IMPACTO DA APRENDIZAGEM BASEADA EM PROBLEMAS NOS PROCESSOS DE ENSINO E DE APRENDIZAGEM NA PÓS-GRADUAÇÃO



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Transcrição:

IMPACTO DA APRENDIZAGEM BASEADA EM PROBLEMAS NOS PROCESSOS DE ENSINO E DE APRENDIZAGEM NA PÓS-GRADUAÇÃO Resumo Silvana Neumann Martins 1 - UNIVATES Aline Diesel 2 - UNIVATES Andreia Aparecida Guimaraes Strohschoen 3 - UNIVATES Jacqueline Silva da Silva 4 - UNIVATES Grupo de Trabalho - Metodologias para o Ensino e Aprendizagem no Ensino Superior Agência Financiadora: não contou com financiamento A Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP) é uma estratégia de ensino que vem se destacando como proposta metodológica que pode responder aos anseios de mudança no Ensino Superior, inclusive em termos de Pós-Graduação, já que propõe o desafio de romper com o modelo de sala de aula tradicional. O professor, ao utilizar-se dessa metodologia, organiza e operacionaliza sua própria práxis focando-a no seu aluno, enquanto um cidadão crítico e ativo. Assim, embora a ABP venha sendo debatida há mais de 30 anos, seus princípios norteadores permanecem atuais quando comparados a práticas que promovem o acúmulo mecânico de informações. Diante dessas considerações, pretende-se, neste texto, fazer um relato de uma prática pedagógica inovadora utilizada na disciplina Seminários sobre políticas públicas da educação, ciência, tecnologia e inovação, do Programa de Pós- Graduação - Mestrado em Ensino, do Centro Universitário UNIVATES, localizado no município de Lajeado, interior do Rio Grande do Sul, Brasil, em que se utilizou a Aprendizagem Baseada em Problemas como metodologia ativa de ensino e de aprendizagem. A dinâmica proporcionou a reflexão sobre uma situação problema, a partir da qual foi elaborada uma questão de aprendizagem. Esta impulsionou a pesquisa para a produção de uma síntese individual e de uma síntese coletiva. Os pressupostos teóricos são pautados especialmente em Berbel (2011) e em Enermark e Kjaersdam (2009). Também se verificou a atuação ativa dos estudantes no processo de aprendizagem, os quais, por meio da busca constante por informações, tornaram-se os atores do próprio conhecimento. 1 Mestra e Doutora em Educação pela PUCRS. Docente permanente do Mestrado Profissional em Ensino de Ciências Exatas e do Mestrado Acadêmico em Ensino da Univates. E-mail: smartis@univates.br. 2 Graduada em Letras pela Univates, RS. Mestranda em Ensino pela Univates, RS. Bolsista Prosup/Capes. E- mail: aline.diesel@hotmail.com. 3 Doutora em Ciências, ênfase Ecologia. Docente do Programa de Pós-Graduação em Ensino e do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências Exatas, da Univates, RS. E-mail: aaguim@univates.br. 4 Doutora em Educação pela UFRGS. Docente permanente do Mestrado Profissional em Ensino de Ciências Exatas e do Mestrado Acadêmico em Ensino da Univates. E-mail: jacqueh@univates.br. ISSN 2176-1396

