A EDUCAÇÃO PARA OS VALORES COMO UM CAMINHO PARA UMA SOCIEDADE INCLUSIVA: um estudo com professores. Sandra Rosa Baldin 1 Almir Souza Vieira Junior 2



Documentos relacionados
INCLUSÃO ESCOLAR: UTOPIA OU REALIDADE? UMA CONTRIBUIÇÃO PARA A APRENDIZAGEM

PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO: ELABORAÇÃO E UTILIZAÇÃO DE PROJETOS PEDAGÓGICOS NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM

Profª. Maria Ivone Grilo

Formação e Gestão em Processos Educativos. Josiane da Silveira dos Santos 1 Ricardo Luiz de Bittencourt 2

Prefeitura Municipal de Santos

A PRÁTICA PEDAGÓGICA DO PROFESSOR DE PEDAGOGIA DA FESURV - UNIVERSIDADE DE RIO VERDE

SIGNIFICADOS ATRIBUÍDOS ÀS AÇÕES DE FORMAÇÃO CONTINUADA DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DO RECIFE/PE

5 Considerações finais

Dispõe sobre o atendimento educacional especializado aos alunos identificados com altas habilidades ou superdotados no âmbito do Município de Manaus.

Projeto Educativo de Creche e Jardim de Infância

A Sustentabilidade e a Inovação na formação dos Engenheiros Brasileiros. Prof.Dr. Marco Antônio Dias CEETEPS

Iniciando nossa conversa

11 a 14 de dezembro de 2012 Campus de Palmas

ADAPTAÇÕES NECESSÁRIAS PARA O ALUNO SURDOCEGO ADQUIRIDO NA ESCOLA DE ENSINO REGULAR

O PROCESSO DE INCLUSÃO DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA VISUAL: UM ESTUDO DE METODOLOGIAS FACILITADORAS PARA O PROCESSO DE ENSINO DE QUÍMICA

A INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS NUMA ESCOLA PÚBLICA DO MUNICÍPIO DE GUARAPUAVA: DA TEORIA À PRÁTICA

A DANÇA E O DEFICIENTE INTELECTUAL (D.I): UMA PRÁTICA PEDAGÓGICA À INCLUSÃO

PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: COMPROMISSOS E DESAFIOS

OS SABERES PROFISSIONAIS PARA O USO DE RECURSOS TECNOLÓGICOS NA ESCOLA

Mudança gera transformação? Mudar equivale a transformar?

FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES 1

O COORDENADOR PEDAGÓGICO COMO MEDIADOR DE NOVOS CONHECIMENTOS 1

Pedagogia das Diferenças: Um Olhar sobre a Inclusão

PIBID: DESCOBRINDO METODOLOGIAS DE ENSINO E RECURSOS DIDÁTICOS QUE PODEM FACILITAR O ENSINO DA MATEMÁTICA

TEXTO PRODUZIDO PELA GERÊNCIA DE ENSINO FUNDAMENTAL COMO CONTRIBUIÇÃO PARA O DEBATE

Necessidade e construção de uma Base Nacional Comum

FACULDADE ASTORGA FAAST REGULAMENTO ESTÁGIOS SUPERVISIONADOS LICENCIATURA EM PEDAGOGIA

RESUMO. Autora: Juliana da Cruz Guilherme Coautor: Prof. Dr. Saulo Cesar Paulino e Silva COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA

O COORDENADOR PEDAGÓGICO COMO FORMADOR: TRÊS ASPECTOS PARA CONSIDERAR

EDUCAÇÃO INFANTIL E ENSINO FUNDAMENTAL: PRÁTICAS INCLUSIVAS E ARTICULADORAS NA CONTINUIDADE DO ENSINO EM MEIO AO TRABALHO COLABORATIVO

PEDAGOGO E A PROFISSÃO DO MOMENTO

REGULAMENTO ESTÁGIO SUPERVISIONADO CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA FACULDADE DE APUCARANA FAP

A UTILIZAÇÃO DE RECURSOS VISUAIS COMO ESTRATÉGIA PEDAGÓGICA NO PROCESSO DE ENSINO - APRENDIZAGEM DE ALUNOS SURDOS.

O PROCESSO DE INCLUSÃO DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIAS NO MUNICÍPIO DE TRÊS LAGOAS, ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL: ANÁLISES E PERSPECTIVAS

MATERIAL E MÉTODOS RESULTADOS E DISCUSSÃO

Curso: Diagnóstico Comunitário Participativo.

