Análise termográfica e funcional em membro superior parético/plégico de indivíduos com AVC após estimulação sensorial estudo transversal Phelipe Muniz Furtado 1, Robson Ricardo Lopes 2 Centro Universitário Barão de Mauá 1,2 phefurtado@hotmail.com 1, robson.ricardo@baraodemaua.br 2 Resumo Observar se estimulação sensorial em membro superior parético promove alterações metabólicas. Foi realizado o teste The Box and The Blocks e, utilizado o termógrafo FLIR C2 para a foto termográfica. Dentro da amostra analisada, não houve diferença estatística significativa. É necessário que haja mais pesquisas sobre este tema com amostras maiores. Introdução O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é uma doença que ocorre devido a uma insuficiência do fluxo sanguíneo que pode acometer diferentes partes do cérebro e é caracterizada por distúrbios globais e/ou focais (PIASSAROLI et al., 2011). O AVC pode ser classificado em isquêmico e hemorrágico, sendo que 80% a 85% dos casos são causados por episódios isquêmicos. No entanto o AVC hemorrágico ocorre devido ao rompimento de uma artéria responsável pela irrigação cerebral correspondendo a 9% dos casos (BERTOLUCCI et al., 2016; STOKES, 2000). De acordo com Assis (2012) indivíduos com AVC apresentam comprometimento em musculatura antigravitacional, é caracterizada em membro superior com retração, adução e rotação interna do ombro, flexão de cotovelo, pronação de antebraço, flexão de punho e dedos, adução de polegar e dedos. Já em membro inferior apresenta padrão extensor, caracterizado por extensão e adução de quadril, extensão de joelho, inversão de tornozelo, flexão plantar e de dedos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estimou que 16 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem de algum tipo de doença cerebrovascular, sendo que 6 milhões vêm a óbito em decorrência da patologia (BRASIL, 2017). A avaliação fisioterapêutica faz uso da termografia, para obtenção de dados em relação as alterações desses indivíduos. De acordo com a ABRATERM (Associação Brasileira de Termologia), a termografia é um exame que mede a temperatura emitida pelo corpo humano captando ondas de infravermelho (calor). Esse exame não é invasivo ou radioativo, e é capaz de identificar as mudanças de calor que ocorrem de maneira fisiológica no corpo, ela detecta alterações realizadas no fluxo sanguíneo que mudam a temperatura da pele (CÔRTE; HERNANDEZ, 2016). Sabendo das manifestações clínicas que o AVC, pode causar, principalmente, a hemiparesia contralateral, que é a perda de força em um lado do corpo, e após determinado tempo o indivíduo pode começar a negligenciar o lado afetado, desenvolver uma hipertonia. A alteração de tônus é uma das principais manifestações do AVC, tônus pode ser definido clinicamente, segundo Maria Stokes, como: a resistência encontrada quando uma articulação em um paciente em estado de relaxamento é movida passivamente. A sensibilidade também é uma alteração clínica comum em pessoas com AVC, a preservação desta promove um desempenho motor mais efetivo, devido a interação entre o sistema motor e sensorial. Com uma melhora sensorial é possível maximizar a aprendizagem motora (SANT ANNA; GUIDA; SILVA, 2014). Visto a importância destes sistemas justifica-se a melhor compreensão destas alterações para uma conduta terapêutica mais direcionada. Assim a
termografia apresenta-se como um recurso auxiliar na avaliação clínica desta população. Fig.01: Participante realizando o teste The box and the blocks Objetivos Observar alterações térmicas metabólicas após estimulação sensorial em membro superior parético. Métodos/Procedimentos Procedimentos éticos: A pesquisa foi aprovada do Comitê de Ética em pesquisa do Centro Universitário Barão de Mauá (CBM), conforme as Normas de Pesquisa em Saúde de 466/12 do Conselho Nacional de Saúde e Normativa 01/2013. Sob o parecer número 2.950.085. Local das coletas: Realizadas na Clínica de Fisioterapia do Centro Universitário Barão de Mauá (CBM). Instrumentos: Foi realizado o teste The Box and The Blocks, que consiste duas caixas quadradas sendo que cada uma tem 26,85cm de comprimento e 8,5cm de altura; essas caixas são unidas por dobradiças e, no meio delas é encaixada uma divisória com 15,2cm de altura; são ao todo 150 blocos medindo 2,5cm cada e que devem ser coloridos com as cores: vermelho, azul, verde e amarelo; o teste começa com o indivíduo pegando um bloco de cada vez (não importando a cor do bloco) e passando para o lado oposto, este indivíduo terá 1 minuto para realizar o teste, podendo haver ainda um pré-teste, no qual o indivíduo tem 15 segundos para fazer o mesmo procedimento do teste. Para a foto termográfica foi utilizado o FLIR C2 fototermógrafo da marca FLIRC2 (Serial No: 720103682 FLIR Systems OÜ, Estônia). Intervenções: Após realização da avaliação inicial, os voluntários receberam a estimulação sensorial que foi feita com uma escova de cerdas firmes, que foi utilizada para a intervenção com 1 minuto e 30 segundos nos dedos (dorso e palma), 1 minuto e 30 segundos no dorso e palma da mão e 1 minuto e 30 segundos no antebraço (dorso e palma). Após a estimulação feita com a escova foi utilizado um massageador (da marca Mimo) para realizar a intervenção 1 minuto e 30 segundos nos dedos (dorso e palma), 1 minuto e 30 segundos no dorso e palma da mão e 1 minuto e 30 segundos no antebraço (dorso e palma). Após a estimulação foi realizada a avaliação final. Análise estatística: Os resultados obtidos foram enviados para análise estatística, a qual foi feita utilizando o método Teste T Pareado, entre o pré e o pós intervenção. Fig.02: Fluxograma das etapas da pesquisa. Avaliação Inicial Intervenção Avaliação Final
Resultados Para a realização desta pesquisa experimental foram realizadas avaliações e intervenções em 20 indivíduos com idade variando entre 30 e 84 anos, e com tempo de AVC de 5 a 360 meses. Desses 20 indivíduos: 11 eram do sexo feminino e 09 eram do sexo masculino; 13 estavam hipertônicos e 07 estavam hipotônicos; 11 participantes apresentavam sequelas à direita e 09 apresentavam sequelas à esquerda. Fig.03: Alterações térmicas pré e pós-intervenção. A demografia dos participantes da pesquisa está apresentada na tabela 1. Tabela 1 - Demografia do estudo. Idade 30 a 84 anos (+ 38,183) Tempo AVC 5 meses a 360 meses (+ 251,022) Média 56,2 anos Média 60,65 meses Sexo N % Feminino 11 55 Masculino 09 45 Quadro clínico N % Como pode ser observado, não houve diferença estatística significativa no pré e pós-intervenção, porém o valor de p 0.823 está próxima à significância, levantando hipótese se o número da população for maior e esta população ser mais homogenia esse valor poderia ser diferente. Fig.04: Estatística do membro superior parético pré e pós-intervenção. Hipertônico 13 65 Hipotônico 07 35 Topografia* N % Direito 11 55 Esquerdo 09 45 * Referente ao hemicorpo acometido. As imagens fotografadas foram enviadas para o software FLIR TOOLS o qual nos apresentou as alterações térmicas pré e pós-intervenção como pode ser observado na figura a seguir. Fig.05: Estatística do membro superior saudável pré e pós-intervenção.