18744 Palavras-chave: Metodologias de Ensino e de Aprendizagem. Pós-Graduação. Aprendizagem Baseada em Problemas. Introdução No âmbito educacional, incessantemente, procuram-se estratégias que permitam uma prática de ensino e de aprendizagem que tenha como resultado o aprender constante e ininterrupto, e que preparem cada vez mais um profissional mais competente, crítico, capaz de solucionar os problemas com os quais se depara no dia a dia. Pode-se dizer que as metodologias ativas de ensino e de aprendizagem se enquadram nessa perspectiva, uma vez que consideram o foco do processo educativo centrado no estudante, estimulando sua capacidade de autoformação, por provocar a busca constante por informações. Dentre outros exemplos de metodologias ativas (philipps 66, grupo de verbalização e grupo de observação (GV/GO), mapa conceitual, portfólio, problematização, dramatização, peer instruction, entre outros), é considerada, neste trabalho, a Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP). A aprendizagem baseada em problemas (ABP), da expressão original Problem Based Learning (PBL), vem se tornando usual no cenário do ensino superior no Brasil. Para a funcionalidade dessa metodologia, o professor deve trazer um caso real ou fictício, vivido no dia a dia, seja na empresa ou em outro local, para que em aula seja discutido. A partir daí, é desenvolvido com os alunos uma questão de aprendizagem sobre a qual deverá ser produzida uma síntese individual, seguida de uma síntese coletiva. O relato que aqui se apresenta é fruto de uma prática pedagógica inovadora baseada nos pressupostos teóricos que norteiam a ABP, realizada em 2014, com 26 alunos que participaram da disciplina Seminários sobre políticas públicas da educação, ciência, tecnologia e inovação, do Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Ensino, do Centro Universitário UNIVATES, localizado em Lajeado, Rio Grande do Sul, Brasil. A seguir, é apresentada a base teórica que permeou esta prática, seguido pelo relato da prática. Na sequência, finalizando, são realizadas algumas reflexões acerca da prática desenvolvida.

18745 Metodologias Ativas de Ensino e de Aprendizagem Práticas pedagógicas norteadas por metodologias ativas de ensino e de aprendizagem visualizam o aprender a partir da utilização de [...] experiências reais ou simuladas, visando às condições de solucionar, com sucesso, desafios advindos das atividades essenciais da prática social, em diferentes contextos (BERBEL, 2011, p. 29). Nessa metodologia, o foco do processo educativo está centrado no estudante, o qual é estimulado a construir ativamente sua própria aprendizagem, através da articulação de seus conhecimentos prévios com os de outros estudantes, visando o desenvolvimento do raciocínio crítico, de habilidades de comunicação e do entendimento da necessidade de aprender ao longo da vida (GOMES et al., 2009). A problematização é compreendida como uma das estratégias de ensino e de aprendizagem, pois: [...] pode levar o aluno ao contato com as informações e à produção do conhecimento, principalmente, com a finalidade de solucionar os impasses e promover o seu próprio desenvolvimento. Aprender por meio da problematização e/ou da resolução de problemas de sua área, portanto, é uma das possibilidades de envolvimento ativo dos alunos em seu próprio processo de formação (BERBEL, 2011, p. 29). Ainda de acordo com Berbel (2011, p. 28), as metodologias de ensino e de aprendizagem [...] têm o potencial de despertar a curiosidade, à medida que os alunos se inserem na teorização e trazem elementos novos, ainda não considerados nas aulas ou na própria perspectiva do professor. Um exemplo de metodologia ativa é a ABP. Tal metodologia visa garantir [...] uma relação dialética entre a teoria acadêmica e a prática profissional (ENERMARK; KJAERSDAM, 2009, p.17). Os autores ainda salientam que essa prática metodológica procura desenvolver o processo de aprendizagem do aluno, contribuindo para novos conhecimentos adquiridos através da ação que parte de uma problematização. A expressão baseado em problemas significa [...] que conhecimentos de livros didáticos tradicionais são substituídos por conhecimentos necessários à resolução de problemas teóricos (ENERMARK; KJAERSDAM, 2009, p. 26). No modelo pedagógico norteado pela ABP, busca-se, principalmente, fornecer ao estudante condições de desenvolver habilidades técnicas, cognitivas e atitudinais, para que

