DECISÃO E EXPLORAÇÃO VOCACIONAL EM ESTUDANTES DE UM CURSO PRÉ-VESTIBULAR POPULAR: CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA.



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Transcrição:

DESAFÍO Y PERSPECTIVAS ACTUALES DE LA PSICOLOGÍA EN EL MUNDO DE LA ADOLESCENCIA DECISÃO E EXPLORAÇÃO VOCACIONAL EM ESTUDANTES DE UM CURSO PRÉ-VESTIBULAR POPULAR: CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA. Luciana Albanese Valore; Norma da Luz Ferrarini Universidade Federal do Paraná Professoras do Departamento de Psicologia (graduação e pós-graduação) Rua Emiliano Perneta, 195 ap.81-a, centro. Curitiba/PR- Brasil CEP: 80010-050 55413222-9047 e 554191866710 luvalore@uol.com.br Fecha de recepción: 27 de febrero de 2011 Fecha de admisión: 10 de marzo de 2011 RESUMO A pesquisa objetivou investigar a quantidade de informação percebida sobre a profissão pretendida, o grau de decisão e o comportamento de exploração vocacional em estudantes de um curso pré-vestibular popular, no intuito de identificar possíveis contribuições da Psicologia para a problemática vocacional. Participaram do estudo 54 jovens, com idade predominante de 17 anos e renda mensal familiar de 1 a 3 salários mínimos. Além de um formulário contendo dados pessoais, no qual se averiguou a quantidade de informação e o grau de decisão em relação à escolha profissional, utilizou-se uma escala de exploração vocacional. Os resultados foram sistematizados através do programa SPSS para Windows XP, tendo-se evidenciado que: embora 63% dos estudantes tenham se considerado informados, a maioria (71%) não havia definido sua opção profissional, sendo que, mesmo dentre os alunos decididos, 76% ainda admitiam ter dúvidas. Seu comportamento de exploração revelou-se mais voltado à exploração de si do que do ambiente (realidade ocupacional). Observou-se correlação significativa entre a exploração do ambiente, a quantidade de informação e o grau de decisão. Tais dados corroboram a literatura na área, sugerindo contribuições no âmbito da Psicologia Escolar e da Orientação Profissional, as quais, dado o contexto brasileiro, venham a contemplar, também, estudantes das camadas populares. Palavras chave: escolha profissional; exploração vocacional; decisão; curso pré-vestibular popular; orientação profissional. ABSTRACT The study investigated the perceived amount of information about the desired profession, the degree of decision and the career exploration behavior of students of a popular pre-university cour- INFAD Revista de Psicología, Nº1-Vol.2, 2011. ISSN: 0214-9877. pp:135-144 135

DECISÃO E EXPLORAÇÃO VOCACIONAL EM ESTUDANTES DE UM CURSO PRÉ-VESTIBULAR POPULAR: CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA. se, in order to identify possible contributions of Psychology to vocational issues. The research included 54 young people, predominantly aged 17 years and monthly household income from 1 to 3 minimum wages. Besides a form containing personal data, in which we examined the amount of information and level of decision in relation to career choice, we used a Scale of career exploration. The results were organized using SPSS for Windows XP and it was evident that, although 63% of students considered themselves informed, most of them (71%) had not defined their career choice, and even among the decided students, 76% also admitted having doubts. Their exploratory behavior was focused more on the exploration of themselves than on the environment (occupational reality). There was a significant correlation between the exploitation of the environment, the amount of information and level of decision. These data corroborate the literature in the area, suggesting contributions within the Educational Psychology and Vocational Guidance, which, given the Brazilian context, may include, also, students from lower classes. Keywords: career choice; career exploration; decision; popular pre-university course; vocational guidance. INTRODUÇÃO Independente do modelo teórico adotado, as pesquisas no campo da Orientação