As emoções do profissional de enfermagem ao lidar com pacientes com HIV/AIDS



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Transcrição:

As emoções do profissional de enfermagem ao lidar com pacientes com HIV/AIDS Maria Cristina Silva de Andrade Aluna do Curso de Graduação em Enfermagem. Pollyana Oliveira Capocci Docente do Curso de Graduação em Enfermagem. Orientadora. RESUMO Este artigo é uma revisão bibliográfica sobre as emoções vivenciadas pelo profissional de enfermagem durante a prestação de cuidados ao paciente HIVlAIDS. Pretende-se verificar quais são essas emoções, se elas atrapalham ou não no cuidado e se traz conseqüências para a vida pessoal do profissional. Observa-se que o medo é a principal emoção presente no enfermeiro durante os cuidados. Além do medo, existem outras emoções como: angústia, impotência, pena e desprezo. Conclui-se que cuidar de portadores do HIV, gera diferentes emoções nos profissionais de enfermagem e por todos esses fatores, faz-se necessário uma constante reciclagem, até mesmo espaços apropriados para que este profissional possa relatar seus medos, angústias e incertezas aliviando um pouco a carga emocional decorrente do seu trabalho. Descritores: Emoção; Enfermagem; HIV; AIDS. Andrade MCS, Capocci PO. As emoções do profissional de enfermagem ao lidar com pacientes com HIV/ AIDS. INTRODUÇÃO A emoção é um assunto importante e de prioridade da psicologia onde é considerada como realidade psicobiológica. Observa-se que não é fácil conceituar emoção, pois sua existência é inferida através do comportamento (1). Nos livros de Psicologia em Geral, a emoção também pode ser definida como afetos e reações desordenadas que se manifestam em nós quando no nosso ambiente se opera alguma transformação radical e repentina à qual não nos podemos adaptar imediatamente (2). No dicionário a emoção é conceituada como ato de mover-se moralmente. Perturbação de espírito provocada por situações diversas que se manifesta como alegria, tristeza, raiva, comoção, etc. Estado de ânimo despertado por sentimento estético, religioso, etc... (3). A psiquiatria define a emoção como um complexo estado de sentimentos, com componentes somáticos, psíquicos e comportamentais, relacionado ao afeto e ao humor. Afeto: experiência da emoção expressada pelo paciente e observada por outros. O afeto possui manifestações externas que podem ser observadas. Vai mudando com o passar do tempo, em resposta a estados emocionais. Humor : uma emoção difusa e prolongada, subjetivamente experimentada e relatada pelo paciente; exemplos incluem depressão, euforia e raiva (4). As emoções humanas são estados interiores que não podem ser observadas ou medidas diretamente, elas surgem de forma súbita, embora possam levar as pessoas a se sentirem fora do controle durante algum tempo. Efetivamente não determinam comportamentos, mas aumentam o incitamento (estimular/encorajar), a reatividade ou a irritabilidade (15). Essas emoções (também chamadas de afetos) são feitas de componentes subjetivos, comportamentais e fisiológicos, e também podem ser: medo, cólera, alegria e tristeza (2,5). Os aspectos mais vividos das emoções provavelmente são os sentimentos e pensamentos, os subjetivos que parecem estar entremesclados (5). Os pesquisadores encontraram evidências de que pelo menos seis emoções são experenciadas no mundo inteiro : alegria, raiva, desagrado, medo, surpresa e tristeza. Existem outras emoções - dentre elas vergonha, desprezo e culpa (5). Os principais indicadores utilizados para identificar a manifestação das emoções são : relatos verbais, observação do comportamento e indicadores fisiológicos. As emoções - 15

