Lúcia Helena Ciccarini Nunes Profa. da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.



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Transcrição:

Megaeventos Turísticos: impactos socioespaciais, ambientais e culturais da Copa do Mundo 2014 e Olimpíadas 2016 na construção do espaço metropolitano de Belo Horizonte, Minas Gerais. Lúcia Helena Ciccarini Nunes Profa. da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Administradora e economista, com mestrado em Administração Pública. Atua nos cursos de Turismo e Administração. Pesquisadora do Observatório de Políticas Urbanas/PROEX/PUC Minas e Rede Nacional Observatório das Metrópoles/Núcleo Belo Horizonte. Naiane Loureiro dos Santos Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Graduada e especialista em Filosofia, mestre em Ciências Sociais. É Profa. da Universidade Presidente Antônio Carlos de Betim. Pesquisadora do Observatório de Políticas Urbanas/PROEX/PUC Minas e da Rede Nacional Observatório das Metrópoles/Núcleo Belo Horizonte. Resumo do Trabalho Este artigo visa discutir estratégias preventivas de defesa do patrimônio cultural e natural da Região Metropolitana de Belo Horizonte por meio da identificação e análise da governança urbana e metropolitana, com ênfase em registro de processos de emergência de novas coalizões de forças sociais, econômicas e políticas na gestão das cidades, de organização do movimento social, de fortalecimento do planejamento urbano e de controle social que possam reduzir os impactos negativos causados pela turistificação da RMBH em função dos Megaeventos. A PUC Minas, por meio da Pró-reitoria de Extensão- PROEX e do Observatório de Políticas Urbanas- OPUR integra o Observatório das Metrópoles, vinculado ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia- INCT/RJ. Em 2011, o OPUR insere-se na Pesquisa Nacional do Observatório das Metrópoles, de monitoraramento dos impactos relacionados aos megaeventos na estrutura urbano-metropolitana das cidades-sedes. Foram monitoradas múltiplas iniciativas públicas e privadas relativas ao tema. Realizou-se pesquisa junto aos alunos da 10ª edição do Curso de Capacitação de Conselheiros Municipais e Agentes Sociais. Os resultados iniciais mostram uma forte institucionalização de instâncias de governança públicas, em decorrência do marco legal, porém um baixo grau de participação efetiva dos representantes da sociedade civil nestes espaços institucionais. Em contrapartida, a representação empresarial mostra-se extremamente articulada com o Governo em modelos de parcerias público-privada e outros arranjos gerenciais. Neste sentido, considera-se prioridade absoluta fortalecer a sociedade civil organizada, visando o seu empoderamento para a compreensão e reversão, se for o caso, das decisões impostas pelo modelo estado-empresário

2 1. Introdução A Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, por meio da Pró-reitoria de Extensão - PROEX e do Observatório de Políticas Urbanas - OPUR integra um Instituto em Rede denominado Observatório das Metrópoles, vinculado ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia- INCT. Em 2011, o OPUR/PROEX integrou mais um projeto de pesquisa nacional, coordenado pelo Observatório das Metrópoles, que tem como finalidade a elaboração e aplicação de instrumentos de monitoramento dos impactos relacionados aos megaeventos na estrutura urbano-metropolitana das cidades-sedes da Copa 2014 e das Olimpíadas Rio 2016, financiado pela FINEP. O projeto de pesquisa denominado Monitoramento de impactos socioespaciais relacionados a megaeventos esportivos: Olimpíadas e Copa do Mundo nas metrópoles - Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Brasília, Salvador, Recife, Fortaleza, Natal, Manaus e Cuiabá, utiliza como metodologia a pesquisa qualitativa e quantitativa, tendo por base a observação e análise do contexto atual da preparação brasileira para a Copa do Mundo e Olimpíadas, aliada à comparação com experiências anteriores. Para a