MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO MÉDIA E TECNOLÓGICA. CONVERSAS COM O PROFESSOR. Prezado(a) Professor(a),



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Transcrição:

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO MÉDIA E TECNOLÓGICA. CONVERSAS COM O PROFESSOR SOBRE TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS. TEMA 2: Televisão e Vídeo no Ensino Médio: algumas reflexões e sugestões. Prezado(a) Professor(a), Já é do seu conhecimento que o Novo Ensino Médio requer profundas mudanças na escola atual. A transformação que se impõe é, essencialmente, da própria concepção de educação, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade, tendo como finalidade básica o pleno desenvolvimento do educando, sua preparação para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Essa transformação, segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, aponta para uma escola que privilegia a aprendizagem por competências, a interdisciplinaridade, a contextualização, a autonomia de pensamento e de ação e a diversidade como princípios fundamentais e inovadores da sua organização curricular. Nesse contexto, recursos tecnológicos como a TV, o vídeo e, mais recentemente, o computador, dos quais muitas escolas já dispõem, mas nem sempre utilizam adequadamente, precisam ser explorados de forma crítica e criativa, contribuindo para tornar o ato educativo mais próximo da realidade dos educandos, além de mais dinâmico, rico e contextualizado. Como você sabe, a televisão atualmente está presente na quase totalidade dos lares brasileiros. O vídeo também já se popularizou. Milhares de escolas públicas estão equipadas para recepção e gravação da programação da TV Escola, um programa do MEC originalmente destinado aos professores do Ensino Fundamental, que tem como objetivos contribuir com a formação e aperfeiçoamento dos professores e melhorar a qualidade do ensino na escola pública brasileira.

2 Para apoiar a implementação da Reforma do Ensino Médio, novos programas já foram produzidos e veiculados pela TV Escola, tanto para a autoformação dos professores quanto para auxiliar o processo de ensino e aprendizagem; e outros tantos estão sendo produzidos. Compete agora às escolas e aos professores a sua adequada utilização. Trazemos neste texto algumas reflexões sobre o papel da televisão e do vídeo no contexto educacional, particularmente do ensino médio, e destacamos algumas sugestões para uma melhor utilização dos programas da TV Escola no processo educativo. Com certeza, o seu conhecimento e a sua experiência poderão enriquecer ainda mais esta nossa conversa. TELEVISÃO: Verso e Reverso da mesma moeda

3 A TV surge no Brasil em 1950 (TV Tupi de São Paulo) e, nessas últimas décadas, assistimos ao seu enorme crescimento. A implantação dos sistemas de TV educativa, a criação de programação de educação a distância, a inauguração da TV a cabo e, paralelamente, o surgimento do vídeo e do videocassete provocaram verdadeiras revoluções. Quem testemunhou esse crescimento pode avaliar o impacto da televisão na vida dos brasileiros. O debate sobre a TV continua na ordem do dia em boa parte do mundo. No Brasil, discute-se desde a alteração da legislação das concessões públicas (incluindo o projeto de lei que dispõe sobre serviços de radiodifusão e demais serviços de comunicação eletrônica de massa) até as formas de controle pela sociedade da programação veiculada. Ninguém melhor do que você mesmo, professor, para entender como a imagem tem poder didático no dia-a-dia da nossa escola, ao criar e recriar a realidade, independentemente do tempo e do espaço que pretenda representar, como lembra Maria Beatriz Gomes da Silva (1998), ao tratar da TV e da violência e do impacto sobre a criança e o adolescente. Não haveria problema se tal concorrência [referindo-se à TV em relação à escola e à família] viesse a reforçar aqueles valores universalmente reconhecidos como essenciais à sobrevivência e à paz da humanidade. No entanto, nem sempre, ou muito pouco, isto acontece. Especialmente nos últimos anos, o que se observa é o uso das imagens não para reforçar valores como a VIDA, a SOLIDARIEDADE, o RESPEITO às DIFERENÇAS e tantos outros, mas, sim, a exacerbação do ÓDIO, da MORTE como solução da VIOLÊNCIA, como caminho para qualquer coisa que deseje. A saída então seria desligar a TV? De fato, uma primeira idéia que pode passar pela cabeça de quem está preocupado em formar cidadãos críticos seria desligar a TV da vida dos nossos alunos. Mas a coisa não é tão simples assim, tanto pelo número de horas que a população brasileira assiste à TV, quanto pela necessidade de se buscar outras saídas que garantam a reflexão e a crítica sobre aquilo que a TV veicula. Fechar simplesmente a porta da sala de aula e esquecer que a TV existe não impede que o aluno tenha acesso a ela, concorda? Como diz a Declaração da UNESCO, celebrada na Alemanha, em 1982, relativa à Educação sobre os Meios de Comunicação: em lugar de condenar ou aprovar o indiscutível poder dos meios de comunicação é

