fls. 1 Registro:2013.0000544268 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos destes autos do Apelação nº, da Comarca Piracaia, em que são apelantes ELIZABETH BUTLER DE REZENDE e JOSÉ ADÉLIO DE REZENDE FILHO (FALECIDO), são apelados ROSÁRIO DAHY NETO (ESPÓLIO), THEREZINHA PINTO DAHY (ESPÓLIO) e HÉLIO DAHY (INVENTARIANTE). ACORDAM, em 3ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação do Exmos. Desembargadores DONEGÁ MORANDINI (Presidente) e BERETTA DA SILVEIRA. São Paulo, 10 de setembro de 2013 João Pazine Neto RELATOR Assinatura Eletronica
fls. 2 Apelação Nº Comarca: Piracaia Apelantes: Elizabeth Butler de Rezende e José Adélio de Rezende Filho Apelados: Rosário Dahy Neto, Therezinha Pinto Dahy e Hélio Dahy Interessados: Juliana Butler de Rezende Monteiro, Marcelo Finocchiaro Monteiro, Patricia Butler de Rezende e Paulo Butler de Rezende Juíza sentenciante: Roberta Layaun Chiappeta de Moraes Barros Apelação. Ação de Usucapião. Ausência do requisito temporal ao reconhecimento do usucapião pretendido. Prescrição aquisitiva que não fluiu, em razão do reconhecimento de direito hereditário de menores sobre os imóveis objetos da lide. Inteligência dos artigos 3º, I, 198, I, e 1.244, todos do Código Civil. Sentença de improcedência mantida. Recurso não provido. Trata-se de ação de usucapião extraordinário julgada improcedente pela r. sentença de fls. 447/449, cujo relatório adoto. Apelam os Autores para buscar a reforma do julgado, com alegação, em síntese, que restou demonstrado pelo minucioso laudo pericial de fls. 350/384 que os Apelantes detém a posse mansa e pacífica do imóvel objeto da lide por mais de 20 anos, que as divisas sempre foram as mesmas e que o Sr. Rosário nunca deteve a posse sobre tal área ou contígua a esta. Aduz que é impossível o de cujus transmitir a herdeiros direito do qual nunca foi detentor, no caso, a posse do imóvel usucapiendo. Sustenta que o título dominial não confere a posse de fato, geradora do direito de usucapião. Assevera que, como forma originária de aquisição do domínio, se
fls. 3 mostra totalmente irrelevante a existência ou não de direito anterior, que é suplantado pelo do possuidor. O recurso foi recebido e processado (fl. 468), com oferta de contrarrazões (fls. 476/484). Preparo anotado às fls. 463/464. do não provimento do recurso (fls. 490/494). Parecer da douta Procuradoria Geral de Justiça no sentido Conforme designação da Presidência da Seção de Direito Privado, publicada no DJE de 12.08.13 (fl. 22), c.c. a Portaria 04/2012 da mesma Presidência, estes autos foram redistribuídos a este Relator. É o relatório. A r. sentença não comporta reparo. Da obra Tratado de Usucapião, de BENEDITO SILVÉRIO RIBEIRO, extrai-se: Quanto aos requisitos formais da usucapião extraordinária, devem estar presentes aqueles chamados essenciais, que são comuns a toda prescrição (posse e lapso de tempo). Por conseguinte, os denominados suplementares, conquanto exigidos na usucapião ordinária, não se fazem necessários na extraordinária (volume 1, pág. 223). No dizer de FRANCISCO EDUARDO LOUREIRO dois elementos estão sempre presentes, em qualquer modalidade de usucapião, o tempo e a posse. Não basta a posse normal (ad interdicta), exigindo-se posse ad usucapionem, na qual, além da visibilidade do domínio, deve ter o usucapiente uma posse com qualidades especiais, previstas no art. 1238 do Código Civil: prazo de quinze anos, sem interrupção (posse contínua), nem oposição (posse pacífica), e ter como seu o imóvel
fls. 4 (animus domini). (...) Possui a coisa como sua quem não reconhece a supremacia do direito alheio. Ainda que saiba que a coisa pertence a terceiro, o usucapiente se arroga soberano e repele a concorrência ou a superioridade do direito de outrem sobre a coisa. (Código Civil Comentado, Coordenador Ministro Cezar Peluso, p. 1214). O artigo indicado no comentário tem redação semelhante ao artigo 550 do Código Civil de 1916, diverso apenas o prazo prescricional, um vez que este último estabelecia o prazo de 20 anos para a consumação da prescrição aquisitiva. Observa-se que os Autores afirmam em sua exordial que exercem a posse há mais de vinte anos, por si e seus antecessores, com animus domini, sem oposição, nem interrupção, sobre a área total de 185.477 m², relativa a um imóvel rural, localizado no bairro do Sertãozinho, Joanópolis/SP, apesar de terem adquirido por meio de escritura de compra e venda e cessão de direitos de posse, lavrada em 28.10.1999, apenas frações ideais dos imóveis objetos dessa ação (fls. 13/19). No caso dos autos restou demonstrado pelas matrículas dos imóveis objeto da presente ação (fls. 144/149) que, em 28/05/1987, foram adjudicados 4/24 avos de cada um dos imóveis a Rosário Dahy Neto e sua esposa Therezinha Pinto Dahy, em virtude de carta de arrematação expedida nos autos da ação de execução nº 326/85. Por esse título, os mesmos adquiriram o domínio e sua consequente posse indireta de parcela ideal do imóvel. E é esta que foi transferida a seus herdeiros, com o falecimento do titular do domínio, em 09.12.1990. Em razão da existência de herdeiros menores absolutamente incapazes, que sucederam o de cujus, não há que se falar em ocorrência da prescrição aquisitiva por parte dos Autores, uma vez que almejada a titularidade do bem, justamente a atribuída aos menores. Não importa aqui a transmissão de posse de fato, mas da propriedade de direito, pois é esta a pretendida pelos Autores.
fls. 5 Restou demonstrado pelos Apelados que quando do falecimento do Sr. Rosário, então proprietário de 4/24 dos referidos imóveis, deixou entre outros sucessores, à época, os menores Manuela Regina Ferreira da Cunha Dahy e Rodolfo Henrique Ferreira da Cunha Dahy, este último nascido em 10.10.1989 (fl. 234). Desse modo, com o falecimento operou-se a suspensão do curso do prazo prescricional, que somente retomaria seu curso com a maioridade do herdeiro, que se daria em 2007, ou com a conclusão do inventário e destinação do bem a outro herdeiro maior e capaz. Dos autos se verifica que a homologação da partilha ocorreu em 23.03.2007 (fl. 433). Observe-se ainda que não restou comprovado nos autos a ocorrência da prescrição aquisitiva anterior à data de suspensão do prazo que beneficiava o espólio de Rosário Dahy Neto. Ressalta-se ainda que a suspensão da prescrição em relação aos menores, por força dos artigos 3º, I, 198, I, e 1.244, todos do Código Civil, aproveita aos demais herdeiros, de modo que não é correto falar em suspensão apenas em relação à parte ideal dos menores. Desse modo, a improcedência da ação era mesmo de rigor visto que não configurado requisito essencial para a ocorrência da prescrição aquisitiva, ou seja, o transcurso do lapso temporal. Diante do exposto, nego provimento ao recurso. João Pazine Neto Relator