HIPOSSEGMENTAÇÕES NO PROCESSO DE AQUISIÇÃO DA ESCRITA 1

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Transcrição:

HIPOSSEGMENTAÇÕES NO PROCESSO DE AQUISIÇÃO DA ESCRITA 1 Camila Ribas DELECRODE 2 Renata Cano Ferreira FREITAS 3 Lourenço CHACON 4 RESUMO A aquisição da linguagem, segundo o modelo sociointeracionista, se dá sob forma de processos dialógicos em práticas discursivas. Considerando a aquisição da escrita o um processo particular dentro de um processo mais geral (o da aquisição da linguagem), este estudo-piloto teve o proposta levantar hipossegmentações presentes em produções textuais de cinco meninas e cinco meninos da 2ª série do Ensino Fundamental de uma escola particular do município de Votuporanga, visando preender os fatores possivelmente envolvidos na ocorrência desse tipo de segmentação da escrita. Os resultados obtidos sugerem que uma correlação entre: (a) liberdade de expressão em diferentes produções; (b) influência dos padrões rítmico-entonacionais da oralidade; (c) aspectos do letramento; parece estar na base da ocorrência de hipossegmentações nas produções escritas da criança em processo de aquisição da escrita. PALAVRAS-CHAVE: Aquisição da escrita; Prosódia; Letramento; Hipossegmentações. Acreditando que a aquisição da escrita é um processo particular dentro de um processo mais geral (o da aquisição da linguagem), desenvolvemos este estudo-piloto o objetivo de buscar entender melhor um fenômeno freqüente no início do processo de aquisição da escrita pelo sujeito: as hipossegmentações, ou seja, junção de duas ou mais palavras no curso da escrita (SILVA, 1994). As hipossegmentações parecem ocorrer porque a criança, em processo de aquisição da escrita, não domina as convenções ortográficas de colocação dos espaços em 1 Trabalho desenvolvido o da Proex e e do CNPq/PIBIC e apresentado nos seguintes eventos: II Encontro de Educação do Oeste Paulista, VIII Jornada de Iniciação Científica da FFC/UNESP Campus de Marília, XIII Congresso de Iniciação Científica da UNESP e VII Jornada de Fonoaudiologia da UNESP. 2 Graduanda do 3º ano de Fonoaudiologia da FFC/UNESP - Bolsista CNPq/PIBIC 3 Graduanda do 3º ano de Fonoaudiologia da FFC/UNESP - Bolsista PROEX 4 Docente da FFC - Orientador Faculdade de Filosofia e Ciências UNESP, CEP 17525-900, Marília, São Paulo Brasil. Revista de Iniciação Científica da FFC, v. 4, n. 2, 2004. 163

branco delimitando palavras. Em outras palavras, as hipossegmentações parecem ocorrer porque a criança ainda não domina conceitos necessários para a distinção das classes gramaticais, que estabelecem o critério de delimitação desses espaços em branco. Temos observado que educadores e outros profissionais que atuam a linguagem escrita (o, por exemplo, fonoaudiólogos) dão grande ênfase aos critérios normativos da língua quando avaliam aspectos formais da escrita. Tendo o base esses critérios de avaliação, as hipossegmentações passam, então, a ser vistas o erros por parte desses profissionais. Diferentemente deles, aqui adotaremos uma perspectiva lingüística de base sociointeracionista, de acordo a qual a hipossegmentação não é considerada o erro, mas o um fenômeno que faz parte deste processo, resultante de hipóteses idiossincráticas formuladas pela criança sobre as convenções ortográficas e que podem indiciar a ação do sujeito sobre a linguagem. Este trabalho tem, o objetivo geral, possibilitar um maior conhecimento do processo de aquisição da linguagem em sua modalidade escrita. Seus objetivos específicos são: 1- levantar e analisar as ocorrências de hipossegmentações (segmentações para menos) em produções textuais; 2- ressaltar a importância das relações interdisciplinares entre a Lingüística e a Fonoaudiologia. Os sujeitos foram selecionados aleatoriamente, e os textos utilizados (os quais pertencem a um corpus de textos previamente organizados) foram selecionados de modo que todos os seus produtores tives desenvolvido atividade textual numa mesma quantidade de propostas temáticas. Foram analisadas 70 produções textuais de 10 crianças, sendo cinco meninas e cinco meninos, da 2ª série do Ensino Fundamental de uma escola particular do município de Votuporanga. Esses textos foram produzidos durante o 1º estre de 2000, em situação de sala de aula, base em sete diferentes propostas temáticas, cinco delas sustentadas por alguma forma de gráfico-visual e duas esse tipo de. O gráfico-visual Revista de Iniciação Científica da FFC, v. 4, n. 2, 2004. 164