TEXTO RETIRADO DO REGIMENTO INTERNO DA ESCOLA APAE DE PASSOS:

A INCLUSÃO DOS PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS EDUCATIVAS NAS SÉRIES INICIAIS SOB A VISÃO DO PROFESSOR.

I SEMINÁRIO POLÍTICAS PÚBLICAS E AÇÕES AFIRMATIVAS Universidade Federal de Santa Maria Observatório de Ações Afirmativas 20 a 21 de outubro de 2015

PROJETO DE LEI DO SENADO Nº, DE 2009 (de autoria do Senador Pedro Simon)

CLASSE ESPECIAL: UMA ALTERNATIVA OU UM ESPAÇO REAL DE INCLUSÃO?

O LÚDICO COMO INSTRUMENTO TRANSFORMADOR NO ENSINO DE CIÊNCIAS PARA OS ALUNOS DA EDUCAÇÃO BÁSICA.

ANÁLISE DOS PROFESSORES DE MATEMÁTICA DE XINGUARA, PARÁ SOBRE O ENSINO DE FRAÇÕES

A RESPONSABILIDADE SOCIAL UNIVERSITÁRIA NAS INSTITUIÇÕES DA MACRORREGIÃO DE CAMPINAS. ZANARDI, Gisele. 1,1

ATENA CURSOS EMÍLIA GRANDO COMPREENDENDO O FUNCIONAMENTO DO AEE NAS ESCOLAS. Passo Fundo

O PSICÓLOGO (A) E A INSTITUIÇÃO ESCOLAR ¹ RESUMO

JOGOS MATEMÁTICOS: EXPERIÊNCIAS COMPARTILHADAS

Pedagogia Estácio FAMAP

A REGULAMENTAÇÃO DA EAD E O REFLEXO NA OFERTA DE CURSOS PARA FORMAÇÃO DE PROFESSORES

Organização Curricular e o ensino do currículo: um processo consensuado

ENSINO DE BIOLOGIA E O CURRÍCULO OFICIAL DO ESTADO DE SÃO PAULO: UMA REFLEXÃO INICIAL.

OLIMPIADAS DE MATEMÁTICA E O DESPERTAR PELO PRAZER DE ESTUDAR MATEMÁTICA

AS CONTRIBUIÇÕES DAS VÍDEO AULAS NA FORMAÇÃO DO EDUCANDO.

A NECESSIDADE DA PESQUISA DO DOCENTE PARA UMA PRÁTICA PEDAGÓGICA INCLUSIVA, PRINCIPALMENTE NA EDUCAÇÃO ESPECIAL E NO TRABALHO COM AUTISTAS

SÍNDROME DE DOWN E A INCLUSÃO SOCIAL NA ESCOLA

ERRADICAR O ANALFABETISMO FUNCIONAL PARA ACABAR COM A EXTREMA POBREZA E A FOME.

Universidade Pública na Formação de Professores: ensino, pesquisa e extensão. São Carlos, 23 e 24 de outubro de ISBN:

AUTO-AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL: instrumento norteador efetivo de investimentos da IES

PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA -PIBID-FAAT

JOGOS ELETRÔNICOS CONTRIBUINDO NO ENSINO APRENDIZAGEM DE CONCEITOS MATEMÁTICOS NAS SÉRIES INICIAIS

PRINCIPAIS DIFICULDADES ENFRENTADAS PELOS PROFESSORES DE QUÍMICA DO CEIPEV. E CONTRIBUIÇÃO DO PIBID PARA SUPERÁ-LAS.

A INFORMÁTICA E O ENSINO DA MATEMÁTICA

Paulo Freire. A escola é

Carla de Carvalho Macedo Silva (CMPDI UFF)

Informações gerais Colégio Decisão

Curso de Formação de Conselheiros em Direitos Humanos Abril Julho/2006

A escola para todos: uma reflexão necessária

JANGADA IESC ATENA CURSOS

CURSO: EDUCAR PARA TRANSFORMAR. Fundação Carmelitana Mário Palmério Faculdade de Ciências Humanas e Sociais