Profissional (OP) atestam o autoconhecimento e a informação ocupacional como requisitos imprescindíveis para a realização de uma escolha profissional autônoma e, na medida do possível, consciente de suas motivações e implicações. Tais requisitos configuram um conjunto de atitudes denominado exploração vocacional, o qual antecede a tomada de decisão e acompanha a constituição da identidade profissional (Teixeira, Bardagi & Hutz, 2007). A atividade de exploração, embora presente ao longo da vida, costuma ocorrer sobretudo na adolescência. Como observam Bardagi, Arteche e Neiva (2005), será nesta fase que o jovem irá testar a si mesmo, numa série de papéis e posições, com vistas a ressignificar seus conhecimentos sobre si e sobre a realidade, de modo a organizá-los num autoconceito autêntico. Para tanto, é importante que o contexto em que vive lhe propicie oportunidades de exploração, o que, na realidade brasileira, infelizmente, nem sempre acontece. Particularmente em relação à população socioeconomicamente desfavorecida mas não só - inúmeros estudos evidenciam a precariedade de informações sobre si e, principalmente, sobre ocupações, cursos e mercado de trabalho em estudantes em vias de escolher uma profissão (Soares, 2002; Santos & Melo-Silva, 2003; Ribeiro, 2003; Sparta, Bardagi & Andrade, 2005; Soares, Krawulski, Dias & D Avila; 2007; Dias & Soares, 2007). Precariedade esta, diga-se de passagem, frequentemente associada aos altos índices de evasão (em torno de 40%) no ensino superior (Bardagi, Lassance & Paradiso, 2003; Biasus, 2004; Moura & Menezes, 2004; Sarriera & Araújo, 2004; Bardagi & Hutz, 2009; Valore & Ferrarini, 2010). A presente pesquisa, voltada ao estudo do comportamento exploratório vocacional de estudantes de um curso pré-vestibular popular, objetivou contribuir para a produção de conhecimento sobre o tema, tendo em vista que as investigações direcionadas a este público ainda são escassas na comunidade científica nacional. Objetivou, igualmente, colher subsídios para o planejamento de ações de orientação profissional com esta população, de forma a ampliar as perspectivas de atuação da Psicologia na área, quer diretamente com os alunos, quer na assessoria aos educadores (favorecendo, dentre outras coisas, o reconhecimento do relevante papel das práticas educativas na construção de escolhas, de projetos de vida e de sujeitos que possam se ver como autores de sua história e como cidadãos que, apesar de suas restritas condições econômicas, também apresentam possibilidades de escolha). 136 INFAD Revista de Psicología, Nº1-Vol.2, 2011. ISSN: 0214-9877. pp:135-144

DESAFÍO Y PERSPECTIVAS ACTUALES DE LA PSICOLOGÍA EN EL MUNDO DE LA ADOLESCENCIA Uma breve incursão pelo histórico da OP no Brasil (Melo-Silva, Lassance & Soares, 2004) revela o privilegiamento dado, nesta prática, aos alunos de instituições particulares. Para estes jovens, a continuidade dos estudos, através da realização de um curso universitário após o ensino médio, é quase inquestionável: para tanto, precisam prestar um concurso denominado de vestibular. Todavia, com as crescentes exigências de qualificação no mercado de trabalho e com a consolidação de políticas públicas afirmativas no ensino superior, a procura pela formação universitária e pela orientação profissional- por parte de estudantes de escolas públicas, tem aumentado consideravelmente. Nem por isso, porém, as particularidades presentes nas trajetórias educacionais e profissionais de cada uma dessas clientelas têm sido consideradas pelos orientadores. Assim, para Bastos (2005), no contexto capitalista da atual sociedade, pensar a possibilidade de jovens de nível socioeconômico desfavorável (realidade frequente na escola pública e em cursos populares de preparação para o vestibular) se inserirem no ensino superior significa refletir sobre suas reais condições de escolha, as quais, muitas vezes, são bastante limitadas. Vários autores consideram a realidade socioeconômica como fator predominante (e limitador) na definição profissional