18746 seja capaz de agir diante de questões relevantes, atuais, para as quais a sociedade, as empresas ou a vida real ainda não encontraram solução (ENERMAK; KJAERSDAM, 2009). A dinâmica proporcionou reflexão sobre uma situação problema, a elaboração e uma questão de aprendizagem, a pesquisa para a produção de uma síntese individual e de uma síntese coletiva (BERBEL, 1998). Trabalhar a partir da óptica da ABP é estar preparado para a descoberta de novos conhecimentos, sem saber muito bem quais os caminhos a seguir, pois, a trajetória se faz com o aluno, no decorrer do processo e, cada um que se apresenta diante do professor, é fértil em termos de aprendizagem. Também não cabe aos educadores, a função de apresentar respostas prontas, receituários milagrosos. É preciso compreender que a estratégia da pesquisa vai justamente ao encontro da dúvida, do incerto, do inacabado, remetendo os sujeitos envolvidos ao processo de construção de novas aprendizagens. Relato da prática A prática aqui apresentada ocorreu durante a disciplina Seminários sobre Políticas Públicas da Educação, Ciência, Tecnologia e Inovação, que possui uma carga horária de 30h/a. A ementa da disciplina é assim constituída: As fontes da política educacional: a legislação educacional; compromissos internacionais; planos governamentais e de educação. Contexto das políticas públicas da educação básica ao ensino superior. A educação para o século XXI: tendências, desafios e metas para a Educação Superior, Ciência, Inovação e Desenvolvimento Tecnológico (UNIVATES, 2015, texto digital). Para trabalhar essa ementa com os 26 alunos matriculados na disciplina, optou-se pela metodologia da ABP, que foi desenvolvida ao longo de toda a carga horária da disciplina. Num primeiro momento, foram realizadas dinâmicas de desenvolvimento das relações interpessoais entre os alunos e a professora, pois se acredita que o ensino e a aprendizagem podem não obter o êxito desejado numa sala de aula onde os participantes não se conhecem e não cultuam a empatia. Após, realizou-se a leitura de um artigo sobre os problemas que circundam a sala de aula, o ensino e a aprendizagem na Educação Básica no Estado do Rio Grande do Sul. Esse texto foi o desencadeador de percepções e de reflexões sobre o que é ser professor no atual cenário educacional brasileiro. Durante os debates, a professora, a todo o momento,

18747 relacionou a discussão e as reflexões com as leituras que os alunos tinham realizado em casa para o primeiro encontro. Essas leituras foram sobre artigos, escolhidos pela professora e disponibilizados no ambiente virtual da disciplina, publicados em periódicos com estrato A2 e B1 no Qualis (CAPES, 2015), sobre a temática das políticas públicas da educação no Brasil. Isso fez com que os alunos começassem a inferir que o seu dia a dia como professor ou como gestor de uma instituição de ensino é regido por essas políticas, as quais, muitas vezes, são ignoradas pelos professores. Num terceiro momento, a professora trouxe o texto intitulado Políticas Públicas da Educação utopia? para introduzir a situação-problema. Esse texto foi produzido pela própria professora e conta a história de uma docente que, recém-formada e cheia de sonhos, começa a carreira de docente em escola pública e particular. Nos dois cenários, enfrenta desafios e entraves, como salas superlotadas, alunos com deficiência auditiva e seu despreparo para atendê-los, a corrida pelo vestibular, a caminhada solitária de uma professora na escola, a necessidade de formação continuada, entre outros. A professora fez a leitura do texto e solicitou para que cada aluno realizasse apontamentos no texto. Os alunos deveriam assinalar o que lhes chamava a atenção, o que discordavam ou concordavam em relação às decisões tomadas pela protagonista do texto. Após a leitura, foi aberto um momento de grande valia, pois cada aluno pôde trazer suas reflexões e seus entendimentos a partir da situação-problema apresentada. Nesse momento, a professora foi a mediadora do processo de aprendizagem e isso implicou em questionar constantemente os alunos, fazendo com que todos participassem, de modo a aproximas os alunos dos objetivos estipulados pela disciplina. Cabe ressaltar que, ao longo da discussão, a professora escreveu no quadro os assuntos e as temáticas que foram emergindo. Ao final desse momento, o quadro estava repleto de conteúdos que necessitavam ser trabalhados na disciplina. Num quinto momento, a partir do que estava exposto no quadro, a professora solicitou que o grupo de alunos construísse uma Questão de Aprendizagem que englobasse o maior número de assuntos e temas que emergiram ao longo do debate. A questão que surgiu foi: Quais os desafios enfrentados pela educação no que se refere à qualidade e à aplicabilidade das políticas públicas no Brasil?. Após a construção da questão de aprendizagem, a professora solicitou que os alunos produzissem uma Síntese Individual, na qual, os alunos deveriam tentar responder à questão de aprendizagem, a partir da elaboração de um texto de no mínimo três e no máximo cinco

