ENGENHEIROS - LÍDERES, TEMOS FORMAÇÃO PARA GERIR PESSOAS?



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Transcrição:

ENGENHEIROS - LÍDERES, TEMOS FORMAÇÃO PARA GERIR PESSOAS? Rita de Castro Engler Florencio de Almeida, Docteur de l Ecole Centrale Paris BSP São Paulo Business School R. Maranhão, 213 / 1 º andar São Paulo/SP 01240-001 - Fone: (011) 3211 2000 Fax: (011) 5181 0277 e-mail: rcengler@uol.com.br Resumo. A formação em engenharia é reconhecida em todo o mundo e a contribuição dos engenheiros para a sociedade como um todo está sempre presente. O mercado mostra que até hoje os engenheiros são bastante valorizados. Na alta gerência das maiores empresas do mundo sempre existiram engenheiros em posição de destaque, independente do nicho de mercado. Não podemos, portanto negar que as escolas de engenharia tem feito um bom trabalho na formação de profissionais. Mas a questão é: dentro dessas atribuições de gerentes e diretores, os engenheiros são sempre levados a liderar pessoas, tarefa para a qual não foram devidamente formados. Tradicionalmente as escolas de engenharia sempre se preocuparam em formar um profissional com uma sólida base matemática, raciocínio lógico e em dia com a tecnologia. Nos esforçamos para dar ao nosso engenheiro habilidades tecnológicas que o permitam evoluir e acompanhar mudanças cada vez mais rápidas. Porém a formação humana não tem recebido a devida atenção. Analisando estatísticas de uma escola de MBA, verifiquei que 50% dos alunos possuem formação de engenheiro, sendo de longe o grupo profissional mais numeroso em nossas salas de aula. Se analisarmos os dados relativos aos cursos de educação continuada, eles continuam liderando, inclusive nos curso de temas ligados as competências de gerenciamento do capital humano. Eles buscam esta formação para que possam continuar progredindo em suas organizações. Através da análise destes dados e de entrevistas com diversos alunos pude perceber uma lacuna na formação desses profissionais que os levam a buscar outros cursos mais tarde. Podemos concluir que a grande maioria dos engenheiros tem necessidade de uma formação em Liderança e gestão de pessoas, pois em algum momento de sua vida profissional eles ocuparão posições, onde tais competências serão essenciais ao bom desempenho de suas funções. Se não mudarmos acabaremos perdendo espaço para os outros profissionais que estão mais adequados as necessidade do mercado. Palavras-chave: Líder, Competência, MBA, Visão Global. DTC - 52

INTRODUÇÃO Neste início de milênio, podemos observar uma incrementação da globalização. Com o acesso a informação mais democrático, o mundo está se aproximando e as fronteiras são cada vez mais imperceptíveis. O avanço tecnológico está presente em todas as áreas do conhecimento, e tecnologias tornam-se obsoletas em períodos ainda mais diminutos. Mal temos tempo de absorver uma nova tecnologia e já nos vemos confrontadas com outra, de alcance e projeção tão mais expressivos, que já não é mais possível, não mudar todos os nossos antigos procedimentos. É claro que todas estas tecnologias cada vez mais complexas, implicam em mudanças organizacionais e hoje, é praticamente impossível trabalhar sozinho. O trabalho em equipe não é mais uma opção, mas a única forma de conseguirmos sobreviver no terceiro milênio. Os engenheiros não escapam a este desafio e por sua formação e reconhecimento no mercado são, com grande freqüência, chamados a ocupar posições de liderança dentro das empresas. Esta constatação nos levou a formular a seguinte questão: Temos formação para gerir pessoas? ENGENHARIA E GESTÃO DE PESSOAS O vocábulo engenharia, segundo o dicionário Michaelis, é um substantivo feminino formado da adição de engenho e aria, e significa: arte de aplicar os conhecimentos científicos à invenção, aperfeiçoamento ou utilização da técnica industrial em todas as suas determinações. As escolas de engenharia sempre se orgulharam de formarem profissionais competentes no gerenciamento e criação de técnicas, tecnologias e procedimentos. Mas o enfoque sempre foi racional, lógico e voltado exclusivamente para soluções de caracter tecnológico, a formação humana, do engenheiro, nunca foi um ponto forte. Esta lacuna na formação do engenheiro pode ser observada até hoje e no currículo da maioria das escolas de engenharia, as disciplinas de vocação humana não estão acompanhando as necessidades do profissional, no mercado de trabalho. Os engenheiros ainda hoje são valorizados pelas organizações, porém são forçados a buscar formação adicional para serem capazes de exercer, de forma satisfatória as tarefas e desafios que lhes são apresentados pelo mundo dos negócios. Um bom engenheiro é aquele que não somente é capaz de desenvolver e implementar novas tecnologia, mas aquele que é capaz de levar a sua equipe a aumentar a produção e a qualidade. Este profissional deve estar apto a liderar sua equipe e motivá-la para o crescimento da empresa. Ele deve ser capaz de gerir recursos técnicos, humanos e financeiros. Ele deve estar em dia com as flutuações do mercado e com os avanços tecnológicos e estar sempre buscando novas oportunidades. Infelizmente, nossas escolas de engenharia, ainda não estão sendo capazes de suprir todas essas novas necessidades advindas das mudanças e revoluções dos últimos anos. Os engenheiros recém-formados partem para o mercado de trabalho e deparam-se com o grande desafio, como liderar minha equipe para o sucesso? Temos a tecnologia, mas como fazer com que os membros do time compartilhem de nosso objetivos, como levá-los a agir seguindo nosso comando? Embora alguns ainda questionem a necessidade de investir em formação humana nas escolas de engenharia, este grupo está cada vez menor. Apesar do reconhecimento da crescente necessidade de investimento em formação em competências de liderança e gestão de pessoas dos engenheiros, muito pouco tem sido feito de forma concreta para solucionar o problema. DTC - 53

