SAJUP: CONSTRUINDO UMA NOVA PROPOSTA DE EXTENSÃO EM DIREITO Área temática: Direito e cidadania Coordenador : Vera Karam Chueiri Equipe executora graduandos no curso de Direito (voluntários), atualmente dois bolsistas, participantes voluntários de outros cursos (pedagogia, psicologia). (ver tabela anexo I) Instituições envolvidas: UFPR, ARCI (Associação Rádio Comunitária de Itaperuçu) e ONG Monte Horebe (município de Itaperuçu). Resumo Partindo da idéia de que não existe teoria sem práxis, a Universidade não pode se esquivar do seu papel no meio em que se encontra. Deve estar constantemente lembrando que tem uma função dentro da comunidade. Por isso a importância da extensão: para o aprendizado e a formação humanitária. Mesmo porque uma formação sem contato com o que está na prática se torna incompleta. O SAJUP Serviço de Assessoria Jurídica Universitária Popular é um projeto de extensão universitária que surgiu em 2001 por iniciativa dos alunos de Direito da UFPR. O SAJUP tem como ideais a emancipação popular e a construção de um Direito e de uma sociedade mais justos. Para tanto, a atuação do projeto se baseia nos seguintes princípios: 1)Preferência por tratar da coletividade, pois não se restringe ao atendimento a demandas individuais e pontuais. 2)Concepção crítica do Direito: o Direito como instrumento de transformação social. 3)Consciência e participação, tanto acadêmicos como populares são estimulados a refletir sobre a realidade social e a importância do envolvimento mútuo para a transformação.
4)Relação horizontal: trabalha-se com a comunidade e não para a comunidade, de forma a evitar uma relação hierarquizada e impositiva. Palavra-chave: Direito diálogo cidadania Metodologia utilizada Dado os objetivos do SAJUP junto às comunidades, não se pode ensinar Direito utilizando-se das tradicionais metodologias acadêmicas, calcadas nos séculos XVIII e XIX. Essas se baseiam em correntes positivistas e em métodos impositivos e acríticos. Por isso, uma reformulação metodológica foi proposta e foi encontrando no método de Paulo Freire a fonte para uma prática educacional condizente com nossos objetivos. Neste sentido apontamos alguns pontos: Não há seres educados e não-educados. Estamos todos nos educando. Existem graus de educação, mas estes não são absolutos. O homem, por ser inacabado e incompleto, não sabe de maneira absoluta. (...) A sabedoria parte da ignorância. Não há ignorantes absolutos. Se num grupo de camponeses conversarmos sobre colheitas, devemos ficar atentos para a possibilidade de eles saberem muito mais do que nós. O saber se faz através de uma superação constante. O saber superado já é uma ignorância. Todo saber humano tem em si o testemunho do novo saber que já anuncia. (...) Portanto, não há saber nem ignorância absoluta: há somente um saber e uma ignorância relativos. Por isso não podemos nos colocar na posição do ser superior que ensina um grupo de ignorantes, mas sim na posição humilde daquele que comunica um saber relativo aos outros que possuem outro saber relativo. É preciso saber reconhecer quando os educandos sabem mais, e fazer com que eles também saibam com humildade 1. Nesse sentido, observamos um problema que é agudo nos alunos de Direito, qual seja o de se considerarem detentores de todo o conhecimento, em contraposição à importância de uma postura de humildade e de respeito à cultura popular, pois não se deve invadir a cultura de uma comunidade impondo uma visão. Outra questão que Paulo Freire suscita, a partir disso, diz respeito à não formação de hierarquia 1 FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. 5ª edição. Rio de Janeiro: Ed. Paz e Terra, 1999, p. 27-30.
