Responsabilidade civil ambiental: tendências Consuelo Yatsuda Moromizato Yoshida cyoshida@trf3.jus.br 1
AMBIENTALISMO CONTEMPORÂNEO (Prof. André Geraldes) Período 1945-1972: Ambientalismo dos Limites ao Crescimento Período 1972-1992: Ambientalismo do Desenvolvimento Sustentável Período 1992-(...): Ambientalismo da Mercantilização da Natureza 2
Evolução da abordagem da questão ambiental Ótica corretiva (anos 70) Clube de Roma Relatório Limites do Crescimento Conferência de Estocolmo (1972) correção dos problemas: contaminação Ótica preventiva (anos 80) Convenção de Viena (1985) Ótica integradora (anos 90) Relatório Brundtland (Nosso Futuro Comum) desenvolvimento sustentável 3
Paradigma atual. O predomínio do sistema de comando e controle no Brasil. Reparações e sanções pelo descumprimento da legislação ambiental 4
5 GRUPO DE ESTUDOS DE DIREITO AMBIENTAL. O sistema de comando e controle reparador e sancionador atuação a posteriori tríplice responsabilidade ambiental do poluidor/infrator reparação integral dos danos materiais e morais ao meio ambiente e a terceiros (responsabilidade civil objetiva e solidária) infrações e sanções administrativas e penais.. O sistema de comando e controle preventivo - atuação a anteriori - normas de padrões ambientais, avaliação de impactos ambientais, licenciamento e zoneamento ambiental 5
Integração e valorização dos instrumentos de planejamento, gestão e gerenciamento ambientais Gerenciamento costeiro, Estatuto da Cidade, Política Nacional de Recursos Hídricos, Política Nacional de Mudanças Climáticas, Política Nacional de Resíduos Sólidos 6
Integração e valorização do instrumentos econômicos e de mercado - pagamento de royalties, da compensação da Lei do SNUC, cobrança pelo uso da água, concessão florestal, servidão florestal, seguro ambiental, Pagamento por Serviços Ambientais PSA. 7
Mudança de paradigma Do cumprimento da legislação ambiental e suas vantagens Conscientização e sensibilização do empreendedor. Argumentos e estímulos econômicos. É mais vantajoso economicamente prevenir do que reparar e remediar o dano ambiental. 8
Evolução da abordagem da responsabilidade ambiental Lógica dos danos - atuação a posteriori Princípio do poluidor-pagador Princípio da reparação integral do dano ambiental Princípio da tríplice responsabilidade ambiental (civil, administrativa e penal) 9
Evolução da abordagem da responsabilidade ambiental Lógica preventiva - atuação a anteriori Princípio do usuário-pagador Princípio do protetor-recebedor 10
11 GRUPO DE ESTUDOS DE DIREITO AMBIENTAL Delineamentos da responsabilidade civil ambiental no direito brasileiro 11
1) Lógica dos danos Lógica corretiva e sancionatória Sistema da responsabilidade civil objetiva e solidária a responsabilidade pelos danos causados ao meio ambiente e às vítimas independe de comprovação da culpa sendo vários os causadores dos danos pode ser escolhido um deles para responder pela reparação total do dano 2) Lógica da sustentabilidade Lógica preventiva e premial Sistema da responsabilidade compartilhada - sistema avançado introduzido pela PNRS - gestão compartilhada entre Poder Público e todos os setores e segmentos da sociedade - cumprimento das exigências ambientais por cada um dos elos da cadeia econômica, individualizadamente, no âmbito das respectivas atribuições/competências 12
13 GRUPO DE ESTUDOS DE DIREITO AMBIENTAL A abrangente responsabilidade civil ambiental no direito brasileiro diante de danos causados ao meio ambiente e às vítimas (lógica de danos, lógica corretiva) 13