destes estudantes (Ribeiro, 2003; Moura & Menezes, 2004; Sparta, Bardagi & Andrade, 2005; Bastos, 2005; Dias & Soares, 2007; Soares, Krawulski, Dias & D Avila; 2007; Valore; 2010). Tal realidade, aliada à falta de informação, ainda que não determine definitivamente seus destinos, não deixa de restringir suas possibilidades concretas de efetivação, dadas as reduzidas chances de ingresso na universidade, e de conciliação entre a realização pessoal e a necessidade de sobrevivência financeira (numa ocupação nem sempre escolhida por identificação pessoal e sim, pela baixa concorrência no vestibular ou pela possibilidade de inserção imediata no mercado de trabalho). Neste sentido, um dos desafios do orientador profissional no trabalho com estudantes de escolas públicas consiste em proporcionar maior conscientização sobre os determinantes da escolha, incentivando o comportamento exploratório (Bastos, 2005; Sparta, Bardagi & Andrade, 2005). Muitos são os fatores que interferem no modo como tal comportamento se desenvolve. Como exemplos podem-se citar: idade, definição do curso, existência de metas profissionais, oportunidades educacionais anteriores, experiência de trabalho, etc. (Sparta, Bardagi & Andrade, 2005). A exploração vocacional correlaciona-se positivamente com maior decisão de carreira, desenvolvimento de expectativas realistas, comportamento de busca de oportunidades e maior autoeficácia (Sparta, 2003; Teixeira, Bardagi & Hutz, 2007; Faria, Taveira & Saavedra, 2008; dentre outros). Correlações negativas costumam ser encontradas entre baixo nível de exploração e precipitação na escolha, como apontam as pesquisas referidas em Sparta, Bardagi e Andrade (2005). Segundo estas autoras, via de regra, o padrão de exploração dos estudantes brasileiros é ainda pouco desenvolvido, sem a devida sistematização do comportamento de busca de conhecimento de si e/ou da realidade ocupacional. Considerando a importância da exploração vocacional para a realização de uma escolha profissional e para o desenvolvimento de uma carreira, Teixeira, Bardagi e Hutz (2007) desenvolveram um instrumento para avaliar as duas principais dimensões do comportamento exploratório vocacional (de si mesmo e do ambiente): a Escala de Exploração Vocacional (EEV) para universitários. Em sua investigação, com 384 estudantes de diferentes cursos de graduação, constataram a prevalência da exploração do ambiente no grupo feminino e em estudantes de final de curso. Em relação à exploração de si, os resultados foram semelhantes, independente do gênero e do período cursado. Contrariando a literatura consultada, não observaram correlação positiva entre a conduta exploratória e a idade dos participantes. As autoras sugerem a aplicação do instrumento em novas pesquisas, com públicos em outras etapas do desenvolvimento vocacional, com vistas à validação do instrumento. Tal fato motivou sua utilização neste estudo. A pesquisa de Sparta, Bardagi e Andrade (2005), sobre a exploração vocacional e a informação profissional percebida em estudantes de baixa renda, também foi motivadora e importante referên- INFAD Revista de Psicología, Nº1-Vol.2, 2011. ISSN: 0214-9877. pp:135-144 137

DECISÃO E EXPLORAÇÃO VOCACIONAL EM ESTUDANTES DE UM CURSO PRÉ-VESTIBULAR POPULAR: CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA. cia. Dentre outros resultados, identificaram a percepção de pouca quantidade de informação à exceção das informações sobre o vestibular- na maioria dos participantes investigados. O único estudo encontrado, realizado com alunos de um curso pré-vestibular popular, investigou as expectativas relacionadas ao vestibular e ao ingresso no ensino superior (Soares, Krawulski, Dias & D Avila, 2007). Seus resultados corroboram os de outras pesquisas desenvolvidas com estudantes do ensino médio público e, como aspectos mais significativos, destacam: a falta de informações sobre determinados cursos e profissões; o medo da reprovação no vestibular (associado à percepção de uma formação educacional de baixa qualidade); os