consistiu no fornecimento de algum material escrito ou ilustrado relacionado ao tema proposto. As hipossegmentações foram levantadas e dispostas em quadros, o pode ser observado a seguir: OCORRÊNCIAS DE HIPOS TOTAL SUJEITOS 03/02 22/02 24/02 02/03 29/03 12/04 26/04 GF. 1 1 0 0 0 0 0 0 1 GF. 2 0 0 2 0 1 2 0 5 GF. 3 1 0 0 0 0 2 0 3 GF. 4 1 0 0 0 0 1 0 2 GF. 5 2 0 0 0 1 1 1 5 TOTAL 5 0 2 0 2 6 1 16 Quadro 1 - Distribuição das ocorrências de hipossegmentações dos sujeitos do gênero feminino ao longo do período estudado. OCORRÊNCIAS DE HIPOS TOTAL SUJEITOS 03/02 22/02 24/02 02/03 29/03 12/04 26/04 GM. 1 4 1 1 0 0 0 0 6 GM. 2 1 0 0 0 0 3 0 4 GM. 3 1 1 1 0 0 1 0 4 GM. 4 0 1 1 1 0 0 0 3 GM. 5 3 7 1 0 7 4 0 22 TOTAL 9 10 4 1 7 8 0 39 Quadro 2 - Distribuição das ocorrências de hipossegmentações dos sujeitos do gênero masculino ao longo do período estudado. Revista de Iniciação Científica da FFC, v. 4, n. 2, 2004. 165

03/02/00 22/02/00 24/02/00 02/03/00 29/03/00 12/04/00 26/04/00 SF. 1 SF. 2 SF. 3 SF. 4 SF. 5 porcausa ateque agente Agente (2x) Eo (2x) darbanho demanhã Atarde Derepemte Eque Doque porisso dimanhã senão Quadro 3 - Ocorrência das hipossegmentações em relação aos sujeitos do gênero feminino e datas de produção. 03/02/00 22/02/00 24/02/00 02/03/00 29/03/00 12/04/00 26/04/00 SM. 1 SM. 2 SM. 3 SM. 4 SM. 5 estabem dinovo Xe gandola Irenbora irnaescola Sichamavam Siperderam Avelinha Fiquenavontade Agalinha disseoporco levaramao Meajuda (4x) Anuvem Eo enaceu Sichamava ensima enpé eo Atarde Tabom Eo agente Tábom Eo (7x) Tabom Meajuda Oslivro apranchas Quadro 4 - Ocorrência das hipossegmentações em relação aos sujeitos do gênero masculino e datas de produção. Com base nas informações expostas nos quadros acima, acreditamos poder atribuir aos resultados algumas tendências mais gerais. Passaremos a enumerar essas tendências: A. maior ocorrência de hipossegmentações em sujeitos do gênero masculino do que em sujeitos do gênero feminino; Revista de Iniciação Científica da FFC, v. 4, n. 2, 2004. 166

B. maior incidência de hipossegmentações em temas gráfico-visual do que em temas gráfico-visual; C. quantidade de hipossegmentações variação: 1. intra-sujeitos 2. inter-sujeitos D. flutuação intra-sujeito: nota-se que os sujeitos apresentam mais de uma solução ortográfica em um mesmo texto para grupos de palavras que foram, ora hipossegmentadas ora segmentadas de acordo as convenções ortográficas, o mostram os exemplos: SM. 3: Disseoporco / disse o porco SF. 4: A gente / agente E. estruturas características: as hipossegmentações parecem se constituir de: (1) junção de um clítico a uma palavra da classe dos substantivos, verbos e advérbios, o: Substantivo: avelhinha Verbo: sichamava Advérbio: dimanhã (2) junção de um conjunto de palavras que põem uma unidade de informação, o: fiquenavontade Com relação à tendência apontada em (A), embora seja descrito na literatura relativa aos distúrbios da unicação principalmente nos estudos referentes à fluência, por exemplo, em Andrade (1999), maior predomínio de dificuldades de linguagem no gênero masculino do que no gênero feminino, os resultados obtidos em (A) não são suficientes para afirmamos que o mesmo se passa entre os sujeitos de nosso estudo. Como se podem observar, os sujeitos do gênero masculino apresentaram uma média de quatro ocorrências de hipossegmentações por sujeito, excluindo-se o sujeito G.M 5, que se mostrou o desviante dos demais por apresentar uma alta ocorrência deste fenômeno. Já os sujeitos do gênero feminino apresentaram uma média de três hipossegmentações por sujeito. Acreditamos que seria necessária uma maior quantidade de dados, numa amostra controlada e criada predominantemente para esse fim, para que pudésos chegar a Revista de Iniciação Científica da FFC, v. 4, n. 2, 2004. 167