14 GRUPO DE ESTUDOS DE DIREITO AMBIENTAL PNMA (Lei 6.938/81) responsabilidade civil objetiva: independentemente da existência de culpa danos causados ao meio ambiente e a terceiros (art. 14, 1º) amplo conceito de poluição e de poluidor (art. 3º, III e IV) CF/88 responsabilidade civil solidária - Corresponsabilidade e gestão compartilhada do meio ambiente entre Poder Público e coletividade tríplice responsabilidade ambiental: civil, administrativa e penal (art. 225, caput, 3º) LACP (Lei 7.347/85) - abrangência de danos materiais e morais causados ao meio ambiente (art. 1º, redação da Lei 8.884/94) 14
Responsabilidade civil objetiva O art. 14 1º da Lei nº 6.938/81 Sem obstar a aplicação das penalidades (...), é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. 15
Poluição ambiental Lei 6.938/81, art. 3º, III a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem condições adversas às atividades econômicas e sociais; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) Lancem matéria ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos. 16
Poluidor direto e indireto responsabilidade civil solidária - pessoa física ou jurídica, de Direito Público ou Privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental (Lei nº 6.938/81 art. 3º, IV) -Estado pela omissão na fiscalização, é poluidor indireto - responsável universal evolução da jurisprudência 17
Direito e dever de todos - responsabilidade civil solidária (CF, art. 225, caput) Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. 18
A tríplice responsabilidade ambiental civil, administrativa e penal (CF, art. 225, 3º) As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. 19
Lei nº 7.347/85 ação civil pública responsabilidade do poluidor por danos morais e patrimoniais causados Disciplina as ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados ao meio ambiente, entre outros interesses difusos e coletivos, sem prejuízo da ação popular (Redação dada pela Lei nº 8.884, de 11.6.1994) 20
Interpretação e aplicação ampliativas do conceito de poluidor (direto e indireto) e do nexo de causalidade 21
Quem pode ser considerado poluidor direto e indireto e integrar a cadeia causal para fins de responsabilidade civil ambiental? 22
Antonio Herman Benjamin (RDA 9/37) o vocábulo é amplo, incluindo aqueles que diretamente causam o dano ambiental (fazendeiro, industrial, madeireiro, minerador, especulador, p. ex.) e também aqueles que contribuem indiretamente (banco, órgão público licenciador, engenheiro, arquiteto, incorporador, corretor, transportador, dentre outros) 23
Precedente jurisprudencial RECURSO ESPECIAL Nº 650.728 SC Rel. Min. Herman Benjamin 13. Para o fim de apuração do nexo de causalidade no dano ambiental, equiparam-se quem faz, quem não faz quando deveria fazer, quem deixa fazer, quem não se importa que façam, quem financia para que façam, e quem se beneficia quando outros fazem. 24
RECURSO ESPECIAL Nº 650.728 SC Rel. Min. Herman Benjamin 14. Constatado o nexo causal entre a ação e a omissão das recorrentes com o dano ambiental em questão, surge, objetivamente, o dever de promover a recuperação da área afetada e indenizar eventuais danos remanescentes, na forma do art. 14, 1, da Lei 6.938/81. 25
Mitigação do nexo de causalidade ou insuficiência da teoria objetiva baseada no nexo de causalidade? - Responsabilidade solidária - Responsabilidade do atual proprietário (adquiriu imóvel sem reserva legal ou já degradada) obrigação propter rem - Princípio da precaução incerteza científica riscos incertos - Imputação de resultados tardios 26
Responsabilidade solidária A indenização por danos causados a imóvel vizinho em decorrência de poluição industrial não é afastada ou diminuída pela existência de outras fontes poluidoras na localidade, pois há solidariedade entre os co-autores do dano, podendo a vítima acionar isoladamente cada um deles, exigindo do escolhido o total da indenização (1º TACSP 2ª Câmara Ap. Rel. Maurício Vidigal j. 04.11.1987 RT 628/138) 27