Discussão A função metabólica no membro superior dos indivíduos tratados teve uma melhora a partir do estímulo sensorial, o que leva a uma melhor evolução motora. A termografia pode ser utilizada para realizar uma avaliação visual das áreas onde chegam maior ou menor quantidade de sangue, facilitando o planejamento de um plano de reabilitação mais preciso e eficaz. Por ser um método confiável e seguro, a termografia vem sendo cada vez mais conhecida e utilizada por muitas áreas. Segundo Pollock et al. (2014) a consciência sensorial pode ser estimulada por técnicas estimulatórias, assim como foi realizado neste trabalho, ao utilizar uma escova com cerdas firmes e um aparelho vibratório. Segundo Seo et al. (2014) a estimulação sensorial tende a ativar fibras nervosas que transmitem a entrada somatossensorial, assim possivelmente gerando reorganização na somatossensorial e no córtex motor primário. Meta-analises sugerem evidências que apoiam o uso de estimulação passiva para melhorar a destreza da mão e a força, em pacientes pós-avc. Seo et al. diz ainda que para pegar um objeto, manipular um objeto e/ou manter um objeto em preensão de forma harmônica, é necessário que as sensações táteis não estejam danificadas. Hegedus (2018) diz que a termografia é um método confiável para a monitorização dos efeitos da reabilitação em indivíduos pós-avc. Afirma ainda que termografia poderia ser uma ferramenta usada para o diagnóstico e para o prognóstico na reabilitação de AVC (IVANOV; BAGAURI, 1992; SCHULTE; BOMHOF; AARTS, 1975, apud HEGEDUS, 2018). Assim como no presente estudo, Hegedus observou que com a termografia, é possível avaliar a melhora na circulação, o que ajuda o fisioterapeuta a planejar uma reabilitação melhor e com objetivos mais claros, levando à maior eficácia nos tratamentos e rapidez na melhora do paciente. Segundo Côrte e Hernandez (2016) a termografia parece ser um método de avaliação bastante seguro, confiável e não invasivo. Côrte e Hernandez afirmam ainda que umas das principais vantagens da termografia é sua segurança. As experiências sensoriais podem maximizar a aprendizagem motora, assim como sua retenção. Estes processos envolvem a capacidade de aprendizagem e memória para gerar o controle motor adequado à cada função. Sendo assim, toda vez que estas experiências se integram na memória, elas predispõem ao aprendizado (ALMEIDA; VALENTINI, 2010 apud SANT ANNA; GUIDA; SILVA, 2013), essa afirmação corrobora com o estudo realizado, visto que, a intenção da pesquisa é, não apenas verificar a parte termográfica, mas também verificar se a estimulação somatossensorial afeta o metabolismo e celular e melhora, portanto, a reorganização motora. É plausível acreditar então que estimular o sistema somatossensorial, como foi feito neste trabalho, gera resultados no córtex motor, o que causará, por consequência, uma melhora dos movimentos grossos e finos da mão, bem como sua força de preensão e sua capacidade de manter objetivos nesta em preensão. Conclusão Concluímos que, apesar do resultado não ter sido estatisticamente significativo à estimulação somatossensorial afeta o metabolismo celular, como pode ser observado em trabalhos com amostras maiores. Referências ASSIS, R. D. Condutas práticas em fisioterapia neurológica. CEP, v.6460, p. 120, 2012. BENSENOR, I. M. et al. Prevalence of stroke and associated disability in Brazil: National Health Survey-2013. Arquivos de neuro-psiquiatria, v. 73, n. 9, p. 746-750, 2015 BRASIL. MS. Acidente Vascular Cerebral (AVC). <http://www.brasil.gov.br/saude/2012/04/acidentevascular-cerebral-avc. Acessado em 15 mar. 2018. CÔRTE, A. C. R.; HERNANDEZ, A. J. TERMOGRAFIA MÉDICA INFRAVERMELHA APLICADA À MEDICINA DO ESPORTE. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, [s.l.], v. 22, n. 4, p.315-319, ago. 2016. FapUNIFESP (SciELO).
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