INTRODUÇÃO E PRINCÍPIOS

Documentos relacionados
Curso/Disciplina: Direito Empresarial Aula: Direito Administrativo Aula 120 Professor(a): Luiz Jungstedt Monitor(a): Analia Freitas. Aula nº 120.

Técnico Judiciário Área Administrativa. Direito Administrativo. Profª Tatiana Marcello

Direito Administrativo

A CASA DO SIMULADO DESAFIO QUESTÕES MINISSIMULADO 60/360

Princípios da Administração Pública (Resumos de Direito Administrativo)

Direito Administrativo

sumário Capítulo 1 PRINCÍPIOS... 1

PREGÃO (LEI N /2002)

Direito Administrativo. Lista de Exercícios. Poderes Administrativos

ATUAÇÃO DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS DE SP

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

ATA - Exercício Direito Administrativo Exercício Giuliano Menezes Copyright. Curso Agora Eu Passo - Todos os direitos reservados ao autor.

Direito Administrativo. Estado, Governo e Adm. Pública

NOME DO PROFESSOR DISCIPLINA

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

AULÃO AO VIVO PC-GO. Prof. Rodrigo Cardoso

PROCESSO ADMINISTRATIVO FEDERAL. Rubens Kindlmann

PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS APLICÁVEIS AO DIREITO PENAL

GUSTAVO SALES DIREITO ADMINISTRATIVO

GUSTAVO SALES DIREITO ADMINISTRATIVO

DIREITO ADMINISTRATIVO TJ - PE. Prof. Luiz Lima

PODERES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. Paula Freire 2012

2012 MPE/AP Técnico Ministerial


Direito Administrativo

ESTUDA A ESTRUTURA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

DIREITO ADMINISTRATIVO

CRIMES DE TRÂNSITO I

CONCURSO PÚBLICO 571 PROCURADOR MUNICIPAL EDITAL 37 ANEXO III

PROGRAMA DE DISCIPLINA DISCIPLINA. CARGA HORÁRIA NOME DO CURSO ANO T P E TOTA L Direito OBJETIVOS

Sumário Capítulo 1 Introdução Capítulo 2 Administração Direta e Indireta Capítulo 3 Princípios constitucionais da Administração Pública Capítulo 4

DIREITO ADMINISTRATIVO

DIREITO ADMINISTRATIVO QUESTÕES DO CESPE

DIREITO ADMINISTRATIVO

DIREITO ADMINISTRATIVO. Professor Emerson Caetano

direito administrativo

DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR

Nº da aula 12 SUSTENTABILIDADE NO PODER JUDICIÁRIO:

Organização da Disciplina. Direito Administrativo Aula n. 1. Organização da Aula. Contextualização. Instrumentalização

Direito Administrativo Brasileiro. Raquel Rivera Soldera

DIREITO ADMINISTRATIVO 2013

SUMÁRIO. 3 PODERES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Poder-dever... 57

A CASA DO SIMULADO DESAFIO QUESTÕES MINISSIMULADO 27/360

SUMÁRIO 4. ATOS ADMINISTRATIVOS

Nota, xi Nota à 9a edição, xiii

No que concerne à licitação, ao controle da administração pública e ao regime jurídico administrativo, julgue os itens de 57 a 60.

DIREITO ADMINISTRATIVO

Direito Administrativo (Profª. Tatiana Marcello)

Aula 08. Agora serão apresentadas as questões complementares às autarquias.

PROCESSO ADMINISTRATIVO. Roteiro de aula Curso: Direito Administrativo II DES0312 Diurno 2014

Direito Administrativo

Direito Administrativo

20/11/2014. Direito Constitucional Professor Rodrigo Menezes AULÃO DA PREMONIÇÃO TJ-RJ

A CASA DO SIMULADO DESAFIO QUESTÕES MINISSIMULADO 6/360

Questões Comentadas de Administrativo - AOCP Professor Luis Eduardo

RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO AGENTES PÚBLICOS E PROCESSO ADMINISTRATIVO INTERVENÇÃO DO ESTADO NA PROPRIEDADE ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

PRINCÍPIOS. OObs.: ANOTAÇÕES. DIREITO ADMINISTRATIVO EM EXERCÍCIOS IADES Princípios

DIREITO ADMINISTRATIVO

LEI N. 066/1993 Lei n. 066/1993 Produção: Equipe Pedagógica Gran Cursos Online LEI N. 066/1993

A CASA DO SIMULADO DESAFIO QUESTÕES MINISSIMULADO 90/360

Direito Administrativo

DIREITO ADMINISTRATIVO 01 - PRINCÍPIOS. Prof. Dra. Nara Suzana Stainr Pires

VÍTOR ALVES DIREITO ADMINISTRATIVO

DIREITO ADMINISTRATIVO

Prof. Marcelino Dir Adm.