sentimentos de dúvida e indecisão quanto ao futuro; o desejo de mudança de nível socioeconômico através da realização de um curso superior. Embora não tenha sido este o foco da investigação pode-se supor que o padrão de exploração desses estudantes não fosse dos mais altos. Diante dessa realidade, a prática da Orientação profissional, especialmente com estudantes do ensino público, aliada à ação efetiva da escola (no sentido de aproximar a educação do mundo do trabalho e de favorecer o comportamento exploratório), pode vir em auxílio da reflexão sobre o futuro profissional, ao propiciar um espaço de discussão a respeito do trabalho e preparar o estudante para uma inserção consciente e crítica no mundo ocupacional (Bastos, 2005; Gavilán & Labourdette, 2006; Soares, Krawulski, Dias & D Avila, 2007; Ferreira, Nascimento & Fontaine, 2009; Uvaldo & Silva, 2010; Munhoz, 2010). Além disto, entende-se que a OP nesse contexto pode contribuir para uma mudança na posição subjetiva, oportunizando a superação da percepção de si como a de alguém que não tem escolha pela construção de uma imagem de si como alguém que, de algum modo, poderá assinar a autoria de seu projeto de vida (Valore, 2010). MÉTODO Utilizaram-se dois instrumentos: 1) um formulário de levantamento de dados pessoais e da situação da escolha profissional elaborado com base no estudo de Sparta, Bardagi e Andrade (2005). Dentre outros itens, os estudantes deveriam marcar a quantidade de informação percebida sobre a profissão pretendida (as alternativas eram: nenhuma; pouca; razoável, mas com aspectos que ainda queriam conhecer; muito bem informado) e em que momento da escolha se encontravam (sem ter nenhuma idéia do que escolher; em dúvida entre 3 ou mais profissões; em dúvida dentre 2; tendo escolhido, mas ainda com dúvidas; completamente decidido); 2) uma Escala de Exploração Vocacional de Teixeira, Bardagi e Hultz (2007). Tal Escala, originalmente formulada para estudantes universitários, precisou ser alterada de modo a contemplar a situação dos participantes; ou seja, considerando a possibilidade de a decisão profissional não ter sido ainda tomada. Assim, o termo minha profissão foi substituído pela expressão a profissão que pretendo escolher. Frente aos 24 enunciados (12 para a exploração de si e 12 para a exploração do ambiente), os estudantes tinham que assinalar a frequência (1- Raramente ou nunca; 2-poucas vezes; 3-com alguma frequência; 4-frequentemente; 5- sempre) em que cada uma das situações ocorria em suas vidas. Como exemplos das afirmativas contidas na Escala, têm-se: 1- Quando ouço falar sobre uma nova atividade que me chama a atenção eu procuro mais informações sobre ela; e 2) Eu tenho refletido sobre minha história pessoal quando penso sobre o meu futuro profissional. Os estudantes convidados a participar da pesquisa foram informados sobre os objetivos e procedimentos da investigação, garantindo-se a observação da conduta ética envolvendo a aplicação dos instrumentos, a análise e a divulgação dos dados. Após terem assinado o termo de consentimento livre e esclarecido, os participantes que se voluntariaram para o estudo foram reunidos numa sala do curso pré-vestibular para o preenchimento do formulário e da Escala. 138 INFAD Revista de Psicología, Nº1-Vol.2, 2011. ISSN: 0214-9877. pp:135-144

DESAFÍO Y PERSPECTIVAS ACTUALES DE LA PSICOLOGÍA EN EL MUNDO DE LA ADOLESCENCIA Compuseram a pesquisa 54 estudantes, 59% do sexo feminino e 41% do sexo masculino, com idade entre 16 e 40 anos (57% entre 16-17 anos) e renda mensal familiar de 1 a 3 salários mínimos (58%). A grande maioria (91%) sempre cursou o ensino público, sendo que 41% já haviam concluído o ensino médio há um ano ou mais (tendo já prestado um ou mais vestibulares). Dentre os participantes, 39% trabalhavam no momento da pesquisa e 56% haviam exercido alguma ocupação remunerada. Em relação à escolaridade dos pais, apenas 13% chegaram a ingressar no Ensino Superior e somente 7% o concluíram. Os dados coletados foram sistematizados através do