realização desta análise, o projeto estrutura-se em 5 eixos temáticos interdisciplinares. O presente artigo centra-se no eixo temático: Governança Urbana e Metropolitana. Em 2011 e 2012 assistiram-se a seminários, reuniões temáticas, audiências públicas, congressos e outros eventos afins. Foi realizada pesquisa junto aos alunos do Curso de Capacitação de Conselheiros Municipais e Agentes Sociais, ofertado anualmente pelo OPUR, desde 2003. Além disso, foram ministradas aulas com debates e dinâmicas de grupo para discutir o tema dos Megaeventos, portanto, foram relatados fatos importantes que merecem ser analisados. Outra iniciativa relevante foi a seleção de informações oficiais disponibilizadas pelos portais de Governo do Estado e Prefeitura de Belo Horizonte, em especial, os da transparência, alem dos portais do Legislativo, Judiciário e Ministério Público com o objetivo de identificar novos arranjos institucionais de gestão urbana metropolitana, decorrentes das exigências da FIFA.. Neste sentido, promoveu-se ainda um diagnóstico setorial sobre conselhos municipais e outras instâncias de governança, catalogadas pelo OPUR/PROEX para a elaboração do Plano Metropolitano da RMBH-PDDI, encomendado pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano e Regional do Estado de Minas Gerais- SEDRU, bem como do volume III Estudos Setoriais do referido plano. Tais estudos mostram uma forte institucionalização de instâncias de governança formal, porém um baixo grau de participação efetiva dos representantes da sociedade civil, em contra partida a representação dos empresários junto ao governo nos projetos de desenvolvimento urbano mostra-se extremamente articulada.

3 Este artigo tem por objetivo discutir as estratégias preventivas de defesa do patrimônio cultural e natural da Região Metropolitana de Belo Horizonte por meio da identificação e análise da governança urbana e metropolitana, com ênfase na identificação de processos de emergência de novas coalizões de forças sociais, econômicas e políticas na gestão das cidades, processos de organização do movimento social, processos de fortalecimento do planejamento urbano e processos de controle social que possam reduzir os impactos negativos causados pela turistificação da capital e região em função da Copa do Mundo e Jogos Olímpicos e a patrimonialização da natureza. A metodologia adotada segue a pesquisa nacional que prevê métodos qualitativos e quantitativos, tendo por base a observação e análise dos fenômenos citados e comparando-os à experiências anteriores tanto no Brasil (XV Jogos Pan-americanos em 2007) quanto em outros países, a partir de revisão bibliográfica concisa e de utilização de fontes primárias, de maneira a fomentar uma postura crítica frente aos processos sociais verificados. Inclui ainda análise dos legados das COPAS Mundiais publicados nos portais de ONGs internacionais e outros de crítica relevante. 2. Análise dos impactos ambientais e sócio-culturais dos megaeventos na Região Metropolitana de Belo Horizonte A prática esportiva é inserida no contexto capitalista mundial do século XX, mediante processos atrativos de promoção das cidades, promovendo uma arquitetura internacional moderna e, ao mesmo tempo, ocasionando efeitos no desenvolvimento econômico, social, político e urbano. De acordo com Roche (1994), usualmente é assumido que os megaeventos trazem consequências futuras em termos de turismo, realocação de plantas industriais e investimentos externos. Também afirma que os estudos e planejamentos realizados geralmente antes dos eventos tendem a focar os benefícios econômicos e sociais que o evento em questão pode gerar, porém a abordagem dos processos políticos, principalmente no que tange as questões da participação popular nas arenas decisórias do planejamento urbano, consiste ainda um grande desafio a ser implementado. Nota-se que os impactos socioespaciais e repercussões geradas em vários setores da sociedade ocasionados por esses megaeventos tem sido freqüentes, principalmente nas cidades que serão sede dos mesmos. As consequências dos processos e implicações das obras têm proporcionado implicações drásticas à população diretamente atingida e debates importantes na arena política. Como resultados parciais da pesquisa Megaeventos e Metropolização, pode-se descrever significativos impactos emergentes das obras dos Megaeventos, no que diz respeito às questões ambientais, segundo dados mostrados em reportagem no Jornal Estado de Minas, Belo Horizonte eliminou mais de 22 mil árvores desde 2010:

1.149 árvores 650 no estádio do Mineirão e quase 500 na Avenida Cristiano Machado, um dos corredores que receberão o BRT. A derrubada se soma ao corte de outros 10.173 espécimes em ruas e avenidas de BH e alcança o total de 11.322 árvores suprimidas até outubro. (...). Belo Horizonte registra um déficit de pelo menos 7.528 árvores em relação ao início do ano 2010. (Flávia Ayer. 21/11/2011 06:12 www.uai.com.br) Além da derrubada das árvores, vários prédios que datam da construção da cidade foram demolidos, incluindo escolas públicas, para alargamento de avenidas. Por exemplo, para a duplicação da Avenida Antonio Carlos estão sendo desapropriados e indenizados mais de 250 imóveis a um custo de aproximadamente R$ 110 milhões ao longo dos 2,2 quilômetros que estão em obras. Já foram realizados 80% de acordos firmados com proprietários de imóveis e já demolidos 55% das edificações. O caso da avenida Pedro I, três décadas de Pampulha estão sendo demolidas, mais 207 imóveis serão desapropriados até o final da obra. (Valquíria Lopes. 28/07/2011 06:00. www.uai.com.br). O mesmo portal tem publicado informações sobre a expansão do Aeroporto Internacional de Confins: 4...a licitação das obras do Módulo Operacional Provisório (MOP) no Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, foi adiada para agosto de 2012. As obras do chamado puxadinho, que vai ser o principal apoio do empreendimento durante o aumento de tráfego na Copa de 2014, estavam marcadas para começar em março e terminar em um ano. Mas já estão atrasadas. A obra vai contar com R$ 100 milhões de investimento e aumentar a capacidade do terminal em 4,9 milhões de passageiros anuais. A Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) faz audiência pública sobre o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto Ambiental (Rima) do terminal de passageiros 2 e seus anexos, edifício garagem e sistema viário interno, do puxadinho, da ampliação do terminal de cargas e ampliação do reservatório de água potável. Estarão presentes representantes da Infraero, dos órgãos ambientais de Minas Gerais, da consultoria Praxis (responsável pela elaboração dos estudos ambientais) e do governo do Estado. Em muitos países estes megaeventos têm gerado outros efeitos negativos, sobretudo junto aos segmentos sociais, especialmente relacionados à questão habitacional, trabalhista e cultural. De acordo com o Comitê dos Atingidos pela Copa 1 as remoções e os despejos forçados de grupos sociais são as violações mais comuns no Brasil e em outros países sede de megaeventos. Os impactos socioespaciais mais frequentes no caso de Belo Horizonte, tem sido o relacionado à questão habitacional, como problemas com remoções, assentamentos informais, moradores em situação de rua, e também relacionados à questão trabalhista, como vendedores ambulantes e trabalhadores informais entre muitos outros. Porém, ressalta-se que os impactos desses megaeventos ultrapassam os limites do município, atingindo a região metropolitana. As autorizações legislativas para alienação de imóveis em Belo Horizonte têm sido amplamente discutidas pelos vereadores locais. A pressão dos partidos de oposição ao Prefeito de Belo Horizonte e recomendações do Ministério Público e Defensoria Pública tem funcionado: a venda 1 Documento da Articulação Popular Nacional pela garantia dos Direitos Humanos, no contexto dos Megaeventos. Site comitepopulario.wordpress.com. Acesso 11/11/2011.