CAPÍTULO I INTRODUÇÃO

DOENÇAS VIRAIS: UM DIÁLOGO SOBRE A AIDS NO PROEJA

EDUCAÇÃO INCLUSIVA: UM ATO DE AMOR E AFETIVIDADE

Princípios da educação inclusiva. Profa Me Luciana Andrade Rodrigues

MÍDIAS NA EDUCAÇÃO Introdução Mídias na educação

Breve histórico da profissão de tradutor e intérprete de Libras-Português

ISSN PROJETO LUDICIDADE NA ESCOLA DA INFÂNCIA

Relato de experiência sobre uma formação continuada para nutricionistas da Rede Estadual de Ensino de Pernambuco

ACESSIBILIDADE E FORMAÇÃO DE PROFESSORES: EXPERIÊNCIA COM UM ALUNO CEGO DO CURSO DE GEOGRAFIA, A DISTÂNCIA

LICENCIATURA EM MATEMÁTICA. IFSP Campus São Paulo AS ATIVIDADES ACADÊMICO-CIENTÍFICO-CULTURAIS

CÓDIGO DE ÉTICA AGÊNCIA DE FOMENTO DE GOIÁS S/A GOIÁSFOMENTO

OS DESAFIOS DA POLÍTICA DE EDUCAÇÃO NO SÉCULO XXI

A QUESTÃO ÉTNICO-RACIAL NA ESCOLA: REFLEXÕES A PARTIR DA LEITURA DOCENTE

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NUMA ESCOLA DO CAMPO

Cliente Empreendedorismo Metodologia e Gestão Lucro Respeito Ética Responsabilidade com a Comunidade e Meio Ambiente

PROJETOS DE ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA: DO PLANEJAMENTO À AÇÃO.

Projeto Educativo do Brasil Marista

OS SENTIDOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NA CONTEMPORANEIDADE Amanda Sampaio França

DESENVOLVIMENTO INTEGRAL NA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR

FORMAÇÃO CONTINUADA DO PROFESSOR DO ENSINO FUNDAMENTAL I PARA USO DAS TECNOLOGIAS: análise dos cursos EaD e da prática docente

SALAS TEMÁTICAS: ESPAÇOS DE EXPERIÊNCIAS E APRENDIZAGEM. Palavras Chave: salas temáticas; espaços; aprendizagem; experiência.

PROJETO DE LEI N O, DE 2004

A INCLUSÃO DOS DIREITOS HUMANOS NAS TURMAS DO EJA POR MEIO DAS NOVAS TECNOLOGIAS

CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO RESOLUÇÃO CNE/CP 1, DE 18 DE FEVEREIRO DE 2002 (*)

AS INQUIETAÇÕES OCASIONADAS NA ALFABETIZAÇÃO DE CRIANÇAS COM SÍNDROME DE DOWN NA REDE REGULAR DE ENSINO

SIMPÓSIO SOBRE ESCOLA EM TEMPO INTEGRAL NO MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO PAUTA

PERFIL DA INICIAÇÃO CIENTÍFICA JÚNIOR (ICJ) NAS INSTITUIÇÕES PARTICULARES DE ENSINO DE CAMBORIÚ

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL INSTITUTO DE MATEMÁTICA DEPARTAMENTO DE MATEMÁTICA PURA E APLICADA

Transcrição:

A EDUCAÇÃO PARA OS VALORES COMO UM CAMINHO PARA UMA SOCIEDADE INCLUSIVA: um estudo com professores. Sandra Rosa Baldin 1 Almir Souza Vieira Junior 2 RESUMO O presente estudo objetiva investigar se os professores de uma escola pública da Cidade de São Cristóvão contemplam em suas aulas o ensino para os valores humanos. Para isso, discorreu-se sobre o conceito de inclusão social, bem como sobre valores e educação para os valores. Como método utilizou-se a pesquisa bibliográfica para conceituação e pesquisa de campo para coleta de dados. Foi aplicado um questionário a dez professores. Analisados os dados foi possível perceber que os entrevistados possuem conhecimento acerca dos valores humanos e estão fazendo uso dos mesmos nas suas aulas. Palavras Chave: Educação para os Valores. Inclusão Social. Escola. Professor. ABSTRACT THE EDUCATION FOR THE VALUES AS A WAY FOR A INCLUSIVE SOCIETY: a study with teachres. The present study aims to investigate if the teachers of a public school from São Cristóvão include in their classes the education for the human values. To do this, it was talked about the concepto of social inclusion as well as about values and education for the values. Themethod used the concept to literature and field research to collect data. It were interviewed ten teachers from a questionnaire. Analyzed the data it was observed that the respondents have knowledge of human values and are making use of them in their lessons. Key words: Education for the values. Social Inclusion. School. Teacher. 1 Professora da Faculdade José Augusto Vieira - FJAV. e-mail: sandrarosabaldin@yahoo.com.br 2 Coordenador e Professor do curso de Geografia da FJAV. e-mail: almirsvjr@yahoo.com.br

