Processo nº : 2014021035535 : Goianápolis-GO : Danilo Rodrigues Iglesias e Maricelma Freitas de Moraes. Douto Subprocurador-Geral de Justiça,



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Transcrição:

Processo nº : 2014021035535 Comarca : Goianápolis-GO Indiciados : Danilo Rodrigues Iglesias e Maricelma Freitas de Moraes Infração : Art. 184, 2, do CPB Assunto : Artigo 28 do CPP EMENTA: Art. 28 do CPP. Crime de Violação de Direito Autoral. Máquina Jukebox. Arquivamento fundado no Princípio da Insignificância. Inaplicabilidade. Manifestação pelo prosseguimento do feito. Douto Subprocurador-Geral de Justiça, Cuida-se de Inquérito Policial oriundo da Delegacia Estadual de Repressão de Crimes Contra o Consumidor, registrado sob o nº 72/2014, e instaurado com o fim de apurar suposta prática da conduta delituosa tipificada no artigo 184, 2º, do Código Penal Brasileiro, figurando como indiciados Danilo Rodrigues Iglesias e Maricelma Freitas de Moraes, e como vítimas a Associação Brasileira das Empresas de Reprodução Automática de Áudio e Vídeo e Similares e a Associação Brasileira de Licenciamento Fonográfico. Segundo consta, no dia 19 de março de 2014, na Rua Dr. Ivanilde Machado, Qd. 12, Lt. 01, Bairro Vitoria, Goianápolis-GO, foi apreendida uma máquina Jukebox no interior do estabelecimento comercial denominado Bar da Celma, de propriedade da indiciada Maricelma Freitas de Moraes, a qual, ao ser questionada sobre a procedência da máquina, afirmou que esta teria sido locada de Danilo Rodrigues Iglesias (fls. 16/17). Danilo Rodrigues Iglesias, em seu interrogatório (fls. 26/28), confirmou que a máquina apreendida lhe pertencia, e que esta não possuía autorização legal para funcionar. Remetidos os autos inquisitoriais ao Ministério Público, o ilustre Promotor de Justiça em substituição na Promotoria de Justiça de Goianápolis-GO, Dr.

Carlos Alberto Fonseca, amparando-se no reconhecido princípio da insignificância, requereu o arquivamento do feito (fls. 68/70). Discordando do posicionamento ministerial, a insigne Magistrada, pela decisão de fls. 71/73, determinou a remessa dos autos a esta Procuradoria-Geral de Justiça, nos termos do artigo 28 do Código de Processo Penal. É o relatório. Quanto ao mérito, reside a divergência em questão de direito, notadamente se o Princípio da Insignificância, o qual exclui a tipicidade material do fato e consequentemente a tipicidade penal, é aplicável ou não neste caso concreto. O princípio em comento, se baseia na máxima que já vigorava no direito romano, contida no brocardo minimis non curat praetor, no sentido de que as coisas insignificantes não devem ser consideradas e, por isso, o caráter subsidiário do sistema penal requer em função dos próprios objetivos por ele visados a intervenção mínima do Poder Público. Sobre o assunto, Júlio Fabbrine Mirabete assim leciona: A tipicidade é excluída, segundo o direito moderno, pelo princípio da insignificância (ou da bagatela) que exclui do tipo, em princípio, os danos de pouca importância, irrelevantes para o direito penal. Na possibilidade de sua aplicação, deve-se ter em conta o desvalor da culpabilidade, da conduta e do dano, bem como a mínima perturbação social causada pela conduta e a ausência de perigosidade social do agente (Código Penal Interpretado, 3ª edição, p. 136). Todavia, para a aplicação do princípio da insignificância é necessário a presença de certos vetores, tais como(a) a mínima ofensividade da conduta do agente,(b) inexistência de periculosidade social da ação, (c) o reduzidíssimo grau de reprovabilidade