ENGENHARIA E FINANÇAS Outra lacuna nos currículos dos engenheiros é uma base mais sólida de conhecimentos econômicos e financeiros. Exceção feita aos cursos de engenharia econômica ( podem existir com outras denominações), as escolas de engenharia ainda dedicam muito pouco espaço ao ensino de noções de economia e financias aos seus alunos. O mundo dos negócios está cada vez mais agressivo e profissional. Não há lugar para amadores. Cada um é responsável por cada atitude/resolução tomada e será cobrado por isso. A palavra de ordem é empreendedorismo, e quem não tiver este famoso espírito empreendedor, certamente terá dificuldades em crescer profissionalmente. Ser capaz de compreender e identificar oportunidades de mercado são características muito valorizadas em qualquer ramo de atividade nos anos 2000. Os engenheiros devem estar aptos a lidar com as variáveis econômicas e financeiras para poderem ocupar posições de alta gerência, diretoria e presidência nas empresas. Mais uma vez percebemos que temos um grande caminho à percorrer em busca da atualização dos nossos currículos às necessidade, as exigências do mercado. CENÁRIO ATUAL A globalização tem impacto direto no mercado de trabalho. As empresas tornaramse multinacionais, fusões e aquisições acontecem todos os dias. As fábricas são instaladas onde a mão de obra é mais produtiva e especializada, busca-se a relação custo-benefício, não apenas o que é a primeira vista mais barato ( às vezes torna-se muito mais caro!!). Decisões são tomadas depois de avaliar opções em todo o mundo. As fronteiras geográficas, já não são mais uma barreira intransponível. Ao mesmo tempo, o avanço tecnológico cresceu exponencialmente. Com a revolução da informação, computadores e robôs podem ser encontrados em todo o mundo. A tecnologia está, hoje, ao alcance de todos, basta pagar por ela. Não existem segredos e patentes exclusivas que sejam capazes, por si só, de garantir a sobrevivência das empresas, o diferencial neste inicio de milênio deixou de ser tecnológico e passou a ser administrativo. Neste cenário a postura das escolas de engenharia tem que mudar. Sempre fomos os grandes mestres da tecnologia, dotados de raciocínio lógico, que era nossa grande força e vantagem competitiva. Estes atributos ainda são valorizados pelo mercado, porém perderam parte de sua força. O grande trunfo dos engenheiros ainda é a capacidade de adaptar-se a novas tecnologias, de absorver novos conceitos. Porém as empresas preferem ensinar novas técnicas, a ensinar a liderar, a gerir pessoas. É muito mais fácil aprender procedimentos, do que aprender a gerir pessoas. Estamos portanto cedendo espaço, a outros profissionais, mais bem preparados a lidar com os recursos humanos. Na era da tecnologia, vivemos um novo paradigma, os vencedores não são os detentores de tecnologia, pois estas são amplamente divulgadas. O diferencial está na equipe, na capacidade de administrar talentos, pois eles são os grandes responsáveis pelo sucesso ou fracasso do empreendimento. A necessidade de aprimorar as habilidades de administrador dos engenheiros já faz parte, inclusive, dos pré requisitos para o registro profissional de segundo e terceiro estágio no Reino Unido *(Levy, 1996). No Reino Unido o profissional deve ter uma visão generalista, ser capaz de tomar decisões organizacionais que envolvam questões financeiras, ambientais, comerciais, deve saber manter relações pessoais, contatos, espírito de equipe, etc. e tudo isto, a partir do estágio 2. DTC - 54