INTRODUÇÃO A escola do século XXI está marcada por um grande desafio, o da inclusão em seu cotidiano de todas as pessoas, independente de suas condições físicas, intelectuais, sensoriais, emocionais, origem cultural, cor ou língua. A inclusão de todos é garantida pela legislação vigente, sendo assim, às escolas passaram a ter que aceitar e reconhecer todas essas pessoas, para que isso ocorra é necessário que a escola mude suas práticas educativas, o que vem se configurando em um grande desafio para essas instituições e professores. Stainback & Stainback (1999) e Sassaki (1997) são alguns dos autores que vem discutindo e apresentando experiências positivas a respeito da inclusão nas escolas, fornecendo assim, ferramentas necessárias para as práticas escolares. A educação para os valores é divulgada a partir de autores como Porto e Tamayo (2007), Menin (2002), Valente (1989) e pela UNESCO, mostrando que se faz necessário à escola abordar no seu currículo urgentemente o ensino dos valores. A aproximação da escola com as realidades dos alunos é urgente. É através desta prática que os alunos vão se autoconhecer, consequentemente conhecer e respeitar o outro. O professor possui um papel fundamental nesta relação, pois é ele quem está no cotidiano diretamente com o aluno. Possui a função de despertar o interesse sendo o responsável pela sua aprendizagem. Diante do exposto levantam-se os seguintes questionamentos: Os professores utilizam em suas aulas o ensino a partir dos valores humanos? Quais são os valores mais citados? Possuem conhecimento do que seja a inclusão? Acreditam que o ensino a partir dos valores contribui para a inclusão social? Partindo desses questionamentos esta pesquisa objetivou verificar se os professores de uma escola pública da cidade de São Cristóvão, estado de Sergipe, contemplam em suas aulas o ensino para os valores humanos, que valores são mais elencados. Se obtêm o conhecimento do que seja inclusão social. E se acreditam que os valores auxiliam na inclusão social. Para realização da presente pesquisa utilizou-se a pesquisa bibliográfica no que diz respeito as apresentação dos conceitos de educação para os valores, valores humanos e inclusão social e a pesquisa de campo do tipo levantamento para coleta dos dados. A partir de um trabalho de campo foram coletadas as informações necessárias para a discussão proposta nos objetivos.

Os participantes da pesquisa foram dez professores do ensino médio de uma escola pública localizada na cidade de São Cristóvão. Neste nível de ensino a escola conta em seu quadro com cinquenta professores. Para este estudo foram selecionados 20% dos docentes. Foi utilizado um questionário contendo cinco questões abertas. As questões foram elaboradas pelos pesquisadores, tendo em vista a problemática de pesquisa. INCLUSÃO SOCIAL NA ESCOLA E A DIVERSIDADE HUMANA A década de 1990 é marcada pelo movimento que reconhece a diversidade e o multiculturalismo como essência humana e começa a tomar forma e ganhar força na Europa em decorrência das mudanças geopolíticas ocorridas nos últimos 40 anos. Uma das consequências foi em 1990 o Congresso de Educação para Todos, realizado em Jotiem, na Tailândia, que teve como propósito a Erradicação do analfabetismo e a universalização do ensino fundamental tornaram-se objetivos e compromissos oficiais do poder público, perante a comunidade internacional (EFA, 2000, p.2). Nascia assim, um movimento de inclusão mundial. Desse compromisso, foi natural que profissionais se mobilizassem a fim de promover o objetivo da Educação para Todos, examinando as mudanças fundamentais de políticas necessárias para desenvolver a abordagem da Educação Inclusiva, nomeadamente, capacitando as escolas para atender todas as crianças, sobretudo as que têm necessidades educativas especiais (UNESCO, 2003, p.5). A Educação inclusiva é caracterizada como uma política social que se refere a alunos com necessidades educacionais especiais, tomando-se o conceito mais amplo, que é o da Declaração de Salamanca, UNESCO (2003, p.17-18): O princípio fundamental desta linha de ação é de que as escolas devem acolher todas as crianças, independentemente de suas condições, físicas, intelectuais, emocionais, linguística e outras. Devem acolher crianças com deficiência ou bem dotadas, crianças que vivem nas ruas e que trabalham, crianças de populações distantes ou nômades, crianças de minorias lingüísticas étnicas ou culturais e crianças de outros grupos ou zonas desfavorecidas ou marginalizadas. Para Stainback & Stainback (1999, p.21) O ensino inclusivo é a prática da inclusão de todos independentemente de seu talento, deficiência, origem socioeconômica ou origem cultural em escolas e salas de aula provedoras, onde todas as necessidades dos