4 necessário aceitar como um fato estabelecido seu considerável impacto e sua propagação através do mundo e reconhecer ao mesmo tempo que constituem um elemento importante da cultura no mundo contemporâneo. E, você professor, como vê o papel da televisão e do vídeo no contexto escolar? Já teve a curiosidade de perguntar isto a seus alunos? EDUCAÇAO PARA E COM TV E VÍDEO: Uma necessidade na escola de Ensino Médio. A responsabilidade da escola, da família e do pessoal da área de comunicação na preparação, dos jovens para viver de forma crítica num mundo dominado pelas imagens, palavras e sons (no sentido de que eles possam decifrar esses sistemas simbólicos), é também um aspecto importante da Declaração da Unesco. Como sabemos, para ser consumidor de TV não é necessário muito conhecimento. Mas para poder ler a linguagem da TV é. E esse conhecimento, como qualquer outro, não é fragmentado. É preciso, portanto, buscar vários saberes que possam explicá-lo na sua totalidade. A formação de cidadãos críticos, uma das finalidades da escola de Ensino Médio, implica também no conhecimento das formas contemporâneas de linguagem, incluindo-se aí a TV e outras mídias. Trata-se, portanto, de analisar a informação geralmente fragmentada, produzida pela TV, transformando-a, pela crítica, em conhecimento. Ninguém melhor que o professor para conduzir esse processo de leitura crítica dos meios. Para tanto, a programação à qual o aluno assiste (da telenovela ao telejornal, do filme ao seriado, do desenho à propaganda publicitária) precisa ser trazida para a sala de aula para ser discutida. Para entender a televisão - imagem, som, recepção e produção - são necessários conteúdos das diferentes áreas do conhecimento, incluindo saberes da História, da Sociologia, da Economia, da Arte, da Física, e de tantos outras. Essa construção, portanto, é certamente interdisciplinar e contextualizada.

5 Como prevêem as Diretrizes Curriculares Nacionais, a formação básica a ser buscada no Ensino Médio realizar-se-á mais pela constituição de competências, habilidades e disposições de condutas do que pela quantidade de informação. Aprender a aprender e a pensar, a relacionar o conhecimento com dados da vida cotidiana, a dar significado ao aprendido e a captar o significado do mundo, a fazer a ponte entre a teoria e a prática, a fundamentar a crítica, a argumentar com base em fatos, a lidar com o sentimento que a aprendizagem desperta. A organização curricular do Ensino Médio que responda a esses grandes desafios deverá percorrer caminhos. Entre eles destacamos o tratamento dos conteúdos de forma contextualizada, como recurso que a escola tem de retirar o aluno da condição de espectador passivo, tornando-o capaz de produzir e criar e não apenas de repetir. Nesse sentido, trabalhar com a televisão e com o vídeo pode ser uma proposta que auxilie de forma significativa o trabalho na sala de aula, trazendo de forma concreta elementos da sua própria realidade para o espaço escolar. E aqui não estamos nos referindo apenas às programações educativas por natureza, como a TV Escola, por exemplo. Estamos falando da programação aberta de TV que está acessível à grandiosa maioria dos alunos do Ensino Médio e que pode também ser trazida em vídeo para a sala, dos acervos das videotecas existentes e de outros materiais disponíveis em vídeo, como filmes, por exemplo, ou produções dos próprios alunos. Recentemente, assistimos a duas cenas de violência real envolvendo jovens. De um lado, os internos da FEBEM, e de outro, um jovem de classe média alta que atirou na platéia que assistia a um filme. Ambas as cenas aconteceram na mesma cidade, São Paulo, a maior do País. Uma, num espaço que deveria estar educando e dando bem-estar a menores infratores e, outra, num shopping center, símbolo dos padrões de segurança de uma sociedade amedrontada. As TVs deram enorme destaque a ambos os fatos, mas apresentaram-nos dissociados das grandes questões de fundo que poderiam fazer a sociedade como um todo repensar seus valores, suas práticas e suas responsabilidades. Ao invés de discutir amplamente as causas, preferiu-se discutir, por exemplo, com enorme destaque, a responsabilidade criminal de forma isolada, como se esta última pudesse estar dissociada de uma totalidade. Essa opção, que não é casual, mostra como a TV cria seus próprios fatos, a partir de interesses nem sempre claros. A escola teria nessa situação um papel decisivo, especialmente a comprometida com a formação de cidadãos: o papel de trazer a discussão para a sala de aula. Primeiramente, buscar entender os fatos na sua totalidade, de forma mais ampla e mais profunda, como somente um conjunto de diferentes conhecimentos de várias áreas permitiria; analisá-los, criticamente, tendo como referência o momento histórico em que vivemos; refletir sobre a informação que está sendo veiculada pelas diferentes emissoras sobre esses episódios; e promover debates entre turmas e com a comunidade. De um mural ou um jornal à produção de uma fita de vídeo pelos próprios alunos, todas as estratégias que permitissem transformar as informações fragmentadas transmitidas pela TV em conhecimento, seriam instrumentos relevantes para formar cidadãos que usem a tecnologia para diminuir a distância entre o homem-cidadão e o homem desrespeitado na sua condição humana (BACCEGA,1998).

