Contribuição Ambiental e Mapeamento de Biótopos de Cemitérios Urbanos: O Caso do Cemitério de Vila Nova Cachoeirinha São Paulo



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Contribuição Ambiental e Mapeamento de Biótopos de Cemitérios Urbanos: O Caso do Cemitério de Vila Nova Cachoeirinha São Paulo Resumo Alessandra G. Soares (alessandra.soares@usp.br)* Daniela Luz Carvalho (danigeo_lc@yahoo.com.br)* Lucélia Martins Souza (lucelia@usp.br)* As mudanças no modo como a natureza é apropriada e transformada diariamente nas grandes cidades, assim como a carência de áreas verdes nesse espaço intensamente urbanizado e impermeabilizado é um dos fatores para o desencadeamento de desequilíbrios e alterações ambientais. O Cemitério Municipal de Vila Nova Cachoeirinha, São Paulo, foi tomado como base para a realização deste estudo por estar localizado região muito dinâmica e de intensa urbanização e por se tratar de uma temática pouco discutida na Geografia a contribuição ambiental dos cemitérios em áreas de intensa urbanização. Procuramos produzir, com base na metodologia de mapeamento de biótopos, um mapa síntese que apresenta os diferentes tipos de biótopos encontrados neste cemitério. Palavras-chave: Cemitérios Urbanos, Mapeamento, Biótopos, Meio Ambiente, Área Livre de Construção 1. Introdução A cidade de São Paulo sofre profundas e rápidas transformações no espaço, por meio de novas formas urbanas, na vida cotidiana e no modo como a natureza é apropriada. A carência de áreas verdes nesse espaço intensamente urbanizado e impermeabilizado é fruto desse processo e é um dos fatores para o desencadeamento de desequilíbrios e alterações ambientais. Nesse contexto, escolhemos trabalhar com a temática cemitério em áreas urbanas que, além de ser pouco explorada entre os textos da geografia, é um tema que normalmente causa surpresa e curiosidade nos leitores que não tem informações a respeito das contribuições ambientais que os cemitérios podem proporcionar. Sendo este um fragmento da cidade onde encontramos uma quantidade considerável de vegetação, encontramos ali o nosso objeto de estudo. Na bibliografia pesquisada encontramos diversos trabalhos que tratam de cemitérios e meio ambiente, porém, com uma perspectiva negativa, trazendo estudos sobre a contaminação de aqüíferos e águas subterrâneas, principalmente pelo contato com o necrochorume. Entretanto, ao contrário disso, buscamos estudar o cemitério como um elemento que pode contribuir na melhoria do ambiente do seu entorno. Escolhemos para estudo de caso o Cemitério de Vila Nova Cachoeirinha, na Zona Norte da capital São Paulo, tomando-o como base para uma avaliação ambiental nesta região que é muito dinâmica e de intensa urbanização. 2. Objetivos O objetivo do presente trabalho é iniciar uma discussão sobre a contribuição ambiental dos cemitérios em áreas urbanizadas, valorizando os benefícios que estes geram nas áreas em que estão inseridos. 1

3. Procedimentos Metodológicos Utilizamos a metodologia de mapeamento encontrada no livro Manual para Mapeamento de Biótopos no Brasil e realizamos os seguintes procedimentos para identificação dos biótopos no Cemitério de Vila Nova Cachoeirinha: 1. Delimitação da área de estudo: empregamos ortofotos, cedidas pela Sabesp, do ano de 2003; 2. Pesquisa bibliográfica e de material referente à área de estudo; 3. Realização do mapeamento digital com base em imagens de satélite, ortofotos e levantamento dos biótopos, através da fotointerpretação visual, levando em conta elementos básicos, tais como aspectos geométricos e espaciais. O mapeamento foi realizado no programa Arc Catalog versão 9.0 e finalizado em MapInfo versão 7.8; 4. Realização de trabalho de campo na área de estudo para confirmação dos biótopos levantados previamente pela fotointerpretação visual. 4. Caracterização da área de estudo O cemitério de Vila Nova Cachoeirinha, localizado a cerca de 9 km de distância do centro da cidade, no município de São Paulo, Estado de São Paulo, está em operação desde dezembro de 1968 e é um dos vinte e um cemitérios públicos administrados pelo Serviço Funerário do município, sendo o segundo maior cemitério da capital paulista. 2