programa SPSS for Windows XP, sendo que o cálculo dos escores individuais na Escala foi feito somando-se a pontuação bruta obtida pelos participantes para cada enunciado. Em seguida normalizaram-se os escores, de forma a situá-los entre zero e um. A análise dos resultados também se fez de forma qualitativa, considerando-se o conteúdo e a frequência das afirmativas assinaladas, e relacionando-os à literatura da área. Dada a limitação de espaço, no presente artigo serão abordados apenas os resultados quantitativos. RESULTADOS E DISCUSSÃO A presença de estudantes com mais de 16-17 anos (idade esperada num curso pré-vestibular) que já tinham concluído o ensino médio (em geral, tais cursos se fazem concomitantemente ao 3º ano deste nível de ensino) corrobora a usual defasagem encontrada em estudantes de classes economicamente desfavorecidas. Este dado pode estar associado à necessidade de interromper os estudos para poder trabalhar: de fato, 56% já haviam trabalhado. Outro aspecto do perfil dos participantes, que também encontra respaldo em pesquisas com esta população, refere-se à baixa frequência de pais com ensino superior completo: para a maior parte desses estudantes a oportunidade de frequentar uma universidade inaugura um fato inédito na história familiar, gerando mais expectativas em torno da aprovação no vestibular do que propriamente acerca da profissão escolhida. No que se refere à situação de escolha profissional os resultados obtidos também corroboram a literatura, tendo uma maioria de jovens (71%) indecisa e, dentre os 29% que admitiram ter uma escolha feita, 76% que ainda declararam ter dúvidas. Como principal alternativa, tal como nas pesquisas consultadas, os estudantes assinalaram o ingresso em cursos de nível superior como aspiração predominante. É interessante observar que os cursos mais escolhidos (Direito, Engenharia, Psicologia, Administração e Arquitetura) possuem alta concorrência no vestibular. Além disto, exigem grande disponibilidade de tempo, o que pode ser complicado para quem precisa conciliar estudo e trabalho. Tais escolhas, se não levarem em conta as condições objetivas da realidade socioeconômica, podem levar à desistência e à frustração, como constatou Bastos (2005) em seu estudo sobre a efetivação de escolhas em jovens oriundos do ensino público. Neste sentido, reitera-se, na orientação profissional com esta população, a importância da discussão destes aspectos, de modo a considerar as implicações concretas de cada escolha e as estratégias necessárias para poder enfrentá-las. Em relação à quantidade de informação percebida sobre a profissão pretendida, apenas 6% dos participantes consideraram-se muito bem informados. Os demais ficaram assim distribuídos: 57% consideraram-se razoavelmente informados, mas ainda relatando aspectos que gostariam de conhecer; 28% pouco informados; e 9% sem possuir qualquer informação. Dentre as informações que gostariam de obter destacaram-se as referentes ao mercado de trabalho (em 48% das respostas). A quantidade de informação percebida pelos participantes mostrou-se estatisticamente significativa na correlação com dois fatores: o grau de decisão para a escolha profissional e a idade. No primeiro item obteve-se uma correlação positiva (0.467**) indicando que quanto mais decidido, mais bem informado o estudante considerou-se (o contrário também sendo verificado: quanto menor a informação, maior a indecisão). Esta correlação não é novidade, vindo a confirmar a INFAD Revista de Psicología, Nº1-Vol.2, 2011. ISSN: 0214-9877. pp:135-144 139