alunos são satisfeitas. Por sua vez Sassaki (1997) define inclusão social como um processo mútuo de adaptação entre a sociedade e as pessoas que possuem alguma necessidade, desta forma todas as pessoas terão oportunidades igualitárias, assim a sociedade será verdadeiramente para todos. Ao falar em inclusão não se pode deixar de falar na diversidade cultural e no multiculturalismo que está presente nas escolas. A diversidade humana deve ser urgentemente discutida no âmbito escolar. Entende-se por diversidade cultural o discurso da UNESCO: A diversidade cultural se manifesta não apenas nas variadas formas pelas quais se expressa, se enriquece e se transmite o patrimônio cultural da humanidade mediante a variedade das expressões culturais, mas também através dos diversos modos de criação, de produção, difusão, distribuição e fruição das expressões culturais, quais quer que sejam os meios e tecnologias empregadas (UNESCO, 2005, p.4). Partindo da premissa que a sociedade é formada pela diversidade humana e que a escola é um contexto social, deve contemplar no seu espaço a diversidade. A escola deve refletir a sociedade, pois é dentro dela que se dá grande parte da aprendizagem. Assim, a escola passa a formar cidadãos comprometidos com uma sociedade mais justa e igualitária. A EDUCAÇÃO PARA OS VALORES NA ESCOLA Para Porto e Tamayo (2007, apud Schwartz e Bilsky, 1987) valores podem assim ser definidos: a) princípios ou crenças; b) sobre comportamentos ou estados de existência; c) que transcendem situações específicas; d) que guiam a seleção ou avaliação de comportamentos ou eventos; e) que são ordenados por sua importância. E ainda, os valores são: Representações cognitivas de três tipos de necessidades humanas universais: necessidade biológica do organismo, necessidade de interação social para a regulação das relações interpessoais e necessidades sóciointeracionistas, que visam o bem-estar e sobrevivência do grupo (SCHWARTZ E BILSKY, 1987, p.551 apud PORTO E TAMAYO, 2007, p.64 ). Menin (2002, apud Cabanas, 1996) apresenta que algumas posições filosóficas definem valores como critérios últimos de definição de metas ou fins para a ação humana

e não necessitam de explicações maiores além deles mesmos para assim existirem. Sendo assim, valores guiam os comportamentos e atitudes das pessoas de acordo com o meio em que nasceu ou vive. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996) aborda em seu artigo 2º a ideia de que a educação e os valores se fazem presentes neste documento, quando diz que a educação é dever da família e do Estado. A Lei é inspirada na solidariedade humana e nos princípios de liberdade, enseja o desenvolvimento pleno do aluno e seu preparo para a vida em sociedade e para o mercado de trabalho. O artigo 3º (inciso II) faz menção ao ensino de valores como a liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber. Já no inciso III contempla a pluralidade de ideias e de concepções pedagógicas. No artigo 27 menciona a educação para os valores, seguem as seguintes diretrizes: a difusão de valores fundamentais ao interesse social, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem comum e a ordem democrática (inciso I). Observa-se também que o ensino dos valores deve iniciar na educação infantil e permear todos os níveis de educação. Morin (2001) em sua obra - Os sete saberes necessários à educação do futuro apresenta no capítulo número VII o saber A ética do gênero humano que: A educação deve conduzir à antropo-ética, levando em conta o caráter ternário da condição humana, que é ser ao mesmo tempo indivíduo/sociedade/espécie. Nesse sentido, a ética indivíduo/espécie necessita do controle mútuo da sociedade pelo indivíduo e do indivíduo pela sociedade, ou seja, a democracia; a ética indivíduo/espécie convoca, ao século XXI, a cidadania terrestre (MORIN, 2001, p.17). Às bases das competências do futuro estão ligadas a uma educação que transmita mais saberes e o saber-fazer. Delors (1992, p.77) À educação cabe fornecer, dalgum modo, a cartografia dum mundo complexo e constantemente agitado, e ao mesmo tempo, a bússola que permita navegar através dele. Quatro são as aprendizagens fundamentais, denominadas os quatro pilares da educação, Delors (1992): a) aprender a conhecer; b) aprender a fazer; c) aprender a viver juntos; d) aprender a ser. Tanto o professor em sala de aula como a escola, nas suas atitudes e regras, nos trabalhos e pesquisas que são solicitados aos alunos, no que não são, ensinam valores. Através da estrutura e do funcionamento como um todo da escola, esta privilegia valores