6 As possibilidades de uso da TV, como você pode ver, são muitas. Os limites também. No processo de análise crítica dos meios, professores e alunos podem construir juntos referenciais de observação da programação que a TV veicula, bem como o roteiro para conhecimento de como se dão a produção e a recepção de TV, o que certamente vai integrar todas as áreas do Ensino Médio. Você, professor, já perguntou a seus alunos que programas eles assistem? Já teve a oportunidade de analisar criticamente com eles algum programa veiculado pela TV? Também já pensou quantos conhecimentos diferentes são necessários para que se possa, de forma crítica, desvelar este meio de comunicação? Para lembrar sempre: a TV não substitui o trabalho do professor. Pelo contrário, confere a ele um papel da maior importância enquanto aquele que é capaz, pelo conhecimento prévio que dispõe, de criar as condições para que a informação veiculada possa se transformar, pelo exercício da crítica, em conhecimento construído pelo grupo; e toda produção está situada num determinado contexto e tem intenções que devem ser analisadas criticamente. A TV ESCOLA: um recurso pedagógico para o aperfeiçoamento do professor e apoio ao processo de ensino-aprendizagem. Os programas da TV Escola, agora com uma programação dirigida ao público do Ensino Médio, além de se constituir em importante auxiliar na autoformação do professor pode ser uma ferramenta valiosa para o processo educativo. Nas segundas, terças e quartas-feiras são veiculados os programas da série Como Fazer? Nas quintas-feiras é a vez do Programa Legal e às sextas-feiras tem o programa Acervo. Cada programa da série Como Fazer? se constitui de um documentário seguido de comentários de professores de diferentes áreas sobre possibilidades de trabalhar o tema em sala de aula. São, assim, indicados alguns conceitos que podem ser trabalhados, assim como as competências a serem desenvolvidas e a interface com outras disciplinas. Por

