próprio leito. Celebração de datas comemorativas, acompanhamento dos estudos, brincadeiras, jogos, teatro de fantoches, contação de histórias, desenhos, pinturas, dramatizações entre outras, são atividades desenvolvidas na classe hospitalar. A legislação brasileira reconhece o direito de crianças e adolescentes hospitalizados ao atendimento pedagógico-educacional. A esse respeito, merece destaque a formulação da Política Nacional de Educação Especial (MEC/SEESP, 1994; 1995). Essa propõe que a educação em hospital seja realizada através da organização de classes hospitalares, devendo-se assegurar oferta educacional, não só aos pequenos pacientes com transtornos do desenvolvimento, mas, também, às crianças e adoles- 404 CADERNOS DO CNLF, VOL. XVIII, Nº 03 ENSINO DE LÍNGUA E LITERATURA
XVIII CONGRESSO NACIONAL DE LINGUÍSTICA E FILOLOGIA centes em situações de risco, como é o caso da internação hospitalar (FONSECA, 1999). A criação de classes escolares em hospitais é resultado do reconhecimento formal de que crianças hospitalizadas, independentemente do período de permanência na instituição ou de outro fator qualquer, têm necessidades educativas e direitos de cidadania, onde se inclui a escolarização. Esta pesquisa aborda a relevância do trabalho desenvolvido na classe hospitalar do Hospital Infantil Ismélia Silveira enquanto contribuição para a educação e a recuperação dos alunos internados. Descreve a classe hospitalar como um espaço de interação social do aluno que, uma vez ausente da escola, tem direito à educação no hospital como forma de brincar, aprender e expressar o que pensa e sente neste momento de recuperação de sua saúde. 2. Analise da importância da pesquisa A referida pesquisa encontra-se em fase de coleta de dados, já tendo sido considerada aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa (parecer 806753). Trata-se de uma pesquisa bibliográfica e qualitativa, com a utilização de entrevistas semiestruturadas com os alunos/pacientes, focando casos e como essas crianças representam suas observações e reações, com material iconográfico, desenho. E por meio deste estudo, pretendese conhecer qual a leitura dos alunos/pacientes sobre a classe hospitalar de um hospital infantil do SUS, em Duque de Caxias. Não haverá riscos, em razão do tipo de pesquisa qualitativa e do compromisso de não revelar as identidades dos menores. Quanto aos benefícios, encontram-se na possibilidade de viabilizar estudos que venham comprovar a importância da classe hospitalar para os alunos/hospitalizados e a interferência das atividades pedagógicas na recuperação, garantia da continuidade do processo de aprendizagem e reintegração dos alunos ao contexto escolar. RIO DE JANEIRO: CIFEFIL, 2014 405
Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos 3. Considerações finais O presente estudo, transcorrerá através de análise de estudos de casos, da observação dos alunos/pacientes no desenvolvimento de atividades educativas no ambiente da classe hospitalar, o que requer cuidado e atenção para que seja desenvolvido através de uma perspectiva de pesquisa científica. Considerando a relevância do presente estudo que encontra-se em fase de coleta de dados, posteriormente, após conclusão da pesquisa, os resultados poderão ser publicados para sua socialização com a comunidade de interesse no tema. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente Hospitalizados. Resolução nº. 41 de 13 de outubro de 1995.. Ministério da Educação e Cultura. Estatuto da criança e do adolescente. 1990.. Ministério da Educação e Cultura. Diretrizes nacionais para Educação Especial na Educação Básica. MEC; SEESP, 2001.. Ministério da Educação e Cultura. Lei de Diretrizes e Bases da Educação do Brasil, 1996. CECCIM, Ricardo Burg. Criança hospitalizada: atenção integral como escuta à vida. Porto Alegre: UFRS, 1997. VYGOTSKY, Lev Semynovich. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. Trad.: José Cipolla Neto, Luiz Silveira Menna Barreto e Solange Castro Afeche. São Paulo: Martins Fontes, 2000. WALLON, Henri, A evolução psicológica da criança. Rio de Janeiro: ANDES, 1941. 406 CADERNOS DO CNLF, VOL. XVIII, Nº 03 ENSINO DE LÍNGUA E LITERATURA