18748 laudas. Além de responder à problemática, também deveriam trazer para reflexão, a política pública que cada um gostaria de conhecer e pesquisar. Nesse momento, a pesquisa bibliográfica surgiu como mola propulsora para novas indagações e aprendizagens. Salientase que a síntese foi produzida fora da sala de aula, em ambientes escolhidos pelos alunos, como a biblioteca da Instituição. Após a produção das sínteses individuais, os alunos postaram seus textos no ambiente virtual da disciplina. Cada texto foi lido pela professora e, posteriormente, reenviado para o aluno que o produziu, com sugestões e avaliações. Assim, cada aluno reorganizou seu texto seguindo as indicações da professora e postou-o no ambiente virtual, na seção Materiais Compartilhados para que todos os 26 colegas tivessem acesso a todas as sínteses produzidas. A partir de então, o combinado foi que cada aluno lesse os textos produzidos por seus 25 colegas. O oitavo momento ocorreu em sala de aula e iniciou com uma ampla discussão sobre os textos lidos. Observou-se a evolução dos alunos, num comparativo com o primeiro encontro. Após as pesquisas realizadas, a produção das sínteses, a reconstrução destas sínteses e a leitura das produções dos colegas, a bagagem teórica sobre políticas públicas, sobre inovação na educação e sobre os desafios do ensino brasileiro para o século XXI tinha aumentado qualitativamente e quantitativamente. Houve, neste momento, uma discussão com elevado nível intelectual. Logo após o debate, a professora solicitou que os alunos fizessem grupos de três ou quatro participantes. Esses grupos foram organizados pelos alunos por afinidade. O desafio final foi o de produzir um texto por grupo, denominado pela professora de Síntese Coletiva. Nesta síntese, os alunos tiveram que incorporar, num mesmo texto, as sínteses individuais de cada um. A ideia, neste momento, foi trabalhar, a partir da tessitura de um novo texto, a questão do coletivo, da cooperação, do ouvir o outro, da empatia e o saber trabalhar em equipe. As sínteses coletivas foram produzidas em sala de aula e, também, na biblioteca da IES, conforme vontade e necessidade de cada grupo. Neste momento, os alunos, a partir da construção coletiva, foram desafiados a ter uma visão macro sobre os conteúdos trabalhados na disciplina. Os alunos, com sua síntese individual tinham pesquisado sobre uma ou, no máximo, duas políticas públicas de educação. Já, agora, depois de ler os textos produzidos pelos colegas e debater sobre as questões que foram discorridas, a missão era mais complexa, pois tiveram que aproximar pesquisas e posicionamentos relacionando-os em um texto único.