DECISÃO E EXPLORAÇÃO VOCACIONAL EM ESTUDANTES DE UM CURSO PRÉ-VESTIBULAR POPULAR: CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA. importância da informação ocupacional para a decisão profissional, sinalizada em várias pesquisas. Pode também indicar que a elaboração de uma escolha estimula a busca de informações que consolidem a decisão, reforçando a pertinência de programas de orientação profissional ao longo do ensino médio. Referente à idade obteve-se uma correlação negativa (-0.398**), ou seja, quanto mais idade, menos se perceberam como muito bem informados ou, quanto menos idade, maior a percepção de estar muito bem informado. Tal dado pode estar relacionado a uma maior experiência e exigência, quanto à quantidade e à qualidade da informação necessária, por parte dos estudantes mais velhos. Os resultados obtidos com a aplicação da Escala de Exploração Vocacional mostram escores medianos, confirmando o baixo padrão de exploração presente nos estudantes brasileiros (Sparta, Bardagi & Andrade, 2005). A exploração de si (Média normalizada: 0,66, Desvio Padrão: 0,19) teve uma ligeira prevalência sobre a exploração do ambiente (Mn: 0,50, Desvio: 0,17); ou seja, os estudantes identificaram, em suas atividades cotidianas, maior frequência na realização de ações voltadas ao autoconhecimento do que ao conhecimento da realidade ocupacional. Supõe-se que este resultado derive da maior facilidade de acesso aos conteúdos internos do que aos externos e que, provavelmente, esteja relacionado a uma recorrência evidenciada nas práticas educativas do ensino médio brasileiro: a ênfase conferida aos conhecimentos exigidos no vestibular, em detrimento de ações que propiciem o conhecimento da realidade ocupacional e a articulação deste conhecimento com as características pessoais. Algumas correlações positivas significativas foram evidenciadas: 1) entre os escores de exploração do ambiente e o ingresso anterior em curso superior (0,336*); 2) entre a quantidade de informação percebida e a exploração do ambiente (0,341*) e 3) entre o escore de exploração do ambiente e o escore de exploração de si (0,419**). Não se obtiveram correlações estatisticamente significativas entre os escores de exploração total e sexo, idade, já ter prestado vestibular, já ter trabalhado e grau de decisão na escolha profissional. Ao que parece, ter iniciado uma graduação, mesmo sem tê-la concluído, favoreceu a busca de maior informação ocupacional. Pode-se supor que, diante da frustração da falta de identificação com o curso escolhido, os estudantes tenham se sentido mais estimulados à exploração de novas profissões. O mesmo, porém, não aconteceu com jovens que já trabalharam ou que prestaram vestibular, confirmando a suposição de Sparta, Bardagi e Andrade (2005) de que tais experiências nem sempre são aproveitadas para subsidiar uma escolha profissional mais consistente. Talvez, por não necessariamente atuarem em áreas com as quais tivessem alguma identificação (tendo-as selecionado em função da remuneração), não tenham se sentido suficientemente motivados ao comportamento de exploração. A ausência de correlação com o fato de terem prestado vestibular, por sua vez, reafirma algo frequentemente observado pelos profissionais da OP: a grande maioria dos vestibulandos faz sua escolha às vésperas do concurso, de forma impulsiva, fantasiosa e quase sempre sem qualquer respaldo da escola ou de uma orientação profissional. Não é para menos que tal experiência pouco auxilie para a conscientização da necessidade de exploração. A correlação positiva entre a informação percebida e o escore de exploração do ambiente evidencia a importância da exploração para o aumento de informação e para a construção de uma escolha e de um projeto profissional. Ainda que, divergentemente à literatura (Sparta, 2003; Sparta, Bardagi & Andrade, 2005; Teixeira, Bardagi & Hutz, 2007; Faria, Taveira & Saavedra, 2008), os escores de exploração total não tenham obtido correlações significativas com o grau de decisão na escolha, podese afirmar a existência de uma correlação indireta na medida em que, como já dito, o grau de informação revelou-se proporcional ao grau de decisão. Supõe-se que a heterogeneidade do grupo, em relação aos escores individuais, possa ter contribuído para a supracitada ausência de correlação, o que, certamente, não invalida a importância do comportamento exploratório na tomada de decisão. 140 INFAD Revista de Psicología, Nº1-Vol.2, 2011. ISSN: 0214-9877. pp:135-144