Responsabilidade do atual proprietário da área degradada Posição 1 (Min. Garcia Vieira REsp 229.302/PR j. 18.11.99; REsp 214.714/PR j. 27.09.99) Impossibilidade de se impor ao adquirente de uma área já degradada, desprovida de reserva legal ou de área de preservação permanente, a obrigação de recuperá-la; mesmo objetiva a responsabilidade civil pelo dano ambiental, não se pode prescindir da prova do nexo causal. 28
Responsabilidade do atual proprietário da área degradada Posição 2 (Min. José Delgado, STJ - REsp 222.349/PR j. 23.03.2000) Administrativo. Reserva Florestal. Novo proprietário. Legitimidade passiva. O novo adquirente do imóvel é parte legítima passiva para responder por ação de dano ambiental, pois assume a propriedade do bem rural com a imposição das limitações ditadas pela lei federal. 29
Responsabilidade do atual proprietário da área degradada Não há como cogitar (...) de ausência de nexo causal, visto que aquele que perpetua a lesão ao meio ambiente cometida por outrem está, ele mesmo, praticando o ilícito. A obrigação de conservação é automaticamente transferida do alienante ao adquirente, independentemente deste último ter responsabilidade pelo dano ambiental. Recurso especial não conhecido ((Min. Franciulli Netto, STJ REsp 343.741/PR j. 04.06.2002). 30
PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL. CÓDIGO FLORESTAL (LEI 4.771, DE 15 DE SETEMBRO DE 1965). RESERVA LEGAL. MÍNIMO ECOLÓGICO. OBRIGAÇÃO PROPTER REM QUE INCIDE SOBRE O NOVO PROPRIETÁRIO. DEVER DE MEDIR, DEMARCAR, ESPECIALIZAR, ISOLAR, RECUPERAR COM ESPÉCIES NATIVAS E CONSERVAR A RESERVA LEGAL. RESPONSABILIDADE CIVIL AMBIENTAL. ART. 3º, INCISOS II, III, IV E V, E ART. 14, 1º, DA LEI DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE (LEI 6.938/81). (STJ, 1ª Seção, EREsp Nº 218.781 - PR, Rel. Min. Herman Benjamin, julgamento em 09/12/2009) 31
(...) 3. As obrigações ambientais ostentam caráter propter rem, isto é, são de natureza ambulante, ao aderirem ao bem, e não a seu eventual titular. Daí a irrelevância da identidade do dono ontem, hoje ou amanhã, exceto para fins de imposição de sanção administrativa e penal. Ao adquirir a área, o novo proprietário assume o ônus de manter a preservação, tornando-se responsável pela reposição, mesmo que não tenha contribuído para o desmatamento (REsp 926.750/MG, Rel. Min. CASTRO MEIRA, DJ4/10/2007. No mesmo sentido, REsp 343.741/PR, Rel. Min. FRANCIULLI NETTO, DJ 7/10/2002; REsp 264.173/PR, Rel. Min. JOSÉ DELGADO, DJ 2/4/2001; REsp 282.781/PR, Rel. Min. ELIANA CALMON, DJ 27.5.2002). 32
Obrigação propter rem 12. As obrigações ambientais derivadas do depósito ilegal de lixo ou resíduos no solo são de natureza propter rem, o que significa dizer que aderem ao título e se transferem ao futuro proprietário, prescindindo-se de debate sobre a boa ou má-fé do adquirente, pois não se está no âmbito da responsabilidade subjetiva, baseada em culpa (REsp nº 650.728/SC, Rel. Min. Herman Benjamin). 33
O princípio da precaução consiste em dizer que não somente somos responsáveis sobre o que nós sabemos, sobre o que nós deveríamos ter sabido, mas, também, sobre o de que nós deveríamos duvidar (Jean-Marc Lavieille). 34
DIREITO AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CANA-DE- AÇÚCAR. QUEIMADAS. ART. 21, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI N. 4771/65. DANO AO MEIO AMBIENTE. PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO. QUEIMA DA PALHA DE CANA. EXISTÊNCIA DE REGRA EXPRESSA PROIBITIVA. EXCEÇÃO EXISTENTE SOMENTE PARA PRESERVAR PECULIARIDADES LOCAIS OU REGIONAIS RELACIONADAS À IDENTIDADE CULTURAL. INAPLICABILIDADE ÀS ATIVIDADES AGRÍCOLAS INDUSTRIAIS. (STJ, Segunda Turma, REsp Nº 1.285.463 SP, Rel. Min. Humberto Martins, julgamento 28/02/2012) 35