tanto na sua expressão oral quanto gestual e corporal, formam uma linguagem, signos de expressões compreendidas. Enfatiza-se a necessidade de compreender as emoções acima de tudo como elementos de comunicação, portanto como elementos eminentemente sociais (5). Então vimos que as emoções podem provocar abalos morais, perturbações e também alterações tanto fisiológicas quanto orgânicas. As principais alterações fisiológicas e orgânicas que ocorrem durante os estados de emoção são : - A condutividade elétrica da pele que aumenta com o grau de excitação emocional do indivíduo; - As mudanças na pressão, volume e composição do sangue e o ritmo cardíaco; - As alterações na temperatura e exsudação cutâneas; - A mudança nas dimensões da pupila do olho; - A secreção alterada das glândulas salivares; - A tensão e o tremor muscular (5). Como vimos até agora, as emoções embora não seja facilmente observada, merecem ser identificadas. Sabe-se hoje, que os profissionais em geral precisam no seu trabalho, reconhecer suas emoções através de uma auto-análise e observar se estas são positivas ou negativas. Ou seja, se as emoções vivenciadas atrapalham ou não o bom andamento no trabalho. Podemos perceber que os profissionais de saúde quando estão no papel de cuidador, tem uma grande responsabilidade com o paciente, onde muitas vezes este já está sem prognóstico mas, apesar de tudo, estes profissionais devem proporcionar uma assistência digna. As vezes é nesse momento que o profissional se defronta com situações desagradáveis onde gera uma grande ansiedade e mesmo assim precisa conter-se, pois além da situação do paciente, o profissional tem que mostra-se forte diante de seus familiares deixando de lado seu lado emocional e psicológico. Os profissionais que lidam com HIV/AIDS, podem produzir um tipo de morte social para o paciente, porque quando os esforços para prolongar a vida do paciente fracassam, estes muitas vezes perdem o interesse pelo caso e até podem sair de cena, provocando assim o que chamamos de morte social (6). No caso da enfermagem, observa-se que essa categoria está melhor preparada no âmbito da fisiopatologia, mas acaba negligenciando os aspectos emocionais e psicológicos do seu trabalho (6). Portanto, as emoções dos profissionais de enfermagem precisam ser estudadas para que possam ser reveladas e compreendidas. Particularmente neste artigo busca-se verificar quais são as emoções decorrentes da relação com os pacientes portadores de HIV/AIDS e, se essas emoções podem ter conseqüências em suas vidas pessoais. Por isso, pretende-se, então, analisar as emoções dos profissionais de enfermagem que trabalham com pacientes portadores de HIV/AIDS. OBJETIVOS - Identificar as emoções vivenciadas pelo profissional de enfermagem durante a prestação de cuidados ao paciente HIV/AIDS; - Verificar se essas emoções atrapalham ou não o cuidado com portadores de HIV/AIDS; - Verificar se as emoções vividas no trabalho têm conseqüências para a vida pessoal do profissional que cuida de pacientes com HIV/AIDS. JUSTIFICATIVA Atualmente o número de pessoas portadoras do vírus HIV é alto e o preconceito da sociedade contra esses pacientes com HIV/AIDS ainda é grande. A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida provocou em todos os profissionais da saúde muitos tipos de sentimentos e emoções onde muitas dessas emoções podem ser negativas e interferirem no cuidado de qualidade. Meu interesse por esse tema surgiu no estágio prático da disciplina de Enfermagem em Doenças Transmissíveis onde tive meu primeiro contato com pacientes portadores de HIV/AIDS, momento em que me fez pensar sobre as emoções dos profissionais de enfermagem que lidam com esses pacientes quotidianamente. Devido a esse fator, surgiu o interesse em pesquisar sobre as emoções dos profissionais de enfermagem com os pacientes HIV/AIDS. METODOLOGIA Este estudo é uma revisão bibliográfica. A coleta de dados foi através de pesquisas em acervos da Universidade e nas bases de dados Lilacs e Dedalus disponibilizados eletronicamente. Foi feito análise de publicações dos últimos 10 anos. Os artigos foram selecionados de forma estruturada, segundo as palavras chave: Emoções/EnfermagemlH IV/ AIDS. Após coletar e selecionar os artigos, foram utilizados procedimentos de leitura e fichamento para uma melhor análise dos dados. Em seguida esses dados foram agrupados por categorias, definidas por semelhanças e afinidade entre os achados e