RESOLUÇÃO DE EXERCÍCIOS I

DIREITO ADMINISTRATIVO

Aula 05 TIPOS DE EMPRESAS ESTATAIS. A CF já falava de estatais antes do Estatuto da Estatal, e já havia problemas.

PODERES ADMINISTRATIVOS

O Principio da Publicidade tem seu campo de maior atuação no Administrativo, Assim, José Afonso da Silva 2, diz que:

CLÁUSULA SEGUNDA DO CONTEÚDO PROGRAMÁTICO MÓDULO I TEORIA

03/05/2017 MARIANO BORGES DIREITO ADMINISTRATIVO

Direito Administrativo

PREFEITURA DE ARACRUZ/ES - AUDITOR Respostas aos Recurso contra o gabarito da Prova Objetiva

A CASA DO SIMULADO DESAFIO QUESTÕES MINISSIMULADO 66/360

PODERES ADMINISTRATIVOS

DIREITO ADMINITRATIVO

CADERNO DE ESTUDO DIRIGIDO DIREITO ADMINISTRATIVO

16/12/2015 UNIÃO ESTADOS DF. ADMINISTRAÇÃO DIRETA ( Centralizada ou Central ) MUNICÍPIOS ESTUDA A ESTRUTURA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA UNIÃO

Regula o processo administrativo no âmbito da Administração Pública Federal.

CONTROLE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS LEGALIDADE

INTRODUÇÃO PROCESSO PENAL

1 DIREITO ADMINISTRATIVO...16

Nº da aula 01. A Resolução nº 810/97 não está expressamente citada na matéria do edital, mas o conteúdo

A Lei do Colarinho Branco no âmbito das licitações públicas

NOÇÕES BÁSICAS SOBRE OS PRINCÍPIOS REGENTES DA ATIVIDADE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. Everaldo Rocha Bezerra Costa Procuradoria Federal junto à UFG

DIREITO CONSTITUCIONAL PROFESSOR DANIEL SENA

CURSO JURÍDICO FMB CURSO

SUMÁRIO. 9 1-ESTADO, ADMINlSTRAÇÃO PÚBLICA E DIREITO ADMINISTRATIVO..

Direto do concurso NOÇÕES INTRODUTÓRIAS DIREITO PENAL

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

QUESTÕES DIREITO ADMINISTRATIVO PRINCÍPIOS

PROCON-MA Fiscal de Defesa do Consumidor. CONHECIMENTOS GERAIS (30 questões - Peso 1)

PROVA DAS DISCIPLINAS CORRELATAS DIREITO ADMINISTRATIVO

CURSO CARREIRAS JURÍDICAS Nº 21

Processo Administrativo Lei 9.784/1999

Direito Administrativo

Organização da Aula. Direito Administrativo Aula n. 2. Contextualização

DIREITO ADMINISTRATIVO

Transcrição:

INTRODUÇÃO E PRINCÍPIOS Lei n. 9.784/99 A Lei n. 9.784/99 é uma lei federal que estabelece regras para o processo administrativo na esfera federal. Sendo uma lei federal, ela é aplicada apenas no âmbito da União. De acordo com a doutrina, a lei nacional é aquela que é aplicada em todo território nacional, isto é, em todos os estados, todos os municípios, no Distrito Federal e na União, como, por exemplo, a Lei n. 8.666. Já a lei federal é aplicada apenas no âmbito federal. Os Estados, Municípios e DF têm competência legislativa para criar suas leis de processos administrativos. Assim, o estado de Goiás, por exemplo, tem suas próprias leis de processos administrativas, com âmbito de aplicação apenas para esse estado. A função típica do Poder Legislativo é praticar e executar processo legislativo, isto é, edição e elaboração de leis. A função típica do Poder Judiciário, por sua vez, é dar andamento aos processos judiciais. A função típica do Poder Executivo, por fim, é justamente o que será trabalhado nesta aula: o processo administrativo. Mas nas funções do Poder Judiciário e do Poder Legislativo também se encontram atividades administrativas como atividade-meio. Esses Poderes realizam, por exemplo, licitação pública, que é um processo administrativo. Caso um servidor de um desses Poderes faça um requerimento para tirar licença para tratar de interesses particulares, será gerado também um processo administrativo. Desse modo, percebe-se que o processo administrativo está presente em todos os Poderes. A Lei n. 9.784/99, portanto, é aplicada não apenas ao Poder Executivo, mas também ao Judiciário e ao Legislativo quando se trata de suas funções atípicas em relação ao processo administrativo. A Lei n. 9.784/1999 é aplicada, no Poder Executivo, tanto na Administração Direta quanto na Indireta e, portanto, engloba também autarquias, fundações públicas, empresas públicas e sociedades de economia mista. 1