Sua estrutura é do tipo parque, sem mausoléus e com vegetação abundante e em diferentes estratos. Possui áreas construídas somente para administração, recepção, capela, velório, necrotério, depósito de materiais e ferramentas, vestiários, instalações sanitárias para empregados e para o público, de acordo com o Artigo 156 do Código Sanitário Estadual (SÃO PAULO, 1991). Foto 1 Cemitério de Vila Nova Cachoeirinha Foto: Daniela Luz Carvalho 05/01/2008 Situado na unidade morfológica denominada Planalto Paulistano, o terreno do cemitério de Vila Nova Cachoeirinha faz parte do relevo formado por morros médios e altos com topos convexos (ROSS & MOROZ, 1997), em acordo com o Artigo 151 do Código Sanitário Estadual (SÃO PAULO, 1991), que afirma que os cemitérios devem ser construídos em áreas elevadas. No local, as altitudes estão entre 745 e 781 m e as declividades variam de 12 a 15%. Os sepultamentos são realizados ao longo das vertentes. Além disso, encontra-se em terrenos pré-cambrianos, sobre o manto de alteração das rochas granitóides intrusivas que formam o maciço da Cantareira, próximo aos limites da bacia sedimentar de São Paulo. O embasamento está a cerca de 9 m de profundidade na cota mais baixa e 20,5 m no topo. Na área estudada, a rocha granítica está a 12 m de profundidade e a passagem dos granitóides para os metassedimentos do Grupo São Roque e ortognaisses é mascarada pelo manto de alteração e pela ocupação urbana. Em geral, os solos são ácidos, com predominância de materiais argilosos e argilo-arenosos e porosidade média (MATOS, 2001). Os dados pluviométricos do posto Santana (Código: E3-071,4), que está em operação desde 1936, mostram que a precipitação média é de 1.400 mm por ano 1. A precipitação neste sítio é influenciada por efeitos orográficos locais, por conta da Serra da Cantareira e pelo clima da região, que segundo Silva (2000), é do tipo tropical temperado de altitude. A temperatura média anual é de 25 o C. O cemitério está inserido na bacia hidrográfica do Alto Tietê, situado a 100 m da margem esquerda do rio Cabuçu de Baixo, afluente do rio Tietê, à margem direita. A bacia hidrográfica do rio Cabuçu de Baixo (Mapa 1) tem aproximadamente 50 km 2. Essa área apresenta um nível de fragilidade potencial médio, estando sujeita a fortes atividades erosivas (ROSS & MOROZ, 1977). Além disso, é influenciada pela intensa 1 Dados retirados do site www.daee.sp.gov.br/ 3

urbanização da área, desde o limite da Reserva Florestal da Cantareira (região da nascente) até a foz. É notável a intervenção no escoamento natural pelos processos antrópicos de impermeabilização do solo e canalização do rio e de córregos. Mapa 2 Bacia Hidrográfica do rio Cabuçu Fonte: MATOS:2001 Podemos enquadrar este tipo de cemitério no conceito de Área Livre de Construção que segundo Kliass & Magnoli (1967) são áreas não edificadas, de propriedade municipal, independente de sua destinação de uso. Milano (1992) acrescenta que (...) a vegetação presente nas cidades (...) é comumente tratada como área verde urbana e está estreitamente relacionada às áreas livres ou abertas; pode-se mesmo considerar que, embora nem toda área livre constitua área verde, toda área verde constitui área livre, mesmo que sua natureza e função sejam restritas (...) Por outro lado, adaptações ao conceito de espaços livres consideram estes como áreas verdes quando predominantemente não impermeabilizados e/ou com significativa cobertura vegetal. Por se tratar de uma área livre de construção e por possuir considerável quantidade de cobertura vegetal, o cemitério é importante elemento integrante da estrutura e da dinâmica urbana, constantemente utilizado para práticas de lazer pela comunidade de entorno, que é constituído por pequenas casas de comércio, apartamentos simples e residências de construção de baixo padrão, incluindo áreas de 4

