Turma e Ano: Flex B (2014) Matéria / Aula: Processo Penal / Aula 04 Professor: Elisa Pittaro Conteúdo: Prova Testemunhal: Dispensa, Testemunha Sigilatária, Deveres da Testemunha, Forma de Inquirição, Oitiva da testemunha por carta precatória. Interrogatório: Natureza Jurídica, Revelia no Processo Penal, Fases do Interrogatório, Delação, Interrogatório por Videoconferência. I) PROVA TESTEMUNHAL (cont.): Promotor que atuou no inquérito pode ser arrolado como testemunha? Apesar de não existir qualquer dispositivo proibindo, a jurisprudência entende que existe uma incompatibilidade entre a posição do MP no processo e os deveres da testemunha. Obs1: Dispensa: Na 1ª parte do art. 206 do CPP, o legislador estabelece que, em regra, ninguém pode se recusar a depor (todas as pessoas tem o dever de depor). Logo em seguida, o legislador fixa as hipóteses de dispensa, ou seja, pessoas que em razão do vínculo de parentesco podem se recusar a depor. Na parte final do dispositivo, o legislador retoma a regra exigindo o depoimento dessas pessoas quando esta for a única forma de obter a verdade. Art. 206. A testemunha não poderá eximir-se da obrigação de depor. Poderão, entretanto, recusar-se a fazê-lo o ascendente ou descendente, o afim em linha reta, o cônjuge, ainda que desquitado, o irmão e o pai, a mãe, ou o filho adotivo do acusado, salvo quando não for possível, por outro modo, obter-se ou integrarse a prova do fato e de suas circunstâncias. Obs2: Testemunha Sigilatária (art. 207 CPP) Art. 207. São proibidas de depor as pessoas que, em razão de função, ministério, ofício ou profissão, devam guardar segredo, salvo se, desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar o seu testemunho. Testemunhas sigilatárias são pessoas proibidas de depor (em razão da atividade), previstas no art. 207 do CPP. A inobservância desta regra torna a prova ilícita.
Porém, há uma mitigação à proibição quando essas pessoas forem liberadas pela parte interessada e quiserem depor, casos em que o seu depoimento será permitido. No entanto, existem pessoas que nem mesmo desobrigadas poderão depor: Advogados Médicos Código de Ética não permite. Religiosos influência do Direito Canônico Deveres da Testemunha: 1) Comparecer Para a testemunha recalcitrante (faltosa) é possível a aplicação de uma multa e a condução coercitiva (arts. 218 e 219 CPP). Em sede de inquérito policial, o delegado não pode aplicar a multa, mas a jurisprudência admite a condução coercitiva, apesar de Hélio Tornaghi afirmar que tal medida exigiria prévia ordem judicial, haja vista que implicará na restrição da liberdade do indivíduo. 2) Falar a verdade, sob pena de caracterização do crime de falso testemunho. A testemunha pode se recusar a responder alguma pergunta? Pode, em relação àquelas que possam eventualmente incriminá-la. Forma de Inquirição da Testemunha: A reforma do CPP de 2008 afastou o sistema presidencialista e adotou o sistema da inquirição direta ou exame cruzado ou cross examination, através do qual as partes iniciam a inquirição, formulando as perguntas diretamente a testemunha e, no final, o juiz apenas complementará a inquirição quando houver algum ponto a ser esclarecido. Art. 212. As perguntas serão formuladas pelas partes diretamente à testemunha, não admitindo o juiz aquelas que puderem induzir a resposta, não tiverem relação com a causa ou importarem na repetição de outra já respondida. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008) Parágrafo único. Sobre os pontos não esclarecidos, o juiz poderá complementar a inquirição. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)
Qual a consequência da inobservância do art. 212 do CPP - adoção do sistema presidencialista na inquirição das testemunhas? Existem três precedentes no âmbito do STJ: 1) Ministra Maria Thereza A reforma do CPP de 2008 teve por objetivo aproximar o nosso modelo do acusatório puro (modelo americano). Logo, a violação do art. 212 implica em violar todo o sistema acusatório, sendo causa de nulidade absoluta. 2) Trata-se de mera irregularidade, pois independente da ordem de formulação de perguntas o que importa é que o depoimento esteja consignado nos autos. 3) Posição atual do STJ Trata-se de nulidade relativa, devendo a parte interessada demonstrar o prejuízo. Obs: Procedimento no Tribunal do Júri De acordo com o art. 473 do CPP, na instrução plenária do júri quem inicia a inquirição é o juiz presidente, mitigando a regra do art. 212 do CPP. Art. 473. Prestado o compromisso pelos jurados, será iniciada a instrução plenária quando o juiz presidente, o Ministério Público, o assistente, o querelante e o defensor do acusado tomarão, sucessiva e diretamente, as declarações do ofendido, se possível, e inquirirão as testemunhas arroladas pela acusação. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008) Oitiva de testemunhas por carta precatória: As partes devem ser intimadas da expedição da precatória e também da data da diligência no juízo deprecado? De acordo com as Súmulas 155 do STF e 273 do STJ, as partes devem ser intimadas sobre a expedição da precatória, sob pena de nulidade relativa. Porém, segundo Tourinho e o Ministro do STF Marco Aurélio, a defesa deverá ser intimada também sobre a data da diligência no juízo deprecado, sob pena de nulidade absoluta por afronta a ampla defesa (tese defensiva para concurso da Defensoria). Súmula 155 STF: É relativa a nulidade do processo criminal por falta de intimação da expedição de precatória para inquirição de testemunha. Súmula 273 STJ: Intimada a defesa da expedição da carta precatória, torna-se desnecessária intimação da data da audiência no juízo deprecado.
