REQUERIMENTO Nº, DE 2006 (Do Sr. Julio Lopes) Requer o envio de Indicação ao Ministro de Estado das Comunicações, sugerindo alteração na forma de definição da receita auferida pelas empresas dedicadas à comercialização de cartões telefônicos, para fins de recolhimento da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social COFINS, da Contribuição para o Programa de Integração Social PIS e dos demais tributos federais. Senhor Presidente: Requeiro a V. Exa., nos termos do art. 113, inciso I e 1º, do Regimento Interno da Câmara dos Deputados, que seja encaminhada ao Senhor Ministro de Estado das Comunicações a Indicação anexa, sugerindo alteração na forma de definição da receita auferida pelas empresas dedicadas à comercialização de cartões telefônicos, para fins de recolhimento da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social COFINS, da Contribuição para o Programa de Integração Social PIS e dos demais tributos federais. Sala das Sessões, em de de 2006. Deputado Julio Lopes
INDICAÇÃO Nº, DE 2006 (Do Sr. Julio Lopes) Sugere ao Ministro de Estado das Comunicações alteração na forma de definição da receita auferida pelas empresas dedicadas à comercialização de cartões telefônicos, para fins de recolhimento da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social COFINS, da Contribuição para o Programa de Integração Social PIS e dos demais tributos federais. Excelentíssimo Senhor Ministro: A Lei nº 10.833, de 29 de dezembro de 2003, determina que o fato gerador da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social COFINS é o faturamento mensal da pessoa jurídica, entendido como o total das receitas auferidas, independentemente de sua denominação ou classificação contábil. A nova forma de recolhimento prevista na citada Lei visa a nãocumulatividade da COFINS, complementando sistema idêntico já instituído quanto à Contribuição para o Programa de Integração Social PIS. Para algumas atividades econômicas, pelas suas peculiaridades, essa nova forma de arrecadação tem causado desequilíbrio da carga tributária ao ponto de inviabilizá-las. Nesse grupo estão as empresas que se dedicam à comercialização de cartões telefônicos, as quais surgiram há poucos anos no mercado de telecomunicações em decorrência da privatização do setor de telefonia fixa e do vertiginoso crescimento da telefonia celular. Em linhas gerais, o mercado de comercialização de cartões telefônicos pré-pagos se apresenta com a seguinte configuração: empresas distribuidoras de cartões indutivos (cartão de orelhão); empresas distribuidoras de cartões de celulares (cartão físico); empresas distribuidoras de créditos (senhas de acesso) para celulares via terminais p.o.s. (cartões virtuais); empresas distribuidoras de créditos on-line para celulares (o crédito é inserido diretamente no aparelho); empresas que englobam todas ou pelo menos duas das atividades
2 retro expostas; e empresas varejistas, que fazem a venda final ao consumidor e têm o cartão telefônico como atividade acessória. Qualquer que seja a forma de comercialização utilizada, as empresas distribuidoras e, por conseguinte, as varejistas (pontos de venda ao consumidor), dependem do fornecimento dos cartões, senhas ou créditos por parte das concessionárias ou prestadoras de serviços de telecomunicações. Conforme assegura a Lei n.º 9.472, de 1997 Lei Geral das Telecomunicações -, as empresas de telecomunicação têm ampla liberdade de contratar quantos distribuidores e pontos de venda entendam imprescindíveis para formar suas cadeias de distribuição e atender à demanda dos usuários finais dos cartões telefônicos (v. os artigos 5º, 7º, 94-II, 126, 128-I/III), o que torna o segmento extremamente pulverizado. Nessas cadeias, compostas por dezenas de milhares de empresas, predominam micro e pequenos negócios, cujo movimento e faturamento inviabilizam sistemas contábeis sofisticados, que possibilitem a tributação com base no lucro real, especialmente quando a isso se obrigam apenas pelo fato de comercializarem cartão telefônico (v. Solução de Consulta nº. 325, de 29.10.2004, da Secretaria da Receita Federal 9ª. Região Fiscal). No caso das empresas varejistas, a revenda de cartões telefônicos é, em geral, atividade acessória e de muito pouca representatividade na receita final. Por outro lado, o valor de face dos cartões destinados à telefonia celular pré-paga, sob qualquer forma, é definido na origem pela prestadora dos serviços de telecomunicações (mediante prévia aprovação da Agência Nacional de Telecomunicações Anatel), enquanto os cartões indutivos, para uso nos orelhões, têm seus valores fixados diretamente pela Anatel. Portanto as empresas de comercialização de cartões telefônicos são técnica e legalmente impedidas de formar preço, ou seja, de agregar valor ao produto, cabendo-lhes, como receita da atividade, apenas a margem obtida a partir da diferença verificada entre os valores de aquisição e de revenda, que estará sempre limitada ao valor de face ou de tabela.