interesse social (favelas) sofre com a carência de áreas livres de construção, suprindo esta falta com o uso do espaço cemiterial. Foto 2 Conjunto habitacional e a ocupação no entorno do cemitério Foto: Daniela Luz Carvalho 05/01/2008 5. Conceito de Biótopos O mapeamento de biótopos foi desenvolvido na Alemanha a partir de 1974, chegando no Brasil na década de 90. Seu conceito varia muito conforme os autores. Segundo Turner (1989) são: unidades de paisagem ou ainda zonas homogêneas, caracterizadas conforme seus componentes físicos, antrópicos e biológicos. Outros autores trabalham com a idéia de que esse conceito pode ser denominado também por ecótopos ou geótopos. Segundo Bede, em Mapeamento de Biótopos no Brasil : O objetivo principal de um mapeamento de biótopos consiste especialmente no fornecimento de bases para a indicação de medidas de melhoria da qualidade ambiental. Para que este objetivo seja atingido, é fundamental a elaboração de um diagnostico, baseado na integração do mais diversos parâmetros ecológicos ( pág. 04, 1997) Assim, entendemos que o principal objetivo da metodologia de mapeamento de biótopos consiste em criar informações e bases para que haja um diagnóstico e propostas de medidas capazes de melhorias na qualidade ambiental da área de estudo. 6. Biótopos da Área de Estudo Com os estudos e levantamentos das imagens de satélite, mapeamos uma área de 233.400 m 2 pertencente ao Cemitério de Vila Nova Cachoeirinha. A partir desses levantamentos, classificamos, utilizando a metodologia, cinco atributos que compõem os biótipos da área de estudo. 5

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Neste gráfico a seguir apresentamos a porcentagem dos biótopos encontrados com o mapeamento realizado: Gráfico 1 Porcentagem dos biótopos na área de estudo Lucélia Martins de Souza: 2008 6.1 Cobertura Vegetal A cobertura vegetal, além de servir como proteção contra os agentes climáticos e amenizar seus efeitos que favorecem a desagregação do solo e conseqüente erosão, alimenta um ciclo vital para a qualidade do solo e a ciclagem de nutrientes. A vegetação arbórea e arbustiva é significativamente pequena (9%), mas faz parte da composição paisagística com árvores, arbustos e herbáceas distribuídas ao longo de bosques, canteiros e gramados. Já a vegetação rasteira é o biótopo de maior proporção e quantidade em toda área, responsável por 54,50% do total. A presença de gramíneas no local é muito comum, já que o cemitério se caracteriza como parque. O espaço cemiterial é um espaço de preservação da natureza, pois foi criado para ser um ambiente aprazível e arborizado. Tendo um amplo espaço livre de construções e grande ocupação por espécies rasteiras, como um enorme jardim, colabora para aumentar a área verde da cidade e assim, com o equilíbrio ecológico. Foto 3 Cobertura Vegetal Daniela Luz Carvalho 05/01/2008 7