O réu preso deve ser requisitado para participar de diligência no juízo deprecado? 1) TJs e TRFs Não há necessidade de requisição, pois a ampla defesa será satisfeita com a presença da defesa técnica. 2) STJ - A hipótese é de nulidade relativa, devendo a parte interessada demonstrar o prejuízo. 3) STF (posição consolidada) O réu deve ser requisitado, sob pena de nulidade absoluta, uma vez que o direito de presença (direito de presenciar a instrução criminal) é um consectário da ampla defesa constitucional. II) INTERROGATÓRIO: Natureza Jurídica: Qual a natureza jurídica do interrogatório? 1) Pacelli Com a alteração promovida pela Lei 10.792/03, ficou mais evidente a sua natureza de meio de defesa, com todas as consequências que isso acarrete, ou seja, não é mais possível a sua condução coercitiva e a sua ausência não poderá gerar qualquer consequência processual. 2) Polastri Possui natureza mista, pois a partir dos elementos do interrogatório o juiz poderá formar a sua convicção. Revelia no Processo Penal: No processo civil, a revelia traz a presunção de veracidade dos fatos imputados, o que não ocorre no processo penal, pois o MP deverá comprovar a veracidade dos fatos imputados na denúncia. Desta forma, a única consequência será deixar de ser intimado dos atos processuais. Réu que permaneceu revel e comparece após a prolação da sentença deve ser interrogado? 1) Pacelli A atual redação do art. 185 do CPP não deu ao réu o direito de ser interrogado quando bem entendesse, mas sim o direito de ser interrogado no momento processual adequado. Ademais, o art. 616 do CPP estabelece que é uma faculdade judicial realizar um 2º interrogatório. Desta forma, trata-se de mera faculdade judicial. 2) STF e Fernando Capez Em regra, o réu deverá ser interrogado, salvo se houver pedido de dispensa subscrito pela defesa. 3) Polastri Sendo o interrogatório um meio de defesa, em regra, o réu deverá ser interrogado.
2.1 Fases do Interrogatório: Delação: O interrogatório é dividido em duas etapas: 1) Interrogatório de qualificação juiz indaga sobre os dados pessoais do denunciado. 2) Interrogatório de mérito juiz questiona a veracidade dos fatos articulados na denúncia, incidindo, nessa etapa, o direito constitucional ao silêncio. É possível que na 2ª fase do interrogatório (interrogatório de mérito) surja a delação, ou seja, o réu confessa a prática do crime e aponta outros elementos que participaram da empreitada. Quando a delação ocorre em troca de algum benefício, ela é chamada de delação premiada. A delação premiada é compatível com a Constituição? 1) Tese Defensiva Luiz Flávio Gomes e Geraldo Prado (Concursos Defensoria) - Para Luiz Flávio Gomes, a delação é inconstitucional por afronta à ética, uma vez que o Estado está se aproveitando de um criminoso para fazer justiça. Ademais, Geraldo Prado defende tratar-se de um resquício do modelo inquisitivo, onde todo o processo penal impulsionava confissões. 2) Jurisprudência A delação é válida, pois nada mais é do que reflexo da ampla defesa constitucional. 2.2 Interrogatório por Videoconferência: O interrogatório por videoconferência é compatível com a Constituição? Antes da entrada em vigor da Lei 11.900/09, o STF entendia que essa forma de interrogatório era inconstitucional por dois motivos: haveria ofensa ao devido processo legal, uma vez que o art. 792 do CPP estabelece que os atos processuais são realizados nas sedes dos juízos; haveria ofensa à ampla defesa, pois o réu tem o direito de ser levado a presença do juízo e narrar a sua versão do fato criminoso. Quando o juiz determinar essa forma de interrogatório, o CPP exige a presença de 2 advogados, um no presídio e outro na sala de audiência. A Lei 9.099 foi a primeira a colocar o interrogatório como o último ato da instrução. Posteriormente, o CPP foi reformado e o interrogatório passou a ser invertido também nos procedimentos ordinário e sumário. Porém, em alguns procedimentos especiais, o
interrogatório ainda é o 1º ato da instrução criminal, como por exemplo na Lei de Drogas. Diante disso, muitos juízes estão realizando uma interpretação sistemática e invertendo o interrogatório também na Lei de Drogas, uma vez que isso atende aos interesses da defesa.