apresentados em um texto na qual estas se constituiram em tópicos. Dos 10 trabalhos encontrados, 06 falam sobre as emoções vivenciadas pelos enfermeiros com pacientes HIV/ AIDS, 01 fala sobre as alterações na prática profissional com o surgimento da AIOS, 01 fala sobre as dificuldades encontradas pela enfermagem ao lidar com pacientes portador do HIV/AIDS, 01 sobre as percepções que o enfermeiro tem frente a AIOS e 01 Tese (Mestrado) que abrange dois aspectos como: Emoções vivenciadas pelo profissional de enfermagem e dificuldades encontradas ao lidar com o paciente HIV/AIDS. RESULTADO O enfermeiro frente à AIDS: Alguns autores acreditam que o trabalho do enfermeiro é pensado sobretudo como uma forma de ajudar o paciente 16

HIV/AIDS a ter uma vida melhor ou uma morte menos sofrida, pois o enfermeiro não se preocupa somente com o ato profissional mas também com o lado espiritual e humano do indivíduo (7). Enquanto outros autores relatam que alguns enfermeiros encontram dificuldades no relacionamento com o paciente HIV/AIDS fora de possibilidades terapêuticas, porque sua preparação foi voltada mais para a fisiopatologia negligenciando os aspectos emocionais e psicológicos necessários para o bom desenvolvimento da assistência (6). Embora um autor mostra que o enfermeiro tem papel de suporte para o paciente que é demonstrado pelo ato de ouvir, ensinar, confortar e deixá-ios perceber que não sentem medo deles e nem de sua doença. A meta do paciente e do enfermeiro é o alívio, a prevenção da dor e a manutenção da vida (7). A grande maioria dos artigos encontrados, elegem o medo como maior sentimento emocional do profissional de enfermagem. Mas além do medo foram encontrados também a angústia, a pena, o preconceito e o desprezo. Na teoria fala-se muito que a maior emoção do profissional de enfermagem é o medo, mas observa-se na prática que os enfermeiros sentem-se muito angustiados por causa de seus preconceitos e sentimentos de impotência. Medo o medo é a resposta psicológica mais comum. Quando o indivíduo está diante da morte, nem sempre consegue diferenciar se o seu sentimento é de medo ou ansiedade (6,8). Observamos também que o medo pode se apresentar de diferentes formas como medo do contágio, medo da morte e medo do desconhecido. Algumas vezes o medo não atrapalha no cuidado, mas serve também como alerta em relação à infecção, aumentando assim a preocupação em cuidar-se, fazendo uso com mais segurança dos equipamentos de proteção, ao relacionar-se com o paciente (9-10). Outras vezes o medo atrapalha o profissional da saúde mesmo fazendo uso dos equipamentos de proteção, pois sente medo do contágio e conseqüentemente da morte (10-11). Medo do contágio O enfermeiro sente medo da contaminação durante a assistência quando envolve procedimentos técnicos com agulhas contaminadas, exposição de mucosas e pele a fluídos corpóreos, além disso, o profissional de enfermagem sente medo principalmente de pacientes agressivos e revoltados que podem jogar secreções ou sangue (6). Um único autor refere que o medo da contaminação decorre muito mais das incertezas dos valores individuais do que do possível contato com secreções ou sangue elou dos procedimentos realizados (8). Medo da morte Quando o enfermeiro percebe que o paciente está muito debilitado e fora de possibilidades terapêuticas, algumas vezes essa situação o faz refletir sobre a morte e por esse motivo, sentir-se temeroso, pois sabe que sua hora também pode chegar a qualquer momento (6,8). Medo do desconhecido Apesar de todos os profissionais terem conhecimento de que a transmissão do vírus HIV se dá através do sangue e secreções, alguns enfermeiros sentem medo até de respirar perto do paciente com HIV/AIDS pois relatam não acreditar que todas as formas de transmissão sejam conhecidas (10). Além do medo, outros enfermeiros relatam que o desgaste emocional é muito grande, gerando sensação de angústia que pode ser manifestada de diversas formas como impotência no atendimento ao paciente, pena, discriminação e até desprezo. Angústia A angústia é