6.2 Solo exposto O solo exerce uma multiplicidade de funções, como a regulação da distribuição, escoamento e infiltração da água da chuva e de irrigação; produção de alimentos; armazenamento e ciclagem de nutrientes para as plantas e outros elementos, além de ação filtradora e protetora da qualidade do ar e da água. Como recurso natural dinâmico, o solo é passível de ser degradado em função do uso inadequado pelo homem, condição em que o desempenho de suas funções básicas fica prejudicado. Um dos biótopos mais encontrados dentro da área de estudo (33,50%), oriundo da retirada de vegetação para a ocupação por túmulos, observados em campo, pode ser considerado um biótopo degradado, já que acarreta interferências negativas no equilíbrio ambiental, diminuindo a qualidade de vida nos ecossistemas. 6.3 Área Edificada O cemitério de Vila Nova Cachoeirinha possui poucas áreas edificadas, este é o elemento menos encontrado em nosso mapeamento (3%). É composto apenas por equipamentos necessários a manutenção e utilização do cemitério, de acordo com o Artigo 156 do Código Sanitário Estadual (SÃO PAULO, 1991). Como uma alternativa para solucionar o problema de escassez de área para sepultamentos nas cidades de maior densidade demográfica, os cemitérios do tipo parque, como o da Vila Nova Cachoeirinha, contêm poucas quadras com túmulos. 7. Resultados e Considerações Finais No intuito de instigar o inicio de uma discussão sobre a contribuição ambiental dos cemitérios em áreas intensamente urbanizadas como é o caso de São Paulo, entendemos que é preciso ir além das análises de dados pluviométricos e de solo, que em certa medida designam os cemitérios como sendo ambientes frágeis e vilões contaminadores do solo. Por isso, compreender e direcionar o olhar para estudos mais abrangentes que levem em consideração outros aspectos se faz necessário. No caso do Cemitério de Vila Nova Cachoeirinha, observamos alguns possíveis benefícios ambientais tais como: Criação de microclima local, em geral mais ameno; Auxílio na despoluição do ar; Redução da poluição sonora; Ganho paisagístico para as comunidades do entorno; Manutenção da flora e da fauna. Por possuir características de parque, o cemitério torna sua presença menos desagradável para a comunidade do entorno. Além disso, observamos, através do trabalho de campo, uma função social com a utilização de alguns espaços do cemitério como área de lazer e recreação das crianças do bairro. Dessa forma, entendemos que sendo uma área verde urbana, o cemitério contribui e proporciona melhorias no ambiente impactado do bairro e traz benefícios para os moradores, através da presença da vegetação e das áreas com solo não impermeabilizado. 8

8. Bibliografia BEDE, L.C et al. Mapeamento de Biótopos no Brasil: base para um planejamento ambiental eficiente. Belo Horizonte: Fundação Alexander Brandt, 1997. 2ª Edição KLIASS, R.G.; MAGNOLI, M.M. Espaços Livres de São Paulo. São Paulo: PMSP, 1967, 33p. MATOS, Bolivar A. Avaliação da ocorrência e do transporte de microrganismos no aqüífero freático do Cemitério de Vila Nova Cachoeirinha, município de São Paulo. São Paulo, 2001. Dissertação (Doutorado). Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo. MILANO, M. S. A cidade, os espaços abertos e a vegetação. In: ENCONTRO NACIONAL SOBRE ARBORIZAÇÃO URBANA, 4, Vitória, 1992. Anais. Vitória: PMV, 1992, v.1, p3-14. PACHECO, A.; MATOS.B.A. Cemitérios e meio ambiente. Revista Tecnologias do Meio Ambiente. Lisboa, Portugal. Ano 7, n. 33, 2000. ROSS & MOROZ, (1997) Mapa Geomorfológico do Estado de São Paulo. São Paulo. USP/IPT/FAPESP. (Escala 1:500.000) SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE, Decreto nº 12.342 de 27/09/1978. São Paulo. Imesp: 1991. SILVA, Leziro. M. Os cemitérios na problemática ambiental. I Seminário Nacional Cemitérios e meio ambiente, SINCESP e ACEMBRA, São Paulo, Jun/95. SILVA, V.R. Ocupação territorial e qualidade de água subterrânea em maciço fraturado na região de Itaquera, São Paulo SP. São Paulo, 2000. Dissertação (Mestrado). Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo. TURNER, M. G. Landscape Ecology: The effect of pattern on process. Ann. Rev. Ecol. Sysyt., 1989. Sites Consultados: http://www.daee.sp.gov.br - acesso em: 06 de jan. 2008. http://educar.sc.usp.br - acesso em: 03 de jan. 2008. http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=107&class=21 - acesso em: 07 de jan. 2008. http://www.webartigos.com acesso em: 06 de jan. 2008. 9