Assim, nos casos das empresas integrantes dessas cadeias que operam sob o regime de lucro presumido, situação comum à imensa maioria, na comercialização de um cartão para celular que custa ao usuário R$10,00, por exemplo, em que a margem gira em torno de R$0,50, apenas de COFINS (R$ 0,30) e de PIS (R$ 0,65), teriam de recolher R$0,37, ou 74% da margem. Em face da cumulatividade que se impõe sob o regime do lucro presumido, a soma das alíquotas de PIS e COFINS, que a Lei prevê seja de 3,65% para os serviços de telecomunicações, ultrapassa 10% (dez por cento) ao incidir por pelo menos três vezes sobre valores situados entre 90% e 100% do valor final do cartão. E mesmo quando envolvidas empresas com volume financeiro que justifique ou imponha a opção pelo lucro real, seja por conta da comercialização de cartões, seja por outras atividades, o peso dessas contribuições se torna injusto, visto que enquanto das operadoras de telecomunicações, que detêm o poder de formação de preço e operam sob regime de lucro real, a exigência se dá às alíquotas de 3,0% (COFINS) e 0,65% (PIS), para aquelas, que integram as cadeias de comercialização do serviço sem qualquer capacidade de repasse, as alíquotas passam a 7,6% e 1,65%, respectivamente. Ademais, as cadeias de distribuição de cartões telefônicos têm enorme relevância social, pois a maioria dos seus usuários são pessoas de baixa renda, incapazes de manter linhas de telefone fixo ou telefones celulares pós-pagos. A telefonia mediante cartões ainda é, assim, a única forma realmente disponível de acesso das pessoas carentes aos serviços de telecomunicações. Para que essas cadeias se mantenham saudáveis, é fundamental que se tenha um mínimo de justiça fiscal, o que se pode conseguir facilmente com a aplicação, uma única vez, das alíquotas previstas para as operadoras sobre o valor de face ou de tabela do cartão, qualquer que seja sua forma, e com a redefinição da receita das empresas que se dedicam à comercialização de cartões telefônicos, para fins dos demais tributos federais. Por estas razões, Senhor Ministro, estamos sugerindo que, por meio de proposta legislativa que altere as Leis nº 10.833/03 e nº 10.637/02, ou por gestões junto ao Ministério da Fazenda, (1) seja definida como receita auferida pela comercialização de cartões sob qualquer de suas formas, para fins dos tributos federais, a diferença verificada entre os respectivos valores de aquisição e revenda; (2) se passe a considerar como única ocorrência de fato
4 gerador da COFINS e do PIS a primeira operação de comercialização, cabendo às prestadoras de serviços de telecomunicações calcular e recolher tais tributos sobre os valores de face ou de tabela dos cartões, tudo conforme já ocorre com o ICMS (Convênios ICMS 126/98 e 55/05, do Confaz). Lembramos que tais iniciativas, por serem privativas do Presidente da República (art. 61, 1º, alínea b da Constituição Federal), não podem partir de Parlamentar. As alterações, socialmente justas, ao terem como finalidade restabelecer o equilíbrio da carga tributária, para um determinado setor da economia, cujas especificidades exigem a atuação corretiva do Governo, de maneira a garantir sua sobrevivência no mercado, sua função social e seus postos de trabalho, têm a vantagem adicional, no caso das citadas contribuições sociais, de trazer ganhos à arrecadação em face do melhor resultado que se obtém com a centralização dos recolhimentos. Sala das Sessões, em de de 2006. Deputado Julio Lopes