7 último, são sugeridas atividades e outras leituras para aperfeiçoar o seu trabalho. Todas estas sugestões são enviadas a você, professor, para subsidiar a sua ação pedagógica. O Ensino Legal, em formato de documentário, com experiências e debates sobre a reforma do ensino médio, é destinado a equipes centrais e intermediárias da Secretaria Estadual de Educação, diretores, coordenadores, professores, supervisores, orientadores, alunos, pais e comunidade em geral. Os programas desta série trazem muitos subsídios para auxiliar você, professor, e todos os demais participantes da comunidade escolar e extra-escolar, para uma melhor compreensão acerca das Diretrizes e Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio. O Acervo é sempre um grande documentário, com cerca de 1 (uma) hora de duração, antecedido de pequenos comentários de professores sobre o seu conteúdo. Os programas desta série também são acompanhados de material impresso, com sugestões de conceitos a serem explorados, competências a serem desenvolvidas, interface com outras disciplinas e atividades. Professor, você já teve a oportunidade de assistir a algum desses programas? Já utilizou-os em sala de sala? Com que objetivo? Envie para a Coordenação-Geral do Ensino Médio as suas sugestões sobre o formato/conteúdo dos programas, assim como experiências desenvolvidas em sala de aula. O endereço é: Esplanada dos Ministérios, Bloco L, 4 o andar, sala 421. Cep: 70047-900 Brasília-DF. O e-mail: ensinomedio@semtec.mec.gov.br Trabalhando com os programas da TV Escola: algumas sugestões. Vídeos e outras tecnologias, como você sabe, não substituem o trabalho do professor. Portanto, tenha em mente as finalidades do Ensino Médio, as competências a serem constituídas na sua área de atuação e, especialmente, o compromisso com o projeto pedagógico de sua escola. Tendo esta clareza, o primeiro passo é: conhecer o que existe na escola, ou seja, quais os programas que foram gravados - duração, título, conteúdo, áreas que podem ser trabalhadas. O próprio responsável e/ou a equipe coordenadora deste projeto na escola

8 podem lhe oferecer estas informações. Além disso, a Revista TV Escola e a Grade de Programação trazem todas as informações sobre os programas veiculados. A partir disso, selecionar, assistir e escolher os programas mais diretamente relacionados às competências da sua área ou disciplina e que possam ser utilizados no mês ou bimestre, de acordo com o seu planejamento, ou projetos/ações que a escola esteja desenvolvendo. Ao escolher um programa, construa também o seu próprio roteiro, procurando identificar os conteúdos e as possibilidades de uso em sala de aula. Considere também, para essa escolha, o melhor momento de utilizá-lo, a sua pertinência para o momento de cada grupo, suas possibilidades de ajudar o grupo na perspectiva da contextualização daquele tema. Se isso for feito de forma coletiva, tanto melhor. Procure aliados, outros professores da sua disciplina e, de preferência de outras disciplinas e de outras áreas, para assistirem, com você, estes programas, e fazerem um planejamento integrado da sua utilização. Você já imaginou se cada professor fizer a exibição do mesmo vídeo para os seus alunos, procurando cada um destacar apenas o que se refere ao conteúdo da sua disciplina? Não seria mais produtivo discutir as possibilidades de trabalho em conjunto, programar seções coletivas de professores para estudo, reflexão, debate e, a partir daí, trabalhar interdisciplinarmente os conteúdos de diferentes disciplinas? E essa discussão pode enriquecer o trabalho da equipe de professores, especialmente se puderem discutir as sugestões dos colegas, apresentadas nos vídeos do Como fazer?, sua propriedade em função do projeto e das condições da escola e, principalmente, se for possível, pensar em outras possibilidades que permitam assegurar que os objetivos do Ensino Médio possam envolver tanto o desenvolvimento de conhecimentos práticos, como os mais abstratos e amplos, em todas as áreas. É bom lembrar que as sugestões apresentadas em cada programa Como fazer? não se constituem como receitas a serem seguida necessariamente por todos. São idéias de quem faz, assim como você, o Ensino Médio. São, portanto, experiências de outros professores, cuja vivência na área pode servir de estímulo para que você também possa pensar em outras possibilidades. Por isso, a eventual dificuldade de realização de uma determinada sugestão, pelas dificuldades do cotidiano escolar, não a desmerece enquanto proposta. Pelo contrário, desafia a que se busquem outras possibilidades e, principalmente, melhores condições para o trabalho junto aos alunos do Ensino Médio.