um sentimento de desgosto, agonia, sofrimento, ansiedade e intensa aflição (3). A angústia muitas vezes vem acompanhada com sentimentos de impotência, e acaba trazendo muito sofrimento, aflição e tristeza para o profissional que lida diretamente com pacientes HIV/AIOS, e este profissional sente-se incapaz de realizar os procedimentos técnicos necessários, devido suas emoções. Outros sentem-se frustrados quando se deparam com situações que mesmo aplicando tudo o que aprendeu e ainda não consegue evitar a piora do paciente (6,10). Impotência É a falta de força física ou moral para fazer alguma coisa, onde o indivíduo sente-se incapaz de realizar algo (3). A literatura tem mostrado que alguns profissionais da enfermagem sentem muitas dificuldades em lidarem com suas emoções e temem ficar responsáveis por pacientes HIV/ AIOS terminais, pois quando surge a necessidade de assisti- Ios, estes tentam modificar a escala para fugir da situação (8). Segundo a literatura, os enfermeiros percebem a existência de dificuldades no relacionamento com pacientes, e que muitos desses profissionais se negam a prestar os cuidados aos portadores do HIV/AIOS por se sentirem despreparados (8). Pena O sentimento de pena do profissional geralmente ocorre devido o contágio e/ou morte de pacientes que adquiriram o vírus por meios de transfusões, que contraíram passivamente o vírus, principalmente crianças. Esse sentimento ocorre principalmente quando o profissional de enfermagem se coloca no lugar do paciente, pois estes adquiriram a doença passivamente, e não foram culpados do acontecido (10-11). Além deste sentimento de pena, outros profissionais sentem até mesmo raiva durante a assistência, pois acham que alguns pacientes estão nestas condições por merecimento. Preconceito O preconceito é a categoria do pensamento e do comportamento, e é assumido como uma crença onde o indivíduo justifica o seu preconceito baseado em valores morais que aprenderam em sua vida cotidiana. Esse Rev Enferm UNISA 2004; 5: 15-19. 17

preconceito é uma opinião formada sem reflexão e também discriminação racial (3,8). Uma das manifestações do preconceito é a rejeição da assistência, principalmente quando os profissionais descobrem que os pacientes foram contaminados por uso de drogas i njetáveis, comportamentos promíscuos e homossexuais (8,10). Neste caso o profissional não se coloca no lugar do paciente, achando que o indivíduo merece todo sofrimento sendo portanto a doença uma forma de punição. Desprezo O desprezo significa desconsiderar uma pessoa desdenhar (3). Os prováveis fatores que desencadeiam este sentimento, acontece muitas vezes porque existem profissionais que não gostariam, mas sentem-se na obrigação de trabalhar nestes locais (10). Uma das funções do enfermeiro que cuida de pacientes portadores do HIV é dar apoio e conforto, mas nem sempre conseguem ajudar muito como gostariam, pois esses pacientes solicitam muito a enfermagem e isso acaba gerando ansiedade, provocando desânimo e deixando esses profissionais muitas vezes deprimidos (8). Além de que, algumas emoções como pena, desprezo, impotência e outros, refletem na forma de cuidar desses pacientes. Percebe-se que o profissional de saúde precisa se autoanalisar, refletir sobre suas emoções e procurar ajuda sempre que necessário, para que essas emoções não venha afetá-la de forma desagradável ou até mesmo influenciar no seu relacionamento interpessoal com o paciente. Assistência afetada pelas emoções Envolver-se, manter respeito e a troca de interação, experimentar o sentimento de identificação com o paciente acaba gerando gasto de energia e este gasto de energia gera sofrimento que pode implicar no cuidado do paciente (2). Por causa do envolvimento emocional o tipo de atendimento que o enfermeiro deveria dar ao paciente portador do HIV/AIDS é muito prejudicado devido as suas necessidades pessoais e sua ansiedade pois se defronta com situações muito estressantes no seu dia a dia e muitas vezes sente-se desamparado (6). Quando esse envolvimento atrapalha o cuidado, pode acabar