5 de 91 terrenos públicos foi adiada. Porém, outros 40 foram autorizados em 2011, para a construção de conjuntos habitacionais, mas somente dois foram efetivamente utilizados. De acordo com o documento Dossiê das Violações da COPA, produzido pela Rede Nacional dos Comitês dos Atingidos pela COPA, muitas das ameaças de remoção dizem respeito a obras viárias para a Copa do Mundo. No município de Belo Horizonte, a ampliação do Anel Rodoviário da cidade, obra financiada pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), implicará na remoção de mais de 2.600 famílias, às quais foi apresentada, em 2010, uma notificação exigindo que se retirassem do local em 15 dias. Em 2011, foi oferecida às famílias a inclusão no programa Minha Casa, Minha Vida. Na mesma cidade, outras obras viárias demandam a remoção de centenas de famílias, como no caso do alargamento da Av. Pedro I e a construção das vias 210 e 710 2. O portal do Jornal Estado de Minas mostrou em uma série de reportagens que, além de lotes ocupados por faculdades e, por um clube privado, há ruas e até uma área de preservação ambiental em processo de alienação. O texto prevê que 100% dos recursos arrecadados com a venda sejam aplicados em programas de habitação, modificação feita depois da dos movimentos de sem-casa para aumentar a destinação que era de 60% originalmente. Quanto aos impactos trabalhistas em Belo Horizonte, segundo o documento supracitado, desde que o estádio Mineirão foi fechado, os barraqueiros que trabalhavam em seu entorno em dias de jogos ficaram sem trabalho. Há relatos de representantes da Associação dos Barraqueiros do Entorno do Mineirão, ditos em audiência pública promovida pelo Ministério Público Federal, que cerca de 150 famílias passam dificuldades por terem ficado sem sustento. Com relação ao patrimônio cultural e turístico pode-se prever o risco de transformação do complexo da Lagoa da Pampulha, parte do cartão postal da cidade, face à aprovação pelo Conselho Municipal de Política Urbana de pedido de autorização para construção de hotéis verticalizados na ADE Área de Diretrizes Especiais (orla da lagoa). Tal aprovação foi acompanhada de manifestação dos movimentos populares que tentaram reverter o processo, porém não obtiveram sucesso. Ressalta-se que ainda resta a decisão sobre a continuidade de uma obra hoteleira, a mesma localiza-se a 300 m da orla, estima-se a construção de 15 andares. Esta obra causará um grande impacto visual e cultural, caso seja autorizada. No que diz respeito aos impactos culturais, também decorrentes dessas intervenções acima citadas, foram catalogadas redução da produção de alimentos e bebidas típicos na RMBH, tais como o feijão tropeiro, tradição no Estádio do Mineirão, além de outras comidas tradicionais e artesanato. 2 http://conflitosambientaismg.lcc.ufmg.br/info.php?id=494.

6 Segundo Domingues (2011), uma série de questões devem ser pautadas a partir das seguintes perguntas: por que é preciso haver alterações substantivas nas dinâmicas da vida urbana, sendo que tais eventos serão ocasionais? Esses projetos atendem os interesses da cidade ou do mercado? Quais são as melhorias em relação à segurança pública e a diminuição dos índices de criminalidade e violência urbana? Quais os impactos na configuração socioespacial das cidades, em termos de implantação de equipamentos e serviços coletivos, ampliação do acesso à moradia, da distribuição dos diferentes grupos sociais na cidade e os efeitos ambientais das intervenções? Em discussão recente na mídia mineira, o ex-presidente da FIEMG e SEBRAE/MG Stefan Salej escreve sobre o modelo de gestão de megaeventos internacionais privados: Usa-se esse modelo para puxar o desenvolvimento, empregar milhares de pessoas antes e durante o evento. Os empresários em geral aumentam muito seus lucros e o país espera que a bonança continue. Na África do Sul aconteceu com uma competência ímpar tudo isso. Os empresários mais competentes e experientes participaram voluntariamente do esforço que levou ao sucesso organizacional. Mas, dois anos após o Mundial o país está cheio de estádios, uma infra-estrutura maravilhosa mas pouco aproveitada. E olha que aqui jogam também rugby e cricket, que utilizam os mesmos estádios. E mesmo assim estão procurando mais e mais torneios, recentemente na Cidade de Cabo foi o Sub 20 em futebol, onde o Brasil se tornou campeão, e outros eventos inclusive de natureza religiosa.a Cidade de Cabo com sua