DESAFÍO Y PERSPECTIVAS ACTUALES DE LA PSICOLOGÍA EN EL MUNDO DE LA ADOLESCENCIA Por fim, a correlação positiva entre os escores individuais de exploração de si e do ambiente vem também confirmar a literatura em relação ao fato de que um nível de exploração acaba por demandar o outro; ou seja: o conhecimento da realidade ocupacional gera a necessidade de conhecimento de si, com a finalidade de avaliar se as características pessoais condizem com a profissão pretendida. E vice-versa. CONCLUSÕES A pesquisa corroborou a literatura, reafirmando a necessidade de ações voltadas ao desenvolvimento do comportamento exploratório, de si e principalmente - da realidade ocupacional, em estudantes em vias de escolher uma profissão. Entende-se, porém, que tais ações não podem permanecer restritas ao âmbito da orientação profissional que, no contexto brasileiro, costuma ocorrer de forma restrita (privilegiando jovens com maior poder aquisitivo) e isolada de outras práticas sociais. Embora a OP venha sendo repensada, a fim de poder também atender às demandas provenientes dos segmentos sociais mais vulneráveis, e um número expressivo de experiências e pesquisas com esta população venham sendo desenvolvidas (Ribeiro, 2003; Bardagi, Arteche & Neiva-Silva, 2005; Bastos, 2005; Sparta, Bardagi & Andrade, 2005; Gavilan & Labourdette, 2006; Dias & Soares, 2007; Soares, Krawulski, Dias & D Avila, 2007; Valore, 2010; dentre outros), muito há por ser feito visando ao engajamento da sociedade nesta questão. Particularmente em relação à escola, diversas nos parecem ser as estratégias para a promoção do conhecimento de si, das profissões, das diversas opções de qualificação e das relações possíveis entre as realidades, objetiva e subjetiva, implicadas no processo de escolha. A proposição consolidada em vários países - de educação para a carreira, através da incorporação da orientação profissional no projeto pedagógico, poderia ser uma delas (Ribeiro, 2003; Munhoz, 2010). Além disto, uma educação voltada à construção de projetos profissionais e de vida (Uvaldo & Nascimento, 2010), ao resgate de valores (La Taille, 2009) e à construção da autonomia; uma educação em que o lugar de referência, ocupado pelos educadores na construção da identidade profissional de seus alunos, possa ser reconhecido e potencializado (Ferreira, Nascimento & Fontaine, 2009) em muito poderia contribuir para o desenvolvimento do comportamento exploratório e para a motivação em permanecer na escola. Infelizmente, no contexto brasileiro, de professores sobrecarregados e mal remunerados, tais estratégias ainda se mostram de difícil concretização. A quase inexistência de psicólogos nas escolas é outra barreira a ser ultrapassada. Mesmo assim, acreditamos que a Psicologia muito tem a oferecer em relação à problemática investigada. Não apenas no âmbito das reflexões que propicia, a indivíduos ou grupos, acerca de si mesmos, suas escolhas e projetos de vida, ou das discussões e descobertas que viabiliza sobre a realidade ocupacional (como é o caso do trabalho desenvolvido numa orientação profissional), mas, também, no âmbito das próprias práticas educativas. Nestas, acredita-se que o principal desafio da Psicologia consiste em se fazer conhecer (no que concerne ao seu auxílio para a implementação das estratégias acima enunciadas) e, a partir daí, ampliar o alcance da orientação profissional inserindo-a num projeto maior de intervenção de Psicologia Escolar. Projeto este - não mais direcionado ao aluno problema - em que o psicólogo possa contribuir para a articulação escola-mundo do trabalho; para o desenvolvimento do comportamento exploratório; e para a superação de crenças (como a de que a vocação é inata e, assim sendo, o professor e a escola nada têm a fazer ou a de que o aluno pobre não tem escolha e, portanto, não precisa de nenhum respaldo) e de comportamentos cristalizados (como o de deixar para o orientador profissional toda a responsabilidade referente ao processo de escolha de seus alunos). Outro desa- INFAD Revista de Psicología, Nº1-Vol.2, 2011. ISSN: 0214-9877. pp:135-144 141