levando a uma assistência inadequada, podendo trazer conseqüências negativas tanto para o paciente quanto para o profissional. Essas conseqüências do trabalho dos enfermeiros junto aos pacientes portadores do HIV/AIDS, é sentirem-se ansiosos, deprimidos e até mesmo desanimados e muitas vezes evitam interação com o paciente (10). Além disso, pode ocorrer também a perda da objetividade, do senso crítico do profissional, e este envolvimento pode afetar o estado emocional do paciente (12). Estudos sobre o envolvimento emocional do profissional de enfermagem com o paciente, aponta que, pode alterar o desenvolvimento e a qualidade do atendimento e também entrar em depressão, porque quando o profissional entra em contato com a história e as necessidades do paciente, acompanha seu sofrimento e da família e quando vivencia a negação destes em relação à doença e ao tratamento passa a identificar-se com o paciente comparando seus problemas com o do paciente (6,12). Mecanismos de defesa As vezes o enfermeiro acha que deve controlar a situação e acaba criando mecanismos de defesa como evitar aproximação com os familiares dos pacientes para não falar sobre o assunto. Muitas vezes esse afastamento dos familiares e até mesmo do paciente, acontece por falta de suporte psicológico e terapêutico para ajudá-io a enfrentar a situação sem se machucar emocionalmente (6). A saúde mental do profissional de enfermagem sofre muito com o convívio de sofrimento e a morte desses pacientes, e isso torna suas atividades muito desgastantes, comprometendo inclusive o cuidado com o paciente. Este sofrimento psíquico, causado pelas emoções, muitas vezes provocam no profissional excesso de zelo, negação, medo, preconceito, depressão, ansiedade e muitos outros. Tudo isso pode gerar não só medo da contaminação como já relatado anteriormente, mas o direito de recusar-se a prestar cuidados ao paciente portador do HIVIAIOS, dificuldades em sua relação com pessoas portadoras do HIVIAIOS ou até mesmo doentes que sejam usuários de drogas injetáveis (13-14). Quando os mecanismos de defesa usados não são suficientes, essas emoções podem manifestar-se com sintomas ou patologias específicas como depressão e stress (10). Depressão É uma manifestação psíquica que se revela por uma estado de abatimento e melancolia quase sempre associado a astenia. Dão origem à numerosas moléstias mentais e infecciosas graves ou crônicas (15). Stress É um conjunto de reações orgânicas a agressões; esgotamento (3). Muitas vezes os enfermeiros atribuem seu estado de saúde a aspectos das atividades profissionais pois esta função requer muito controle emocional e muitas vezes esses fatores tornam-se negativos causando mal estar que pode chegar ao stress e sofrimento psicológico como já mencionado anteriormente. Muitas vezes sentem-se até desprezados e acabam buscando apoio da família para aliviarem-se dessa carga, alguns buscam também terapias até mesmo de amigas ou companheiras do trabalho pois o que querem mesmo é sentir-se aliviados do sofrimento (13). A convivência com os portadores de HIV/AIDS nem sempre é prejudicial ou desgastante para o enfermeiro, visto que alguns autores reconhecem que a partir desse convívio com esses pacientes, passaram a enxergar a vida de uma forma melhor, dando mais valor à sua saúde e sua família, perceberam a importância de relacionar-se melhor com as pessoas que convivem. Acreditam que a vida e a saúde são dois fatores importantes que devem sempre ser preservados. Em alguns estudos os enfermeiros relatam que essa 18