18749 As sínteses coletivas foram postadas no ambiente virtual da disciplina e foram consideradas como parte da avaliação final. Ao final da disciplina, foi solicitado, ainda, que cada aluno elaborasse um breve texto no qual deveriam escrever sobre a metodologia utilizada durante a aula, observando: fatores que dificultaram a aprendizagem, fatores que facilitaram a aprendizagem, sugestões e autoavaliação. Considerações finais Este trabalho trouxe para conhecimento e discussão, a utilização da ABP como prática pedagógica no Ensino Superior, mais precisamente em um Programa de Pós-Graduação. Procurou-se compreender o contexto educacional brasileiro e, principalmente, analisar as políticas públicas como eixos centrais e articulados, oriundos das discussões do grupo, formado por alunos e professora, em torno da proposta que foi proporcionada por meio de uma metodologia ativa de ensino e de aprendizagem. A dinâmica proporcionou reflexão sobre uma situação problema, a elaboração e uma questão de aprendizagem, a pesquisa para a produção de uma síntese individual e de uma síntese coletiva. Contudo deve-se ter clareza de que, ao se trabalhar com metodologias ativas, é necessário planejamento e não improvisar. A partir de tal prerrogativa, entende-se que o planejamento não pode ser visto como sinônimo de uma programação preestabelecida pelo professor, mas sim, a construção do ato de planejar, deve se desenvolver no decorrer do percurso com o grupo de alunos que está envolvido, levando-se em conta seus interesses, necessidades, expectativas, curiosidades, inquietações. Nessa perspectiva, é necessário que o professor tenha metas e objetivos bem traçados. Infere-se, ainda, que a maioria dos alunos dessa disciplina são também professores na escola básica ou no ensino superior. Assim, proporcionar-lhes a vivência da metodologia ABP foi essencial, pois permitirá que eles possam reaplicá-la em suas próprias práticas pedagógicas, cumprindo, assim, com um dos objetivos da Pós-Graduação no quesito formação de professores. Salienta-se que a prática desenvolvida proporcionou aos alunos do mestrado uma postura ativa na própria aprendizagem, tornando-a mais significativa. Acredita-se que ter passado por essa experiência pode favorecer para que reapliquem-na na sua prática pedagógica na escola.

18750 Em tempos de constante mudança, o uso de metodologias ativas, entre elas, a ABP, vem propor uma reflexão voltada à realidade. Contudo, é importante ressaltar que, para que essa prática se torne realmente um constante refletir e agir diante das imposições apresentadas verticalmente, deve ser constituída de maneira a conceber a participação direta ou indireta dos envolvidos nos processos educacionais. Ou seja, ator principal deixa de ser o professor e centraliza-se no aluno, que deixará de ser um receptor de conteúdos e passa a ser um pesquisador. REFERÊNCIAS BERBEL, Neusi Aparecida Navas. As metodologias ativas e a promoção da autonomia de estudantes. Semina: ciências sociais e humanas, Londrina, V. 32, n. 1, p. 25-40, jan./jun. 2011. BERBEL, Neusi Aparecida Navas. A problematização e a aprendizagem baseada em problemas: diferentes termos ou diferentes caminhos? Interface Educação, Saúde e Educação. v. 2, n 2, p. 139-154, fev. 1998. CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES. Pós-Graduação: Mestrado e doutorado. Lajeado/RS, 2015 Disponível em: <http://www.univates.br/pos-graduacao/>. Acesso em: 11 jul. 2015. COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO DE PESSOAL DE NÍVEL SUPERIOR CAPES. Webqualis. Brasília, 2015. Disponível em: < http://qualis.capes.gov.br/webqualis/ principal.seam>. Acesso em: 11 set. 2015. ENERMARK, Stig; KJAERSDAM, Finn. A ABP na teoria e na prática: a experiência de AALBORG na inovação do projeto no ensino universitário. In: ARAÚJO, Ulisses F.; SASTRE, Genoveva (Org.) Aprendizagem baseada em problemas no ensino superior. São Paulo: Summus, 2009. GOMES, Romeu et al. Aprendizagem Baseada em Problemas na formação médica e o currículo tradicional de Medicina: uma revisão bibliográfica. Revista Brasileira de Educação Médica, Rio de Janeiro, v. 33, n. 3, p. 433-440, Set. 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s0100-55022009000300014 &lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 10 ago. 2015.