(...) 6. Ademais, ainda que se entenda que é possível à administração pública autorizar a queima da palha da cana de açúcar em atividades agrícolas industriais, a permissão deve ser específica, precedida de estudo de impacto ambiental e licenciamento, com a implementação de medidas que viabilizem amenizar os danos e a recuperar o ambiente, Tudo isso em respeito ao art. 10 da Lei n. 6.938/81. Precedente: (EREsp 418.565/SP, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, Primeira Seção, julgado em 29/09/2010, DJe 13/10/2010). 36
Imputação de resultados tardios (Maria Carmen Gómez Rivero) Os resultados tardios decorrem de uma continuidade da conduta inicial, sem interrupção do desdobramento causal e a instauração de um novo desdobramento causal. 37
Imputação de resultados tardios Situação 1: conduta do agente não produz resultados imediatos, mas resultados ocorrem exatamente da forma que foram pensados resultados imputados ao agente 38
Imputação de resultados tardios Situação 2: resultado lesivo demora muito tempo para ocorrer e ainda é afetado por outros fatores que intervém no desdobramento causal interferem na expectativa de vida da vítima - controvérsias 39
A reparação integral do dano ambiental e a terceiros: tendência à ampliação 40
A redação do art. 14 1º da Lei nº 6.938/81 Sem obstar a aplicação das penalidades (...), é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. 41
A redação do art. 3º da Lei nº 7.347/85 Art. 3º A ação civil poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer. 42
A histórica ação civil pública de Cubatão (SP) 43
ACP MPE/SP + OIKOS X 24 Empresas de Cubatão Condenação ao pagamento de indenização destinada à: a) restauração da cobertura vegetal primitiva, incluindo a descontaminação do solo, a estabilização das encontas, o restabelecimento do equilíbrio da rede de drenagem natural, a revegetação com espécies nativas e típicas da Mata Atlântica, obedecendo a fluxograma racional; b) reintrodução das espécies endêmicas de todos os gêneros da fauna silvestre c) desassoreamento dos cursos d água comprometidos 44
Primeiros precedentes AÇÃO CIVIL PÚBLICA DANO AMBIENTAL DESMATAMENTO RECUPERAÇÃO DA ÁREA POSSIBILIDADE COMPROVADA CUMULAÇÃO DA OBRIGAÇÃO DE FAZER COM INDENIZAÇÃO PECUNIÁRIA DESCABIMENTO ART. 3º DA LEI 7.347 /85 C/C INTERPRETAÇÃO TELEOLÓGICA DA LEI 6938 /81 PRECEDENTES DO STJ. "Conforme o artigo 3º da Lei nº 7.347 /85, não pode a ação civil pública ter por objeto a condenação cumulativa de cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer e dinheiro." (REsp 247162/SP) TJMG - 105140702538690031 MG 1.0514.07.025386-9/003(1) (TJMG) Data de Publicação: 03/07/2009 45
Possibilidade de cumulação das obrigações de fazer e indenizar para assegurar a reparação integral do dano ambiental: jurisprudência do STJ. Exegese do art. 3º da LACP. 46
Orientação atual - STJ (...) 2. O art. 3º da Lei n. 7.347/85 deve ser lido de maneira abrangente e sistemática com a Constituição da República, com as Leis n. 6.938/81 e 8.625/93 e com o Código de Defesa do Consumidor - CDC, a fim de permitir a tutela integral do meio ambiente, com possibilidade de cumulação de obrigações de fazer, não fazer e pagar. Precedentes. 3. Recurso parcialmente conhecido e, nesta parte, provido. (REsp 1178294/MG, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, DJe 10/09/2010) 47