convivência com pacientes HIV/AIDS e suas emoções vividas fez sentir-se mais preparados para orientar as pessoas fora do hospital e também aquelas que estão convivendo com portadores do HIV/AIDS (8). Para alguns profissionais da enfermagem, as emoções vividas no trabalho acabam trazendo consequências para a vida pessoal, pois a literatura traz relatos de profissionais onde dizem que se tiver algum relacionamento emocional com o paciente, estes levarão para casa muitos problemas. Mesmo assim, existem aqueles que acabam se envolvendo emocionalmente com pacientes e justificam a carência do paciente onde acabam sendo comovidos (12). CONSIDERAÇÕES FINAIS O profissional de enfermagem precisa estar bem preparado tanto no que diz respeito aos aspectos da fisiopatologia quanto aos psicológicos do seu trabalho para que possa superar suas emoções e seus preconceitos e poder oferecer uma assistência adequada e positiva a pacientes portadores do HIV/AIDS. Alguns autores demonstram que as enfermeiras sentem necessidade de um respaldo para melhor compreensão do seu relacionamento com o paciente e com seus familiares (6). Muitos estudos sugeriram programas de orientação e informação para esses profissionais, para que possam diminuir sua ansiedade e haja melhora no atendimento (16). As emoções vivenciadas pelos profissionais de enfermagem em muitos momentos geram sentimento de impotência, pois cuidam do paciente mas estão conscientes que este não terá cura e que a qualquer momento irá perdêlo. Observamos neste estudo sobre as emoções da enfermagem que as principais emoções são o medo de contrair a doença, da contaminação pelo vírus HIVe também o medo da morte, mas que também existe um grande conflito entre a contaminação pelo HIV, preconceitos, impotência, o despreparo psicológico e até mesmo o preparo técnico. Apesar de que a maioria das emoções que os profissionais vivenciam são negativas, muitos transformam essas emoções para o lado positivo em suas vidas pessoais, passando a valorizar mais suas vidas. Percebeu-se neste estudo que, mesmo o profissional que já tem prática em lidar com esses pacientes HIV/AIDS precisam estar sempre fazendo curso de capacitação atualizado, precisa principalmente de apoio psicológico e respaldo da Instituição onde trabalha. REFERÊNCIAS BIBLlOGRAFICAS 1. Braghirolli EL, Bisi GP, Rizzon LA, Nicoletto U. Psicologia geral: emoção. Petrópolis: Editora Vozes; 2000. 2. Barros CSG. Pontos de psicologia geral: comportamento emocional. São Paulo: Editora Ática; 1993. 3. Aurélio FB. Mini Dicionário da Língua Portuguesa. 6 8. ed. Curitiba: Progresso; 2004. 4. Kaplan HIMO, Sadock BJMO, Grebb JAMO. Compêndio de psiquiatria - ciências do comportamento e psiquiatria clínica. Porto Alegre: Artmed; 1997. 5. Fischer ES, Silva MJP. Reações emocionais da enfermeira no atendimento ao paciente fora de possibilidades terapêuticas. Rev Nursing 2003; 66(6): 25-30. 6. Repetto MA, Souza MF. Congruência entre o enfermeiro e o paciente com Síndrome da Imunodeficiência Adquirida quanto aos conceitos: percepção da doença e imagem corporal. Acta Paul Enferm 1999; 12(2): 85-93. 7. Pequeno MLR. As representações sociais dos enfermeiros sobre o trabalho com os portadores do HIV/AIDS [dissertação]. São Paulo: Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo; 1998. 8. Gir E, Silva AM, Costa FPP, Hayashida M. Alterações na prática profissional de enfermeiros de um hospital de ensino do interior paulista, em conseqüência ao surgimento do HIVlAIDS. Rev Gaúcha Enferm 2000; 21(2): 37-54. 9. Figueiredo RM, Turato ER. A enfermagem diante do paciente com AIDS e a morte. J Bras Psiquiatria 1995; 44(12): 641-7. 11. França ISX. Con-vivendo com a soropositividade HIV/ AIDS : do conceito aos preconceitos. Rev Bras Enferm 2000; 53(5): 491-8. 12. Filizola CLA, Ferreira NML. O envolvimento emocional para a equipe de emfermagem: realidade ou mito? Rev Latino-am Enfermagem 1997; 5(esp): 9-17. 13. Britto ES, Carvalho AMP. Stress, coping (enfrentamento) e saúde geral dos enfermeiros que atuam em unidades de assistência a portadores de AIDS e problemas hematológicos. Rev Gaúcha Enferm 2003; 24(3): 365-72. 14. Santos EM, Carvalho AMT. Crônicas da vida mais contrariada: sofrimento psíquico, HIV/AIDS e trabalho em saúde. Cad Saúde Pública 1999; 7(2). 15. Maltese G. Grande dicionário brasileiro de medicina. São Paulo: Maltese 1999. 16. Figueiredo MAC, Morais KC. AIDS e enfermagem: atitudes versus traços de personalidade no contexto do atendimento hospitalar. Rev Latino-am Enfermagem 1994; 2(1): 51-6. Rev Enferm UNISA 2004; 5: 15-19. 19