do comportamento e (d) a inexpressividade da lesão jurídica provocada 1. Do compulso dos autos, infere-se que agentes da Polícia Civil do Estado de Goiás, atendendo à notícia-crime formulada pela APROVA (Associação Brasileira Das Empresas de Reprodução Automática de Áudio e Vídeos e Similares), de reprodução ilegal de músicas e vídeos em máquinas dispostas em diversos estabelecimentos comerciais, sem autorização dos representantes dos titulares dos direitos autorais, se dirigiram ao estabelecimento denominado Bar da Celma, cuja proprietária é a indiciado Maricelma Freitas de Morais, e lograram apreender uma máquina tipo Jukebox sem que a mesma tivesse qualquer selo de autorização da APROVA ou ABLF. Dos termos de declarações dos indiciados extrai-se: QUE, alega a declarante, que mais ou menos um ano, locou uma máquina denominada JUKEBOX (Caixa de música) de uma pessoa que atende pelo nome de DANILO, no entanto não existe nenhum contrato firmado entre as partes para referida locação; QUE, para referida máquina funcionar, o cliente tinha que depositar R$ 0,50 (cinquenta centavos) por cada música; QUE, o lucro em dinheiro que era apurado durante o mês, a declarante dividia com Danilo; QUE, em média, era apurado em dinheiro o total de R$ 150,00 (conto e cinquenta reais) para cada um (...) (Maricelma Freitas de Moraes às fls. 16/17) (sic) (grifo nosso). (...) QUE, o declarante também locou seis(06) máquinas JUKEBOX (caixa de músicas), sendo cada máquina em cada estabelecimento comercial, para comerciantes na cidade de Goianápolis-GO, não sabendo quais as datas certas, sendo para as pessoas de JOSÉ RODRIGUES FILHO, ( ); MARICELMA FREITAS DE MORAES ( ); ESONITE DOS SANTOS SILVA ( ); DONILDO ALVES ELIAS ( ); ROSELANGE MENDES DOS SANTOS ( ); e PAULO MARCELINO DE SOUSA ( ); QUE, todas as máquinas locadas para comerciantes na cidade de Goianápolis- GO, a porcentagem do valor era de 60% para o declarante, e de 40% para o locatário, isso do valor apurado durante o mês ( ); QUE, perguntado ao declarante o porquê que as máquinas estava sem selos quando foram locadas 1 - STF-HC nº 100.240/RJ, 2ª Turma do STF, rel. Joaquim Barbosa. j. 07.12.2010, unânime, DJe 02.03.2011.

para comerciantes das cidades de Anápolis-GO e Goianápolis-GO; QUE, o declarante alega, que as mesmas estavam sem selos pelo fato do declarante já ter providenciado a confecção dos selos, e os mesmos não ficaram prontos para serem colocados nas máquinas; QUE, o declarante alega, que para as máquinas funcionarem legalmente, estas têm que possuir na sua identificação os selos das empresas APROVA (Associação Brasileira das Empresas de Reprodução Automática de Áudio e Vídeos e Similares, e também da ABLF ( ) (Danilo Rodrigues Iglesias às fls. 26/28) (sic) (grifo nosso). Pelos trechos dos depoimentos acima transcritos, nota-se que o indiciado Danilo Rodrigues Iglesias tinha plena consciência que as máquinas apreendidas estavam sendo locadas e operadas de maneira irregular, na medida em que não se encontravam devidamente licenciadas. Verifica-se, do mesmo modo, que o fato em análise não se trata de um acontecimento isolado, já que, conforme o próprio indiciado declarou, outras máquinas, também em situação irregular, foram locadas para outros estabelecimentos comerciais, o que afasta o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento, bem como a inexpressividade da lesão jurídica provocada. Com efeito, ainda que a lesão jurídica provocada pela conduta dos indiciados não seja extrema, também não se pode afirmar que seja totalmente irrelevante. Ademais, não é possível considerar a conduta insurgente como indiferente penal, uma vez que no crime de violação de direito autoral busca-se resguardar a propriedade intelectual, a qual encontra proteção constitucional, conforme a disposição do artigo 5º, inciso XXVII, da Constituição Federal. Nesse sentido é o entendimento adotado pelo egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, senão vejamos: APELAÇÃO CRIMINAL. VIOLAÇÃO DE DIREITO AUTORAL. ABSOLVIÇÃO. ESTADO