Orientação atual (...) 5. A exegese do art. 3º da Lei 7.347/85 ("A ação civil poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer"), a conjunção ou deve ser considerada com o sentido de adição (permitindo, com a cumulação dos pedidos, a tutela integral do meio ambiente) e não o de alternativa excludente (o que tornaria a ação civil pública instrumento inadequado a seus fins). 48
Orientação atual 6. Interpretação sistemática do art. 21 da mesma lei, combinado com o art. 83 do Código de Defesa do Consumidor ("Art. 83. Para a defesa dos direitos e interesses protegidos por este código são admissíveis todas as espécies de ações capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela.") bem como o art. 25 da Lei 8.625/1993, segundo o qual incumbe ao Ministério Público IV - promover o inquérito civil e a ação civil pública, na forma da lei: a) para a proteção, prevenção e reparação dos danos causados ao meio ambiente (...). 49
(REsp 625249/PR, Rel. Ministro LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em 15/08/2006, DJ 31/08/2006) 50
Lei nº 7.347/85 ação civil pública responsabilidade do poluidor por danos morais e patrimoniais causados Disciplina as ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados ao meio ambiente, entre outros interesses difusos e coletivos, sem prejuízo da ação popular (Redação dada pela Lei nº 8.884, de 11.6.1994) 51
Dano moral coletivo - lesão na esfera moral de uma comunidade - a violação de valores coletivos, atingidos injustificadamente do ponto de vista jurídico. Ex: dano ambiental (lesão ao equilíbrio ecológico, à qualidade de vida e à saúde da coletividade), desrespeito aos direitos do consumidor (por exemplo, por publicidade abusiva), danos ao patrimônio histórico e artístico, violação à honra de determinada comunidade (negra, judaica, japonesa, indígena etc.) e até fraude a licitações. 52
Reparação integral do dano material e moral ao meio ambiente e às vítimas lesadas 53
Indenização por danos materiais ambientais - custos da restauração, recuperação, compensação (custos diretos) - custos da avaliação - perícias (custos indiretos) - perdas econômicas pela não utilização dos recursos ambientais até a recuperação do meio ambiente lesado (valor de uso) 54
Dano moral coletivo (recolhimento ao Fundo) (valor de existência irreparabilidade) -pela perda da função ecológica e outros benefícios sociais, diretos e indiretos (serviços ambientais gratuitos) -Regulagem climática, regime hidrológico, fruição da beleza paisagística, independentemente da exploração econômica (valor de existência) 55
Indenização pecuniária (recolhimento ao Fundo) Processo nº 2002.72.01.003527-0 2ª Vara Federal de Joinville - Condenação da empresa RBM - Rio Bonito Metais a pagar R$ 20 mil de indenização por danos que causou ao meio ambiente antes de se adequar às exigências da legislação. - Ação civil pública do Ministério Público Federal (MPF) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) contra a empresa e a Fatma, que foi isenta de responsabilidade. 56
Indenização pecuniária (recolhimento ao Fundo) - atividade da empresa - manipulação de produtos tóxicos - causava poluição aérea e não tratava adequadamente os efluentes líquidos e resíduos sólidos 57
Indenização pecuniária (recolhimento ao Fundo) - inspeção judicial em fevereiro de 2004 - determinada a paralisação da empresa, que voltou a operar em março mediante o cumprimento de condições - após paralisadas as atividades, a empresa implementou medidas para sanar os problemas, apresentou plano de adequação aos termos da legislação ambiental. 58