entre aluno e educando, conseguindo, assim, construir um diálogo horizontal entre comunidade e acadêmico. Freire denunciou o ensino bancário, em que o professor deposita na memória do aluno determinada quantidade de conhecimentos e mais tarde, através das provas e avaliações, emite cheques que terão fundos ou não. Ele denuncia que educação é diferente de memorização. E acrescenta: Enquanto a prática bancária implica uma espécie de anestesia, inibindo o poder criador dos educandos, a educação problematizadora, de caráter autenticamente reflexivo, implica um constante ato de descobrimento da realidade. 2 Em conseqüência disso, o SAJUP não se utiliza de seminário nem de palestras. O que é utilizado são oficinas, nas quais o principal objetivo metodológico é o de se afastar do ensino utilizado na sala de aula, com a realização de dinâmicas e de vários outros métodos que levem à reflexão e à discussão. O aluno não deve ser apenas receptor, mas também criador do conhecimento. Deve ter a possibilidade de transformar a sua realidade imediata, testando e aplicando cada porção de conhecimento que recebe. Não há aprendizado real se ele não se traduz, na prática, em um compromisso solidário com a vida ao nosso redor. Daqui, retiramos o princípio de estarmos sempre abertos para o diálogo. Mas, acima de tudo, estarmos sempre receptivos para aprendermos muito com a comunidade em que estivermos atuando, de maneira que cada um dos integrantes cresça como indivíduos. A partir dessas idéias, almeja-se construir um ensino critico, reflexivo, não impositivo e sempre respeitando as diferenças de cada comunidade. E nunca olvidar um de nossos principais propósitos, qual seja o de estar prestando assessoria e nunca assistência, pois esperamos que as comunidades caminhem por si próprias, afastando, assim, qualquer tipo de dependência. Além de nos preocuparmos com oficinas regidas por esses princípios, acima de tudo as construímos para que sejam atrativas. Pois não queremos que a participação nas nossas oficinas seja desestimulante. Por isso, existe a preocupação com o uso de dinâmicas, em que as pessoas possam interagir, com o uso de vídeos 2 FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 8ªedição. Rio de Janeiro: Ed. Paz e Terra, 1985, p. 81.
interessantes e que levem a reflexão. Primando o diálogo e construindo, desse modo, uma educação condizente com cada comunidade. Texto: Importância da Extensão A experiência dentro da faculdade não se resume às aulas, pois o aprendizado do Direito não é completo sem a pesquisa e a extensão. De maneira simplificada, pode-se entender a extensão como uma ponte entre a universidade e sociedade, de maneira a criar algo conjunto, dialético, sem considerar o conhecimento acadêmico a verdade. Ao contrário, considerando que temos muito a aprender e levando sempre a idéia de construção, através do diálogo. COMO O SAJUP SURGIU? Insatisfeitos com a prática jurídica oferecida pela faculdade, que era restrita à atuação no escritório modelo, os acadêmicos buscaram construir uma nova proposta de extensão, visando aproximar a universidade da comunidade. Assim, surge em 2001 um projeto que buscava uma ponte entre a universidade e a comunidade. Começando com uma demanda de Itaperuçu é criado um ciclo de 8 oficinas sobre os mais variados temas em Direito. Mesmo com muita dificuldade e inexperiência, o projeto obteve êxito, sendo que o conselho de segurança da cidade começa a ser reativado por iniciativa dos próprios participantes das oficinas.
Em 2002, o projeto foi aceito na Rede Nacional de Assessoria Jurídica Universitária (RENAJU), ganhou uma sala e começou a ampliar seus núcleos, surgindo assim novas iniciativas: os núcleos de escola, nova comunidade e o grupo de estudos Paulo Freire. Em 2003, o projeto passa a contar com apoio financeiro da Universidade, conseguindo sua institucionalização. O núcleo escola cresce com o trabalho em mais um colégio. Esforços são feitos em relação as contas públicas de Itaperuçu. Começa também o SAJUP rádio com programas semanais aos sábados. Em 2004 continua nossa atuação em Itaperuçu através da rádio comunitária e do projeto Voto Certo, realizando oficinas e programas com o fim de despertar o interesse e a discussão sobre a democracia tanto representativa quanto participativa. Também realizamos o projeto Informe-se no colégio Hildebrando, com a construção de um jornal por parte dos alunos objetivando discutir assuntos relacionados com a realidade deles. Neste projeto buscamos a relação com outros cursos com a participação de acadêmicos de pedagogia e psicologia. O QUE FAZEMOS? Atualmente o projeto atua em três núcleos: 1)Escola, projeto Informe-se: realiza oficinas com estudantes do ensino médio da rede pública; 2)Comunidade: um programa de rádio (ao vivo) aos sábados em Itaperuçu; 3) Voto Certo: oficinas sobre a importância do voto consciente e da democracia participativa. Temos novas propostas para 2005. O SAJUP está sempre mudando sua estrutura como forma de atender as demandas da comunidade. MAS SÓ O SAJUP REALIZA ASSESSORIA JURÍDICA? O SAJUP é apenas um dos vários grupos que realizam o trabalho de assessoria e que se encontram espalhados pelo Brasil.