beleza natural corre atrás do prejuízo para atrair mais turistas para os hotéis não ficarem vazios. Um gigantesco e bem estruturado centro de convenções traz eventos mundiais. E isso é suficiente? Não. Os torcedores que vêm para a Copa não são os turistas de amanhã. E nem durante a Copa estão interessados em cultura, a não ser de cerveja e de bola. E ai as obras ficam, tem que ser mantidas e tem que ter eventos.e os eventos de escala internacional são planejados com muita antecedência. Também os orçamentos são planejados com antecedência. É aí que mora o perigo: quem vai pagar o eventual mau aproveitamento desta infraestrutura gigantesca? (Jornal Hoje em dia, 06/2012 ) A pesquisa mostra que as estratégias de prevenção aos efeitos negativos estão explícitas nos documentos dos legados pós-copa do mundo em outros países, nas ações dos órgãos e entidades de controle externo, na disseminação da informação pela mídia e nos movimentos da sociedade civil organizada, desde que empoderados. Pode-se aprender com outros! Isto nos leva a seguinte reflexão: quais fatores são determinantes no diálogo do poder público com a sociedade civil? Como os movimentos sociais podem atuar na garantia da dinâmica democrática de governo no país para realização dos Megaeventos em questão? Qual papel dos movimentos sociais emergentes dos impactos dos megaeventos da COPA de 2014 e Olimpíadas de 2016, na região metropolitana de Belo Horizonte? 3. A relevância da atuação dos movimentos populares na redução dos impactos negativos ocasionados pelos megaeventos Observa-se assim, que são muitos os motivos que justificam a emergência dos movimentos sociais no processo de realização dos megaeventos da COPA 2014 e das Olimpíadas 2016 no Brasil. Além disso, tal processo pode ser considerado mais uma luta pela dinâmica democrática no País.

7 Sabe-se que a dinâmica democrática requer consciência política da sociedade, exercício da cidadania, participação popular, espaços públicos de debates e abertura política. Nota-se que nas democracias contemporâneas as redes sociais atuam como formadores de opinião pública e fonte de pressão política e, assim, contribuem para legitimar a atuação da administração pública. Considera-se que os movimentos sociais na atualidade possuem um papel determinante na garantia de uma dinâmica democrática de governo, contribuindo nos mecanismos de transparência e controle social dos gastos públicos. É de suma importância o empenho da sociedade civil organizada no debate da agenda pública desses megaeventos, com intuito de subsidiar e alertar, principalmente os atores sociais e a sociedade civil em geral, sobre as discussões relativas às intervenções urbanas na cidade. Observa-se que os movimentos sociais emergentes dos megaeventos constituem um setor em destaque no cenário do país. No caso brasileiro, a mobilização do COPAC Comitê Popular dos Atingidos pela Copa 2014 3 tem sido de fundamental importância na luta contra a corrupção e na exigência de canais mais democráticos de governo. O COPAC é organizado por pessoas de diversos setores da sociedade que buscam discutir e entender os processos ativados para a realização da Copa de 2014, atuando em Belo Horizonte, uma das cidades-sede desse megaevento. Outros comitês populares foram organizados nas cidades-sede Brasília, Cuiabá, Curitiba, Fortaleza, Manaus, Natal, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo reforçando o caráter nacional da causa 4. O COPAC está estruturado em três Comissões que trabalham de forma articulada, são elas: - Comissão de Mobilização e Articulação Responsável pela mobilização e articulação das comunidades diretamente atingidas pelas obras e setores da sociedade sensíveis a causa. - Comissão de Elaboração e Mapeamento Responsável pelo levantamento de dados sobre as obras e ações diversas para a realização da Copa 2014. - Comissão de Agitação e Propaganda (Agitprop) Responsável pela divulgação do comitê e ações presenciais de esclarecimento dos impactos da realização da Copa 2014 junto a população. Os membros das Comissões se reúnem e trabalham de acordo com suas atividades articulandose entorno das demandas gerais do Comitê. Mensalmente, todas as Comissões se reúnem numa plenária, momento em que o andamento de todas as ações é compartilhado, discutido e questões 3 A Rede Nacional Observatório das Metrópoles apoia este movimento. 4 Informações retiradas do site: http://atingidoscopa2014.wordpress.com/.