Nos EUA podemos verificar uma crescente preocupação com a formação acadêmica dos engenheiros. No relatório do Fundação nacional de Ciência ( Nacional Science Foundation) sobre as expectativas na formação dos alunos de graduação em engenharia podemos ver o seguinte comentário (National Science Foundation, 1996, pag. iii): Existe um número excessivo de graduados, entrando no mercado de trabalho, mal preparados para resolver problemas reais de forma cooperativa, sem as habilidades, competências e motivação para continuar a aprender (tradução da autora) Podemos dizer, portanto que é um fenômeno que não está restrito as nossas escolas de engenharia, mas a concepção da formação do engenheiro, que ainda está muito ligada à teoria e pouco voltada para as necessidades práticas do profissional, uma vez inserido no mercado de trabalho. ENGENHEIROS E MBA A busca de alternativas para uma melhor adaptação as exigências do mercado, atualmente, tem levado grande parte dos engenheiros a buscarem uma formação complementar, após a graduação. Nos anos 90, era grande o número de engenheiros que buscavam cursos de especialização, ou atualização. A procura pela educação continuada em engenharia estava em alta. Os cursos de desenvolvimento e atualização continuam sendo muito procurados, principalmente no que tange a uma necessidade específica e imediata, como uma atualização em uma nova tecnologia, ou algum ponto fraco detectado nas avaliações periódicas de desempenho, como por exemplo as avaliações 360 º, tem levado muitos engenheiros a buscar cursos de aperfeiçoamento. O número de engenheiros buscando uma formação mais completa e generalista tem aumentado muito. Após uma ano trabalhando em uma escola de MBA, pudemos observar o grande número de engenheiros que procuram a escola, eles formam 50% do total de alunos matriculados na escola sendo de longe o grupo profissional mais representativo da escola, seguidos pelos administradores com apenas 22%. Formação Acadêmica % no total de alunos do EMBA Engenharia 50 % Administração de empresas 22 % Informação Tecnológica 6 % Economia 5 % Marketing 3 % Direito 1 % Contabilidade 1 % Outros 12 % Tabela 1 Formação Acadêmica dos alunos de EMBA da BSP ( dados atualizados em jan de 2001) DTC - 55

Os cursos de EMBA (Executive Master of Business Administration) surgiram em Chicago em 1942 e desde então vem se espalhando pelo mundo. Os cursos de MBA Executivo foram criados para profissionais que visam ocupar posições de destaque na administração das empresas. Eles oferecem normalmente os mesmos cursos do MBA, porém num ritmo mais acelerando e utilizando-se da experiência dos alunos. Os cursos de MBA tem vocação generalista e incluem em seu currículo programas de financeiras, contabilidade, estatística, administração, marketing, administração, informação tecnológica, administração de recursos humanos, liderança, comportamento organizacional, direito, etc. Os MBA estão surgindo como uma opção válida para complementar a formação inicial dos engenheiros e as empresas, os profissionais e os próprios head hunters afirmam que o mercado está cada vez mais receptivo a profissionais com este tipo de formação. RESULTADOS DA PESQUISA Independente do estágio profissional e da opção pelo Classic ou Executive MBA, o fato é que um grande número de engenheiros estão atualmente cursando cursos de MBA. A partir desta constatação, resolvemos fazer uma pesquisa para verificar as razões que levam os engenheiros a buscar uma formação mais generalista como um MBA e tentar levantar possíveis falhas nas diretrizes curriculares dos programas de engenharia, para que uma vez conhecidas as lacunas, possamos juntos tentar buscar soluções, formas de eliminá-las. A metodologia utilizada para esta pesquisa foi a análise de uma amostra aleatória de 120 dossiers de candidaturas de alunos com graduação em engenharia ( de 1999 e 2000) e posteriores entrevistas, com alguns alunos atuais. Pudemos constatar que a maioria dos alunos buscava uma forma de crescimento ou evolução profissional. Diversos alunos mencionam o curso de MBA como uma ponte para o avanço na carreira. Confirmando as tendências do mercado os cursos de MBAs tem sido extremamente valorizados, principalmente por seu cunho prático. Os alunos mencionam sempre o fato de terem oportunidade de analisar casos e discutir em termos bem práticos, concretos e atuais os problemas vivenciados no dia-a-dia das empresas. A segunda razão mais citada, foi a oportunidade de adquirir uma visão global de negócios. Os engenheiros, por sua formação tecnológica, acabam por ter uma visão fragmentada, muito focada na parte técnica e não estão preparados para mensurar os impactos de uma decisão tecnológica na gestão de pessoas, ou até mesmo as implicações financeiras, das suas decisões. Nós engenheiros temos uma tendência a tomar decisões baseado em informações técnicas, na melhor solução do ponto de vista tecnológico, o que infelizmente, muitas vezes resulta em um desastre financeiro, e na perda de talentos Aluno engenheiro do MBA da BSP. Os engenheiros estão também na busca de contatos, de incrementar e diversificar sua network. Hoje em dia, na era da informática ter os contatos certos, saber onde obter ajuda no momento exato é vital. Não é mais possível trabalhar sozinho e estamos a todo momento precisando de ajuda de profissionais de diferentes formações e cultura empresarial. 30% dos alunos mencionaram como uma das principais razões de procurarem um MBA a necessidade de uma melhor formação em gestão de pessoas e capacidade de liderança. 25% queriam melhorar como coaches, ou seja, pode-se questionar a capacidade dos engenheiros em liderarem e proporcionarem o desenvolvimento de suas equipes. Os aspectos administrativos e financeiros foram mencionados com freqüência, 25% e 12 %, respectivamente, o que reforça nossa teoria de que os engenheiros assumem DTC - 56