próprios. Como exemplifica Valente: A educação para os valores realiza-se em todos os momentos, permeia o currículum e também todas as interacções interpessoais na escola e as relações desta com a família e a sociedade. Manifesta-se nas reuniões, na sala de aula, na definição dos capazes e incapazes, na maneira como são definidas as minorias, pobres ou ricos, frágeis ou bem constituídos (...) (VALENTE, 1989, p.1). A mesma autora apresenta dois questionamentos importantes no que diz respeito ao ensino de valores na escola: a) Não será que os professores podem ajudar a desenvolver o juízo moral dos jovens, mesmo sem instituírem numa posição particular? b) Não será então de admitir que a escola se ocupe da educação moral dos jovens? E problematiza as questões: O difícil é saber se a sociedade está disposta a envolver-se nesta ação de ajudar os alunos, definindo-a como tarefa do educador, se sim, como fazer? (VALENTE, 1989, p.2) As relações interpessoais iniciam-se na família, mas a escola constitui-se em um importante espaço para reflexão destas aprendizagens. Tais relações implicam em descobrir em conjunto as alegrias de viver, amar e ser amado, nas semelhanças e diferenças. É um autoconhecimento e a descoberta do outro, das diversas identidades. Esta relação bem sucedida fará com que os alunos adotem atitudes de relações com os outros de qualidade (VALENTE, 1989). De acordo com Marques (1992) para Kohlberg o professor tem papel central na construção da aprendizagem do aluno, agindo como um interventor. Ser um agente provocador, auxiliar os alunos a pensar sobre os valores, esse é o objetivo que deve orientar o trabalho do professor. Marques (1992) apresenta seis pontos chaves que o professor, enquanto educador moral deve perseguir: 1) criar conflitos cognitivos; 2) estimular o desempenho de papéis; 3) criar uma atmosfera democrática na sala de aula; 4) facilitar a aprendizagem; 5) participar como membro de uma equipa pedagógica; 6) moderar seminários de discussões. A partir de problemas provocar desequilíbrios, através de situações nem muito fáceis, nem muito difíceis. A partir de conflitos cognitivos estimular o diálogo através de discussões orientadas, tendo em vista que o professor encontra-se, na maioria das vezes, em um nível convencional do desenvolvimento moral acima dos alunos.

RESULTADOS 1 Questão direcionada a dados pessoais dos investigados. Quanto à faixa etária dos professores 50% têm entre 25 e 29 anos, 37,5% entre 30 e 34 anos, 12,5% entre 35 e 39 anos. A respeito da formação acadêmica três são formados em História, dois em Geografia, um em Biologia, dois em Letras/Inglês, um em Matemática e um em Educação Física. Quanto ao tempo de atuação dos professores no ensino verifica-se que a maior parte deles atua na profissão entre 3 (três) e 6 (seis) anos:

2 Quando questionados sobre os principais valores humanos foram apresentados os seguintes: De acordo com o gráfico verifica-se que os valores, ética e responsabilidade são os mais citados pelos professores. Em segundo lugar vêm cidadania, educação, amizade e tolerância e honestidade, depois vem sinceridade, respeito, lealdade, solidariedade e amor, e por último citados somente uma vez aparecem urbanidade e companheirismo. 3 Quando perguntado sobre se a orientação dos valores era de responsabilidade somente da família responderam: Do total dos professores investigados 90% respondeu que a responsabilidade não é só da família.