8 são deliberadas. Trata-se de um grupo aberto, qualquer interessado pode estar presente e participar. Concomitantemente surgem outros movimentos relevantes como é o caso do Comitê dos Jogos Limpos 5. Este surge de uma iniciativa do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social que consiste numa organização sem fins lucrativos, caracterizada como OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público). O projeto Jogos Limpos dentro e fora dos estádios busca acordos com empresas, compromissos de transparência entre governantes e oferecerá ferramentas para ações coletivas de vigilância, monitoramento e controle social sobre os investimentos destinados para a Copa do Mundo de 2014, para a Olimpíada e a Paraolimpíada de 2016 6. A proposta deste Comitê consiste em convocar empresas e governos a assumir compromissos públicos de adotar medidas preventivas para combater fraudes e a corrupção, ao mesmo tempo, lutar para garantir que a sociedade civil tenha acesso a ferramentas que ajudem no controle social dos gastos públicos destinados aos grandes eventos que o Brasil receberá em 2014 e 2016. Neste sentido, o Comitê Nacional divide-se em outros temáticos, são eles: - Comitê Jurídico Reunindo entidades com amplos conhecimentos sobre o tema é o órgão responsável pela análise dos contratos de licitação. As denúncias recebidas pelo Projeto Jogos Limpos passam por este comitê antes de serem encaminhadas para as entidades competentes. - Comitê de Empresas e Investidores Coordena as ações com as entidades do setor empresarial, envolvidas com os eventos de 2014 e 2016 para estimular a integridade nas relações das empresas com o governo e promover a responsabilidade social, econômica e ambiental dos investimentos. É o órgão que supervisiona os Acordos Setoriais. - Comitê de Esportes e Atletas reunindo atletas, estudiosos e torcedores este é órgão responsável por analisar os investimentos para a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016 sob o aspecto das políticas públicas para o esporte, tanto as ações voltadas para o incentivo de prática esportivas, como a garantia dos direitos dos torcedores. - Comitê de Mídia: Espaço para troca de informações sobre os investimentos nos grandes eventos entre grandes veículos de mídia. 5 A Rede Nacional Observatório das Metrópoles participa deste Comitê. A candidata é suplente de um representante da referida rede neste Comitê, no município de Belo Horizonte. 6 Informações retiradas do site http://www.jogoslimpos.org.br/.

9 Em cada uma das doze cidades-sede da Copa do Mundo de 2014 também foi criado um Comitê Local. Estes comitês são um espaço de diálogo entre as organizações que atuam por um legado positivo dos investimentos para a realização da Copa do Mundo de 2014 e Jogos Olímpicos em 2016. Seus integrantes atuam para articular ações e agendas no acompanhamento dos investimentos no contexto local. As cidades envolvidas são: Belo Horizonte, Brasília, Cuiabá, Curitiba, Fortaleza, Manaus, Natal, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. Outro movimento interessante é o Atletas pela Cidadania, uma organização sem fins lucrativos que reúne atletas e ex-atletas de diferentes gerações e modalidades esportivas com um único objetivo: sensibilizar, conscientizar e mobilizar a sociedade no apoio a causas nacionais importantes para o Brasil 7. A estratégia de trabalho da organização é estimular e monitorar políticas públicas junto a governos, iniciativa privada, meios de comunicação e sociedade, para que ações concretas em prol do desenvolvimento do país sejam cumpridas, sempre por meio de 3 grandes linhas de ação: - Advocacy Incentivo ao estabelecimento de metas concretas na área social. Monitoramento de legislação e políticas relacionadas às causas escolhidas - Investimento em Conhecimento apoio ou co-realização de pesquisas sobre as causas da Atletas pela Cidadania, como forma de aprofundar e qualificar o debate sobre os temas. - Mobilização e Comunicação realização de eventos para jornalistas, formadores de opinião e governos, além de campanhas de comunicação que ajudem a divulgar e mobilizar diversos setores sociais. Em virtude dos eventos esportivos que se aproximam Copa do Mundo de 2014 e Olimpíada 2016 - a Atletas pela Cidadania estabeleceu que, além de uma atuação nacional, o foco nas 12 cidades-sedes e respectivos estados, para que se tornem exemplos para todo o país. Os atletas atuam em cada localidade e, junto com parceiros, apoiam e acompanham a evolução de metas em cada causa. 4. Papel da universidade na formação de políticas públicas para um bom governo Um bom governo, segundo Bresser Pereira (1999), pode ser denominado Governance, como descrito no relatório do Clube de Roma, por DROR, em seu livro A Capacidade de Governar, pela falta de distinção clara entre Governo e Estado. Para ele, Governance é a capacidade geral para 7 Informações retiradas do site http://www.atletaspelacidadania.com.br/causa.php.

governar, é o próprio governo em ação, tomando decisões cruciais. Bresser Pereira complementa sua análise conceitual entendendo Governança em sentido mais restrito, para significar a capacidade administrativa e financeira para governar existente em um Estado. Segundo a Comissão sobre Governança Local, em 1996, Governança é a totalidade das diversas maneiras pelas quais os indivíduos e as instituições, públicas e privadas, administram seus problemas comuns. Segundo a mesma Comissão: Governança diz respeito não só a instituições e regimes formais autorizados a impor obediência, mas também a acordos informais que atendam aos interesses das pessoas e instituições. E finalmente, No plano global, a governança foi vista primeiramente como um conjunto de relações intergovernamentais, mas agora deve ser entendida de forma mais ampla, envolvendo organizações não-governamentais, (ONG), movimentos civis, empresas multinacionais e mercados de capitais globais.com estes interagem os meios de comunicacao de massa, que exercem hoje enormes influencia. (Comissão sobre Governanca Global, 1996, p. 2. APUD Alcindo Fernandes) Trata-se de distinguir o funcionamento do aparato estatal dos conteúdos das políticas públicas e sintonizá-lo com os mecanismos de acesso às regras do jogo político-democrático. A definição de qualidade da gestão ou bom governo é a busca para compreensão dos arranjos institucionais e orçamentários. A partir da compreensão dos arranjos institucionais entendidos como organicidade na dimensão político- institucional, onde os diversos representantes das instâncias políticas selecionam arranjos que aloquem recursos humanos e estabeleçam níveis de descentralização, deve-se garantir suficiente flexibilidade burocrática para assegurar boa gestão e qualidade na prestação de serviços públicos. Cabe ressaltar a visão de Santos (2005) sobre rede de políticas públicas: Um dos aspectos centrais na interpretação das sociedades complexas fornecida por Talcott Parsons (1959) é a importância que ocupa as instituições na diferenciação dos contextos sociais, contribuindo assim para o equilíbrio. Assim, o papel da academia, com o apoio das demais instituições do terceiro setor organizado, tem sido o de contribuir com o monitoramento e avaliação de políticas públicas e os programas de capacitação para implantação/fortalecimento de novos arranjos institucionais em busca de maior efetividade da ação governamental. Pode-se concluir que uma outra dimensão importante a ser considerada é a formação dos atores sociais para compreensão dos arranjos institucionais do processo de planejamento e orçamento públicos. Neste sentido, a universidade possui papel primordial no empoderamento dos movimentos sociais afim de garantir condições para o exercício da governança democrática e participativa nas cidades. 5. Considerações finais 10 Construir uma dinâmica que antecipe e acomode os dilemas que o projeto megaeventos gera no território brasileiro torna-se o grande desafio da questão urbana no Brasil contemporâneo. Isto nos

