Senhoras e Senhores, O Brasil ingressa no século XXI como um País de



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PALAVRAS DO GOVERNADOR TASSO JEREISSATI POR OCASIÃO DA ABERTURA DO SEMINÁRIO "LIDERANÇA JOVEM NO SECULO XXI", AOS 07/03/2002 ~j ~/02

Transcrição:

! \,, SUBSÍDIOS PARA A APRESENTAÇÃO DO GOVERNADOR TASSO JEREISSATI NA SESSÃO "2002 BRAZIL ECONOMIC FORUM" NA BRAZILIAN AMERICAN CHAMBER OF COMMERCE, EM NOVMORQUE Senhoras e Senhores, # Antes de mais nada, gostaria de agradecer a Câmara Brasileira-Americana de Comércio, em especial a seu Presidente, Sergio -$dillerman, pelo honroso convite de participar deste evento, na companhia de expressivas lideranças empresariais do Brasil e dos Estados Unidos, para discutir um pouco sobre a política e economia brasileiras no atual cenário de incertezas com que nos defrontamos nos planos internacional e doméstico. O Brasil ingressa no século XXI como um País de identidade própria, com uma população de 170 milhões de habitantes, rico em recursos naturais e com uma economia diversificada, situada entre as oito maiores do mundo. Apesar dos problemas associados a má distribuicão de renda, oue ainda fazem do Brasil um dos

países mais injustos do Planeta, os brasileiros sentem orgulho de seu País e de suas origens, convivendo de forma harmônica e sem conflitos étnicos ou religiosos em uma sociedade complexa e multirracial, preservando a unidade lingüística, a sua cultura mestiça, o sistema democrático e a coesão interna em um mundo cada vez mais afetado pelas ondas desestabilizadoras globalização. No entanto, apesar de nossos fatores de coesão e estabilidade, são, &andes os desafios com que nós brasileiros nos deparamos para construirmos a Nação que desejamos, mas também são igualmente grandes os riscos que corremos se pecarmos pela omissão. Dentre esses desafios eu destacaria a modernização do sistema político. Na minha opinião, torna-se urgente uma reforma política para que os representantes eleitos pelo povo se mantenham fiéis aos compromissos assumidos em campanha a partir das propostas partidárias. Não é mais

aceitável que os partidos políticos se constituam em pequenos espaços voltados para meras conveniências eleitorais. Os partidos políticos no Brasil têm de se tomar respeitados para que a classe política recupere a credibilidade junto à opinião pública. Essa será uma tarefa que o novo Governo brasileiro certamente terá de atacar de frente logo no início do seu mandato. A AGENDA ECONOMICA PRIORITÁRIA No campo econômico, existe uma série de reformas inacabadas para desenvolver o Brasil, porém, ao meu ver, o grande desafii é gerar um estilo de crescimento capaz de reduzir efetivamente as desigualdades sociais e regionais. O Brasil não é um país pobre, mas um país de renda média (renda per capita de US$ 3.500) com uma injusta repartição da renda. Os desníveis de renda pessoal no País são inaceitáveis e não podemos mais conviver com eles. Em face disso, preservar a estabilidade monetária e respeitar o princípio da responsabilidade fiscal são objetivos necessários, mas não suficientes. A grande

meta para os próximos anos deve ser a retomada do crescimento sustentado que permita não apenas a inclusão dos excluídos, mas também a diminuição (ainda que gradual) da vulnerabilidade em face do resto do mundo. Isso pressupõe não apenas a redução da dívida externa (pública e privada) em relação ao PIB (hoje no patamar de 47% do PIB e mais de três vezes e meia o valor das exportações), mas o fortalecimento do mercado interno como motor do crescimento. Essa opção estratégica, por sua vez, demandará a recuperação ou mesmo a ccreconstrução" da Capacidade do Estado para realizar políticas de desenvolvimento de corte setorial e regional. UM PAPEL MAIS ATUANTE PARA O ESTADO Para tanto, ao contrário daqueles que advogam o Estado mínimo e omisso, acredito que o modelo de Estado, em um país emergente como o Brasil nas condições atuais, deva ter um grau maior de interferência na economia, sem exercer o papel de empresário, mas sendo pró-ativo