3.1 Ao serem questionados, por quê? Responderam: P 1. A escola pode e deve ser um agente na orientação de valores, especialmente a cidadania (direitos e deveres). P 2. Pois as crianças atualmente passam mais tempo em ambientes diversos (escola, academias e cursinhos). P 3. Os valores inicialmente são transmitidos no sei familiar, posteriormente ele é dividido com a escola que se encarrega de dar continuidade à transmissão de valores. P 4. A família é o primeiro núcleo de referência de um indivíduo. Valores são adquiridos em todas as esferas da vida. No entanto depende muito do indivíduo. P 5. A orientação dos valores não é só de responsabilidade da família, mas também a escola, pois são ambientes em que passamos a maior parte de nossas vidas. P 6. A família é a unidade primária de qualquer sociedade humana, cabe sim a ela a Sociedade primária. P 7. Certamente a escola tem sua parcela de responsabilidade. P 7. Inicia na família e a escola deve continuar o processo de educação. P 8. Deve ser um processo compartilhado por escola e família, cada uma com sua parcela de responsabilidade. P 9. Não respondeu. P 10. É responsabilidade da escola também. De acordo com os dados citados pelos professores é possível constatar que os professores, tem plena consciência de seu papel na escola. Somente um entrevistado discorda, dizendo que a responsabilidade é somente da família. 4 Quando questionados se em suas aulas são passados valores: Todos os professores responderam que sim, nas aulas são passados valores.

5 Quando perguntado o que você entende por Inclusão Social responderam: P 1 P 2 P 3 P 4 P 5 P 6 P 7 P 8 P 9 P 10 Inserir todos dentro de um mesmo processo. Começa por saber respeitar as diferenças entre as pessoas e incluir o diferente Incluir todos na escola É a introdução dos excluídos no meio social Todos têm acesso às mesmas oportunidades em uma sociedade justa, onde há inclusão social. Acesso pleno a cidadania (acesso e direitos). Ex.: Acesso a bens culturais. Respeito às diferenças no ambiente escolar Incluir todos na sociedade. Não discriminar nenhuma pessoa. Inclusão de todos na sociedade e na escola. Ao analisar as respostas é possível verificar que os professores possuem um conhecimento geral do que seja inclusão. Em nenhum momento fizeram menção a quem poderiam ser estas pessoas. Só falaram em pessoas que estão excluídas da sociedade e alguns citaram a escola. 6 Quando perguntado se o ensino dos valores contribui no processo de inclusão: Dos entrevistados 100% responderam que sim, o ensino de valores contribui para a inclusão nas escolas.

6.1 Quando questionados por quê? Responderam: P 1 P 2 P 3 P 4 P 5 P 6 P 7 P 8 P 9 P 10 Pois visa diminuir o preconceito, e permite que os alunos fiquem conscientes dos direitos. Pois orientam para uma vida social e não individual apenas, garantindo o direito mútuo e não somente particular. Pois além da família ser o principal agente deste processo a mídia hoje vem distorcendo esses valores. Os valores ensinam a respeitar as diferenças. Durante a transmissão de valores em âmbito escolar é ensinado respeito ao próximo e as diferenças do outro, o que contribui no processo de inclusão social. Não respondeu. Porque ensina respeitar os outros. Diminui os preconceitos trazidos de casa. Não respondeu. Valoriza o respeito. Ao falar em inclusão social o valor mais lembrado foi o respeito, que visa à diminuição dos preconceitos. Assim demonstraram que a educação a partir dos valores é importante para a inclusão social no ambiente escolar. Porém, um professor demonstrou estar alheio ao assunto, ou não ter entendido a pergunta. DISCUSSÃO A partir dos resultados obtidos na pesquisa de campo é possível verificar que os professores possuem conhecimento acerca dos valores humanos e que estes se fazem presentes em suas aulas. Observa-se também que os valores mais elencados são valores que se fazem presentes na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, quando dizem que o ensino dos valores é de responsabilidade da família, mas que a escola também tem sua contribuição. Os entrevistados mencionam outros valores que se fazem presentes nesse documento como: solidariedade e cidadania com um meio de conhecimento de direitos e deveres. A transmissão dos valores nas aulas também é evidente nas respostas obtidas, pois é impossível não transmitir valores em uma escola. De acordo com Valente (1989) a educação para os valores permeia todos os ambientes e pessoas da escola, passa pelo currículo e pela interação entre as pessoas do ambiente escolar. Os valores que são passados irão depender da escola e dos professores, mas de alguma forma todos passam.