11 leva a refletir, sobretudo, sobre os seguintes desafios: compreender o papel histórico das cidades, no sentido de preservar o espaço da construção da identidade; conhecer os verdadeiros interlocutores das mesmas; criar espaços múltiplos de debates de modo a minimizar efeitos negativos por meio de mediação de conflitos, bem como estimular uma rebeldia criativa, buscando promover práticas socioeducativas, políticas públicas e novas linguagens culturais geradoras da desmercantilização da cidade e da promoção do direito à cidade. Para Putnam (2011), o segredo de alguns governos funcionarem melhor do que outros é a densidade da sociedade civil, ou seja, da participação popular. Este autor trabalha a idéia de capital social como redes sociais entre os indivíduos que transmitem informações, contribuem para ação coletiva e para o empoderamento recíproco dos indivíduos. Assim, o capital social para ele é a vida comunitária, ao mesmo tempo que gera eficiência de governo e, consequentemente, menos corrupção, melhora a educação e diminui a criminalidade. Para o autor pior que a pobreza é a carência de capital social. Ele nos fala ainda de vários tipos de redes sociais: informais, organizadas, como é o caso dos movimentos sociais, de relacionamentos, de atividade civil etc. Segundo este autor, diferentes tipos possuem diferentes efeitos e o tipo pluralista é mais eficiente para cidades grandes. 6. Principais referências Ações e projetos estratégicos para o vetor noroeste da RMBH Maio de 2011. Instituto Horizontes. DOMINGUES, Edson Paulo, BETARELLI JUNIOR, Admir Antonio, MAGALHÃES, Aline Souza. Copa do mundo 2014: impactos econômicos no Brasil, em Minas Gerais e em Belo Horizonte. Belo Horizonte: CEDEPLAR/UFMG, 2011 PORTER, P. K. Mega-Sports Events as Municipal Investments: A Critique of Impact Analysis. In: FIZEL, J.; GUSTAFSON, E.; HADLEY, L. (Eds.) Sports Economics: Current Research. Westport, CT: Praeger. 1999, p.61-73. PROJETO: MONITORAMENTO DE IMPACTOS SÓCIO-ESPACIAIS RELACIONADOS A MEGAEVENTOS ESPORTIVOS: OLIMPÍADAS E COPA DO MUNDO NAS CIDADES- METRÓPOLES: Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Brasília, Salvador, Recife, Fortaleza, Natal, Manaus e Cuiabá. Rede Nacional Observatório das Metrópoles/IPPUR-UFRJ/FINEP, 2010-2013. ROCHE M. Mega Events and Urban Policy. Annals of Tourism Research 21: 1-19 (1994). PEREIRA, Luiz Carlos Bresser (1999). BOM Estado e BOM Governo. Fundap: São Paulo. Portal uai.com.br acesso de novembro de 2011 a maio de 2012.

12 PUTNAM, Robert D. Comunidade e Democracia: experiência da Itália moderna. Rio de Janeiro: FGV, 2002, (3ª edição), 257 p.. Making democracy work: the importance og civil society. Palestra apresentada no XVI Congresso Internacional del CLAD sobre la Reforma del estado y de la Administracion Pública. Assunción, Paraguay, 8-11 de novembro de 2011. RIBEIRO, Luiz Cesar de Queiroz (Org.) (2004). METRÓPOLES: entre a fragmentação, a cooperação e o conflito. Rio de Janeiro: Renavan, 431p. ISBN 8576430010 SANTOS JUNIOR, Orlando Alves dos, RIBEIRO, Luiz Cesar de Queiroz; AZEVEDO, Sergio de (Orgs.) (2005). Governança democrática e poder local. Rio de Janeiro: RENAVAM, 228p. ISBN-10: 8571062978 XAVIER, Herbet; OLIVEIRA, Lívia de. (Orgs). Dimensões ambientais e autosustentabilidade do turismo. João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2008.

6. Anexo 13