na consecução do objetivo de crescer com redistribuição de renda, eficiente na regulação das atividades de interesse público e, ao mesmo tempo, eficaz na indução da competitividade interna (aumento da eficiência e da produtividade) e externa (aumento das receitas em divisas). O PAPEL DO CAPITAL NACIONAL ESTRANGEIRO Tanto o empresariado nacional quanto o estrangeiro devem contribuir como parceiros do Governo para viabilizar uma no& estratégia de crescimento com ganhos de autonomia externa. Todos devem entender que, mesmo no contexto atual, dificilmente mudanças estruturais requeridas pelo processo de desenvolvimento brotam espontaneamente da liwe interação das forças de mercado. Um modelo econômico que privilegie tanto o mercado interno como uma postura mais ofensiva nos mercados internacionais requer uma dosagem adequada de planejamento estatal seletivo e uma taxa mais elevada

de poupança doméstica. Portanto, acredito que o Brasil deva buscar a geração de expressivos superávits na balança comercial e na balança de serviços, exigindo uma contribuição mais vigorosa (saldo de divisas) das empresas de capital estrangeiro instaladas no País. COMO REDUZIR VULNERABILIDADE EXTERNA Em que pese a significativa contribuição do capital estrangeiro ao desenvolvimento do Brasil, seja na forrna de investimentos diretos empréstimos e financiamentos, acfedito que seja indispensável o fortalecimento dos mecanismos de poupança interna, através do estímulo aos fundos de pensão e ao mercado de capitais, e de promoção as exportações, como formas de atenuar a vulnerabilidade que decorre dos movimentos voláteis das finanças internacionais. Isso pressupõe, obviamente uma agressiva estratégia de competitividade, que contemple a adoção de políticas temporárias de apoio a setores selecionados, com taxa de juros compatível com o mercado internacional e a

atração de investimentos tanto para substituição importações quanto para o estímulo as exportações. Recomenda-se, porém, não a volta ao modelo cartorial de industrialização por substituição de importações dos anos 50 e 60, mas a formulação de políticas de indução não para indústrias isoladas, mas para as cadeias produtivas. Além disso, a reforma tributária, sempre adiada, poderá dar uma contribuição fundamental para desonerar a pródução e a ampliar a competitividade interna e externa das empresas brasileiras Além de reduzir a dlnerabilidade externa, acredito que uma agressiva política de competitividade no Brasil poderá muito bem concorrer para o equilíbrio fiscal, diminuindo o custo dos financiamentos em dólares e facilitando a redução dos juros internos, o que também pode propiciar um maior espaço para o financiamento mais barato ao setor produtivo doméstico. Deve-se, pois, diminuir a enorme dependência do País aos fluxos de recursos externos. A conseqüência, por

sua vez, é que o País deverá caminhar mais com as suas próprias pernas, com menos poupança e, assim, com menor crescimento ou mesmo um pouco mais de inflação. Seja como for, não podemos mais continuar a conviver com a fragilidade no balanço de pagamentos e permanecer impotentes para reduzir a taxa de juros e estimular os investimentos, além de continuarmos incapazes para enfrentar o contágio das crises financeiras internacionais. A-GRAVE CRISE URBANA E DE SEGURANÇA PÚBLICA Além da questão do crescimento, da estabilidade macroeconômica e da melhoria na distribuição de renda, outro grande desafio a enfrentar no Brasil é a crise urbana decorrente do processo desordenado de urbanização dos últimos trinta anos. De fato, com 81% dos brasileiros residentes em áreas urbanas, as 28 regiões metropolitanas do País congregam cerca de 68 milhões de habitantes, que correspondem a 40% da população total do País.

Apenas as três maiores (São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte) representam juntas quase 20% da população brasileira. Com cidades de tamanho porte, a crise nas grandes metrópoles assumiu uma dimensão tal que escapa ao controle do poder público e ameaça comprometer a estabilidade e a segurança nacionais. Como grande problema nacional, portanto, a crise urbana precisa ser enfientada nos seus múltiplos aspectos pela ação decidida do Governo Federal e dos governos estaduais e o engajamento da sociedade civil. - f Como conseqüência e causa da crise urbana, a sociedade brasileira passa a ser refém da criminalidade e da violência. Não podemos aceitar que essa situação perdure e se agrave. Por isso, para resolver a questão da violência e da criminalidade, defendo, além de políticas educacionais e de emprego nos grandes centros urbanos, uma reforma urgente e decidida das corporações policiais, agregando novas tecnologias e métodos de ação e montando um moderno sistema de recrutamento, capacitação e cobrança de resultados.