No que diz respeito ao conceito de inclusão social os entrevistados demonstraram ter um conhecimento superficial do que seja a inclusão, pois quando comparada as respostas com o conceito mais amplo que é o da Declaração de Salamanca as respostas ficaram vagas. Pois, inclusão é uma linha de ação que deve ser adotada por todas as escolas, estas devem acolher todas as crianças independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sensoriais, com deficiência, com superdotação, que vivem em rua, no meio rural, étnicas ou linguísticas (UNESCO, 2003). Conforme a Lei de Diretrizes e Bases (1996), a Declaração de Salamanca (1994), Valente (1989) e Delors (1992), a educação para os valores deve ser abordada nas escolas, não pode-se dizer que está é uma função somente da família. O ensino está se transformando, as escolas devem se adaptar a esta nova realidade e os professores possuem um papel determinante nesta ação, pois ajudarão na construção dos cidadãos, os alunos, respeitando os sentimentos e valores alheios, com o respeito pelo outro sendo característica básica para uma educação verdadeiramente inclusiva, onde todas as pessoas se sentirão parte integrante do ambiente escolar. CONSIDERAÇÕES FINAIS A inclusão de todas as pessoas na escola é um dos temas mais atuais no âmbito educacional. Desta forma, as escolas não podem se eximir desta responsabilidade. Diversos são os documentos, leis e teóricos que defendem a inclusão de todos nas escolas da rede regular de ensino. A educação para os valores também vem sendo divulgada através de diversos documentos, leis e teóricos que vêm defendendo a necessidade da escola se preocupar com a educação para os valores para a formação dos alunos. Tendo em vista tais colocações vê-se a importância em relacionar inclusão social e educação para os valores na escola. Sendo assim, foram entrevistados dez professores em uma escola pública para saber sobre seus conhecimentos acerca dos temas: Educação para os Valores e Inclusão Social. Foi possível identificar que no âmbito da educação para os valores os professores tem conhecimento e estão cumprindo seu papel, porém no que diz respeito a inclusão social ficou evidente que os professores têm um conhecimento muito superficial sobre o tema.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Coordenadoria Nacional para Integração da pessoa Portadora de Deficiência, Acessibilidade. Brasília: Secretaria Especial dos Direitos Humanos, 2005. 60 p.. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei número 9394, de 20 de dezembro de 1996.. MEC. Secretaria de Educação Especial. Educação para todos: EFA 2000. Avaliação: políticas e programas governamentais em educação especial. Brasília: MEC/SEESP, 2000. DELORS, J. Educação: um tesouro a descobrir. Relatório para a UNESCO. Lisboa. 1996. MARQUES, R. A Educação Sócio-Moral: Uma Análise Curricular do Ensino Básico em Portugal. Escola Superior de Educação de Santarém, 1992. MENIN, M. S. S. Valores na Escola. Revista Educação e Pesquisa. São Paulo, V 28, nº. 1, p. 91-100, 2002. MORIN, E. Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro. 3a. ed. - São Paulo - Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2001. PORTO, J. B.; TAMYO, A. Estruturas dos Valores Pessoais: A Relação entre Valores Gerais e Laborais. Revista Psicologia: Teoria e Pesquisa. V. 23, nº 1, 2007. SASSAKI, R. Conceito de Acessibilidade. Disponível em: <HTTP/WWW.bengalalegal.com/romeusassaky.php.> Acesso em 10 de jun. 2009. STAINBACK, S. STAINBACK, W. Inclusão: um guia para educadores. Porto Alegre: Artmed, 1999. UNESCO. Declaração de Salamanca. São Paulo: Biblioteca Virtual de Direitos Humanos/USP, 2003. UNESCO. Educação para Todos. Brasília: Biblioteca Virtual de educação UNESCO- Brasil, 2003. UNESCO. Convenção sobre a proteção e a promoção da Diversidade das Expressões Culturais. Unesco Brasil, 2005. VALENTE, M. O. A Educação para os Valores. Departamento de Educação da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, 1989.

ANEXO QUESTIONÁRIO Idade: Tempo que atua como professor: Formação: 1) Em sua opinião quais são os principais valores humanos? 2) A orientação dos valores é de responsabilidade somente da família? Por quê? 3) Você acha que em suas aulas são passados valores? 4) Em sua opinião o que inclusão social? 5) Em sua opinião o ensino de valores contribui no processo de inclusão social?