DECISÃO E EXPLORAÇÃO VOCACIONAL EM ESTUDANTES DE UM CURSO PRÉ-VESTIBULAR POPULAR: CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA. fio, não menos importante, refere-se ao compromisso do psicólogo com a transformação e a superação das desigualdades sociais: neste sentido, a extensão de sua atuação, como orientador profissional, ao contexto da escola pública e dos cursos populares de preparação para o vestibular revela-se bastante promissora. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Bardagi, M. P., Arteche, A. X., & Neiva-Silva, L. (2005). Projetos sociais com adolescentes em situação de risco: Discutindo o trabalho e a orientação profissional como estratégias de intervenção. Em C. Hutz (Org.), Violência e risco na infância e na adolescência: Pesquisa e intervenção (pp. 101 146). São Paulo: Casa do Psicólogo. Bardagi, M.P., Lassance, M.C.P., & Paradiso, A.C. (2003). Trajetória acadêmica e satisfação com a escolha profissional de universitários em meio de curso. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 4(1-2), 153-164. Bardagi, M. P., & Hutz, C. S. (2009). "Não havia outra saída": percepções de alunos evadidos sobre o abandono do curso superior. PsicoUSF, 14 (1), 95-105 Bastos, J.C. (2005). Efetivação de Escolhas Profissionais de Jovens Oriundos do Ensino Público: Um Olhar sobre suas Trajetórias. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 6 (2), 31-43. Biazus, C. (2004). Sistema de fatores que levam o aluno a evadir-se dos cursos de graduação na UFSM e na UFSC: Um estudo no curso de ciências contábeis. Tese de Doutorado não publicada, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. Dias, M.S., & Soares, D.H.P. (2007). Jovem, mostre sua cara: um estudo das possibilidades e limites da escolha profissional. Psicologia, Ciência e Profissão, 27 (2), 316-331. Faria, L.C., Taveira, M. C., & Saavedra, L.M. (2008). Exploração e decisão de carreira numa transição escolar: diferenças individuais. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 9 (2), 17-30. Ferreira, A.F., Nascimento, I., & Fontaine, A.M. (2009). O papel do professor na transmissão de representações acerca de questões vocacionais. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 10 (2), 43-56. Gavillán, M., & Labourdette,S. (2006). La Orientación y la Educación: Investigación en Áreas de Alta Vulnerabilidad Psicosocial. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 7 (2), 103-114. La Taille, Y. (2009). Formação ética: Do tédio ao respeito de si. Porto Alegre: Artmed. Melo-Silva,L.L., Lassance, M.C.P., & Soares, D.H.P. (2004). A orientação profissional no contexto da educação e trabalho. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 5 (2), 31 52. Moura,C.B.M., & Menezes, M.V. (2004). Mudando de opinião: Análise de um grupo de pessoas em condição de re-escolha profissional. Revista Brasileira de Orientação Profissional,5, (1) 29-45. Munhoz, I. M.S. (2010). Educação para a carreira e representações sociais de professores: Limites e possibilidades na educação básica. Tese de Doutorado não publicada, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto. Ribeiro, M. A. (2003). Demandas em orientação profissional: um estudo exploratório em escolas públicas. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 4 (1/2), 141-151. Santos, M.A., & Melo-Silva, L.L. (2003) Será que era isso o que eu queria? - A formação acadêmica em Psicologia na perspectiva do aluno. Em: L.L. Melo-Silva (Org.), Arquitetura de uma ocupação: orientação profissional (pp.387-406). São Paulo: Vetor. Sarriera, J.C., & Araújo, J.S. (2004). Redirecionamento da carreira profissional: uma análise Compreensiva. Em: J.C. Sarriera (Org.). Desafios do mundo do trabalho: Orientação, inserção e mudanças (pp. 135-157). Porto Alegre: EDIPUCRS. Soares, D.H.P. (2002). A escolha profissional do jovem ao adulto. São Paulo: Summus. 142 INFAD Revista de Psicología, Nº1-Vol.2, 2011. ISSN: 0214-9877. pp:135-144

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