Indenização pecuniária (recolhimento ao Fundo) - Não foram detectados prejuízos ao solo, mas informações comprovam o lançamento à atmosfera de material particulado em níveis superiores aos legalmente tolerados. -"No caso de poluição atmosférica, por suas peculiaridades, não é possível a recomposição do bem lesado, daí que a única maneira de promover uma compensação ecológica ao dano ao meio ambiente é o pagamento de indenização. 59
Dano moral coletivo (recolhimento ao Fundo) TJRJ, 2ª Cam. Civ., Ap. Civ. 14586/2001, Rel. Des. Maria Raimunda T. de Azevedo, j. 06/03/2002 - Ação civil pública proposta pelo Município do Rio de Janeiro - objetivo: a reparação de danos ambientais materiais e extrapatrimoniais, decorrentes do corte de árvores, supressão de sub-bosque e início de construção não licenciada em terreno próximo ao Parque Estadual da Pedra Branca. 60
Dano moral coletivo (recolhimento ao Fundo) - acolhidos os pedidos de condenação na obrigação de desfazer as obras irregularmente executadas e de plantar 2.800 mudas de árvores de espécies nativas, com o objetivo de promover a recuperação da área degradada. 61
Dano moral coletivo (recolhimento ao Fundo) -Recurso do Município do Rio de Janeiro para garantir a compensação pelos danos extrapatrimoniais suportados pela coletividade. -A 2ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro reformou a sentença para admitir a ocorrência de danos morais coletivos decorrentes da ação danosa perpetrada contra o meio ambiente e condenou a empresa ao pagamento do equivalente a 200 salários mínimos. 62
Dano moral coletivo (recolhimento ao Fundo) Decisão do Tribunal: - a condenação imposta com o objetivo de restituir o meio ambiente ao estado anterior não impede o reconhecimento de reparação do dano moral ambiental. (...) -Uma coisa é o dano material consistente na poda de árvores e na retirada de sub-bosque cuja reparação foi determinada com o plantio de 2.800 árvores. -Outra é o dano moral consistente na perda de valores ambientais pela coletividade. 63
Dano moral coletivo (recolhimento ao Fundo) Decisão do Tribunal: - O dano moral ambiental tem por característica a impossibilidade de mensurar e a impossibilidade de restituição do bem ao estado anterior. -Na hipótese, é possível estimar a indenização, pois a reposição das condições ambientais anteriores, ainda que determinado o plantio de árvores, a restauração ecológica só se dará, no mínimo dentro de 10 a 15 anos. 64
Dano moral coletivo (recolhimento ao Fundo) Decisão do Tribunal: - Conforme atestam os laudos (fls...) nesse interregno a degradação ambiental se prolonga com os danos evidentes à coletividade, pela perda de qualidade de vida nesse período. (Grifos no original). 65
Precedentes do STJ Rel. Min. Teori Zavascki -Em 2006 (REsp 598.281/MG) - dano ambiental cometido pelo município de Uberlândia (MG) e por uma empresa imobiliária, durante a implantação de um loteamento. -A Primeira Turma confirmou o entendimento de que a vítima do dano moral deve ser, necessariamente, uma pessoa. 66
Voto vencedor - Min. Teori Albino Zavascki - O dano ambiental ou ecológico pode, em tese, acarretar também dano moral. - Todavia, a vítima do dano moral é, necessariamente, uma pessoa. Não parece ser compatível com o dano moral a idéia da "transindividualidade" (= da indeterminabilidade do sujeito passivo e da indivisibilidade da ofensa e da reparação) da lesão, afirma. - o dano moral envolve, necessariamente, dor, sentimento, lesão psíquica. 67
Precedentes do STJ Rel. Min. Teori Zavascki - Não existe dano moral ao meio ambiente. Muito menos ofensa moral aos mares, rios, à Mata Atlântica ou mesmo agressão moral a uma coletividade ou a um grupo de pessoas não identificadas. A ofensa moral sempre se dirige à pessoa enquanto portadora de individualidade própria; de um vultus singular e único (REsp 598.281). 68