resultados mais conclusivos. Preferimos, portanto, acreditar que nossos dados apenas sugerem que, nas condições de produção dos textos analisados, os sujeitos do gênero masculino hiposegmentaram mais do que os do gênero feminino. Com relação à tendência apontada em (B), pensamos que os dados obtidos nesse item da exposição dos resultados se devam ao fato de que as propostas gráficovisual limitam as opções de escrita da criança. Nessas propostas, além de o tema ser mais dirigidas, algumas delas possuem espaço pré-estabelecido para a escrita. Muita delas ainda expõe personagens e ações. Já as propostas para escrita gráfico-visual permitem uma maior expressividade do sujeito, já que possibilitariam uma maior preocupação o desenvolvimento do tema e menor preocupação o uso das convenções ortográficas. Com relação à tendência apontada em (C), a variação intra-sujeitos, apresentada em (C)-1, parecem indicar diferentes formas de relação do sujeito as propostas temáticas. Já a variação inter-sujeitos, em (C)-2, se levarmos em conta estudos o os de Kleiman (1995), Soares (1998) e Tfouni (2000), acreditamos que esse fato parece justificar-se devido às diferentes histórias de contato dos sujeitos a informação letrada. Com relação à tendência apontada em (D), os dados obtidos levam a supor que as hipóteses que a criança formula para solucionar seus conflitos a escrita são locais e idiossincráticas. Esse fato é aqui considerado o uma característica da aquisição da linguagem, tanto na modalidade escrita o na oral, tal o descrito por Abaurre, Mayrink-Sabison e Fiad (1997) e Silva (1994). Por fim, relação à tendência apontada em (E), acredita-se que, tanto em E- 1 o em E-2, a criança se apóia no conhecimento que traz da oralidade para fazer suas hipóteses de segmentação de palavras, especialmente em aspectos prosódicos. Esse fato explicaria a junção de um clítico a uma palavra da classe dos substantivos, verbos e advérbios, no caso E-1, e, no caso E-2, a junção de palavras apoiadas em padrões rítmicoentonacionais (Grupos de Força e Tonal), constituindo unidades de informações maiores (SILVA, 1994). Acreditamos que a realização deste estudo-piloto possibilitou um maior conhecimento sobre alguns fatos possivelmente envolvidos na aquisição da escrita, tal o a relação entre letramento e oralidade, visto que a aquisição de uma prática letrada, tal o a produção de texto em situação escolar, sustenta-se na inserção do sujeito Revista de Iniciação Científica da FFC, v. 4, n. 2, 2004. 168

escrevente em múltiplas práticas orais e letradas de linguagem antes e durante o curso de seu aprendizado da escrita. Considerando o fato de essa pesquisa ser realizada por estudantes de Fonoaudiologia, acredita-se, ainda, que este estudo-piloto também poderá fornecer subsídios para a avaliação da linguagem escrita. Em geral, na Fonoaudiologia, a avaliação da linguagem escrita baseia-se sobretudo em modelos padronizados (testes) que dão muita importância aos aspectos formais da linguagem, o ênfase na correção ortográfica e na relação fonema-grafema, desconsiderando o fato de a escrita ser um processo. Dessa forma, a avaliação da escrita no campo da Fonoaudiologia, em geral, considera as hipossegmentações o erros, ignorando que elas podem demonstrar um percurso idiossincrático e local que a criança utiliza para construir sua escrita e que pode, ainda, indiciar um sujeito manipulador que está construindo a sua própria linguagem escrita. REFERÊNCIAS ABAURRE, M. B. M.; MAYRINK-SABISON, M. L. T.; FIAD, R. S. Cenas de aquisição da escrita: o sujeito e o trabalho o texto. Campinas: Mercado das letras, 1997. ANDRADE, C. R. S. Diagnóstico e intervenção precoce no tratamento das gagueiras infantis. Carapicuíba: PROFONO, 1999. KLEIMAN, A. B. Os significados do letramento: uma nova perspectiva sobre a prática social da escrita. Campinas: Mercado das letras, 1995. SILVA, A. Alfabetização: a escrita espontânea. São Paulo: Contexto, 1994. SOARES, M. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 1998. TFOUNI, L. V. Letramento e alfabetização. São Paulo: Cortez, 2000. ARTIGO RECEBIDO EM 2002. Revista de Iniciação Científica da FFC, v. 4, n. 2, 2004. 169