Trata-se de uma lei genérica sobre processo administrativo, havendo leis próprias e específicas de processo administrativo sobre determinada matéria. A Lei n. 8.112, por exemplo, trata do processo administrativo em relação a assuntos como processo disciplinar, direito de petição. No caso de solicitação de Licença Capacitação, por exemplo, instaura-se um processo administrativo, o qual tem uma regulamentação própria na referida lei. Faltando qualquer informação nas leis específicas, o administrador deverá aplicar de maneira subsidiária os dispositivos da Lei n. 9.784/1999. Não havendo lei específica, essa lei será, então, aplicada na íntegra. LEI N. 9.784, DE 29 DE JANEIRO DE 1999 Regula o processo administrativo no âmbito da Administração Pública Federal CAPÍTULO I DAS DISPOSIÇÕES GERAIS Art. 1º Esta Lei estabelece normas básicas sobre o processo administrativo no âmbito da Administração Federal direta e indireta, visando, em especial, à proteção dos direitos dos administrados e ao melhor cumprimento dos fins da Administração. 1º Os preceitos desta Lei também se aplicam aos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário da União, quando no desempenho de função administrativa. 2º Para os fins desta Lei, consideram-se: I órgão - a unidade de atuação integrante da estrutura da Administração direta e da estrutura da Administração indireta; II entidade - a unidade de atuação dotada de personalidade jurídica; III autoridade - o servidor ou agente público dotado de poder de decisão. Conforme o disposto no artigo 1º, a Lei n. 9.784 tem dois objetivos: a proteção dos direitos dos administrados; e o melhor cumprimento dos fins da Administração. 2

O objetivo e os fins de toda ação da Administração Pública é sempre atender ao interesse público. Portanto, os objetivos dessa lei significam justamente atender ao interesse público. Essa lei traz ainda os conceitos de órgão e entidade, os quais são muito utilizados no Direito Administrativo. Quando se fala em organização administrativa (desconcentração e descentralização), são estudados os órgãos públicos e as entidades. Considera-se comumente órgão público como unidade integrante da Administração Direta e entidade, da Administração Indireta. Mas é inegável que na Administração Indireta também há a existência de órgão público. Por exemplo: sabe-se que o INSS é uma autarquia federal. Existem, no entanto, vários postos de atendimento de INSS em todo o Brasil, que são órgãos da autarquia INSS. O INSS, portanto, desconcentrou, criando órgãos dentro de sua própria estrutura. Outro exemplo é a UnB, Universidade de Brasília, que é uma fundação que tem campi em várias cidades-satélites do Distrito Federal. Há um campus da UnB na cidade de Ceilândia, Gama, Planaltina etc. Portanto, a fundação UnB também desconcentrou, criando órgãos dentro de sua competência. Tanto é assim que, se um aluno propuser uma ação judicial por um dano moral ou material cometido no campus da Ceilândia, por exemplo, ele entrará na justiça contra a entidade UnB, e não contra esse campus. Quando se fala em entidade administrativa, trata-se de unidade que faz parte da Administração Indireta, como a autarquia, a fundação, a empresa pública e a sociedade de economia mista. O órgão não tem personalidade jurídica própria. Princípios expressos na Lei n. 9.784/99 Existem princípios expressos na Constituição Federal e princípios expressos também em lei infraconstitucional. A CF, artigo 37, dispõe os princípios conhecidos como LIMPE. E o artigo 2º da Lei n. 9.784 também estabelece 11 (onze) princípios de maneira expressa, que são: Legalidade Moralidade Eficiência 3