Porém, não bastam medidas para atacar o problema da criminalidade e seus efeitos a curto prazo. A solução do problema a médio e longo prazos requer políticas específicas para eliminar ou pelo menos mitigar as causas sócio-econômicas do crime, dentre as quais a principal delas é a conhecida desigualdade de renda. A economia desempenha um papel crucial no que se refere ao crime. Onde as taxas de desemprego são /' elevadas e sem perspectivas melhoria, a criminalidade pode aumentar a medida que os excluídos percebem no crime uma.forma de sair da pobreza e de - 1 acesso a padrões de vida melhores ou mais aceitáveis. E quanto mais desigual uma sociedade, mais claramente as diferenças de padrão de vida são percebidas. Além dos efeitos perniciosos sobre a qualidade de vida, o crime, seja na sua versão mais violenta, seja na forma de compção, tem um forte impacto sobre a economia. O crime afasta os investimentos e afugenta os bons negócios, reduzindo ainda mais as oportunidades de emprego para a população. Dada a escala do problema

no Brasil, toma-se uma prioridade romper com esse ciclo vicioso. Ademais, vale a pena mencionar o compromisso do Brasil no combate a todas as formas de terrorismo, já que nada justifica machucar de forma perversa pessoas inocentes em nome de qualquer causa, seja com base em cultura, religião ou em economia. O Brasil tem dado o seu apoio político as medidas internacionalmente adotadas para o combate ao terrorismo. Todavia, entendo que as causas do terrorismo devem ser atacadas de forma realista, a fim de que suas conseqüências - t sejam prevenidas ' com eficácia e o fenômeno definitivamente eliminado. PERSEVERAR NOS AVANÇOS SOCIAIS Como reflexo de fatores históricos, o Brasil é um dos países com maiores taxas de desigualdade de renda. No entanto, nos anos recentes registraram-se melhorias expressivas na cobertura dos serviços públicos essenciais de educação e saúde.

Pelo seus bons resultados, as políticas sociais do Governo Fernando Henrique e os programas de renda mínima, como a Bolsa-Escola, Bolsa-Alimentação, Saúde da Família (PSF), o Fundo da Educação (FUNDEF), entre outros, devem ser preservados e aprofundados. Hoje temos cerca de 97% das crianças de 7-14 anos na escola, taxas médias de mortalidade infantil de 35 por mil nascidos vivos e 60% das famílias brasileiras atendidas regularmente por uma equipe de saúde da família. Atingimos a quase universalização dos - 1 serviços. Para os proximos anos, porém, o nosso maior desafio nessas áreas será a melhoria na qualidade dos serviços prestados a população. A nova administração federal (a partir de 2003) terá de inovar para melhorar ainda mais os esquemas de prestação de serviços, reduzir custos e aprimorar o tratamento dado aos cidadãos que precisam desses serviços.

As reformas implementadas no Brasil no campo das políticas sociais durante a última década conseguiram melhorar muitos indicadores de qualidade de vida apesar da persistente desigualdade de renda. No entanto, para resolver definitivamente o problema, o País deve priorizar a redução das desigualdades de renda nos próximos anos. 4 REDISCUSSÃO DAS RELAÇOES ECONÔMICAS INTERNACIONAIS No campo das relações internacionais, temos razões de - { sobra para crer' que o chamado "Consenso de Washington" se esgotou! Ele não foi capaz de reduzir a pobreza e as desigualdades no mundo. Ao contrário, as evidências apontam que elas foram agravadas. O Brasil não pode mais se omitir, como maior país da América Latina, na rediscussão do modelo global. Os chamados países emergentes estão quase todos em crise e os excessos da globalização parecem atingir até os países mais desenvolvidos.

Nesse sentido, entendo que a política externa brasileira deva ser reformulada e sua diplomacia melhor preparada para lutar nos mais diversos fóruns de negociação (ONU, OMC, ALCA, OCDE, FMI etc) por um novo modelo de relações econômicas internacionais, mais inclusivo e participativo. A base do novo relacionamento entre as nações desenvolvidas e em desenvolvimento não deveria ser o interesse econômico no sentido estrito, mas sim um consenso em tomo de padrões mínimos de vida e de oportunidades de trabalho para as pessoas e países que - 1 mais necessitam. % Nesse contexto de redefinição das relações intemacionais, eu também mencionaria o interesse do Brasil na implementação da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA), mas desde que o projeto traga ganhos efetivos para o País. A opinião publica e o Congresso brasileiros estão ansiosos para discutirem os temos do acordo, de modo a assegurar que ele seja favorável não apenas a setores específicos, mas ao Brasil como um todo.