O projeto é integrante da RENAJU Rede Nacional de Assessoria Jurídica Universitária, juntamente com as entidades CAJU-CE, CAJUÍNA-PI, NAJUC-CE, NAJUP NEGRO COSME-MA, SAJU-BA, SAJU-CE, SAJU-RS, e SAJU-SE. A rede realiza dois encontros anuais e busca articular a troca de experiências entre pessoas e projetos que possuem os mesmos princípios e ideais. Como o SAJUP, outros grupos partilham do mesmo ideal de construir uma consciência crítica do Direito e de lutar por uma cidadania efetiva através de um Direito transformador. COMO POSSO PARTICIPAR? O SAJUP não realiza qualquer espécie de seleção dos seus integrantes, porque acredita que todos podem contribuir com o projeto. Para participar, basta se identificar com a nossa proposta e ter disposição para trabalhar! Se você se identificou com a proposta entre em contato: 310-2692, ou com um de nossos integrantes. Construindo uma nova proposta de extensão em Direito. SERVIÇO DE ASSESSORIA JURÍDICA UNIVERSITÁRIA POPULAR. Referências BACHELARD, Gaston. A Epistemologia, (trad. De Fatima lourenço Godinho e Mário Carmino Oliveira), [ s.l.], Rio de Janeiro: Edições 70, [s.d.]. pp. 15-36. CARVALHO NETO, Menelick. A hermenêutica constitucional sob o paradigma do Estado Democrático de Direito. Notícia do Direito Brasileiro. UNB: Brasília, n 6.
CLEVE, Clemerson Merlin. O Direito e os Direitos. Scientia et Labor: São Paulo, 1988. FARIA, José Eduardo. O judiciário e os direitos humanos e sociais. Seminário Nacional Sobre o Uso Alternativo do Direito. Rio de Janeiro: ADV, 1993, p.5-12. FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. 5ªedição. Rio de Janeiro: Ed. Paz e Terra, 1999. FREIRE, Paulo. Extensão ou comunicação? 7ª edição. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1983. FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 8ª edição. Rio de Janeiro: Ed. Paz e Terra, 1985. MALISKA, Marcos Augusto. O direito à educação e a constituição. Sergio Fabris Editor: Porto Alegre, 2001. MARQUES NETO, Agostinho Ramalho. Reflexões sobre o ensino do Direito. Anais: Seminário Nacional de Ensino Jurídico, Cidadania e Mercado de Trabalho. Gráfica Linarth, Centro Acadêmico Hugo Simas: Curitiba, 1995, p. 19-32. PRESSBURGER, T. Miguel. Conceito e evoluções do direito alternativo. Seminário Nacional Sobre o Uso Alternativo do Direito. Rio de Janeiro: ADV, 1993, p. 13-16. ROTHENBURG, Walter Claudius. Direitos Fundamentais e suas Características. Revista de Direito Constitucional e Internacional, ano 8, n 30. Editora RT, p. 146 e 151. SILVA, Maria das Graças Martins da. Extensão universitária: Um significado em construção. Revista Participação, de dezembro de 2000. Contatos: Deividi Cresto dcresto@uol.com.br, Guilherme Ferreira gguimaraesf@yahoo.com.br, Vanessa Martini vane.martini@terra.com.br Vanessa Martini. Graduanda do terceiro ano diurno da Faculdade de Direito da UFPR. Bolsista SAJUP no ano de 2003, participante do projeto desde 2002. Atua atualmente no núcleo Informe-se do projeto SAJUP. Endereço: Rua Almirante Gonçalves, 1880 ap. 21-B Rebouças. Curitiba-Pr. vane.martini@terra.com.br