Precedentes do STJ Rel. Min. Herman Benjamin (...) -4. A reparação ambiental deve ser feita da forma mais completa possível, de modo que a condenação a recuperar a área lesionada não exclui o dever de indenizar, sobretudo pelo dano que permanece entre a sua ocorrência e o pleno restabelecimento do meio ambiente afetado (= dano interino ou intermediário ), bem como pelo dano moral coletivo e pelo dano residual (= degradação ambiental que subsiste, não obstante todos os esforços de restauração). 69
Precedentes do STJ Rel. Min. Herman Benjamin -5. A cumulação de obrigação de fazer, não fazer e pagar não configura bis in idem, porquanto a indenização não é para o dano especificamente já reparado, mas para os seus efeitos remanescentes, reflexos ou transitórios, com destaque para a privação temporária da fruição do bem de uso comum do povo, até sua efetiva e completa recomposição, assim como o retorno ao patrimônio público dos benefícios econômicos ilegalmente auferidos (REsp nº 1.180.078 MG, Segunda Turma, j. 02/12/2010) 70
71 GRUPO DE ESTUDOS DE DIREITO AMBIENTAL O sistema da responsabilidade compartilhada introduzida pela PNRS (Lei 12. 305/2010) A lógica da observância das exigências ambientais por cada responsável dos setores público e privado, organizado em cadeias econômicas, no âmbito das respectivas atribuições/competências. A lógica preventiva e indutora das boas práticas sócioambientais 71
72 GRUPO DE ESTUDOS DE DIREITO AMBIENTAL Política Nacional de Resíduos Sólidos Lei nº 12.305, de 02/08/2010 Marco inovador e ousado na formulação e implementação da gestão compartilhada do meio ambiente entre o Poder Público das diferentes esferas, o setor econômico-empresarial e os demais segmentos da sociedade (catadores) 72
73 GRUPO DE ESTUDOS DE DIREITO AMBIENTAL Lei nº 12.305/2010 (PNRS) Inspiração no conceito de poluidor, sob a nova perspectiva da observância da legislação 1º Estão sujeitas à observância desta Lei as pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou privado, responsáveis, direta ou indiretamente, pela geração de resíduos sólidos e as que desenvolvam ações relacionadas à gestão integrada ou ao gerenciamento de resíduos sólidos. 73
74 GRUPO DE ESTUDOS DE DIREITO AMBIENTAL Responsabilidades dos geradores e do Poder Público Responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos: conjunto de atribuições individualizadas e encadeadas dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, dos consumidores e dos titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, para minimizar o volume de resíduos sólidos e rejeitos gerados, bem como para reduzir os impactos causados à saúde humana e à qualidade ambiental decorrentes do ciclo de vida dos produtos, nos termos desta Lei (art. 3º, XVII; art. 6º, VII) 74
75 GRUPO DE ESTUDOS DE DIREITO AMBIENTAL Tendência das políticas ambientais no Brasil: Além do sistema de comando e controle estatais Crescente atuação subsidiária dos sistemas clássicos de responsabilidade ambiental: Responsabilidade civil solidária Tríplice responsabilidade ambiental (civil, administrativa e penal) 75
Em caso de não implementação, não funcionamento ou mal funcionamento da responsabilidade compartilhada da cadeia econômica, resta a devida aplicação da responsabilidade civil objetiva e solidária. 76
Mudança de paradigma Do cumprimento da legislação ambiental e suas vantagens Conscientização e sensibilização do empreendedor. Argumentos e estímulos econômicos. É mais vantajoso economicamente prevenir do que reparar e remediar o dano ambiental. 77
Grata pela atenção! Consuelo Yatsuda Moromizato Yoshida cyoshida@trf3.jus.br 78