posições de gerentes, diretores, etc., e que para tal, precisam de uma visão mais global do negócio. minha carreira evoluiu para as áreas comercial e de planejamento e faltava conhecer melhor ;áreas como finanças e recursos humanos - Cleantho Leite Filho, diretor comercial da Ciquine Petroquímica e Polialden Petroquímica engenheiro químico e mestre pela University of Manchester Institute of Science & Technology Existe a procura de atualização, e este item foi mencionado em 19% dos casos analisados, na maioria dos casos os alunos tinham acima de 40 anos. O curso de MBA é considerado como uma oportunidade de investir em novas áreas e menos como uma fonte de reciclagem. Na tabela abaixo, resumimos o resultado da pesquisa: Razão para cursar MBA % de respostas Atualização 19 % Desenvolvimento Pessoal / Carreira 73 % Coaching 25 % Conhecimentos Administrativos 25 % Conhecimentos financeiros 12 % Network 37 % Gestão de Pessoas / Liderança 37 % Reconhecimento da Instituição 20 % Visão de negócios / visão global 53 % Tabela 2 Razões mais evocadas pelos engenheiros matriculados no EMBA da BSP CONCLUSÃO Depois deste estudo podemos dizer que os engenheiros continuam ocupando cargos de alta gerência nas empresas, mas estão sofrendo uma concorrência cada vez mais forte de outros profissionais que possuem uma formação mais global, com uma melhor visão do negócio como um todo. É importante que as escolas de engenharia passem a dar uma maior ênfase aos fatores humanos, assim como melhores noções de economia e administração. Nossas decisões técnicas precisam levar em consideração os impactos nas diferentes áreas das empresas. Os engenheiros precisam aprender a se relacionar melhor e a trabalhar em equipes, pois só assim poderão evoluir em suas carreiras, ocupando posições de chefia. A curto prazo, os cursos MBA aparecem como uma boa solução, pois permitem aprimorar os engenheiros nos pontos onde sua formação não é satisfatória. A médio longo prazo precisamos rever os currículos de maneira a adequa-los as necessidades do terceiro milênio, para que os engenheiros possam continuar almejando a presidência das empresas. BIBLIOGRAFIA LEVY, Jack, jan. 1996, Accreditation of training as preparation for professional practice in the UK, IDEAS No 3 for better education & training for engineers, UNESCO DTC - 57

NATIONAL SCIENCE FOUNDATION, 1996, Shaping the Future new expectations for undergraduate Education in Science, Mathematics, Engineering, and Technology AGRADECIMENTOS Agradeço à Sra. Regina Tanabe pela ajuda na coleta e tabulação dos dados. Agradeço também aos alunos da BSP que participaram das entrevistas, e a direção da BSP pelo apoio. DTC - 58