9 Os documentários do Como fazer? também podem ser utilizados no todo ou em parte com os alunos, tanto para motivar o grupo para um tema, ampliar e/ou aprofundar os conhecimentos ou, ainda, sistematizar alguns conhecimentos já trabalhados em sala de aula. A decisão sobre a melhor forma de usá-lo depende de você, professor, e de cada grupo. Nessa decisão, considere o poder didático que a imagem pode oferecer. Ao final de cada exibição, ou durante, se você optar pelas pausas, não esqueça de buscar relacionar com os alunos as situações apresentadas com a experiência do grupo, tanto no que se relaciona como no que se difere, trazendo a discussão para o seu contexto, para o nosso tempo e espaço, para que ela ganhe corpo e significado. A série Acervo, que traz grandes documentários sobre assuntos os mais variados possíveis, pode ser utilizada para provocar o debate sobre algum tema, para iniciar o estudo de alguns conceitos, para sistematizar um conteúdo estudado ou mesmo para desenvolver projetos interdisciplinares. A Revista TV Escola traz algumas dicas para o professor trabalhar os documentários, como por exemplo, o programa DESCOBRIR (Revista n o 17, out/nov/2000), que é um documentário da série Lendas da Ciência, que analisa algumas questões fundamentais da aventura científica, do ponto de vista da História, da Geografia e da Filosofia da Ciência. Veja as sugestões apresentadas: Este programa pode favorecer o desenvolvimento de um projeto interdisciplinar, um dos eixos da reforma do ensino médio, trabalhando conteúdos de História, Geografia, Matemática, Física, Química, Biologia e Filosofia, através dos seguintes temas: história dos descobrimentos, astronomia, cartografia, geometria, mecânica, anatomia, microbiologia, teoria do conhecimento e linguagens. É, também, uma boa oportunidade de usar o vídeo para ajudar os alunos a entenderem melhor uma série de conceitos, teorias, e contextualizá-los - outro eixo da reforma do ensino médio. O documentário pode ser começo, meio ou fim de atividades que você esteja desenvolvendo ou venha a desenvolver, ampliadas e aprofundadas por algumas questões do tipo: inventor científico é um descobridor? é alguém que vê pela primeira vez uma coisa que já existe?

10 ou a descoberta é uma criação total de algo que não existia? o que é descobrir, o que é inventar? o que é a verdade científica? Como atividade, você pode propor aos alunos uma análise de diversas formas de representação encontradas no cotidiano, como fotos, infográficos e textos de jornais; textos de livros didáticos ou de livros de ficção; guia das cidades e do país; programas de computadores; exames de laboratório; diagnósticos médicos e psicológicos, além de documentários como este. Algumas idéias para explorar melhor os programas: Primeiro, veja o programa sozinho ou com colegas da mesma área ou de outras disciplinas, procurando anotar o que considera importante comentar depois com seus alunos. Discuta com os outros professores as possibilidades de explorar o documentário de forma conjunta e, se for o caso, todos devem participar do planejamento para sua utilização, destacando os conceitos que serão trabalhados, as competências a serem desenvolvidas, as atividades que serão realizadas, a duração, o período, etc. Antes de exibir o vídeo ou parte dele para os alunos, informe-os quanto ao trabalho que será desenvolvido, ou seja, o objetivo e as atividades que serão realizadas após a sua exibição. Desperte o interesse dos alunos, motive-os para verem o programa. A exibição e a discussão devem ocupar o mesmo tempo da aula ou das aulas. Não é muito produtivo exibir o programa numa aula e somente 2 ou 3 dias depois discutir o assunto. Você pode exibir o programa fazendo paradas para reflexões e debates, em vez de exibi-lo na sua totalidade para somente depois iniciar a discussão. No caso de optar pela discussão a medida em que o vídeo for sendo exibido, lembre-se de fazer um roteiro com questões para conduzir o debate.

11 Você, com certeza, tem outras idéias e/ou experiências de trabalho com programas de vídeos como estes da TV Escola e outros programas. Registre sua maneira de trabalhar com eles e troque idéias com seus colegas professores. Envie sua experiência para a SEMTEC para que possa ser divulgada e servir de subsídios a professores de outras escolas. Bibliografia MEC/SEMTEC. Parâmetros Curriculares Nacionais: ensino médio. Brasília, 1999. MEC/SEED. Revista TV Escola, n o 17, out/nov/1999 e n o 18, mar/abr/2000. SILVA, Maria Beatriz Gomes. O poder da Imagem. In: A TV e a Violência.[online] http://www.hcpa.ufrgs.br/psiq/vio_imag.html BACCEGA, Maria Aparecida. Comunicação & Educação do Mundo Editado à Construção do Mundo: uma proposta de trabalho interdisciplinar. [online]http://www.eca.usp.br/nucleos/nce/pdf/congress_textos.html