PERSPECTIVAS A MÉDIO PRAZO As reformas econômicas e institucionais realizadas na última década no Brasil trouxeram mudanças positivas consideráveis. Conforme falei anteriormente, a maioria dos indicadores de bem-estar apontam para uma melhor qualidade de vida, apesar da persistente desigualdade 4 entre os mais pobres e os mais ricos. A redução das desigualdades certamente estará presente na agenda de prioridades do País no futuro imediato, exigindo do Governo políticas econômicas e sociais sintonizadas com essa necessidade imperiosa. Além da melhoria social, outro ponto importante a destacar é a melhoria que estamos observando na gestão pública em todos os níveis e governo com a vitória dos princípios da responsabilidade fiscal e da austeridade. Os resquícios do clientelismo e de desregramento dos administradores públicos tenderão a desaparecer ou se tomar inexpressivos nos próximos anos. O combate a corrupção e a punição aos maus gestores governamentais se tornarão preocupações

permanentes da sociedade. A transparência participação dos cidadãos nos processos orçamentários deverão se ampliar. Por outro lado, a necessidade de minimizar a dependência e a vulnerabilidade do Brasil aos choques provenientes do exterior exigirá uma reorientação do Estado nacional no sentido de pôr em prática um Projeto de Desenvolvimento que privilegie ganhos de autonomia externa. Isso pressupõe um planejamento seletivo e estratégico de substituição de importações e promoção de exportações para favorecer setores com -1 capacidade competitiva nos mercados externos e que tenham ao mesmo tempo um efeito indutor interno. Todavia, a elevada "desnacionalização" da economia brasileira ou o controle pelas empresas transnacionais das atividades produtivas com potencial exportador, ao limitar o raio de ação do Estado na esfera internacional, poderá criar obstáculos a esse tipo de estratégia. Mas isso poderá ser superado por mecanismos adequados de negociação entre o governo e as empresas de capital estrangeiro.

PERSPECTIVAS A CURTO PRAZO No tocante a economia, a atual crise na Argentina, nosso principal parceiro do MERCOSUL, deverá se prolongar e acarretar uma menor ênfase dos dois países nos esforços de integração regional. Porém, por outro lado, é possível afmar que essa crise no país vizinho não será suficiente para destruir o MERCOSUL. Poderá ser vista no futuro apenas como um retrocesso episódico, mas não como o fator de dissolução do processo de integração entre as nações envolvidas. - 1 Porém, de certa forma, a crise argentina poderá não ser tão prejudicial ao Brasil, a medida que os investidores e financiadores internacionais parecem ter descoberto ou identificado as diferenças estruturais entre as duas economias. A pesar de alguns problemas localizado, como atrasos nos pagamentos de importações e menores vendas para a Argentina, o Brasil provavelmente se tornará menos vulnerável a eventuais deteriorações adicionais na situação econômica argentina.

o CENÁRIO PRESIDENCIAL No plano político, o quadro sucessório de 2002 começará a se definir nos próximos dois meses após a escolha definitiva do candidato governista. Só então é que as pesquisas eleitorais passarão a refletir as efetivas preferências do eleitorado brasileiro.. Portanto, as posições de vanguarda do virtual candidato do Partido dos Trabalhadores (PT), Luís Inácio da Silva (Lula) e mesmo da pré-candidata do Partido da Frente Liberal Roseana Sarney, se devem a fatores - t circunstanciais e não reflete a totalidade das opções eleitorais. A PROVÁVEL DERROTA DA OPOSIÇÃO E UM NOVO COMPROMISSO No entanto, mesmo assim, acredito que a preferência revelada de um terço dos eleitores pelo PT é histórica e deverá resultar em segundo turno com um candidato situacionista. Todavia, um cenário mais claro somente será possível em junho próximo, dado que o primeiro

turno das eleições se realizará na primeira semana de outubro. De todo modo, tenho razões para crer que um candidato situacionista terá amplas chances de vencer no segundo turno desde que consiga o apoio de uma gama de forças políticas moderadas reunidas em torno de um compromisso de executar um projeto de desenvolvimentc-i nacional mais voltado para o social e menos dependente do exterior em termos econômicos. Bem esses eram os!tópicos que tinha para apresentar. Fico a disposição dos senhores para aprofundarmos algum ponto durante a fase de debate. MUITO OBRIGADO