DE NECESSIDADE. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. 1 - Omissis. 2 A quantidade de material falsificado apreendida, por si só, configura lesão jurídica apta a afastar a aplicação do princípio da insignificância. Vale dizer, ainda, que o prejuízo causado não está vinculado ao valor econômico do material apreendido, mas a reprovabilidade social da conduta que malfere o desenvolvimento da arte, da cultura e da economia do país. 3 - Apelo conhecido e desprovido. (TJGO Primeira Câmara Criminal, AC 135014-30.2007.8.09.0051, Rel. Des. J. Paganucci Jr., DJ 902 de 14/09/2011) APELAÇÃO CRIMINAL. VIOLAÇÃO DE DIREITO AUTORAL. FORMA QUALIFICADA. (ART. 184 2º, DO CÓDIGO PENAL). I-ABSOLVIÇÃO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. INAPLICABILIDADE. Não é o caso de aplicação do princípio da insignificância, pois não se está diante de crime patrimonial, sendo outros os interesses tutelados pela norma penal. Além disso, o desvalor da ação do agente e do resultado não pode ser tido como indiferente penal, tendo em conta a quantidade de material apreendido em poder do réu. II- CONTINUIDADE DELITIVA. INOCORRÊNCIA. DELITO PERMANENTE. REDIMENSIONAMENTO DA PENA. A conduta imputada ao réu (expor à venda original ou cópia de fonograma produzido com violação de direito autoral) é delito permanente, daí a impossibilidade da condenação por mais de um fato. Assim, deixa-se de reconhecer a exasperação da pena pelo delito continuado. (...) RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. (TJGO Segunda Câmara Criminal, AC 271902-19.2008.8.09.0003, Rel. Des. Jairo Ferreira Junior., DJ 1653 de 20/10/2014) Nessa ordem, inviável o pedido de absolvição, com fundamento no princípio da insignificância, sob pena de incentivar atos atentatórios a bens alheios e de contribuir com a impunidade, mormente porque a conduta praticada pelos indiciados não se mostra compatível com os requisitos de aplicação do princípio sob comento. Tem-se, também, por inaplicável ao caso o princípio da adequação social. Tal princípio consiste, basicamente, na exclusão da tipicidade de uma determinada conduta, porquanto é aceita pela sociedade e se realiza dentro de uma esfera de normalidade social. Os críticos a tal princípio ponderam que a adequação social pode levar a arriscados desdobramentos, pois uma ação considerada pelo legislador como criminosa passa a ser compreendida como normal e justa pela coletividade e pode o juiz

deixar de reprimi-la, passando a tê-la como atípica, pois é necessária a inadequação social para o enquadramento na norma. Ao assim agir, o magistrado, obviamente, estaria, legislando, papel constitucionalmente reservado ao Poder Legislativo. Frisa-se, ainda, que o costume em nosso ordenamento jurídico não revoga a lei, por força do artigo 2º, caput, Decreto-Lei nº 4.657/1941, com modificações trazidas pela Lei nº 12.376/2010, que criou a nomenclatura Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro. Se aplicássemos o princípio da adequação social a todo o ordenamento jurídico vigente, correríamos o risco de subversão da ordem jurídica, pois o direito positivo encontra-se em grau hierarquicamente superior ao consuetudinário (conjunto de normas não escritas mas consagradas pelos usos e costumes tradicionais do povo) e por este jamais poderá ser revogado. EX POSITIS, discordamos da manifestação de arquivamento formulada pelo digno Promotor de Justiça e opinamos pela designação de outro membro do Ministério Público, para atuar no feito dando seguimento regular, nos termos do artigo 15, inciso XI, letra c, da Lei Complementar Estadual nº 025/98. Goiânia, 05 de fevereiro de 2015. CARMEM LÚCIA SANTANA DE FREITAS Promotora de Justiça Assessora Jurídica da Procuradoria-Geral de Justiça