Motivação Finalidade Interesse público Razoabilidade Proporcionalidade Ampla defesa Contraditório Segurança jurídica Legalidade O agente público, ao exercer suas atividades conduzindo o processo administrativo, deve ter como base a lei. Não apenas a legislação em sentido estrito, mas também qualquer regulamento, decreto ou ato normativo. Moralidade O processo administrativo deve ser conduzido com ética, justiça, boa-fé e equidade, que é uma conduta reta do administrador público. Eficiência O processo administrativo sua decisão e seu processamento deve ser eficiente. Então o administrador público deve ser eficiente na condução, bem como no resultado do processo administrativo. Motivação A motivação do ato administrativo significa, dentro do processo administrativo, que os atos devem ser motivados, uma decisão deve ser motivada. A motivação explica por que determinada decisão foi tomada, por que certo ato administrativo foi praticado. 4

Finalidade e Interesse Público São princípios correlatos. A finalidade de toda ação do administrador público é atender ao interesse público. Na Constituição Federal é expresso o princípio da impessoalidade, que também é um princípio correlato com o princípio da finalidade e do interesse público. Os conceitos desses princípios são parecidos, mas lembre-se: os princípios que estão escritos na Lei n. 9.784/99 são finalidade e interesse público. Razoabilidade e Proporcionalidade O princípio da razoabilidade significa que o administrador público deve ser ponderado ao praticar uma atividade dentro de um processo, deve ser razoável e agir com bom senso. A razoabilidade tem a ver com sanção: não pode a Administração Pública aplicar uma sanção superior a estritamente necessária. Se a infração praticada pelo particular é leve, a sanção também deve ser branda. Se a infração é grave, a pena deve ser grave. Portanto, a Administração Pública deve ser proporcional em suas ações. Esse princípio também é conhecido como princípio da proibição de excessos: a Administração Pública não pode proibir de maneira excessiva o particular. Alguns consideram também a relação entre meios e fins, ou seja, os meios utilizados devem ser proporcionais ao fim visado. Por exemplo: considera-se uma passeata pacífica que está atrapalhando o trânsito e a polícia é chamada. E esta, então, para dispersar a passeata, resulta na morte de três manifestantes. Uma atividade como essa não foi proporcional, pois utilizou uma força maior do que a estritamente necessária. O pulo do gato É muito comum as bancas de concurso tratarem esses princípios como sinônimos, até porque não tem como uma atividade ser proporcional se não for também razoável. Mas cuidado: há bancas que tratam esses princípios de maneira separada. 5

Ampla defesa e Contraditório O contraditório tem relação com o momento da defesa. Quando a Administração Pública acusa o particular e aplica uma sanção, tem que conceder um prazo para defesa, que, como será visto, a Lei concede o prazo de 10 dias para recurso. A ampla defesa, por seu turno, significa que o particular prejudicado pode utilizar todos os meios lícitos e provas necessárias para provar sua inocência e mudar o entendimento da Administração Pública. Por exemplo: por meio de perícia, oitiva de testemunha, apresentação de provas ao processo no momento que quiser etc. Segurança jurídica O cidadão precisa confiar e ter uma segurança nos posicionamentos da Administração Pública. Observe o seguinte exemplo: considera-se a Lei n. 3.480/11, que remete competência ao prefeito da cidade para estabelecer regras sobre ocupação de área pública. Um prefeito edita, então, o Decreto n. 4.120/12, que concede direito aos particulares de construir em determinada área pública um avanço de 3 m 2 no comércio. Supõe-se que um comerciante exerceu esse direito. Sendo assim, esse direito foi incorporado no patrimônio jurídico do particular. Supondo-se que, ao mudar o prefeito, foi editado um novo decreto: Decreto n. 5.772/16, cujo objetivo é revogar o decreto anterior, autorizando o avanço de apenas 1 m 2. É possível que a Administração Pública mude sua interpretação da lei. A lei, entretanto, não pode retroagir. O novo decreto terá ação apenas para o futuro. O princípio da segurança jurídica, portanto, veta que nova interpretação da lei pela Administração Pública alcance situações pretéritas. É a mesma regra da CF, que determina que a lei não retroagirá. Do mesmo modo, o ato normativo não retroagirá. Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a aula preparada e ministrada pelo professor Rodrigo Cardoso. 6